A segunda chance da Princesa
A segunda chance da Princesa
Por: K. R. Alexander
A princesa rejeitada

Uma brisa suave soprava, trazendo um alívio refrescante a um dia quente de primavera. As ruas estavam tomadas com as decorações destinadas ao Festival em comemoração a fundação do império de Arventia. O povo era feliz e prosperava sob os olhos justos do Imperador Donovan Arventia, do príncipe herdeiro Theodore Arventia e da primeira princesa Camellia Arventia. Bom, pelo menos era o que todos na corte queriam que o povo pensasse.

Cresci cercada de todos os luxos, com os melhores tutores que o império possuía e caso não houvesse alguém com o conhecimento que eu desejasse aprender, seriam trazidos especialistas de outros reinos apenas para me ensinarem. Porém, por detrás dos vestidos, festas do chá, bailes e bajulações por parte de alguns nobres, a vida no palácio imperial era muito diferente do que aqueles de fora acreditavam.

Após o falecimento da imperatriz, que não deixou nenhum filho, o imperador tomou como sua consorte a filha de um rico marquês, minha mãe, uma jovem cuja beleza era conhecida por todo o império, mas, após a jovem esposa dar à luz a princesa Camellia, o fruto de um casamento sem amor, ela faleceu de forma misteriosa. Fui rejeitada por todos desde meus primeiros dias de vida e então o império se viu de luto mais uma vez. A consorte fora envenenada, mas nenhuma investigação foi aberta para investigar quem poderia ter feito tal atrocidade contra uma mulher tão jovem que acabará de ter sua filha.

Cresci escondida em um palácio afastado, recebendo apenas o necessário para sobreviver e com poucos criados para cuidarem de mim, com isso aprendi a me cuidar sozinha desde muito jovem. Os fundos para minhas despesas eram os menores, enquanto os do Príncipe Herdeiro e sua mãe, a concubina favorita do Imperador, não tinham limites. Minha babá parecia ser a única que verdadeiramente me amava, contando-me histórias e cuidando de mim. Ao perceber minha inteligência avançada para minha tenra idade, ela comunicou ao meu pai, o imperador, que curioso olhou para mim pela primeira vez. Ao constatar minha inteligência foi quando se deram início aos meus estudos. Conforme eu evoluía em conhecimento, passei a receber mais no meu orçamento, criados eram contratados e eu estava sempre recebendo novos livro, mas nunca a atenção ou o carinho de meu pai.

Estava estudando, perdida em meus pensamentos, sentada à mesa da grande biblioteca imperial, quando um cavalheiro se aproximou. Ele era um homem alto com uma presença marcante e imponente, um pouco intimidador por conta de seu corpo forte, seus cabelos negros penteados para trás deixaram a mostra seus brilhando e frios olhos azuis e queixo proeminente. Sem dúvida um homem de beleza única e marcante. Suas roupas eram muito elegantes, ornamentadas com joias de corte únicos, o que me fez pensar que se tratava de um nobre de alto status que estava ali a convite do imperador. Por algum motivo me senti envergonhada de ser vista ali por aquele homem, então me escondi entre as estantes, até que ele desapareceu mais uma vez pelas portas. Posteriormente descobri que se tratava do Grão-Duque Willian Valois, primo de meu pai.

Estava sonhadora, com os braços repletos de livros e a mente tomada por imagens daquele homem tão bonito e intrigante, não prestava atenção no meu caminho e acabei esbarrando em alguém. Antes que eu pudesse me desculpar, o forte impacto em meu rosto me surpreendeu e me fez cai no chão.

 ― Sua inútil, estúpida! Agora vou precisar trocar minhas roupas, pois você as sujou. ―  Theodore disse, sua voz tomada de fúria. Me mantive no chão de cabeça baixa. Há muito tempo eu havia aprendido que a fúria de Theodore poderia ser menor se eu apenas ficasse com meus olhos no chão enquanto ele me insultava na frente dos criados, que apenas cochichavam e riam de mim pelas minhas costas.

Ouvi os sons das botas de Theodore se afastando, então ergui meus olhos bem a tempo de vê-lo virar em um corredor. Recolhi meus livros e voltei correndo para o meu quarto, me trancando nele.

Os abusos não se limitavam ao meu irmão mais velho. Algumas criadas também me maltratavam quando minha babá não estava por perto, puxando meus cabelos ao me pentear, ou me espetando com os broches. Eram sempre coisas pequenas que poderiam ser tomadas como simples acidentes durante seus trabalhos.

Para minha felicidade, o Imperador me permitia sair de uma a duas vezes por semana do palácio para trabalhos de caridade no tempo da deusa Eonora, a deusa da eternidade. Aquele lugar, repleto de paz, era um dos meus lugares favoritos, por estar longe do palácio imperial, mas naquele dia, meu lugar seguro seria corrompido. Uma comitiva do príncipe herdeiro foi até o templo com o intuito de fazer doações e cobrar os favores dos sacerdotes. Eu me cobri com uma capa enquanto ajudava nos jardins do templo, rezando para que Theodore apenas fosse embora o mais rápido possível, mas minhas preces não foram fortes o suficiente.

 ― Hoje realmente é um dia de merda para mim, ― disse o príncipe, deixando os sacerdotes horrorizados com suas palavras grosseiras. Me levantei e fiz uma reverência.

 ― Saúdo sua alteza imperial, o príncipe herdeiro Theodore Arventia. Que as bençãos de Eonora recaiam sobre sua alteza. ― disse tentando me manter calma e a cabeça baixa. Senti a mão de Theodore sobre a minha cabeça, empurrando com força para baixo, até que cai de joelho do chão.

 ― Esse é o seu lugar, coisa inútil, nunca se esqueça disso. ― disse Theodore, então ele segurou meus cabelos e me levantou. Lutei para me libertar e em meu estúpido desespero, acabei arranhando a mão de Theodore, que me soltou para ver sua linda pele branca com um rasto vermelho forte.

Quem visse Theodore acreditaria que ele era um anjo apenas pela sua aparência. Um homem alto e esguio, com longos cabelos cor de ouro e grandes olhos azuis como pedras de gelo, a marca registrada dos membros da família imperial. Para minha falta de sorte, herdei os olhos únicos de minha mãe, que eram um profundo e escuro verde. Meus feios cabelos castanhos avermelhados se destacavam em todo o lugar em que eu ia, mesmo que eu os cobrisse com um lenço.

 ― Pare de bancar a vítima e levante de uma vez. ― Theodore disse, me assustando de meus devaneios. Mais uma vez ele me segurou pelos cabelos e alguns sacerdotes tentaram impedi-los, mas eu não permiti, acenando com a mão para que eles não se aproximassem. ― Volte logo para o seu chiqueiro e pare de envergonhar nossa família, aparecendo nessas condições deploráveis na presença de outros nobres que visitam o templo. ― Theodore me jogou para o lado e cai, machucando meus joelhos na queda, então ele partiu.

Antes de parti, rezei para que a Deusa pudesse tornar Theodore uma pessoa digna realmente de ser o imperador, que ele se tornasse uma pessoa benevolente, justa e amada pelo povo do império. 

Um estranho medo passou a me dominar quando eu tinha minha permissão para sair, pois eu temia que Theodore pudesse aparecer do nada e me humilhar diante de todos mais uma vez. Em breve seira dado um baile para celebrar o noivado do príncipe herdeiro com a filha do Marquês Montague, Isabella de Montague. Ela era uma linda jovem, mas parecia sempre assustada na presença de Theodore e nas vezes em que tentei me aproximar dela, Theodore ficou com tanta raiva que ordenou minha prisão em meu quarto por dias sem nenhuma comida, mas, graças a minha querida babá, eu consegui viver de pão velho, água e outras coisas que ela conseguia pegar sem ser vista.

Amanheceu, e todas as criadas apareceram com vestidos, sapatos e joias para me preparar para o baile de noivado do príncipe herdeiro e da senhorita Isabella. Algo dentro de mim gritava para que eu não fosse, porém, não havia escolha. Como princesa do império, mesmo  não tendo os favores de meu pai e irmão, eu tinha de comparecer a celebrações importantes como aquela. Fui ver os vestidos que me foram enviados e todos eram modelos muito antigos, os sapatos eram do tamanho errado, ou extremamente grandes, ou desconfortavelmente pequenos para mim. As criadas riem enquanto eu buscava dentre os poucos vestidos algo apropriado para usar no baile.

As joias eram todas de péssima qualidade, algumas estavam quebradas e faltando pedras, claramente eram peças que seriam descartadas, mas foram enviadas para que eu as usasse. Meu corpo inteiro tremia com o que poderia acontecer naquele baile, os olhares dos nobres que me viam como a vergonha da família imperial, como uma mulher tola que deveria ser escondida de todos e que se quer foi devidamente apresentada a sociedade ao atingir a maioridade. Já estava prestes a completar vinte anos e nunca recebi uma proposta de casamento, pois apenas me era permitido participar de eventos cuidadosamente selecionados. Isso restringiu muito para que eu pudesse fazer amigas da minha idade ou conhecesse um jovem adequado para ser meu marido.

Aquele baile seria minha última chance, já que eu havia sido impedida de participar de as demais etapas da celebração do noivado, como as orações no templo e o banquete real, apenas me foi permitido participar da apresentação oficial do príncipe e da princesa herdeiros. De certa forma eu me sentia feliz por terem me permitido participar, pois acreditava que estava um passo mais próxima de ser aceita por todos.

Claro que precisei me arrumar sozinha, pois nenhuma das criadas, além da minha babá, estava interessada naquilo. Acabei escolhendo um vestido amarelo chamativo, por ser o único que estava em boas condições, apesar do excesso de laços, fitas e babados de renda por todo ele. As joias não combinavam, então tive de usar um prendedor de cabelos com uma pedra púrpura e pequenos diamantes opacos. Não havia nenhum colar que eu pudesse usar, todos estavam em péssimas condições. Meu desejo naquele momento era apenas me trancar em meu quarto e chorar por toda a noite, do que aparecer ao baile com aquela aparência tenebrosa, porém havia um alto risco de que minha ausência enfurecesse o imperador. Caminhei pelos corredores do palácio, meu corpo inteiro tremendo, meus pés doendo por conta do sapato apertado, mas mantendo minha cabeça sempre erguida. Apesar de tudo, eu ainda era a primeira princesa do Império de Arventia, Camellia Arventia. Parei diante das imponentes e ameaçadoras portas douradas, respirando fundo algumas vezes antes de entrar no lugar que eu não sabia, mas se tratava do campo de batalha mais perigoso em que já pus meus pés.

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