Capítulo Vinte e Dois: O Perigo B**e Na Porta.

Os dias passaram rapidamente, fazem três semanas desde que cheguei na Rússia e duas semanas desde o primeiro dia de treinamento. Nessas semanas, Kenya começou a exigir ainda mais de nós no treinamento físico, Thiago e Tyson estão tentando ajudar Laura Bonamorte e Lorenzo Albuquerque a investigar o tráfico de mulheres, o que faz com que passem a maior parte do tempo em seus escritórios trabalhando.

                Desde nossa última conversa, Thiago e eu viemos nos aproximando, ontem, depois do jantar, assistimos filme na sala de TV, o qual eu acabei dormindo antes da metade e depois de terminar, Thiago me trouxe para a cama e se despediu com um beijo na minha testa.

                Venho sentindo a presença dele durante a madrugada no meu quarto, mas não abro os olhos, sei que ele se acalma ao ver que estou segura, e agora, admitindo mais uma vez, gosto de sentir que ele está por perto, desde quando ele começou a fazer isso, meus pesadelos foram embora. Algo em mim, precisa de Thiago por perto.

                 Naquela noite, Thiago me viu chorando depois de ter lembrado do que, escondi remotamente por anos, dentro de uma ferida tão grande que até hoje, mesmo três anos depois, não se fechou. 

             Apesar de dividir parte da dor comigo, Thiago permaneceu me abraçando como se quisesse expulsar toda dor que ainda existe em mim, mesmo que, para isso, ele precisasse absorver toda ela, para ele, por isso, me permiti ser egoísta ao ponto de não querer que ele se sacrifique por mim, não dessa maneira, não sabendo que Thiago ainda esconde mais coisas em seus olhos e em seu coração do que qualquer outra pessoa.

                   Levanto da cama assim que escuto o despertador tocar, estou acordada a no mínimo uma hora, com os olhos ainda fechados, algo em mim treme de medo e não sei explicar o que é, então, me obrigo a ignorar. 

— Irmã? – Bryan pergunta do outro lado da porta.

— Sim. Já estou indo! – Falo e ele gargalha do outro lado da porta.

      Coloco um top estampado e um casaco por cima, e uma calça de moletom, desço as escadas e encontro Bryan trocando mensagens com alguém e rindo.

— Que foi menino? – Pergunto e ele leva um susto 

— Thomas está contando que tem um voo pra cá, alugaram um avião e pediram especialmente para ele pilotar. Nosso irmão está tão feliz que parece que deram um pirulito para ele! – Bryan fala gargalhando.

— Thomas ainda é um bebê! Daria tudo para ver como ele está feliz! – Falo e Bryan sorri.

                Por fim, antes de saímos de casa, mandamos um áudio para Thomas, desejando boa sorte e então, tomamos café e fomos para o treinamento.

— Oi Sophia! Oi Bryan! – Kenya fala apertando nossas mãos.

— Oi herdeira da porra toda! – Bryan fala e Kenya ri, divertida com o comentário.

— Vamos começar? Como está a dor no corpo hoje? – Kenya pergunta assim que faço uma careta.

— Moderada! – Falo e ela sorri, malignamente.

— Então posso pegar pesado hoje! – Kenya fala e então, começamos a treinar.

                Thiago chegou pouco tempo depois de começarmos o treinamento, Kenya estava treinando socos comigo e, quando olhei pra ele, ela acertou um em cheio no meu rosto, o que fez ela rir e eu, ficar com vontade de socar a cara dela. 

                Minutos antes de terminarmos o treinamento, Kenya permanecia parada a minha frente, com o protetor peitoral, enquanto eu chutava sua costela. 

                Tyson passou pela porta com pressa e foi até Thiago, falou algo em um tom mais baixo que o comum e em seguida, Thiago perdeu a cor. Parei de chutar, olhando pra eles, Kenya bufa raivosa.

— Se concentra Sophia! – Kenya fala ficando sem paciência.

                Thiago pega o telefone de seu bolso e dá um muro na parede, em seguida, seus olhos parecem notar que estou olhando, porém, ao contrário de todas as outras vezes que procurei seu olhar, dessa vez, ele desviou.

                  Tem alguma coisa de errado!

— Sophia! Bryan! – Thiago nos chama e sua voz sai mais alterada que o normal.

— Oi! – Falo me aproximando dele, junto com Bryan.

— Eu não sei como falar isso! – Thiago fala e eu sinto minha mão começar a tremer.

— Você está me deixando preocupado! – Bryan fala  respirando fundo e limpando o suor que escorria por seu peito.

— Thomas tinha um voo particular para a Rússia hoje. Acontece que, esse avião, foi sabotado. Não sabemos onde ele caiu ou se Thomas está bem, tudo o que sabemos é que alguém armou para ele! – Thiago fala e eu sinto o desespero tomar conta de mim.

— COMO ASSIM O AVIÃO DO THOMAS CAIU? QUEM FOI O DESGRAÇADO? – Bryan grita furioso.

                Permaneço em silêncio, martelando as palavras ditas por Thiago a não mais que cinco segundos. 

     Não sabemos se Thomas está bem!

   

                Meu irmão, que a horas atrás estava mandando fotos sorrindo prestes a ir pilotar um jato particular para alguém que, pediu ele fosse o piloto, agora, estava desaparecido.

                Meu coração dispara, sinto minha mão tremer cada vez mais, olho para os lados procurando algo para quebrar.

                Tive pequenos dias de paz, e agora, tudo volta a ficar ruim. Os inimigos a nossa volta, estão nos ferindo e pouco a pouco, vencendo a guerra que não sabemos porque começou.

O caos, finalmente chegou, minhas mãos tremem e minha respiração falha, Bryan está socando a parede sem parar, tendo reunir forças para m****r ele parar, mas, não consigo, o ar em meus pulmões parece queimar eles, cada vez que o busco, suplicando para que ele me deixe respirar mais um pouco, mas, mesmo em meio as minhas súplicas por mais ar, não consigo me livrar do peso que esmaga meu coração.

                Me apoio na parede, minha visão está turva, o desespero que perder meu irmão vem à tona, e então, as lágrimas descem, tento abraçar minhas pernas, mas meus pulmões não me dão força para tal movimento, eles necessitam de ar e eu, de notícias do irmão que desde pequena, se tornou meu anjo, não por ser meu irmão, mas por sempre estar lá quando precisei, e agora, até mesmo seu paradeiro era algo que não sabíamos. 

                Apoio minha cabeça na parede, procurando o ar, procurando forças para lidar com o desaparecimento de Thomas, com o desespero que agora, rodeia todos nós. 

                O ar falha mais uma vez, meus pulmões queimam cada vez mais, começo a tossir, implorando por ar, bato com a mão na parede, procurando forças para respirar.

— Sophia para! Está tudo bem! Vamos achar ele! Eu prometo! – Thiago fala e me abraça, ele sabe que isso me acalma, consigo puxar o ar e respirar um pouco.

— Eu estou aqui Sophi! Vamos achar ele! Apenas respire! Preciso que respire, amor! – Thiago fala novamente e agora consigo abraçar ele, chorando.

                Me aninho em seu abraço, sinto minhas mãos doerem, provavelmente sangrando, Thiago me aperta contra seu corpo e ainda mais soluços vem.

— Não posso perder ele! Não posso! – Falo quase em um sussurro.

— Eu sei Sophia, eu sei! Vamos achar ele! – Thiago fala me abraçando ainda mais forte

— Eu quero meu irmão Thiago! Você promete achar ele? – Pergunto, sabendo que ele não pode garantir isso a mim.

— Eu prometo Sophia, vamos achar ele! – Falo e então, ela termina de se aninhar em meu colo e relaxa, deixando seu corpo cair em sono profundo por conta da falta de ar ainda presente nela.

                Fazem exatas vinte e quatro horas desde que Thomas desapareceu e o meu desespero só aumenta cada vez mais desde que Thiago deu a notícia de que o avião que ele estava pilotando caiu. 

              Quando acordei, Thiago estava me colocando na cama e por mais que eu quisesse ficar deitada e chorar até meu irmão passar através da porta, me obriguei a levantar e ir procurar Bryan, que ainda estava em choque, abracei ele e prometi, por mais que fosse duvidoso, que acharíamos Thomas e o traríamos para casa, com vida. 

            Depois que Bryan se acalmou, o mandei ir para o banho e fiz o mesmo, só então, me dei conta de que, as palmas das minhas mãos estavam cortadas, por conta do quanto forcei minhas unhas nelas, assim que a água bateu nos cortes, a dor veio, junto com as lagrimas, não tendo como motivo a dor física, e sim a emocional. 

          Antes do jantar, do qual eu não participei, fiz curativo nas mãos do Bryan, que estavam em um estado não muito bom por conta do seu surto, depois disso, voltei para o quarto e fiquei na sacada, observando a vista, imaginando onde, meu irmão poderia estar. 

         Durante a madrugada, liguei para os meus pais, que disseram que, já sabiam do acontecido e que, o morro havia sido invadido e que, eles não tinham como sair de lá por enquanto, mas que, assim que tivessem notícias do Thomas ou que soubessem onde ele estava, viriam para a Rússia no mesmo instante.

 Eu achava que apenas as palavras ditas poderiam machucar e trazer temor a nós, mas agora, o silencio também começava a se tornar sufocante, temido, agonizante. 

           Sempre achei que seria forte ao lidar com perdas, com pessoas indo e vindo o tempo todo, tudo isso, porque eu tinha meus pilares, minhas ancoras, as pessoas com quem eu poderia contar caso tudo ficasse fora do controle e agora, esses pilares estavam se destruindo, um de cada vez, lentamente, caindo em meus pés, sem que eu tivesse a chance de tentar os segurar e não haveria força alguma, se um deles, sumisse de vez. 

          Thomas Harvelle, é um dos meus pilares, um dos meus três anjos e o silêncio se tornou meu maior medo.

           Kenya e Tyson estão grudados nos celulares e computadores desde que a notícia chegou, tentando desesperadamente, achar o Thomas se tornou prioridade de todos a nossa volta.

            Thiago está tentando me manter calma, como ele sabe que eu não durmo, ele me traz chá ou me deixa bater nele na sala da academia que tem na casa onde estamos. 

            Olho para o céu, agora, escuro, cheio de nuvens, prestes a desabar e tudo o que se passa na minha cabeça é que, Thomas está em algum lugar, provavelmente com frio e com medo do que vai acontecer.

— Você deveria estar dormindo Sophi! – Thiago fala entrando na sacada do meu quarto.

— Você também! – Falo olhando para o relógio, que marca 03:30 da manhã. 

— Tenho meus motivos. Vem, você precisa descansar! – Thiago fala e me puxa para o quarto, apenas sigo ele.

            Thiago deita e me faz deitar, mantenho certa distância de seu corpo, estar perto dele faz o mundo parecer menos cruel. Thiago olha para mim, balança a cabeça e me puxa novamente, colocando nossos corpos lado a lado, fecho os olhos, abraço ele, querendo morrer, por não ter achado meu irmão ainda, por não saber ao menos onde ele está. 

— Vamos achar ele, fica calma! – Thiago fala percebendo minhas respiração fora do ritmo, enquanto luto para segurar as lágrimas.

— E se, for tarde? – Pergunto lutando contra a resposta.

— Não vai ser! Sei que não tenho o direito de prometer nada, mas, prometi que acharia ele, seja lá onde ele estiver, vamos achar e ele vai poder me bater de novo. – Thiago fala e eu sorrio.

— Thomas te bateu? – Pergunto olhando para ele.

— No jantar de apresentação, depois que dançamos, levei um soco por ter voltado e por mais que eu odeie admitir, ele é mais forte do que pensava! – Thiago fala e eu sorrio, o segundo sorriso verdadeiro que dei, nas últimas vinte e quatro horas.

— Me lembre de agradecer ele por ter feito isso! – Falo em tom de brincadeira.

— Você é terrível! – Thiago fala e aproxima a cabeça do meu pescoço, me fazendo recuar, ao seu toque.

— Melhor, você ir dormir! – Falo e ele revira os olhos.

— Não vou sair do seu lado, até tudo ficar bem! – Thiago fala, em seu tom de quem está prometendo e não, apenas falando.

             Não respondi, apenas me ajeitei em seu peito e tentei relaxar, minha cabeça já doía por estar sem dormir a tanto tempo, antes de dormir, pedi aos céus para que, cuidassem do Thomas e que, permitissem que, encontrássemos ele logo.

                              ****

— Sophia, acorda! Achamos ele! – Ouço a voz animada de Bryan e sinto meu corpo ser sacudido.

— Acharam ele? – Pergunto sentando rapidamente.

— Sim, Kenya e Tyson conseguiram encontrar ele! Podemos ir buscar nosso irmão Sophi! Achamos ele, porra! – Bryan fala animado com a notícia.

— Eu não acredito! Quando vamos? – Pergunto levantando da cama e prendendo o cabelo.

— Thiago está reunindo a equipe, o avião do Thomas está no meio de uma floresta, fica a oito horas daqui! – Bryan fala e eu desço as escadas rapidamente.

                 Thiago está na sala, conversando com Tyson e Kenya, que estão concentrados no que ele fala.

— Saímos assim que isso estiver pronto! – Thiago fala e Kenya concorda com a cabeça 

— Não sei como, mas, eu vou ir junto! – Falo interrompendo a conversa.

— Sophia... – Thiago começa a falar mas eu o interrompo.

— Sem essa de "Sophia"! Eu vou ir junto, seja lá onde for, meu irmão está lá, eu sei me defender e atiro melhor que a maioria dos homens que conheço, tirando isso, conheço bem mais de medicina do que qualquer um aqui. Eu vou ir junto! – Falo deixando ele sem opções.

— Deixa ela ir, garanto que ela dá conta, você sabe disso. Além de que, Bryan vai!  – Kenya fala e Thiago me encara.

— Vocês venceram! Arrume uma mochila com roupas quentes, o resto levaremos. – Thiago fala e sai da sala.

— Você sabe que ele só está assim porque quer te proteger né? – Tyson fala assim que entro no meu quarto para arrumar a mochila.

— Foi justamente querendo me proteger, que ele me perdeu! – Falo e percebo o quão cruel isso soa.

— Thiago cometeu muitos erros Sophia, mas nenhum deles foi pra te machucar! – Tyson fala e eu sorrio.

— Tudo bem Tato, eu só, quero meu irmão de volta! – Falo e ele sorri.

— Vamos buscar ele! – Tyson fala e sai do quarto.

                 Uma hora depois, Kenya estacionou um carro aparentemente blindado na frente da casa onde estávamos, colocamos nossas coisas no porta malas e entramos, Bryan foi na frente, Tyson, eu e Thiago, sentamos atrás e por mais que eu quisesse gritar que, Thiago não deveria me tratar como algo frágil, que pode quebrar a qualquer momento, eu não fiz, pois entendia o medo que ele aparentemente, está sentindo.

             Tato estava concentrado em seu computador, quando senti a mão de Thiago tocar a minha e apertar a mesma, olhei para ele, procurando uma justificativa para tal ato.

— Preciso que me prometa uma coisa. – Thiago fala sussurrando, para que apenas eu escute.

— Depende. – Falo insegura, com seu pedido.

— Preciso que prometa que, se algo der errado e eu te pedir para voltar pro carro, você apenas me obedeça e não coloque sua vida em risco! – Thiago fala e eu o encaro.

— Eu não posso prometer isso! – Falo 

— Eu preciso que prometa, por favor! – Thiago fala e eu o encaro.

— Por que quer que eu prometa isso? – Pergunto e ele encara meus olhos. 

— Não suportaria a ideia de te perder novamente! – Thiago fala e eu sinto meu coração se apertar.

— Eu prometo, que todos nós vamos voltar, juntos e que ninguém vai perder ninguém! – Falo e ele fecha os olhos, digerindo as palavras.

— Acho que por enquanto, está bom! – Thiago fala e eu sorrio, deixando nossas mãos entrelaçadas.

       Em menos de oito horas, vamos chegar ao local onde o avião caiu e torcer para que, nosso maior inimigo, seja o frio e a escuridão e não, o tempo, que a cada segundo que passa, torna cada passo nosso, mais perigoso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo