03

“Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.”

(Pitágoras)

O dia que se passou foi realmente surpreende para mim. Primeiro porque recebi uma declaração do admirador mais tímido que tinha, e segundo porque meu segredo foi descoberto.

E justo no último ano, em que é tão decisivo e tem de ser o melhor de todos. Mas eu, que nunca quis uma mudança, acabei por destruir tudo em um único momento. Só que, felizmente, conseguimos fazer um acordo entre nós.

O que realmente foi novidade.

– Bom dia Eliana. – cumprimentou.

E para novamente me deixar de cabelo em pé e mais preocupada, foi o Taylor, ex namorado da minha melhor amiga, e não alguém que eu gosto de conviver tinha me dirigido a palavra.

– Onde estão seus amigos? – questionei.

Sem nem ao menos cumprimenta-lo ou sequer esboçar um sorriso. Claro, ele foi o cara que partiu o coração da Ally em pedaços.

– Ali. – respondeu simplesmente, apontando para o lugar onde haviam uns meninos.

Quando me viram estufaram o peito e acenaram sem parar para mim, como se eu fosse me apaixonar por eles por esse gesto.

– Então faça o favor de ir até lá, e não fingir que nada aconteceu. – repreendi-o.

Simplesmente riu e se aproximou de mim a passos lentos.

– Sabia que era o meu tipo, e não aquela melosa da sua amiga. – sussurrou.

Eca! Ele está pensando que vai me beijar?

Empurrei-o sem me importar e fui para a sala, sentando-me perto do Patrick e James. Percebi que Vinicius já estava lá, e me olhava com uma expressão mais simpática. Não aquela carranca que sempre dava.

– Diva. – chamou-me com o meu apelido de sempre.

– Que foi amor? – o tom carinhoso.

Ah! Eu amava esse garoto.

– Por acaso está rolando algo entre você e o Mitchell? – questionou.

O quê? Nunca.

– Que pergunta é essa Pat? – esbravejei.

Eu o chamava assim quando ficava brava, apesar dele gostar por soar feminino.

– Não se exalte, estressar-se dá rugas. – respondeu.

Só de pensar nisso me acalmei no mesmo instante.

– Mas não mude de assunto, porque acha isso? – insisti.

– Olharam-se demais hoje. Não é Jammy? – com o biquinho costumeiro.

Pior que é verdade, no entanto nem foi por aquele motivo.

– Até fiquei com ciúmes. – em um tom baixo ao me mirar.

– Eu estava o fulminando por ter dado um fora na Ally ontem! – menti.

Até porque ninguém sabe que eu amo Pokémon.

– Ele é um pedaço de mal caminho, Deus grego, mas muito cruel. Meu tipo preferido. Um bad boy necessita apenas de carinho, e estarei disposto a dar tudo que quiser quando precisar. – deu um gritinho.

Rolei os olhos por saber que fala isso de todos.

Então a professora chegou e começou a falar sobre a reprodução das girafas e os reinos, seja o animal ou outro qualquer. E como ia ser presidente do grêmio teria de fingir que prestava atenção.

Quando o sinal do intervalo tocou notei que o gay estava com um saco de jujubas, e de todas as cores. Sendo que eu era apaixonada, principalmente pela azul.

– Eu quero. – gritei quando fomos no pátio.

Sua careta se tornou tristonha neste momento.

– Não. – negou com maldade.

Simplesmente não implorei mais e puxei o saco, pegando na mão várias da minha cor preferida. Fazendo-o cruzar os braços e ficar com um bico maior que o de uma criança sem o brinquedo que desejava de natal.

– Quem manda ser guloso. – ri.

A Alisson se juntou ao nosso grupo contando que o seu ex ficou reclamando sobre eu não o cumprimentar e ser mal educada. E ao ver o doce ficou feliz de repente e furtou umas vermelhas.

E nem preciso contar como o Patrick ficou né?

– Estou com saudade do meu Tay-Tay! – chorosa.

Como ela pode ainda gostar desse canalha?

– Se você voltar com esse idiota, sou eu que ficarei sem falar contigo. – revidei.

– Mas ele é... – começou, mas foi interrompida.

– Um bofe que não te merece. – completou o nosso amigo.

James sempre ficava calado quando esses assuntos rolavam. E na maioria das vezes que o fitava notava que estava no celular ou comendo seu lanche – que era o costumeiro sanduiche de peito de peru com tomate e alface.

E eu me surpreendi quando ouvi o outro falando mal de um garoto, o que significava que realmente não prestava.

– Só que me dava presentes. – em um muxoxo.

Observação: além de dramática era um pouco interesseira.

E foi depois de sua fala que vi o Vinicius sentado no banco perto da lanchonete, do qual me fez lembrar de nosso acordo.

– O Mitchell também pode fazer isso para você. – iniciei sem muito êxito.

– Não o quero mais. – declarou.

O que está ocorrendo com essa gente? Primeiro o Patrick critica um aluno da nossa escola e depois ela desiste de alguém bonito?

Será o fim do mundo?

– Mas até que ele é bonitinho. – disse com esforço.

Não sabem o quanto penei para dizer essa última palavra sem engasgar ou gaguejar.

– Eu disse: ela e o Vince tem um caso. – estragou.

– O que você tem na cabeça para falar uma coisa dessas? Eu só estou querendo ver minha amiga feliz! – exclamei.

Foi tão alto que umas pessoas foram ao meu redor.

– Esse cara está te incomodando Lie? – perguntou um fã meu.

– É... – comecei.

– Sim, podem fazer o que quiser comigo, sou de vocês. – animou-se o gay.

E então eles o pegaram rapidamente e o levaram para um canto, fora de nossas vistas. Só que no caminho ele ficava se agarrando neles e pulando em euforia quando um o enlaçou para que não fugisse.

É... esse meu amigo não tem jeito.

O melhor é que o saco com aquelas maravilhas estavam ali. Só que até conseguir um pouco tive que brigar com a minha melhor amiga para isso. E no meio do processo a embalagem rasgou e umas ficaram na grama, sobrando apenas umas dez para repartirmos.

– Chão sortudo. – balbuciou a Ally em chateação.

Com toda a certeza tinha razão.

Ficamos comendo em silêncio e esperando o Patrick voltar, e quando isso ocorreu notamos que seus lábios estavam vermelhos, inchados e o inferior se encontrava com um corte. Sendo que sua roupa estava um pouco amassada.

– Acho que alguém arranjou um boy! – exclamamos nós duas ao mesmo tempo.

Como disse, o quarto integrante pouco falava. E enquanto o nosso sorriso aumentava o outro começou a chorar, parecendo completamente desesperado.

– Não, apanhei mesmo. – confessou.

Consolamo-nos e logo tivemos que ir para a sala, só que eu fui impedida ao ser empurrada para um corredor pouco frequentado. E ao abrir os olhos, depois de me recuperar do susto, notei que era o meu antigo concorrente.

– Conseguiu falar com ela? – sussurrou.

Tão perto de mim que fiquei quase sem ar, até porque eu não tinha me recuperado da pequena corrida e o baque forte e repentino com a parede.

– Depois da aula eu faço isso. – menti.

Sei que ela tinha dito que não queria mais nada com o Mitchell, mas sabia que poderia convencê-la. E se isso não acontecer, ou estou azarada ou meus amigos foram abduzidos.

– Está bem. – o tom rouco e sensual.

Você quer me conquistar ou a Ally? Fiquei com vontade de perguntar ao me sentir arrepiada quando falou pela última vez, todavia quando ia me pronunciar não se encontrava mais ao meu lado.

– Lie. – chamou uma voz conhecida.

E então quando me virei um flash apareceu, só que por sorte consegui sorrir e fazer uma pequena pose. A foto ficou boa e a pessoa me informou que sairia no jornal.

As aulas se passaram lentamente e finalmente conseguimos sair. A minha afobação era porque estava doida para falar com o diretor sobre a possibilidade de guardar uma vaga para o ex rival.

– Espere-me ai fora. – disse para a minha companheira desde o jardim de infância.

Bati na porta e entrei rapidamente, encontrando um senhor com a boca toda suja por conta das rosquinhas recheadas que comia.

– O que deseja? – pronunciou após terminar de se alimentar.

– É... eu queria saber se poderia deixar uma inscrição do meu comitê reservada para um aluno. – comentou.

– Quem seria? – questionou ao pegar a lista com o meu nome.

– O Vinicius Mitchell. – sussurrei.

– Não poderei o fazer sem que fale comigo sobre o cancelamento da liderança do seu grupo. – finalizou.

Sai bufando por ter de encará-lo e falar com aquele garoto novamente, mas era obrigada. Sei que pode ser exagero, mas é ruim ter de encarar uma pessoa que sabe seu segredo e que a todo instante pode te exigir algo a mais.

– Conseguiu falar com ele? – sussurrou.

– Sim. – disse sem deixar a preocupação de lado.

Neste instante o Patrick passou por nós.

– Olha as rugas. – repetiu, mesmo com a cara chorosa ainda se importava comigo.

– Obrigada meu amor. – berrei quando estava saindo.

Bem, ele ia ir no shopping com sua mãe.

– Alisson, pensou sobre o que eu disse no intervalo? – iniciei com cautela.

– Só ficarei com ele se mostrar interesse e me convencer a namorá-lo, antes disso não retirarei o que tinha comentado. – sentenciou.

Que droga! Mais um assunto para conversar com esse provocador e chantagista.

Então só espero que o destino esteja ao meu favor, porque se ele não aceitar, deixar seu orgulho de lado e ir atrás daquela garota que resolveu dar uma de difícil de uma hora para a outra estou ralada. E darei adeus a popularidade e o chaveiro do Pikachu.

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