WilliamO cheiro da terra, a podridão dos corpos em decomposição misturado ao de carne queimada dominavam o ar no campo de batalha. O cerco havia sido bem-sucedido, mesmo com os constantes ataques imprevisíveis que vinhamos sofrendo. Estava claro que, aqueles que nos atacavam apenas o faziam sem qualquer planejamento. Nossos inimigos também não eram homens treinados, alguns sendo extremamente fáceis de serem abatidos. Toda aquela situação era fora do normal, despertando ainda mais dúvidas em minha mente sobre o real motivo de toda aquela guerra.― Vossa graça. ― Alexander se aproximava ofegante, a espada banhada em sangue, assim como sua armadura. ― Acredito que já tenha notado, pela sua expressão.Como esperado, Alexander era um homem muito inteligente e também notou a estranheza de nossos inimigos.― Precisamos descobrir se esses homens estão sendo mandado pelo imperador, para forjar toda essa guerra, ou se mais alguém está envolvido nisso.― Esta suspeitando do templo, vossa graça?
CaméliaPoucas casas haviam permanecido de pé, a cidade, que antes era conhecida por ser um porto cheio de vida, agora cheirava a morte. Mesmo o céu azul sobre nossas cabeças parecia sombrio e triste. Nos separamos em pequenos grupos, buscando suprimentos e um lugar seguro para que pudéssemos pernoitar. Não consegui me recuperar completamente, Bianca e o doutor Jonathan estavam preocupados com minha saúde, mas não podíamos perder mais tempo. Theodore estava no sul e eu não fazia ideia do paradeiro do grão-duque. Ficar parados seria muito mais perigoso.Decidi ir ao templo e, para minha surpresa, aquele era o único lugar que não havia sofrido qualquer dano grave. As portas haviam sido destruídas, provavelmente em uma tentativa de nos capturar depois que já havíamos partido. Dentro da grande abadia, tudo estava revirado e a imagem da Deusa havia sido destruída. Os pedaços da estátua estavam espalhados pelo chão, caminhei pelos escombros e encontrei parte do rosto de Eonora, com seus olh
CaméliaOs sacerdotes passaram a me observar de perto. O doutor Jonathan conseguiu montar uma pequena clínica para continuar o tratamento dos civis. Muitos refugiados de cidades próximas atingidas pela guerra, chegavam buscando auxílio, essas pessoas também vinham até mim pedindo bençãos e suporte espiritual. Os sacerdotes estavam ficando cada vez mais de lado, o que os estava irritando muito.Meu plano era formar um pequeno grupo de busca, já que o império e o templo, não tinham qualquer intenção em procurar os heróis desaparecidos. Porém, com toda a vigilância que eu estava sofrendo, seria impossível sem que a informação fosse levada aos ouvidos dos nossos inimigos. Os dias passaram, as pessoas começaram a reerguer suas casar e reconstruir suas vidas, mas não havia qualquer notícia de William e os outros nobres no Norte.Estava de pé, diante dos portões reconstruídos da cidade em minha vigília, quando o doutros Jonathan se aproximou, parando ao meu lado. Eu podia sentir seus olhos s
CaméliaA manhã daquele dia estava especialmente fria, mesmo que ainda faltassem alguns meses para o inverno. Bianca estava terminando de arrumar meus cabelos quando uma criada bateu a porta trazendo uma bandeja, sobre ela havia apenas uma carta com o brasão da antiga família de minha mãe. Meu sangue gelou e minhas mãos tremeram quando pequei o envelope. Aquilo era impossível, pois eu vi a casa onde meus avós estavam ser destruída pelos soldados de Theodore. Dispensei minha criada e fui até a pequena mesa de chá, próxima à janela. O céu parecia combinar com meu humos, sombrio e denso. Ao romper o frágil lacre, não reconheci a letra no papel, mas o brasão de armas da família de minha mãe estava lá, ornamentando o fino papel.“À Nobre e Digníssima Grã-Duquesa Camélia ValoisCom um coração pesaroso e uma alma mergulhada em sombras de arrependimento, sou compelido a compartilhar uma triste notícia que lança uma sombra ainda mais profunda sobre nossos laços familiares já dilacerados. É com
Camélia Durante nossa primeira parada, enviei um mensageiro ao marquesado de Elrik para informar da nossa chegada. Não fazia ideia do que nos aguardava, por isso fiz questão de ser vista pelo máximo de pessoas possível. Para minha grata surpresa, muitas das pessoas que encontrei em meu caminho se mostraram apoiadoras de Valois, exaltando o nome do grão-duque e apontando os erros na maneira que o imperador vinha governando, seus gastos e suas falhas com o povo do império de Arventia. ― Eonora está ao seu lado, vossa graça. ― Uma mulher de idade avançada disse, segurando minha mão e tocando sua testa nela. Muitas pessoas seguiram o exemplo da senhora, se curvando e dizendo abertamente que estavam ao meu lado. No meio da multidão, eu pude reconhecer um espião de Theodore. Aquele foi um dos soldados que me prenderam e abusaram de mim de todas as formas possíveis. Meu sangue gelou ao vê-lo, mas mantive a postura. Rapidamente me afastei daquele lugar, escapando dos olhares ferozes daqu
Uma brisa suave soprava, trazendo um alívio refrescante a um dia quente de primavera. As ruas estavam tomadas com as decorações destinadas ao Festival em comemoração a fundação do império de Arventia. O povo era feliz e prosperava sob os olhos justos do Imperador Donovan Arventia, do príncipe herdeiro Theodore Arventia e da primeira princesa Camellia Arventia. Bom, pelo menos era o que todos na corte queriam que o povo pensasse.Cresci cercada de todos os luxos, com os melhores tutores que o império possuía e caso não houvesse alguém com o conhecimento que eu desejasse aprender, seriam trazidos especialistas de outros reinos apenas para me ensinarem. Porém, por detrás dos vestidos, festas do chá, bailes e bajulações por parte de alguns nobres, a vida no palácio imperial era muito diferente do que aqueles de fora acreditavam.Após o falecimento da imperatriz, que não deixou nenhum filho, o imperador tomou como sua consorte a filha de um rico marquês, minha mãe, uma jovem cuja beleza er
― A primeira princesa do Império Arventia, Camellia Arventia ― o homem ao lado da porta anunciou.As portas se abriram, a luz forte me cegou por um momento. O salão estava em completo silêncio enquanto todos me olhavam. Os cochichos cresciam conforme eu caminhava em direção à família imperial, sentados em seus tronos, na posição de maior destaque dentro do grande salão. Não me permiti baixar a cabeça, segui caminhando com dificuldades, mas sempre mantendo meus olhos em meu objetivo. A mãe de Theodore está de pé, logo atrás do imperador, me olhando com um grande sorriso cruel em seus lábios. O imperador me olhava com total desgosto e Theodore riu abertamente, ao ponto de abraçar sua barriga como uma criança. Eu me sentia humilhada e apenas desejava sair daquele lugar, ao qual eu claramente não pertencia.Parei diante do torno, me curvei com perfeição e graça, como havia sido treinada desde que nasci. “Saúdo a Sua majestade Imperial, o Imperador Donovan Arventia. Que as bençãos e Eonor
Passei o dia seguinte ao baile trancada em meus aposentos, proibida de sair até mesmo para andar no meu palácio. Minhas refeições também foram reduzidas, como punição por flertar com o Grão-duque de Valois. Então eu entendi que o ressentimento que meu pai, o imperador, tinha do grão-duque ia muito além da linha de sucessão do trono.Passei aquele dia relendo alguns livros que eu tinha no meu quarto, na manhã seguinte, após me arrumar sozinha, uma criada que eu não conhecia entrou, se curvou sorrindo e se apresentou como minha nova criada pessoal. Seu comportamento me espantou, especialmente pelo fato de que nenhum criado gostava de ser enviado ao meu palácio para me servir, acarretando eu ser deixada para me cuidar sozinha. ― O imperador mandou você para me vigiar? ― perguntei, a tristeza já enraizada em meu coração.A empregada, que se chamava Laura, sorriu docemente para mim. ― Eu me candidatei para servi-la, sua alteza. A princípio fiquei desconfiada de Laura, mas com o passar d