Prazer, minha noiva "falsa"
Prazer, minha noiva "falsa"
Por: Joelma Dejesus
Prólogo

Eva Sollis

Era um dia cinza, ameno, qualquer, mais um dia nublado e cinzento de Nova York, a cidade do encanto. 

Isabela Sollis:  — Vai terminar o pequeno príncipe? — Fui desperta pela delicada voz, meio que atropelando as palavras na frase, sorri vago ao ouvi, abaixo a cabeça para olhá-la, a meu lado, mais baixa, ereta dando passo a passo como um soldadinho, começando um diálogo, na sua cabeça um gorro vermelho de linho, os cabelos lisos negros, presos a trança lateral caída por cima do ombro, usando um uniforme short e saia quadriculado amarelo e marrom, a blusa azul-marinho em destaque o dourado e vermelho o brasão da escola, nos pés o coturno marrom.

Eva Sollis:  — Essa pressa é para lermos o novo livro, Isa? —  Os lábios pequenos, finos e rosados, se curvam num gesto fraco formando covinhas em ambas as bochechas, é visível que ela está curiosa para ouvir a história da menina que roubava livros. Eu não tive um bebê gênio ou qualquer outro do tipo, a minha filha nasceu com espectro autista. Ela não me olha diretamente, nem responde o que não lhe interessa, ela está sempre em seu mundo.

Olho-lhe erguendo a sobrancelha, logo em seguida noto que isso lhe interessa, mas no seu modo, seu tempo, algo que eu não posso apressar.

Eva Sollis: — Esta Isa? — Insisto, seus olhos oscilam em movimento, ambos negros como duas amêndoas, revelando seu interesse a calçada.

Eva Sollis: — Tudo bem, a gente termina hoje o pequeno príncipe, se...— Ergo o dedo querendo a atenção, mas ela para, os olhos pretos, olha em volta como se eu estivesse no ar.

 Isabela Sollis: — Se? — Sorrio com a sua pronúncia repetitiva, de fato está interessada, isso me agrada.

Eva Sollis:— Se comer tudo no jantar . — O silêncio reina, suspiro profundo, seguimos para a escola a pé. Depois de deixá-la na salinha, vou direto para o trabalho, não é fácil ser recepcionista, mãe solteira, mas entre essa vida e outra qualquer, a escolheria esta mil vezes.

O dia passa rápido no trabalho, entre atender e transferir ligações, receber e enchaminhar pessoas, responder perguntas, chega a tarde, depois de um dia intenso, na empresa que está lançando uma nova linha de perfumes internacional, pego o telefone para ligar para Fátima, antes de conectar a chamada, ela está ligando para mim, atendo com um sorriso largo, imagino que Isabela queira começar a leitura do pequeno príncipe logo, ela não falará em outra coisa.

Eva Sollis:— Oi, ia ligar ag... — Digo com um sorriso no rosto, vendo que pensamos o mesmo.

Fátima: — Se você ia pegar a Isa na escola porque mandou vir Eva? Poxa! — Me diz, sem nem terminar de me ouvir, sua voz demonstra que está chateada, sem esperar que eu responda, franzo o cenho em seguida.

Fátima: — Poxa, fiquei lá na portaria à espera e nada, Eva isso não se faz. — Resmunga.

Dou meio riso, ela sabe que estou no trabalho, só pode estar brincando.

Eva Sollis: — Claro, não né? Você ficou na portaria Fátima? — Questiono baixo, enquanto minhas colegas de trabalho atendem duas pessoas, são dezessete e trinta da tarde, falta um pouco ainda para deixar o trabalho.

Fátima: — Eu entrei né? Já que ela não veio, poxa Eva, porque não me avi.. —.

Nesse momento me preocupo, o meu cérebro se desespera, eu não sai daqui o dia inteiro.

Eva Sollis:— Fátima, eu não estou com a Isa, estou no trabalho, para de brincadeira.

Respondo rapidamente, tentando me acalmar, ninguém tem autorização para pegar a minha filha, somente eu ou ela.

Fatima: — Como no trabalho? Eva, eu não estou brincando com você, fala sério, você tá com a Isa, não está? — Levanto da cadeira rapidamente, meu coração acelera, sinto que irei enlouquecer.

Eva Sollis:— Não é evidente que não Fátima, onde está a minha filha? — A voz sai alterada fazendo todos na recepção me olharem.

Nada me importa nesse momento, tanto quanto, a minha filha.

Fátima: — Disseram que você a pegou mais cedo — Ouço, mas não consigo raciocinar, deixei a minha filha na escola pela manhã com a professora, como ela não está? Olho para os lados desesperada, eu não sai daqui o dia inteiro.

Eva Sollis: — Eu não peguei Isa, Fátima. — Contesto preocupada, sem imaginar que meus dias a seguir seriam de puro tormento.

[...]

São dois dias de buscas, procura, desespero, registro de boletim, polícia investigando, atenta ao celular, desesperada, os noticiários diariamente trazem notícias de crianças que desaparecem, que só são encontrado… não, eu não quero pensar no pior, o que será da minha vida sem a minha filha, Isabella é tudo o que eu tenho.

Fátima:— Trouxe café. — Mal olho para o copo, nego ao que Fátima põe a minha frente.

Fátima:  — Você tem que beber algo Eva, comer. — Parece que ela é a única a ainda acreditar em mim, todos acham que eu a peguei.

Coloca o copo em minha mão, não há florestas, não há lugares que tenham procurado, perguntado, os vizinhos se mobilizaram, como é possível que ninguém possa saber da minha filha?

Tudo o que a professora disse é que ela saiu no intervalo, quando retornou o porteiro disse que eu havia pego, mas como? Por que não me ligaram? O porteiro diz que eu a peguei, como eu poderia ter pego?

Minha cabeça quer explodir em mil pensamentos, não sei mais o que pensar, a policia me ver como suspeita, já respondi várias perguntas por o porteiro dizer que fui eu, exceto se...

Luzes dentro de mim se acendem como num farol, como não pensei nisso antes? Evidente que sim, era ela, não poderia ser eu, era ela, mas pra quê? Porque?

Eva Sollis:— Meu Deus, Fátima! — Grito, derrubando o café de lado, levantando da poltrona.

Fátima: — O que foi Eva? — Paro quando Fátima e todos os vizinhos presentem me olham curiosos, eles não sabem, ninguém sabe da minha vida antes de chegar aqui, isso me faz cair em si, devo estar delirando, mas é a minha filha, e por ela sou capaz de tudo.

Eva Sollis:— O porteiro disse que fui eu que peguei a Isa, Fátima. — Suas sobrancelhas se erguem prestes a se unir, lhe arrasto pelo braço para dentro do quarto.

Fátima: — E daí? Ele disse que era você, quase que... — Afirmo é de fato, sim, ele disse que fui eu, mas eu não sai da empresa...

Eva Sollis:— Meu celular, meu celular — Aumenta a ansiedade, esse tempo inteiro procurando, não pensei nessa possibilidade, em pura agonia, pego o celular rapidamente.

Fátima: — Eva pra quem vai ligar?— Ouço a minha amiga perguntar curiosa.

Eva Sollis: — Foi ela, o porteiro disse que fui eu que pegou a minha filha, mas não fui, Fátima. — Digo para a mulher que ainda me olha sem entender, nunca esqueci o número por mais que tentasse, salvo não está no aparelho, mas na mente é impossível apagar, esquecer. Disco cada número nervosa rapidamente sem erros, chama uma vez, duas, três...

Desconhecido na linha: — Olá residência Muller...— Engulo em seco, o coração está acelerado, uma voz diferente vem do outro lado.

Eva Sollis: — A Isa está com vocês não está? — Sou direta, não tem espaço para rodeios, não reconheço a voz que atende.

Desconhecido na linha: — Não entendi, senhora, é da residência dos Müller posso ajudá-la em algo? — Suspiro fundo tentando me organizar, paciência, não há razões para que eles queiram a minha filha, tem? E é nesse embate que eu vivo, querer que esteja, é melhor do que não saber onde está. 

Eva Sollis: — Quero falar com Esra Müller, por favor. — Afirmo nervosa, suando, trêmula.

Fátima me olha perdida, trocamos olhares indagadores. 

Fátima: — Quem é? É alguém importante? — Afirmo com a cabeça a esperar.

Desconhecido na linha: — Um minuto, senhora, não tenho certeza se a senhorita Müller está disponível. — Como a mulher diz, faço, espero, roendo unhas ansiosamente, se minha filha está com Esra, pelo menos em risco não está.

Fátima: — Dá para me dizer o que está acontecendo?— Fátima diz num tom alto, lhe olho.

Eva Sollis: — Espera, explico depois. — Digo dando uma leve olhada na mulher de altura mediana.

Fátima: — Depois... Depois. — Suspiro profundamente, meu coração está acelerado, são duas noites sem dormir, iremos à terceira?

Desconhecido na linha: — Alô! - A voz fina que não me engana atende a chamada.

Eva Sollis: — Ezra sou eu. — Digo em desespero, uma mãe agoniada que busca alívio.

Ezra Muller: —Eu quem? O que quer? — Diz despreocupada, penso que me enganei, poderia ser?

Eva Sollis: — Ezra, você está...— Começo a dizer, quando me interrompe.

Ezra Muller: — Quer saber da sua criaturinha? Está comigo, venha até nós. — Suspiro em alívio, fechando os olhos, as lágrimas descem, meu tormento acaba, nunca imaginei que ficaria feliz que um dia Isa estivesse com Ezra.

Eva Sollis: — Como você pôde? Estou há dois dias sem dormir, sem comer, a Isa é dependente de mim, da Fátima como é c... — Protesto apesar do alívio.

Ezra Muller: — Affs me poupe dos seus melodramas, Eva, venha, não tenho tempo para ouvir seus choros, estamos a sua espera. — Diz seca, torturando-me, Ezra sempre foi assim, fria, calculista.

Eva Sollis: — Como ela está? — Pergunto preocupada, não me importa as razões, sei que os Müller não nos querem.

Ezra Muller: — Não me pergunta algo desse tipo, você sabe querida irmã, odeio crianças. — Meu peito se angustia, tenho certeza de que a minha filha sente a minha falta.

Eva Sollis: — Estou indo para aí hoje mesmo, Ezra, espero que não... — A ligação é finalizada bruscamente, Fátima de pé me olhando curiosa, não tenho tempo para dizer muito, olho para o celular desligado.

Fátima Karin: — Posso saber quem é esse tal de Esra? Para onde você vai? — Não lhe deixo terminar a sua série de perguntas.

Eva Sollis: — Vamos para Caerleon, Fátima, se tiver voo para hoje, se não tiver vamos voando de parada em parada, indo pode ver tudo e saber com os seus próprios olhos. — Os olhos castanhos me julgam, mas eu sei que mesmo às cegas, ela me apoiará.

Suspira fundo negando com a cabeça.

Fátima: — Eva, viagem tem certeza de que a Isa está com essa mulher aí? — Afirmo indo para o guarda - roupas, pego a mochila, coloco pouca roupa dentro, não demora muito para embarcarmos.

Chegamos à Caerleon a noite, a cidade que jurei nunca mais pôr os meus pés, não apenas pela família, mas tudo que passei aqui, uma garota de vinte anos, grávida, rejeitada pelo namorado que jurava ser o grande amor da minha vida.

As lembranças vêm a cada lugar, tudo que eu quero daqui, é apenas o que me pertence, Isabella Sollis, nada mais.

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