Capítulo VII

Ninguém tocou em nada. Ramon havia colocado também suas luvas como precaução.

O cadáver era de um homem aparentando cinquenta anos. Suas roupas demonstravam que era uma pessoa de fino trato. Ninguém tocou no morto, mas era possível visualizar suas mãos amarradas às suas costas. Pelas primárias deduções, ele havia sido executado com um tiro na cabeça.

Ramon fechou o porta-malas do Monza ao mesmo tempo em que observava a placa. Não tinha lacre.

— É fria, San!

— O que foi que você disse?

— Eu disse que a placa é fria. Não tem lacre, tá vendo?

Ramon gravou instintivamente a numeração: DX 0454.

— Vamos dar o fora daqui ou vamos ter de explicar muitas coisas, observou Ramon.

Willdson, pela primeira vez, ficara surpreso com o amigo.

— Mas, ... Ramon! Nós temos que fazer alguma coisa, avisar a polícia, ... sei lá!...

— San, disse Ramon calmamente, raciocine um pouco. Olhe pro nosso carro e pro Monza. A primeira impressão é de que nós cometemos o acidente. Eles vão querer saber a nossa história. E pior! Como vamos explicar o cadáver?

— Mas, se fugirmos agora, eles vão descobrir que havia outro carro. Existem marcas no asfalto e no acostamento...

— Nisso, você tem razão. Mas, até lá, nós já estaremos longe. Não podemos nos envolver agora. As coisas já estão complicadas demais.

— Está bem! E como vamos tirar o nosso carro do buraco?

— Vamos ter que rezar para que a estrada continue deserta. Eu já conversei com o Carlão sobre isso. Tive uma ideia, que apesar de arriscada, é a única que pode dar certo.

Enquanto falava, abriu o porta-malas da perua e começou a procurar alguma coisa por entre os equipamentos.

— Achei o que precisamos.

Puxou da caixa de equipamentos uma corda de trinta metros utilizada para descidas em cavernas.

— Carlão, continuou Ramon, já sabe o que fazer!

Carlos imediatamente colocou o casaco de couro e as calças por dentro das botas. Acendeu sua lanterna e se posicionou no meio fio. 

Ramon passou a explanar para os demais.

— O Carlão vai dar uma de rodoviário caso apareça qualquer veículo. Se não for a própria polícia, o que eu duvido por aqui, ele vai enganar tranquilamente. Assim, impedirá que outro veículo pare.

Willdson ainda não tinha entendido o plano, mas nem por isso interrompeu.

— Preste atenção, San! Vá até o Monza e dê a partida. Os fios já estão prontos pra direta, não é? Traga-o até aqui, de ré.

Não era preciso dizer mais nada. A ideia era sensacional.

Willdson trouxe o carro e o manteve praticamente atravessado no meio da rodovia. Ramon dobrou a corda de trinta metros para ficar mais consistente e amarrou uma das pontas no eixo traseiro da perua, enquanto Willdson amarrava a outra ponta no eixo do Monza. Henrick fazia o trabalho de iluminação.

Terminado o serviço, Ramon foi para o volante da perua e aguardou que Willdson começasse a guinchá-la.

A perua rapidamente estava pronta para tocar em frente.

Henrick, com um grito de satisfação, soltou rapidamente as amarras e aguardou novas ordens.

— San, continuou Ramon sem sair da perua, coloca o Monza no mesmo lugar e deixa tudo como estava. Amanhã a gente informa a Central e passa a bola pro Fredy. Ele saberá o que fazer.

Willdson fez o trabalho como o combinado e enquanto todos entravam na perua, Ramon, com o seu costumeiro sorriso, finalizou:

— Se liga moçada! Isso é só o começo! Pelo jeito, o pior ainda não veio!

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