Camélia Durante nossa primeira parada, enviei um mensageiro ao marquesado de Elrik para informar da nossa chegada. Não fazia ideia do que nos aguardava, por isso fiz questão de ser vista pelo máximo de pessoas possível. Para minha grata surpresa, muitas das pessoas que encontrei em meu caminho se mostraram apoiadoras de Valois, exaltando o nome do grão-duque e apontando os erros na maneira que o imperador vinha governando, seus gastos e suas falhas com o povo do império de Arventia. ― Eonora está ao seu lado, vossa graça. ― Uma mulher de idade avançada disse, segurando minha mão e tocando sua testa nela. Muitas pessoas seguiram o exemplo da senhora, se curvando e dizendo abertamente que estavam ao meu lado. No meio da multidão, eu pude reconhecer um espião de Theodore. Aquele foi um dos soldados que me prenderam e abusaram de mim de todas as formas possíveis. Meu sangue gelou ao vê-lo, mas mantive a postura. Rapidamente me afastei daquele lugar, escapando dos olhares ferozes daqu
Uma brisa suave soprava, trazendo um alívio refrescante a um dia quente de primavera. As ruas estavam tomadas com as decorações destinadas ao Festival em comemoração a fundação do império de Arventia. O povo era feliz e prosperava sob os olhos justos do Imperador Donovan Arventia, do príncipe herdeiro Theodore Arventia e da primeira princesa Camellia Arventia. Bom, pelo menos era o que todos na corte queriam que o povo pensasse.Cresci cercada de todos os luxos, com os melhores tutores que o império possuía e caso não houvesse alguém com o conhecimento que eu desejasse aprender, seriam trazidos especialistas de outros reinos apenas para me ensinarem. Porém, por detrás dos vestidos, festas do chá, bailes e bajulações por parte de alguns nobres, a vida no palácio imperial era muito diferente do que aqueles de fora acreditavam.Após o falecimento da imperatriz, que não deixou nenhum filho, o imperador tomou como sua consorte a filha de um rico marquês, minha mãe, uma jovem cuja beleza er
― A primeira princesa do Império Arventia, Camellia Arventia ― o homem ao lado da porta anunciou.As portas se abriram, a luz forte me cegou por um momento. O salão estava em completo silêncio enquanto todos me olhavam. Os cochichos cresciam conforme eu caminhava em direção à família imperial, sentados em seus tronos, na posição de maior destaque dentro do grande salão. Não me permiti baixar a cabeça, segui caminhando com dificuldades, mas sempre mantendo meus olhos em meu objetivo. A mãe de Theodore está de pé, logo atrás do imperador, me olhando com um grande sorriso cruel em seus lábios. O imperador me olhava com total desgosto e Theodore riu abertamente, ao ponto de abraçar sua barriga como uma criança. Eu me sentia humilhada e apenas desejava sair daquele lugar, ao qual eu claramente não pertencia.Parei diante do torno, me curvei com perfeição e graça, como havia sido treinada desde que nasci. “Saúdo a Sua majestade Imperial, o Imperador Donovan Arventia. Que as bençãos e Eonor
Passei o dia seguinte ao baile trancada em meus aposentos, proibida de sair até mesmo para andar no meu palácio. Minhas refeições também foram reduzidas, como punição por flertar com o Grão-duque de Valois. Então eu entendi que o ressentimento que meu pai, o imperador, tinha do grão-duque ia muito além da linha de sucessão do trono.Passei aquele dia relendo alguns livros que eu tinha no meu quarto, na manhã seguinte, após me arrumar sozinha, uma criada que eu não conhecia entrou, se curvou sorrindo e se apresentou como minha nova criada pessoal. Seu comportamento me espantou, especialmente pelo fato de que nenhum criado gostava de ser enviado ao meu palácio para me servir, acarretando eu ser deixada para me cuidar sozinha. ― O imperador mandou você para me vigiar? ― perguntei, a tristeza já enraizada em meu coração.A empregada, que se chamava Laura, sorriu docemente para mim. ― Eu me candidatei para servi-la, sua alteza. A princípio fiquei desconfiada de Laura, mas com o passar d
Nunca havia trocado correspondências com ninguém, quanto mais com um cavalheiro como o Grão-duque. O conteúdo de suas cartas era sempre muito interessante e gentil, falávamos de assuntos variados e ele não parecia se incomodar com o meu grau de inteligência como outras pessoas, na verdade, ele até mesmo pedia meu ponto de vista em determinados assuntos. Algo que a princípio me deixou um pouco desconcertada, foi o fato de que, para que nossas cartas não fossem interceptadas e vistas como uma tentativa de traição, o Grão-duque e eu concordamos em nos chamar pelos nossos nomes, sem títulos, apenas Willian e Camellia. Ler meu nome em sua caligrafia tão rebuscada pela primeira vez, fez todo o meu corpo se aquecer e meu coração acelerar, era uma sensação agradável e diferente, eu realmente nos via como amigos próximos, ou algo similar a isso.As semanas foram passando e, por estar no campo de batalha, Willian não me escrevia com tanta frequência quanto eu gostaria, mas eu compreendia a sit
As lágrimas rolavam pelo meu rosto em desespero. Ele iria me matar, seus olhos diziam exatamente aquilo, eu não tinha a mínima chance de sobreviver. ― Eu lamento, sua alteza, o príncipe herdeiro. ― o tesoureiro disse se aproximando. Ele tremia dos pés a cabeça, o suor já se acumulando eu sua testa enquanto ele esfregava as mãos. ― Como não iriamos demorar, eu deixei a porta aberta. Sabia que a princesa Camellia viria, pois ela recebeu a permissão do imperador de ir até a biblioteca pegar alguns livros. Nunca me senti tão grata de que todos dentro do castelo fossem informados sobre os meus passos. A biblioteca ficava próxima à sala do tesoureiro e as portas eram sutilmente diferentes, como os puxadores de uma serem retos e os da outra serem arredondados. Theodore me soltou, me jogando no chão, então se inclinou levemente, um sorriso assustador em seus lábios. Sua bota caiu com força sobre meu tornozelo, espalhando uma dor aguda por todo o meu corpo. Eu queria gritar, mas sabia muto
O fio de luz do sol entrava pela estreita janela na parede de pedra, mas não era suficiente para aquecer a cela fria e úmida. Já não usava mais meu vestido, em seu lugar me deram um vestido simples feito com um tecido cru e grosso de arranhava a pele. Mal recebia uma refeição decente, apenas o mínimo para me manter viva até o dia de minha execução.Eu não sabia quanto tempo já havia se passado, todos os meus dias eram iguais, sombrios e dolorosos de várias formas diferentes. O dia em que os inquisidores vieram foi o pior de todos eles. As atrocidades que eu apenas havia lido em livros de história antiga e que deveriam ter sido banidos do império há tantos anos, eu as vivenciei. Ferros quentes, agulhas, toalhas com água, minhas unhas sendo arrancadas uma a pós a outra, tudo isso feito com a intenção de me fazer confessar que eu era uma bruxa.Eu fui traída por todos os que me cercavam, todos os que acreditei serem meus amigos e que se importam, ao menos um pouco, comigo. Laura foi a pr
Como se eu tivesse sido arremessada e caísse no solo, despertei ofegante e assustada. De imediato, levei minhas mãos ao meu pescoço, a sensação do ferro frio e ainda vividas em minha mente e meu corpo. Eu tremia descontroladamente, meus olhos embaçados pelas lágrimas não derramadas. Olhei para minhas mãos, limpas e suaves, minhas unhas longas e bem feitas. Não conseguia entender o que estava se passando. Tudo foi um sonho? Uma alucinação? Ou talvez um aviso do futuro que me esperava? Abracei meu corpo, tentando conter os tremores incessantes, então o som de uma porta me alertou. Ao olhar ao redor percebi que estava na biblioteca imperial, vários livros diante de mim sobre a bela mesa de madeira escura. Uma figura imponente surgiu e parou por um momento diante de mim, ergui meus olhos para ver a bela figura do Grão-duque Willian Valois. Com uma reverência, Willian baixou sua cabeça e colocou a mão sobre seu peito. ― Saúdo a primeira princesa do império de Arventia, sua alteza, prince