2 Segredos

– Por favor espere um pouco... - A enfermeira pedia exasperada, parada em frente à porta do quarto. – A senhora não pode sair assim, não nesse estado.

Tudo o que ela falava apenas entrava num ouvido e saia pelo outro, estava mais interessada em enfiar minhas coisas dentro da minha bolsa, incluindo os exames que nem foram abertos. Depois, me virei para a encarar com seriedade, uma expressão que dizia: "ou você sai, ou te tiro daí a força", vi seus joelhos tremerem e então, ela se afastou, me deixando ir embora do hospital.

Estava furiosa e indignada, não podia acreditar em como todo mundo estava lidando com aquela situação. Não bastava aquele bastard* esnobe ter me tratado como uma vagabund* ao telefone, mas também, percebi que o hospital continuava resistente em me dar informações sobre meu próprio marido.

Segui a passos firmes pelos corredores até chegar ao estacionamento, mas quando entrei no carro, e me vi sozinha novamente, irrompi em outra crise de choro, batendo no volante e gritando cheia de raiva. Minha vontade era de quebrar alguma coisa, ou alguém para saciar todo o ódio que eu estava sentindo naquele momento.

De repente, tive uma epifania.

Lembrei do que Wolfgang havia dito sobre a falência da empresa. Era outro problema que eu precisava resolver, já que ele continuava internado em algum hospital que desconheço, e para piorar, estava muito angustiada por não ter notícias do estado de saúde dele.

Sequei meu rosto, dizendo a mim mesma que não poderia ficar caída numa poça das minhas próprias lágrimas daquela forma. Então, decidida a resolver aquilo, voltei para casa e me arrumei. Refiz a maquiagem já dentro do carro novamente e enquanto dirigia, liguei no viva-voz para nosso contador, questionando sobre a dívida e logo descobri que um dos sócios tinha saldado.

– Dona Christine, as informações sobre o sócio-contribuinte são sigilosas, mesmo para mim... – Ele explicou fazendo barulho de papéis como se estivesse verificando os documentos naquele momento. – Somente o senhor Ludwin tem essa informação, ele não disse nada?

"É claro que ele não disse nada... " Pensei comigo mesma, percebendo que Wolfgang me escondia muito mais segredos do que sequer imaginei.

Quando cheguei à sede do banco, ainda tive que esperar um pouco para ser atendida, era óbvio que o gerente, Thomas, não queria conversar comigo, porém, depois de algum tempo me enrolando, finalmente ele teve que me atender. Sentei diante de sua mesa e cruzei as pernas enquanto o fitava com seriedade, esperando por uma resposta.

– A senhora precisa marcar um horário antes... – Ele explicou com um sorriso amarelo enquanto me entregava uma xícara de café, em seguida, sentou-se atrás de sua mesa, remexendo nos papéis entre seus arquivos impressos. – Aliás, como tem passado?

– Quando a dívida foi liquidada? Questionei ignorando sua tentativa de me enrolar e o fitei com uma sobrancelha erguida. – Foi você quem fez a transação, com quem?

– Não devia te entregar essas informações... – Thomas murmurou olhando para os lados como se tivesse algo a esconder. – L&W Corporation está envolvida, é tudo o que sei.

– L&W Corporation? Questionei, bebendo um pouco do café, estava quase surtando de nervosismo. – O que esse conglomerado tem a ver com a nossa pequena empresa?

Nesse momento, me lembrei do comentário que aquela funcionária havia feito sobre a empresa ter sido vendida e associei ao tal sócio confidencial, estava na cara que ele era o novo dono da minha empresa.

Thomas engasgou ao ouvir minha pergunta, afrouxou um pouco a gravata que parecia estar o sufocando, seus olhos correram ao redor do ambiente, e como alguém que está prestes a contar um segredo, apoiou o corpo na mesa, ficando com o rosto próximo do meu.

– Eu não deveria te contar isso... - Ele sussurrou me olhando fixamente, pegou um envelope de papel pardo dentro da gaveta e me entregou. - Não consta mais nenhum débito, e estes são os atuais documentos sobre o apartamento...

Olhei para o envelope em minhas mãos, puxei as folhas e percebi que era uma escritura em meu nome, era a explicação para as palavras daquele homem arrogante, na cabeça dele, eu era esse tipo de pessoa que pode ser comprada apenas com bens materiais.

Eu não podia acreditar naquilo, que ódio, como alguém poderia ser tão nojento?

Antes que eu percebesse, já estava amassando as folhas sem querer, joguei os papéis sobre a mesa à minha frente e cobri o rosto com as mãos, soluçando em lágrimas. Era muito difícil, eu não conseguia lidar com tudo aquilo. Minha cabeça estava uma bagunça, nada fazia sentido e para piorar, a única pessoa que poderia me dar alguma resposta, meu marido, havia simplesmente desaparecido.

– Obrigada... - Murmurei enquanto me levantava, mas parei quando senti uma nova onda de tontura que quase me derrubou.

– A senhora está bem? Ele perguntou enquanto me olhava levantar com preocupação, e não parecia estar fingindo se importar. – Seu rosto ainda parece um pouco pálido, quer que eu chame a emergência?

– Eu preciso ir... – Murmurei balançando a cabeça numa negativa e arrumei meus cabelos, colocando os fios atrás da orelha, escondendo a cicatriz em minha têmpora, imaginando que estivesse visível. – Obrigada, Thomas!

– Ah... Deus! Ele exclamou sério. – Precisamos conversar em outro lugar.

Não soube o que responder, acabei apenas concordando com um aceno e seguimos para fora do escritório. Depois disso, entramos numa cafeteria que ficava no mesmo prédio, ele fez os pedidos e eu apenas continuei sentada entorpecida por tudo o que estava acontecendo.

– Eu com certeza vou perder meu emprego, mas não é justo que você fique inocente quanto a isso! Thomas exclamou enquanto entregava um dos copos de café expresso para mim. - L&W Corporation, significa Ludwin e Weschenfelder Corporation, e não, não é uma coincidência.

Foi impossível não me engasgar com o café quando ouvi aquela informação, Thomas havia jogado aquela bomba sobre mim sem sequer me preparar. Coloquei o copo de lado, pegando um guardanapo para limpar minha boca e ergui as mãos em frente ao corpo, gesticulando um pedido de pausa.

– Espera, o que você está me dizendo?! Arfei arregalando os olhos, não conseguia acreditar que por mais de dois anos, ambos esconderam isso de mim. - Porque ele esconderia isso?

– Eu também não sei, mas faz alguns anos que ele cortou laços com a família, sou seu gerente desde então... - Thomas explicou soltando um suspiro, parecia que esconder aquele segredo por tanto tempo havia sido muito cansativo para ele.

– Então ele apenas parou de fingir ser o filho rebelde, é isso? Perguntei sorrindo com amargura e senti meu estômago se revirando.

Thomas ouviu tudo com um olhar compadecido, mas não ousou dizer nada, talvez soubesse que nada iria me consolar naquele momento.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo