Capitulo 5

Saíram do hospital em direção ao ponto de ônibus de volta para casa, em silêncio, elas pareciam que estavam indo ao velório de um parente próximo. Mara estava chocada, não acreditava; o circular passava rua por rua, praça por praça, cada vez se aproximando mais de casa. Por um lado, Mara estava alegre, desejava muito ver Alfredo. Depois de uma viagem longa chegaram, já estava entardecendo, a terra deixava escapar os últimos raios solares vermelhos alaranjados no poente, semelhante a um animal feroz que vai engolindo um pássaro e ficam faltando apenas as últimas penas das asas.

Elas entraram em casa, Mara foi direto ao seu quarto, ela não sentia fome; além do mais, teriam que conversar com seu pai, o que não era tarefa fácil. Ela preferiu deixar para sua mãe, que tinha um jeitinho especial para essas coisas, caso fosse indagada se estava sentindo algum incômodo, era só dizer que estava cansada, o que seria a mais pura verdade.

Ninguém a incomodou e um sono pesado a tomou, acordando apenas ao som intermitente do relógio despertador indicando que era hora de ir à escola. Lá, havia um grupo de meninas próximo ao portão, e, assim que chegou, foi cercada com inúmeras perguntas, mas sua resposta de que fora ao médico para exames de rotina contentou a todas.

Foi no intervalo do recreio que Mara pôde ver Alfredo, que estava preocupadíssimo com a sua falta à escola. Mara lutou para não dizer nada, apenas se limitou a dizer que era exame de rotina. Ela sabia que no parquinho desativado era o melhor lugar para lhe dar a boa noticia, pois era uma intimidade deles que só a eles competia naquele momento.

Logo que chegaram ao parquinho Alfredo a abraçou. Os beijos eram com paixão, e, depois de alguns minutos de trocas de carícias, Mara disse:

– Alfredo, eu tenho uma boa noticia para você!

– O que é?

Mara retirou do bolso de sua calça jeans uma folha de papel, desdobrou e entregou a Alfredo. Ele a pegou, olhou, olhou, por fim disse:

– O que é isto?

Mara agora estava feliz, o impacto da surpresa do dia anterior havia passado, afinal de contas ela ir ser mãe, aquela criança que ela estava gerando em seu ventre era o fruto do mais perfeito amor, com toda certeza todos eles seriam muito felizes.

– Não sabe o que é?

– Não faço à mínima ideia, Mara!

– Eu fui ao médico ontem, e fiz este exame de sangue, que contatou que eu estou grávida!

Alfredo deu um pulo, do tubo de cimento onde estavam sentados, piscou os olhos várias vezes, como a confirmar que estava onde estava mesmo, depois passou as costas da mão direita pela boca e exclamou:

– Grávida?! Como é?

Mara sorriu, e afirmou:

– Eu também me assustei, mas é verdade!

Alfredo ficou andando de um lado a outro do parquinho, olhando o chão, coçando a cabeça com os dez dedos das mãos,dizendo:

– Meu Deus, não é possível! Como foi acontecer isso? Mara apenas o observava sentado no tudo de cimento, ela

sabia, iria demorar um tempo para que ele se acostumasse com a ideia. Ela também ficou atordoada com a noticia, mas logo ele aceitaria e tudo entraria em encaixe novamente.

– Mara, o que vou fazer? - não tenho emprego fixo, precisa alugar uma casa, precisa-se de moveis!

– E falar com meu pai!

– Falar com seu pai, como assim? Ele não sabe?

– Ainda não, Alfredo, só minha mãe!

Mara viu Alfredo passar de assustado para extremamente aterrorizado, andando de um lado para outro. Mara estava para

propor que fossem para casa, descansassem e no outro dia voltassem a falar no assunto, isto daria a ele o tempo necessário para se acalmar, e enfrentar as dificuldades, mas quando foi falar, ele a antecedeu:

– Mara só existe uma saída!

Para dar a ele a oportunidade de expor sua ideia, ela disse:

– Qual?

– Abortar!

Agora foi Mara que deu um pulo do tubo de cimento onde estava sentada; branca como uma vela, olhos arregalados, boca semiaberta e exclamou:

– Abortar? Como assim, abortar?!

– É, Mara, quem sabe na próxima gravidez eu já tenha um emprego fixo, alugado uma casinha e mobiliada, aí teremos a criança!

– Você está louco, Alfredo, eu não vou abortar de jeito nenhum, essa criança é fruto do nosso amor!

Alfredo continuava a andar de um lado para o outro. Diante da exclamação de Mara, ele disse:

– Está bem, se você não quer o que eu posso fazer, vou pensar em alguma coisa!

Seguiram lado a lado até bem próximo à casa de Mara. Assim que entrou em casa, sua mãe aproximou o mais rápido e indagou:

– Conseguiu falar com o rapaz?

– Falei mãe!

– E ele?

– Está apenas um pouco assustado, como eu fiquei ontem, mas disse que vai pensar em uma solução!

– Ah, meu Deus, Mara, espero que seja um rapaz responsável, senão estaremos em uma encrenca terrível!

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