Ligação inesperada

Chelsea 

— Não deveria estar assim — Valerie disse, apontando com a colher para mim. — Não teve culpa. E  Shawn vai entender. O trânsito de Nova York é um caos. — Eu bebi o copo d'água.

Eu contei a ela que me atrasei por causa de um babaca que tive o desprazer de cruzar. O cara era tão orgulhoso e imbecil que fingiu me dar uma carona para bancar o bonzinho. 

Argh! 

— Eu ainda não acredito que ele me fez entrar no carro e dizer aquelas coisas. — Eu rosnei. Valerie atacou a tigela de cereais. — Ele é um babaca. 

— Você bateu no carro de duzentos mil dólares dele, Chelsea. — Ela riu. — Não poderia esperar que ele fosse gentil e atencioso. 

— Eu achei que fosse. Por um momento, achei que sim. — Eu disse, pousando o copo sobre o balcão. — E o desgraçado era muito bonito. 

Valerie deu risada. 

— Ele te achou bonita, hein? — Disse ela. — Docinho. 

— Valerie! 

— Está bem, está bem… — ela ergueu as mãos, indicando que se rendia. 

Estava sentada no outro lado do balcão. 

— Henry mandou mensagens? — Eu perguntei. Valerie fez que não, silenciosamente. — Parece que ficou até tarde trabalhando de novo. Ele não teve tempo. 

Eu comprimi os lábios. Todas as vezes que escutava isso, torcia a boca. Henry era o noivo de Valerie. Enquanto estava do outro lado do mundo, ela estava aqui, esperando por ele. Por causa de Henry, teve que mudar a data do casamento duas vezes. Eu não queria me meter entre os dois, principalmente porque Henry era o meu melhor amigo. 

 — Acha que ele vai chegar a tempo? O jantar vai ser daqui a duas semanas. Henry nunca tem  tempo o suficiente, e sempre se atrasa. — Eu disse, lembrando do jantar que seus pais iriam dar. 

A última vez que os pais de Valerie deram um jantar em homenagem ao noivado não acabou muito bem. Shawn odiava Henry, e os dois sempre acabavam brigando. 

O casamento estava marcado daqui a três meses. 

Eu tinha medo de que Valerie pudesse se machucar caso Henry decidisse que fosse melhor esperar por mais alguns meses. 

Henry não era o exemplo do homem mais atencioso e carinhoso, e para ser sincera, achava que Valerie deveria dar um tempo e repensar se era uma boa ideia. 

— Na verdade, vai. Ele comprou passagem e vai se adiantar em uma semana. Era para ter embarcado ontem, mas acontece que o chefe dele pediu para ficar por mais uma noite. 

Eu assenti. 

— Eu sei o que está pensando… mas não. Ele não faria isso. Não de novo. — Ela disse, apontando novamente a colher para mim. Eu puxei a cadeira de madeira e sentei. 

— Eu só quero que tudo dê certo. 

— Vou sentir a sua falta. Hanry não acha que podemos morar aqui, e se ele conseguir a promoção, irá se mudar para Paris. Você sabe que eu amo Paris. — Eu sorri, fazendo que sim. Apoiei o queixo na mão. — O trabalho dele exige demais, e ele precisa de alguém ao seu lado. 

Valerie largara o emprego numa empresa grande por causa de Henry. Ele ganhava muito bem e mandava dinheiro para ela, como se ela não tivesse capacidade para arranjar alguma coisa. Era temporário, e ele dizia que conseguiria coisa melhor para ela. Nós nos falávamos quase todos os dias, e ele sempre parecia exausto. Certa vez, eu lhe disse que flagrei Valerie chorando em seu quarto, e ele ficou em silêncio por alguns segundos e simplesmente desligou a ligação. Havia cerca de um ano que se mudou para a Inglaterra e desde então nunca esteve tão longe. Era como se um pedaço dele tivesse sumido. 

— Vai dar tudo certo. Em breve, vocês estarão juntinhos. — Eu disse. 

Ela distendeu os lábios num sorriso largo. 

— É tudo o que eu mais quero. 

Alguns minutos depois, eu ajudei Valerie a lavar a louça que havia se acumulado. Curtimos o momento, dançando e cantando, até que o telefone de Valerie gritou sobre o balcão. 

— Pode atender para mim? — Perguntou ela. 

— Claro. — Eu disse. Tirei as luvas e me dirigi até o balcão. O celular de Valerie vibrava loucamente. Era um número desconhecido. — Alô? 

A voz do outro lado da linha despertou algo em mim: 

— Oi, docinho. — O cara de mais cedo disse. — Acho que queria que ficasse com o seu número. Bom, obrigado, Chelsea. 

— O quê? Como… 

— Você deixou a sua bolsa no meu carro. Aliás, bela bolsa. — Ele disse, e o imaginei erguendo-a à altura dos olhos. Era uma bolsinha rosa em formato de gato. — Combina com você. — Eu grunhi, irritada. — Fique tranquila. Não vasculhei nada, se quer saber. Mas eu tive que procurar algumas coisas no seu celular para descobrir como poderia me contatar com você, então descobri que Valerie é a sua amiga e liguei para ela. Achei que o Shawn não valia a pena… 

— Você leu as minhas mensagens? 

— Ah, Gatinha… não fode. Quer seu celular ou não? 

Eu senti minhas bochechas ardendo, então disse: 

— O que viu mais? 

— A sua bocetinha é linda. 

— O quê? — Gritei. 

Eu vibrei. 

Lembrei que Valerie estava ao meu lado, e então, disfarcei: 

— Obrigada. É muito bom saber. 

— É? — Eu ouvi som de couro e algumas vozes. Ele provavelmente estava se acomodando a um sofá. — Se eu soubesse que era só dizer isso para ser tratado direito, teria feito antes. 

— Quem é? — Quis saber Valerie. 

Eu virei para ela, forçando um sorriso. 

— Não… não quis dizer isso. Você sabe que não. 

Valerie franziu as sobrancelhas, confusa. 

Eu sabia que ele estava blefando. Seria impossível. Eu nunca fazia essas coisas — nunca fiz — e definitivamente não tinha como ter uma foto dessas. 

— Relaxa… eu não me masturbei vendo uma foto sua, querida. — Ele riu. 

— Seu babaca! 

Ele deu risada. 

— Gosto de ouvir isso da sua boca. Vamos, diga de novo. Talvez agora eu possa bater uma imaginando a sua boca. Babaca. Babaca. Babaca! — Ele riu. — Brody? — Uma mulher chamou. 

Então esse era o nome dele… 

Brody. 

— Me encontre em quinze minutos no Steelaway — ele disse. — Posso pagar um café e dar a multa de trânsito que recebeu. 

— Idiota! 

Eu desliguei na sua cara. 

Furiosa, praticamente arremessei o celular na mesa. 

Eu passei por Valerie com passos pesados e não me questionou nada. 

Brody, eu vou matá-lo! 

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