Capítulo 02

Restaurant of the Dylan, ficava no centro histórico de Ashton City, próximo de parques, shoppinps center, academias ao ar livre e escolas de última geração, lugar onde Dean houvera terminado seu ensino médio, com mensalidade pagas por seu tio, William. De todos os cantos da pólis, aquele em especial lhe trazia lembranças formidáveis, pois seu primeiro beijo com Luan, fora ali, logo atrás da Bernard Avenue. Dean estacionou o carro próximo a uma linha de coqueiros, na orla da cidade, onde a brisa persuadia o ar e trazia uma sensação de liberdade na alma. Como era verão em Ashton, todas as praias estavam tomadas por turistas de diversas parte do continente. A base da riqueza e o PIB, provia especialmente do turismo. O centro de Ashton, era tomado por hotéis luxuosos, mansões gigantescas e bonitas, muito diferente do bairro onde Dean morava. Mais calmo. Mais pacato. Porém, mais bonito.

Eles deixaram o carro preto estacionado e seguiram caminho pela rua asfaltada, atravessando à orla, onde o piso era de pedras no estilo portuguesa. A arborização era atraente, em Ashton City, as árvores e flores pareciam mais verdes e coloridas do que em qualquer outro lugar, pois o clima colaborava para o esplendor.

Como era sábado, as ruas estavam cheias, e tiveram de deixar o veículo a uma certa distância por falta de vaga, mas aproveitaram para alongar o corpo até o amontoado de hotéis, restaurantes e casas noturnas. A frente de Ashton City, com certeza, era única.

Ao avistar o restaurante mais ao fundo, Dean vislumbrou por um momento a figura feminina sentada num banco debaixo da árvore, e fitou o tio que transbordava um sorriso de afeto e alegria nos lábios.

— Lia?

— Que você falou? 

— É a Lia, a mulher sentada mais à frente? — levantou o pescoço indicando a morena com óculos de sol, sorrindo ao avistá-los. 

William sorriu torto.

— Sim. Bonita, não é mesmo?

— Muito gata. Se eu não fosse gay, com certeza pegaria ela.

— Olha à boca. — repreendeu William, dando um tapinha na nuca de Dean.

— O senhor não se garante, William Ferraz? — perguntou Dean, num tom sarcástico. 

— Tenho tudo que uma mulher procura num homem, filho. Corpo sarado, dentes perfeitos, sorriso encantador...

— Autoestima elevada. — cortou Dean, ao atravessar a rua junto de William. — Já ouvir isso algumas vezes. Porém, ela teve sorte.

— Por que você diz isso, Dean? — fungou o homem.

— Ah, talvez porque o meu tio seja um vislumbre humano vindo da Grécia. Vou orar para que vocês dêem certo, e ela vire minha madrasta.

William passou os braços torneados envolta do pescoço de Dean, e caminhou com ele até Lia. Que os recepcionou com um sorriso nos lábios, retirando os óculos e deixando visível o olhar maduro e escuro.

Ela depositou um beijo nos lábios de William, e admirou a beleza extasiante de Dean.

— Lia, este é Dean. Dean, esta é Lia, minha namorada. — William apresentou-os um ao outro. — Espero que se dêem super bem.

Dean abraçou Lia, sorrindo.

— Você não me disse que seu sobrinho era tão bonito, William. — ela disse após se desvencilharem. — A genética da sua família é realmente inquestionável. — elogiou.

— Ah, muito obrigado, Lia. Você que é linda. — disse Dean, mostrando seus dentes brancos e alinhados. 

— Minha irmã casou com um deus da Grécia antiga, Lia. A junção de beleza deu nisso. — apontou para Dean, que encostou a cabeça nos braços de seu tio. — Dean, além de muito bonito, é inteligente e bom de papo.

— Oh, já gostei dele. Mas que tal irmos comer? Estou morta de fome.

Riram.

Lia entrelaçou seus braços ao de William, enquanto Dean caminhava com suas mãos no bolso do moletom vislumbrando as ruas perfeitamente asfaltada, as casas recém pintadas, crianças brincando no parque. Sentiria saudade dali, não porque se acostumara a lugares calmos, porém porque gostava daquela vida simples.

Seguiram caminhando por uns cinco minutos, até estar em frente ao restaurante caro, chique e com uma decoração magnífica, moderna e nostálgica. Era, sem sombra de dúvida, o lugar perfeito para conversar e comer bem. Não que a comida de William fosse péssima, mas ele realmente não tivera nascido para a cozinha. 

Recepcionados alegremente por uma moça bonita, que os conduziu até a mesa que William tivera reservado mais cedo, Dean ficou contente por voltar ao local. Tirou um momento para reavaliar o restaurante, as mesas de vidro com toalhas brancas, as cadeiras estofadas, os talheres perfeitamente alinhados, tudo em perfeita ordem.

— Aqui servem a melhor lagosta da cidade. — afirmou William, já sentado. — Mas não chega nem perto da minha comida, porém, dá pro gasto. 

Dean riu do sarcasmo do tio.

— É... Tem razão, pai.

— Pai? — Lia intrometeu-se. — Você chama de pai para seu tio? Que fofo!

— Sim, sim. Não vejo problema algum, ele me criou como filho dele e ele foi meu pai quando necessitei de um. — Dean apanhou a mão de William, apertando-a singelamente. — É o melhor pai que o destino poderia me dá, sabe?

— Sei. Tanto sei que agora isso fica explícito, porque seus olhos, mesmo escondidos atrás desse óculos, brilham quando você fala isso. — deduziu Lia, também pegando na mão de William. — Seu tio é uma pessoa muito especial, tem uma aura incrível e nostálgica.

— Eu sei o quanto meu tio é incrível. — disse Dean, desvencilhando sua mão das de William. — Mas me conte como se conheceram?

Lia deu um meio sorriso, e William aproveitou para secar os olhos.

— Foi alguns meses atrás. Estava na Marconi Avenue, quando olhei para o lado e vi meu ex-colega de faculdade.

— Vocês estudaram juntos? — questionou Dean, com um misto de curiosidade e felicidade. — Não sabia disso.

— Oh, sim. Eu e seu tio estudamos jornalismo na Valenza Universit. Porém, no oitavo mês, ele tivera trocado a Valenza, pela North-American, e nunca mais havíamos nos falado. — ela afirmou, em seguida. — No entanto, o destino arrumou uma forma de nos ajuntar novamente.

Dean estreitou o olhar, mais estupefato.

— Você e meu tio, ficaram na época da faculdade? — perguntou o rapaz, a voz branda.

Era uma pergunta bastante intima, e William quase o repreendeu, mas parecia que, Lia, estava disposta a revelar tudo.

— Namoramos por algumas semanas. Foi maravilhoso, seu tio é muito carinhoso, Dean. — ela comentou, meigamente. — Ter ele de volta, me fez acender uma paixão há muitos anos congelada.

Dean suspirou, intrigado pela história toda.

William chamou o garçom e fez os pedidos, estes não demoraram para chegar. A lasanha, a qual Dean pediu, estava divino, a costeleta de porco, que William fizera questão de usar como entrada, uma maravilha. O molho pardo, o suco verde, e o champanhe, inquestionável. Tudo muito perfeito.

— Qual seu grande sonho, Dean? — Lia perguntou após um tempo.

— Meus pais eram advogados, tinham um diploma grandioso, mas tiveram de vender a advocacia para quitar algumas dívidas. Meu sonho é estudar Direito, me formar, abri minha própria empresa, ganhar muito dinheiro, comprar uma casa no campo e encontrar o homem perfeito para passar meus dias ao lado dele.

Lia levantou uma sobrancelha, alarmante.

— Você é gay, Dean? — ela perguntou.

— Sim, eu sou. Tem algum problema?

— Não, nem um. Mas você é a primeira pessoa que fala isso sem demonstrar vergonha. É tão seguro. — Lia comentou.

— Eu não tenho vergonha de ser o que sou, Lia. Meus pais me ensinaram desde cedo a ter poder sobre tudo, a não temer quem eu era, ou quem estava destinado a ser. — ele fez uma pausa na voz, antes de prosseguir. — Ser gay tem suas vantagens, assim como ser hétero. 

— Eu amo esse meu sobrinho. — William deu um soco no braço de Dean. — É tão voraz com as palavras, não acha, Lia?

— Sim. Além de lindo, não tem medo de ser o que é. Se ele não falasse, nunca ía desconfiar.  

O almoço seguiu calmo, sem interrupções. Após o fim, ao pagar a conta, William, Dean e Lia, estavam caminhando pela rua comercial de Ashton City, lado a lado. 

William e Lia, estavam de mãos dadas, enquanto Dean, por sorte, continuava com as mãos dentro dos bolsos de seu calção moletom, ouvindo os assuntos ditos pelos mais velhos. Eram quase três da tarde, o sol estava destacado, o calor impossível de não ser sentido, mas ainda assim, continuaram o passeio pela orla magnífica de Ashton. 

De volta ao ponto de encontro, em frente aos hotéis luxuosos, preferiram comprar roupas e calçados numa loja de produtos caros na esquina dos restaurantes. Mesmo sem demonstrar, Dean tinha um bom dinheiro em caixa, não que o fizesse rico, pois patrimônio que seus pais haviam deixado para ele em testamento, era de valor simbólico. Mas pouco usufruía daquele dinheiro, preferia levar a vida simples, ao lado do tio.

Com as compras no porta-mala do carro, Dean sentou no banco do motorista e, atrás, seu tio e Lia, conversavam assuntos aleatórias. Ele ligou a ignição, e perguntou:

— Para qual lugar agora? 

William pareceu pensar, pois analisou o relógio de pulso durante alguns segundos, antes de responder.

— Poderíamos pescar. Que tal? Ainda não são nem cinco da tarde. — ele disse, temendo o contragosto do sobrinho.

— Por mim tudo bem. — assegurou Lia.

Dean pensou que aqueles poderiam estar sendo os últimos momentos ao lado de seu tio, então aproveitaria cada nanossegundo.

— É, pode ser. Estou disposto.

— Então que seja! — afirmou William, com um sorriso torto.

Dean deu partida no carro, indo rumo ao conjunto de residências pequenas e aconchegantes, deixando as compras sobre a cama e voltando com as vara de pesca, de volta ao automóvel.

No caminho até o Lago Bryan, William o questionou:

— Já pensou em usar seu dinheiro da poupança para comprar um carro, Dean? Não estou falando merda, mas acho mais peculiar que tenha seu próprio transporte, afinal o meu é bem surrado para levar. — ele comentou. — Se quiser, podemos ir a concessionária amanhã e você escolhe. Que tal? 

— É uma boa ideia. Eu realmente preciso de um carro. 

— Mas é bom ter juízo, meu filho. O trânsito de Thyssen é bem mais movimentado que o de Ashton. —William o lembrou. 

O percurso até o Lago Bryan, no fim da cidade de Ashton, foi rápido. Antes das seis da tarde, lá estavam Lia, Dean e William, sentados sobre a encosta do riacho pescando. 

O esporte não foi muito produtivo. Pescaram pouquíssimos peixes, o maior, William acabou levando para o jantar. De volta a casa, aliviado e tomado banho, Dean sentou na cadeira da mesa na cozinha e observou o casal preparando a comida. 

— Que farão desse peixe, em? 

— Um assado de forno. Entra? 

— Ah, com certeza. Deve sair uma maravilha. — disse Dean, prontamente. — Quando vão oficializar esse rolo de vocês?

William deu de ombros, e Lia, virou-se para Dean, contastando se este falava à verdade ou, se estava a brincar.

— Por mim, seria hoje. Mas quando William decidir, vamos oficializar. — ela asseverou, voltando-se para picar as verduras e legumes. — E você, Dean, tem alguém?

Ele mordeu os lábios e arrumou à postura.

— Tinha, mas agora estou solteiro, ou não, não sei dizer.

— Como não sabe?

— Simplesmente não sei. É uma longa história.

Então, com detalhes, Dean contou tudo a Lia, que estupefata mal conseguia assimilar os acontecimentos. Até para Dean, voltar ao passado lhe trazia más recordações, tudo porque era lá que Luan, estava presente.

— Oh, eu sinto muito por vocês dois. Mas o destino vai lutar para lhe trazer uma outra pessoa, Dean. — solidarizou-se.

— Obrigado, Lia. Você é um anjo. Sorte do meu tio de encontrá-la.

— Não, Dean. É ao contrário. Sorte minha de encontrar um homem como seu tio.

William a agarrou pela cintura e a trouxe para junto de seus músculos, abraçando-a antes de beijar os lábios da morena. 

O jantar ficou pronto dentro de uma hora. Lia arrumou a mesa, e Dean se qualificou para lavar as louças ao término. Comeram e conversaram, parecia que quanto mais interagiam, mais assunto floriava do nada.

Eram quase dez da noite quando, Lia, havia ido embora. William se ofereceu para levá-la até a residência, mas esta pegou um táxi. Sozinhos, em casa, William fitava seu sobrinho à distância, enquanto terminava de secar as louças e colocá-las em seu devido lugar.

— Foi um bom dia hoje. 

— É, foi mesmo. Aproveitamos como nunca, e isso é bom. Tô muito feliz por você, tio.

William caminhou alguns passos e repousou sua mão nos ombros de Dean, e beijou as costas dele.

— Eu também estou feliz por você. Já verificou o seu notebook? Quem sabe tua facilidade já não esteja pronta para ser comemorada. — ele pôs ao lado de Dean. — Vai lá e deixa que eu termino de arrumar aqui.

— Obrigado, tio.

Dean enxugou suas mãos no guardanapo e foi-se para o quarto, ligou o aparelho e entrou no email, haviam alguns muitos, tanto de seus colegas mais próximo, como um em especial, anunciando o provável.

Após ler o enunciado da Valenza Universit, a primeira parte de seu sonho estava ganhando vida. Ao limpar as lágrimas, Dean correu para a cozinha, como alguém que não queria nada, e esgueirou-se até a geladeira, abrindo-a e retirando duas garrafas de cerveja, entregando uma a William, que arqueou uma sobrancelha, curioso.

— Você nunca bebeu, o porque disso agora?

— Talvez porque seu filho tenha sido aceito na maior universidade de Lassen, pai.

William paralisou, encurralado.

— Você passou? — perguntou sem muita emoção, quiçá por ver seu sobrinho longe. 

— Sim, tio. Eu passei. Minhas notas foram o suficiente para entrar para a Valenza, e isso é demais.

William abriu a tampa da cerveja e bebeu um gole para ganhar coragem e enfrentar à realidade.

— O senhor não ficou feliz, pai?

William mordeu os lábios, não estava pronto para ficar sem Dean, ainda que o destino ousasse a querer o contrário.

— Estou, claro que estou, Dean. Mas a ausência que deixará, não tem preço. 

— Ah, pai, não fica assim. Olha? Terá feriados, fins de semanas e às férias, às quais poderei passar aqui, com o senhor. — Dean aliviou a pressão.

— Promete, meu filho?

— Prometo, pai. 

William então o abraçou.

— Vamos arrumar suas malas. Tem de partir cedo amanhã, afinal, Thyssen não é tão perto assim. — assegurou o homem, com a voz firme.

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