1. Acidente Na Piscina

Luciana

Mais um fim de tarde solitário saindo da minha aula na faculdade. O sol poente tem uma tonalidade alaranjada que só enfeita a visão mais perfeita do mundo: o homem que eu amo. Paro e sinto meu coração palpitar. Aquele homem lindo está caminhando em direção ao estacionamento do prédio onde dá aulas.

Sim, ele é minha paixonite desde que o vi pela primeira vez, alguns meses atrás. Desde então, sempre venho aqui para vê-lo sair do trabalho em direção ao estacionamento depois da minha aula.

Otávio.

Esse homem é o meu número. Alto, viril, forte. Ele tem uma aura misteriosa, sempre elegante e bem vestido. Aqueles cabelos clarinhos me deixam muito eufórica, o olhar dele me deixa sem chão.

Pronto, meu peito disparou como se eu tivesse corrido os 400 metros rasos.

Mais um dia que eu o admiro de longe. Algumas vezes ele dirige, outras vezes está de carona com um cara que deve ser seu irmão, eu não sei.

Algumas vezes, eu me arrisco. Toda semana eu vou à enfermaria reclamando de enxaqueca, e Otávio coloca o estetoscópio nas minhas costas, me dá uma balinha e vai embora.

Otávio é um anjo. Toda vez que me vê no consultório, ele diz meu nome de maneira extrovertida e eu fico sem chão.

Eu sou completamente apaixonada por ele. Queria tanto que ele soubesse, mas... não é possível que ele não saiba. Não tem como dar mais sinais do que já dei.

Aquele homem me vê, literalmente, todo dia. Ele já sabe meu nome e sorri ao me ver.

Acho que ele sente algo por mim, também.

Ah, Otávio! Se soubesse o quanto te amo e o quanto eu poderia te fazer feliz! Eu faria tudo para ter seu amor.

Na sétima série, eu me apaixonei por um professor de ciências. Estava tudo bem manter aquele sentimento em segredo para sempre, mas agora, com 18 anos, eu sentia que não poderia esperar mais. Eu precisava enfrentar meus medos e angústias e dizer mais o que eu sentia.

Mas, e a coragem?

Ainda guardo todas as balinhas que Otávio me deu nas consultas.

Voltei ao meu caminho após vê-lo, como sempre faço, há meses.

Bem, vocês precisam me conhecer um pouco agora. Não sou uma pessoa interessante, mas vamos tentar conversar. Meu nome é Luciana García Benelli. O García é porque minha mãe é colombiana e o Benelli é do meu falecido pai. Eu tenho 18 anos e faço pedagogia.

Entrei cedo na faculdade, mas não é porque sou inteligente ou algo assim. Sempre estudei nas melhores escolas e fiz muitas aulas particulares para chegar onde estou. Consegui as coisas por inércia.

Para simplificar tudo, vou me definir em uma palavra: herdeira. Mas, meu sonho é me formar na faculdade e ser alguém importante no mundo. Quero fazer a diferença, e pedagogia foi o caminho que encontrei para isto.

Eu moro sozinha desde que completei a maioridade. Apesar de não me dar muito bem com minha mãe, uma vez ao mês eu a visito e acabo dormindo lá, só para ela parar de me chamar de filha ingrata.

Naquele dia, eu fui até o apartamento dela e fiquei em meu antigo quarto mexendo no celular enquanto ela fazia seus exercícios com o personal trainer na sala. Não sei ainda por que eu ainda ia para lá, sinceramente. Vocês tinham que ver a cara que ela fez quando meu hambúrguer foi trazido no pacote do iFood. Ela quis me matar e fez uma chuva de ofensas sobre meus quadris.

Bem, se tenho quadris largos, a culpa é dela, que me deu essa herança genética.

Minha mãe se importa muito com aparência.

Comi, senti peso na consciência e soltei uma ou duas lágrimas sobre a refeição. Minha mãe diz que ainda sou nova demais para entender os reflexos do meu jeito de ser em meu corpo e que não vou ser “gostosinha” para sempre.

Quando dormi, sonhei com Otávio, meu médico favorito, e que sempre me dava dipirona e balinhas de iogurte. Na embalagem minúscula dizia “sabor natural” o que, com certeza, é verdade.

Apesar daquela estratégia de pensar em meu amor platônico para esquecer meus problemas, acordei mal no dia seguinte. Não sou a pessoa mais autoconfiante do universo, e tenho um motivo físico para isso. Toquei minha barriga ao pensar nisso, na região da cicatriz.

Tenho uma cicatriz problemática.

Sou uma pessoa bem diferente do que minha mãe gostaria. Constatei isso quando me olhei no espelho nessa manhã fria e nublada de segunda-feira e vi o quão brega e sem graça eu sou.

Apesar disso, passei o fim de semana na casa dela. Mas, só porque minha mãe se ausentou e eu queria ficar perto da nossa cadelinha Mimi.

A companhia de Mimi, uma Shitzu de 3 anos, se tornava cada vez mais o motivo principal para minhas visitas.

Em geral, segundas-feiras eram um suplício, já que minha alma só voltava ao corpo às 10h da manhã, e ainda eram 7h.

Quando peguei minha bolsa para sair de casa e voltar ao martírio da faculdade, minha mãe estava fazendo ioga e aplicando máscara facial enquanto sua empresária lia dois scripts para ela escolher qual roteiro aceitaria.

Amélia era uma atriz consagrada de 54 anos. 

Meu pai, Lúcio Benelli, foi deputado de um partido de direita, mas morreu devido a algo que ninguém tira da minha cabeça que foi queima de arquivo. Bem, se meu pai era corrupto, não conseguiram congelar os bens dele.

Eu herdei tudo. Cada centavo. Minha mãe não recebeu nada, e isso começa a explicar a relação, ora seca, ora agressiva, que temos.

Segui minha rotina diária. Com sorte, veria Otávio às 17h na enfermaria, no prédio das ciências da saúde e isso daria graça à minha vidinha pacata. Ele iria analisar minha enxaqueca, me dar um daqueles lindos sorrisos e me encher de esperanças uma vez mais.

Eu estudava na UFRJ, uma ilha. A vista era bonita, mas o mangue era fedorento às vezes.

Contudo, aquela manhã estava fria e bonita. Fui até minha sala e me preparei para mais um dia de aula.

Ou banco da minha carteira estava mais duro que o normal nesse dia, ou dormir com Mimi deixou minhas costas em formato de S.

Peguei meu material e abri meus livros. Coloquei minha mão sobre a folha do caderno enquanto a professora discursava e comecei a repensar em tudo que minha mãe me dizia:

“Ninguém vai te querer assim”.

“Não importa quantas vezes vá ao salão, você continua feia”.

“Precisa casar logo, enquanto é nova, ou não casará mais.”

Preciso começar a inventar desculpas mais convincentes para não ir visitá-la.

Toquei minha barriga.

Eu guardava até hoje a marca do acidente que sofri com 12 anos e que quase tirou minha vida: foi por causa de um Pitbull. Eu era uma criança, não sabia dos limites que temos que ter com cachorros, e muito menos a nossa babá. Por se tratar de um cachorro de família, ela deixou-me livre. Bem, não preciso dizer muita coisa. Eu passei alguns dias entre a vida e a morte na UTI. É isso que eu quero dizer quando menciono que minha mãe é relapsa. Graças à leviandade dela, eu passei muitos acidentes na infância.

Sinto tanta falta do meu pai.

Eu tenho em mente lembranças muito tênues dele, mas eram boas.

Eu sentia que precisava de alguém que cuidasse de mim. Alguém que preenchesse esse vazio que tenho na vida, que não deixasse ninguém me magoar ou me colocar para baixo.

Otávio é essa pessoa.

Ele é a única pessoa que cuida de mim.

Narrador

Uma banda ensaiava num estúdio naquela tarde. O ambiente se enchia com a voz poderosa do vocalista enquanto os colegas o acompanhavam com seus instrumentos.

— Excelente, Christofer! Sua voz está cada dia melhor. — Disse o empresário da banda, Tomás, assim que a música acabou.

— Obrigado. — Falou Christofer Prescott, mostrando o polegar. Ele era um jovem de 22 anos, alto, de longos cabelos loiros e lisos que caíam em seus ombros. Além disso, o rapaz era abençoado com uma voz excitante.

— Aliás, estou pensando que você devia parar de tocar baixo junto com os vocais, você está errando algumas notas. — Disse Tomás.

— O que eu vou fazer se não tocar? Colocar as mãos nos bolsos? — Replicou Christofer, preocupado, mas fazendo seus colegas rirem.

— Está errando notas. Tome. — O empresário entregou a Christofer 5 convites para o show que haveria no mês que vem.

Christofer ficou desconfiado em relação aos convites.

— Sabe que meus pais nunca viriam. Eles nem gostam de Rock. — Disse o loiro.

— Chame uma namorada.

— Namorada?

Christofer arqueou as sobrancelhas. Ele não tinha namorada.

Luciana

Pedagogia foi o que eu quis estudar. Eu realmente achava interessante o poder do ensino e sua importância na sociedade. 

Fui até a cantina tomar café às 10h com minha melhor amiga: Alessandra. Ela era filha de empresários e também tinha seus percalços por ter escolhido um curso que os pais não aprovavam. Alessandra Georgina Prado era uma bela ruiva de sardas e olhos amendoados. Ela tinha aquele tipo de corpo de quadro renascentista, de curvas imperfeitas, mas demonstrava sempre autodomínio e segurança louváveis.

Pedi uma salada de frutas e esperei que Alessandra finalizasse sua compra. Libriana é fogo na hora de escolher qualquer coisa, mas eu estava acostumada com essa doida. Minha tentativa de ser Fitness não passou despercebida por ela, que quase deixou seus olhos caírem na mesa quando voltou e viu minha comida.

Dei um gole em meu café, já frio de tanto que eu esperei Alessandra comprar os doces dela.

— Você ainda está visitando o apartamento da sua mãe?

— De vez em quando. — Respondi. — Fui lá ontem, mas hoje já vou para o meu de novo, não consigo mais conviver com ela por muito tempo.

— Ela falou merda de novo? — Insistiu a ruiva. Nada escapava de seus olhos.

— Sim. — Murmurei. Em seguida, ela suspirou e disse:

— Minha mãe me deu três meses para desistir e ir para os Estados Unidos cursar medicina.

— Você não precisa se submeter a isso. — Falei. — Já disse que pode morar comigo.

Alessandra suspirou. Ela era economicamente dependente dos pais, e sabia que eu não era, mas também não queria me dar despesas. E eu detestava quando ela falava de si mesma como se fosse uma despesa.

Eu deixei os pedaços de abacaxi no fundo da vasilha de salada de frutas, pois estavam me dando afta. Olhei para o ambiente e vi meu deus grego cruzando a cafeteria com seu MacBook na mão.

Otávio.

Naquele dia ele usava terno de linho com corte perfeito, não tinha um fio do seu cabelo fora do lugar. Era incrível como aquele homem era perfeito. O porte dele era encantador. Exalava masculinidade.

— Está caindo saliva na mesa. — Murmurou Alessandra.

— Sou muito apaixonada por ele. — Falei, sentindo o coração derreter. — Acho que não vou aguentar por muito tempo, vou acabar me declarando na próxima consulta.

— Eu admiro esse cara. Ele dá entrevistas para o Fantástico direto. — Ela disse. — Trabalhou numa das equipes de desenvolvimento da vacina contra a COVID-19. Além de médico, é pesquisador.

— Como sabe? — Quase caí da cadeira.

— Você não assiste Fantástico? Ele é Otávio Prescott, um dos médicos mais famosos do campus.

— Eu não sabia o sobrenome dele. — Falei. Maldito hábito de não ver o noticiário e nem ter uma vida ativa nas redes sociais. — Prescott... Que sobrenome lindo. Esse será o sobrenome dos meus filhos, escreva o que estou dizendo.

— Credo. — Murmurou Alessandra. — Ele não é tudo isso.

— Como não? Amiga, você é sapatão?

Alessandra recolheu sua animosidade imediatamente e ficou ruborizada. Virou o rosto e eu senti que falei besteira.

— Luci, você não era introspectiva? — Ela devolveu o constrangimento. — No pré-vestibular eu tentei te desenrolar com um cara e você se escondeu no banheiro.

— Agora é diferente, eu já vi oportunidades demais indo embora por causa da minha vergonha. O que eu sinto por ele é amor de verdade. Se fosse paixão, tinha acabado há semanas! — Fiquei nervosa, e fiz um beicinho.

— Amiga, de verdade? Você só está assim apaixonada porque ele faz o perfil daddy, você gosta de velhos. Se quiser, desenrolo meu avô para você.

— Que maldade! — Juntei as sobrancelhas. — Otávio tem, no máximo, 40 anos. Ele é perfeito, por favor, me ajude! Quando eu vejo o sorriso dele eu sinto que vou morrer.

— Ai, amiga, sossega… — Ela mordeu o lábio. — Ele tem cara de arrogante.

— Está julgando sem conhecer. — Declarei. Eu conheço bem o lindo sorriso dele quando estou sendo atendida, ele é um amor e me dá toda a atenção do mundo. Ele não é arrogante.

— É só uma sensação. — Alessandra disse.

— Poxa, amiga, há quanto tempo você sabe que eu gosto dele? Por favor, me ajude a conquistá-lo, eu imploro. Talvez ele só precise de um empurrãozinho para se declarar para mim.

Alessandra revirou os olhos.

— Acho que vamos nos arrepender disso, mas, tudo bem.

Narrador

Alguns dias depois, Christofer foi levar o irmão mais velho de carro até a universidade. Ele tinha o fardo de ser o irmão mais novo do renomado e famoso médico Otávio Prescott, que iria dar uma entrevista gravada em seu laboratório da UFRJ. No entanto, o carro do mais velho estava no conserto e o Uber estava prevendo 15 minutos de demora. Otávio Prescott não podia se atrasar, ele tinha uma carreira a zelar.

— Podia, pelo menos, ter usado uma roupa mais adequada, não é, Chris? Vai que alguém me vê com você! — Disse Otávio, ajeitando os óculos no rosto. — Vai me fazer passar vergonha, não se atreva a entrar no prédio! Se, pelo menos, cortasse esse cabelo...

Otávio estava visivelmente ansioso com a entrevista, afinal ser uma celebridade sempre foi o sonho dele.

— Por que você não vai se foder? Nem todo mundo gosta de passar gel no cabelo, seu playboy. — Christofer replicou, ficando nervoso na direção.

— Você nunca será levado a sério assim. — Otávio ignorou o tom do irmão.

— Para que eu vou vestir terno se eu trabalho em casa? — Christofer voltou ao seu tom normal.

— Outro motivo para não ser levado a sério.

Se arrependimento matasse, Christofer estaria em avançado estado de decomposição. Mais uma vez aceitou o convite de passar o fim de semana em família, e mais uma vez se arrependeu. Se sua bondosa avó Akiko não fosse tão insistente, ele não ia ter terminado como chofer de seu irmão mais velho.

Irritado, Christofer parou o carro e disse:

— Saia.

Otávio olhou para o irmão como se ele fosse uma sujeira de sapato, e disse:

— Como é que é?!

— Estou fazendo um favor, seu arrogante. — Christofer murmurou.

— Se me deixar aqui na rua, eu chamo a polícia. Está dirigindo descalço. — Otávio não conseguiu pensar em mais nada. Ambos sabiam que isso não era crime, mas que Otávio podia ser bem persuasivo quando queria.

Christofer voltou a dirigir, irritado. Estava usando uma camiseta branca e calças jeans, nada de desarrumado ou rebelde como seu irmão falou.

— Busque-me às 19 horas. Haverá uma festa lá no campus, portanto não beba. — Otávio falou, alguns minutos depois que o carro voltou a andar. Ele não pediu, somente comunicou.

— Eu não vou dirigir à noite. — Christofer falou, parando o carro por causa do trânsito da blitz.

Otávio abriu a janela no sinal e, com o dedo em riste, disse a um dos homens fardados:

— Policial, por favor...

— Algum problema, cidadão? — O policial se aproximou.

— Está bem! — Christofer gritou, já sabendo que sofreria uma ameaça.

— Só queria dar bom dia, policial. — Disse Otávio, sorridente por ter conseguido realizar seus caprichos mais uma vez.

— Bom dia, cidadão. — Disse o policial. — O senhor não estava no Fantástico domingo passado?

Cortando a conversa, Christofer fechou a janela do lado irmão, enraivecido, e o levou até o local de trabalho. Ele aproveitou para tomar um milk-shake antes de voltar para seu apartamento e jurou que jamais aceitaria o convite de sua doce e viúva avó novamente. Ele preferia se afastar da família a ter que encontrar o irmão de novo e acabar virando chofer.

Luciana

Naquela noite houve outra daquelas festas que só o pessoal de ciências da saúde faz: em salinhas minúsculas e fedorentas, bebida quente, som baixo. É claro que as pessoas não ficam nesses locais, elas pegam as cervejas e saem para perambular fazendo besteira pelo campus.

Nós estávamos usando roupas normais de aula. Eu estava exausta, e triste, pois não consegui ver Otávio em seu percurso naquele dia, teria ele faltado ao trabalho?

Eu finalizei outra bebida. Bem, eu nunca me envolvi com ninguém, nunca toquei sequer a mão de outro homem, então qualquer contato era surreal para mim e a bebida me ajudava a ficar menos nervosa na presença de outras pessoas.

O pessoal da minha turma me odeia. Afinal, a garota mais popular tem implicância comigo desde o primeiro dia de aula porque diz que minha família é corrupta. Isso me inibe muito.

Pode ser que eu tenha uma insegurança exagerada e isso me afaste dos homens, mas... disseram que beber em festas universitárias resolve tudo isso. Vamos ver.

Alessandra ficava bem incomodada com os meninos naquelas festas, dizia que eles olhavam para ela como se ela fosse um pedaço de carne, e se sentia constrangida com isso. Eu notei que Alessandra estava estranha, e pensei que era por causa disso. Depois, percebi que ela estava olhando para uma menina insistentemente.

— Alê, você está bem? — Perguntei.

— Sim. — Ela falou, sem tirar os olhos da menina. Antes que eu pensasse em falar mais alguma coisa, Alessandra me deixou sozinha e foi andando em direção à garota que ela tanto fitava.

Bem, eu fiquei completamente sozinha. E acabei bebendo o triplo.

Eu me escorei ao guarda-corpo do segundo andar, tendo a ampla visão da piscina da educação física no térreo. Todos queriam nadar naquela piscina, mas poucos conseguiam se inscrever para as vagas. E as aulas de natação eram 7h da manhã. Nessa hora, minha alma ainda está vagando pelo hiperespaço.

Ali embaixo, perto da borda da piscina, tinha um homem muito bonito de cabelo comprido e loiro. Ele olhava para a superfície cristalina da água, pensativo. Será que ele também tinha bebido demais? Ou será que ele queria mergulhar? Não sei. Era proibido entrar na piscina sem o monitor por perto.

Tomei mais um gole daquela porcaria que parecia detergente, o temido gummy, e fui zoar com o cara que estava em seu canto, deprimido.

— Ei, gostosão! — Gritei, já bêbada, e acenei. — Que tal se afundar em mim?

Meu Deus, o que eu falei? Eu tirei essa piada horrível do meu inconsciente? Eu sou virgem em todos os sentidos. Acho melhor não seguir essa máxima popular de beber para diminuir a vergonha. A vergonha me protege de passar vergonha. 

O rapaz me olhou, despertando dos pensamentos, ficou com uma expressão de vergonha alheia e se afastou um pouco da piscina. Deve ter percebido que eu estou completamente fora de mim.

Alessandra chegou com os lábios vermelhos, e lágrimas nos olhos, e segurou meus antebraços. Os dedos dela estavam quentes, e ela me puxou para ir embora.

— Está falando com estranhos? — Indagou a ruiva. — Precisamos sair daqui. Você está bêbada, vamos embora.

Notei que a pressa dela era a de quem tinha acabado de assaltar um banco e precisava dar fuga. Bem, não foi o que ela fez, mas ela queria se esfumaçar dali com igual desespero. O motivo: um cara daqueles que não são malhados, mas amedrontam pela altura, se aproximava. Ele era completamente idiota, usava aqueles bonés de atlética, e chegou gritando:

— Você estava olhando para a minha namorada, sua sapatão dos infernos?

Foi horrível. Ele chamou a atenção de todo mundo com sua agressividade. Eu nem tomei cuidado com a altura ou a truculência dele, saí entrando na frente da minha amiga sem pensar duas vezes. Gritei:

— Pare com isso!

O cara era, realmente, um idiota. Ele fechou o punho e meteu um soco federal no meu queixo. Eu nem tive tempo para entender a dor que estava sentindo, pois fiquei desnorteada e não consegui evitar um acidente.

Minhas costas bateram com força no guarda-corpo, o estilhaçando, e caí do mezanino direto na piscina. Alessandra gritando meu nome foi a última coisa que ouvi. Os cacos de vidro caíram na piscina e a superfície ficou distante quando meus olhos se fecharam.

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