Capítulo 2

Henrique

SIGO com meu carro logo atrás ao de Marcone, acompanhados por outros tantos veículos que dominam o tráfego do Jardim Europa. Achei que o tal bordel se localizasse em algum lugar periférico, mas, na verdade, encontra-se num dos bairros mais sofisticados de São Paulo. E, ironicamente, pertencente a mesma região em que moro e trabalho.  

Marcone para em frente a uma casa noturna, com sua fachada em tons neutros e o nome do local escrito numa caligrafia em estilo clássico que destaca: Casa de Prazer – Camila Monteiro. Ele desce do carro e entrega a chave para uma manobrista, e noto que há uma à minha espera também. Desprendo o cinto de segurança e saio do carro, estendendo a chave para a mulher que me cumprimenta com um leve aceno de cabeça. 

— Bem-vindo ao paraíso, meu amigo — elucida Marcone assim que adentramos ao local.

Para a minha surpresa, a Casa de Prazer é um espaço luxuoso que ostenta bom gosto e clima agradável. Bem diferente do bordel imundo e fétido que imaginei que seria.

Há mulheres de diferentes tipos e estilos por todo o lugar. Mulheres jovens, velhas, altas, baixas, magras, gordas, loiras, ruivas, negras, brancas, lisas, cacheadas, crespas, onduladas e carecas. Cada uma diferente e única a seu modo. Ao centro da Casa, um bar aconchegante com mesas para duas e quatro pessoas voltadas para o palco e para as barras de pole dance. Marcone nos guia para uma mesa bem próxima a uma dançarina ruiva que executa uma coreografia bastante sensual. Reparo também que há pouquíssimos homens trabalhando no local. Desde a segurança a barwoman, majoritariamente composto por mulheres. 

— Então, Henrique — interpela Marcone —, estamos ou não num paraíso? — Abro a boca para respondê-lo, mas minha atenção é atraída para a mulher que acaba de entrar na Casa. Ela consegue ofuscar a beleza de todas as outras. Ao menos essa é a sensação que tenho quando a vejo. Seus olhos verdes e brilhantes, os cabelos longos e cacheados num tom mel, sua boca carnuda, as curvas bem delineadas num vestido de cetim prata, e o colar, também prateado, que envolve seu pescoço e adentra o decote... Tudo nela exala prazer. Ela encontra seu olhar ardente com o meu e o mantém firme, não quebrando a conexão. 

— Quem é ela, Marcone? — pergunto ainda sem desviar meu olhar do dela. Marcone acompanha o meu olhar e me responde com um sorriso bobo:

— Camila Monteiro, a dona da Casa de Prazer. 

— Sério? — pergunto em descrença, tirando meus olhos dos dela e voltando-os para ele. — Ela não parece ser uma...

— Não termine de falar o que pensou — interrompe. — Você está muito preso a convenções, Henrique. Olhe para este lugar — pede girando seus dedos em volta. — Isso aqui é um lugar maravilhoso. Camila criou um espaço de bom gosto que oferece prazer de diferentes formas. Tudo aqui é consensual. Você não tocará em nenhuma destas mulheres se elas não quiserem que você as toque. E como já te disse, você não as escolhe, elas escolhem você. 

— Besteira, Marcone. Elas continuam vendendo seus corpos de qualquer jeito. 

— Aí que você se engana — replica tentando conter o sorriso. — Elas não cobram pelo sexo. Você paga para entrar, para beber, paga as dançarinas que você queira que dancem exclusivamente para você, mas não pelo sexo. Porque o sexo para elas é o ponto alto do prazer, e ele só acontece quando e com quem elas querem — Marcone ri da minha expressão de espanto. — E ainda que elas cobrassem, meu amigo. Não há nada de errado nisso. Os corpos são delas. 

Uma linda mulher trajada em um vestido de seda amarelo que contrasta perfeitamente com sua pele negra retinta e seu cabelo Black Power castanho-escuro aproxima-se da nossa mesa e põe sua mão sobre o ombro de Marcone.

— Vamos — chama quase num sussurro. Seus olhos castanhos transbordando desejo.  

— Agora mesmo — responde Marcone esboçando um sorriso cúmplice para ela, levantando-se da mesa. — Não espere por mim, Henrique — avisa dando-me uma piscadela. Ele envolve o seu braço na cintura da mulher, encaminhando-se para um extenso corredor que fica no lado esquerdo da Casa.

— Ótimo — digo a mim mesmo com sarcasmo —, hora de ir embora daqui.

— Ainda não — afirma uma voz feminina atrás de mim. — Antes eu terei você.

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