LEITE

— Olá, Srta. Ashton. — Ele a cumprimentava de volta. 

 Se entre olhavam a distância e antes que algo mais pudesse ser dito, Catherine se lembrou do motivo inicial de estar ali. 

— Trouxe um contrato importante, Vanessa não estava bem, então vim trazer em seu lugar.

— Certo e onde estão os papéis? — Ele a questionou, não os vendo na cozinha.

— Estão sobre a mesa de centro na sala, Jonathan. — A governanta o respondeu. 

— Obrigada Lúcia. — Ele agradeceu e se retirou. 

 Para nada foi uma conversa longa, mas por algum motivo ela sentia como se ele a pressionasse com o olhar e por algum tempo prendeu a respiração sem perceber. 

— O quê essa garota tem? — Lúcia perguntou ao ver o quanto Cloe puxava a blusa de Catherine. 

 A pergunta tirou Cat do mundo da lua e trouxe de volta oxigênio aos seus pulmões, mas apenas depois de quase ter todos os botões até o busto arrebentados, foi que percebeu o quê a bebê havia feito. 

 Ela se preocupou de que Cloe estivesse atrás do cheiro de leite. Ficou um tanto quanto nervosa, pois nenhuma outra criança havia se agitado tanto antes.

 Explicar aos demais por que os bebês em particular ficavam agitados em seu colo era um tanto constrangedor e só respirou aliviada quando a senhora pareceu não achar estranho. 

— Meu Deus Catherine, venha comigo, vou tentar dar um jeito na sua blusa. — Lúcia a levou para o banheiro no térreo da casa debaixo das escadas. 

 O banheiro espaçoso demais para ser real, causou uma grande impressão em Cat. 

— Tire a blusa querida, vou buscar uma caixinha de costura. Me espere aqui. 

— Tudo bem. — Cat assentiu. 

 A governanta saiu do banheiro às pressas para buscar agulha e linha, deixando Cloe ainda no colo de Catherine, o quê fez com que a tarefa simples de tirar a blusa, já não fosse mais tão simples. 

 Mudar a bebê de um braço a outro para conseguir desabotoar o restante dos botões da blusa deixou a pequena irritada, e uma bebê furiosa e faminta podia chorar tão alto quanto quisesse. 

 Tentando a acalmar, Catherine deitou a cabeça da pequena sobre seu peito e lhe cantou uma canção de ninar alemã. Não durou muito o choro, mas tão logo se acalmou voltou a puxar o que via pela frente. 

 Não suportando que ela chorasse tão sentida como a poucos segundos, Catherine deixou que a bebê continuasse, afinal de contas seu sutiã não tinha botões e tão pouco seria fácil de arrebentar.

 Passado um bom tempo, a governanta ainda não havia voltado. Catherine estava cansada de estar em pé e se sentou sobre a tampa da privada com Cloe deitada em seus braços. 

— Onde a Sra. Lúcia foi? — Se perguntou. 

 Do lado de fora, naquele mesmo momento a discussão entre pai e filho havia recomeçado e querendo lavar o rosto para se acalmar, tão logo terminou a batalha com o pai, Jonathan se trancou no banheiro de visitantes. 

 Bateu a porta com tudo contra a fechadura e ligou a torneira colocando as mãos debaixo d'água, em seguida jogando contra o rosto para esfriar os pensamentos.

 De cabeça quente poderia dizer algo que matasse o velho do coração e apesar de não se dar bem com o pai, era a última coisa que ele pensaria fazer. Precisava apenas de um tempo a sós consigo mesmo pra pensar. 

 No entanto, tão somente uns segundos depois de enxugar o rosto com a toalha, foi que ele percebeu não ser o único no espaço.

— O quê faz aqui? 

— Eu estava aqui primeiro. — Catherine respondeu, saindo de seu choque. 

 Com a entrada repentina dele no espaço, tanto ela como a bebê ficaram de olhos arregalados e atônitas. 

— Pode ter um pouco mais de respeito Srta. Ashton, o que está planejando fazer na minha casa nua desse jeito?

— Em primeiro lugar, não estou nua. E em segundo lugar, a Sra. Lúcia levou minha blusa, porque Cloe arrebentou os botões. — Esclareceu, enquanto procurava por uma toalha. 

— Onde está a Lúcia?

— Ela foi atrás de uma caixinha de costura há uns cinco minutos.

— Ótimo! — Ele bufou. 

 Voltado para a porta, ele já estava de saída quando puxou a maçaneta e percebeu que não abriria fácil. Tentando com mais força e até mesmo com a chave reserva que encontrou na primeira gaveta da bancada, somaram-se todos esforços inúteis. A porta estava definitivamente emperrada.

— Espera. Por que parou de tentar? Vamos ficar presos aqui? 

— Está emperrada. — Ele anunciou.

— Só pode estar brincando. — Ela disse, se colocando de pé com a bebê em braços e indo até a porta. 

 Fazendo esforço e torcendo a maçaneta com apenas uma mão não adiantou. 

— Cloe, vai com o papai um pouquinho. 

 Ela entregou a garotinha aos cuidados de Jonathan e com as duas mãos tentou de tudo puxando a porta. 

 Nada. Nem sinal de que a porta se deixaria abrir sem resistir antes. 

 Quando virou de frente para o CEO, a bebê possuía um beicinho de princípio de choro e mais do que depressa Cat a pegou de volta. 

— Ei!

— O quê? Quer que ela chore? — Catherine perguntou ao pai da criança.

— Por que está sempre à procura de problemas? — Desta vez a pergunta partiu dele para ela. 

— Nasci assim, não sou eu quem os procuro, os problemas me encontram. — Respondeu Cat de forma verdadeira.

— Não entendo. Mas também não me importa. — Ele concluiu a conversa, enfiando em seguida a mão direita no bolso da calça.

 Catherine o observou ligar para alguém, e na segunda tentativa esta pessoa o pareceu atender.

— Estou preso no banheiro, peça a Gabriela para trazer uma blusa dela aqui. — Ele se resumiu a informar e desligou.

— Em quanto tempo poderemos sair daqui? — Catherine queria saber.

— Se estiver simplesmente emperrada, em meia hora. Mas se for algo que só um chaveiro possa resolver, talvez apenas amanhã cedo. 

— Amanhã cedo? "talvez" ainda?

— Mantenha a calma, vai assustar minha filha. — Ele a advertiu, acariciando o topo da cabeça da criança. 

 Sem muita positividade e com o histórico de azar que possuía, ela praticamente tinha certeza de que só vestiria uma blusa decente no dia seguinte. 

  

 Sentando-se de volta sobre a tampa do vaso, percebeu que já deviam ser mais de onze horas da noite. A bebê coçava os olhos e se inquietava muito mais do que antes em seus braços. 

 Choros e resmungos começaram a se intensificar a cada minuto presos, Jonathan andando de um lado a outro e Catherine tentando acalmá-la de todas as formas até se cansar. 

 Quando já não havia mais nada a fazer, Catherine a deitou em seus braços tentando niná-la, cedo ou tarde ela tinha que se dar por vencida. Não havia muito mais o que tentar para acalmá-la e não aguentando vê-la chorar, Cat passou a encarar o teto. 

— Me dê ela, vou tentar. — Jonathan pediu vendo a filha puxando o sutiã de Catherine Ashton, a ponto de estourar mais algumas coisas.

 Antes que Cat a entregasse no colo do pai, Cloe conseguiu o que queria. O bojo do sutiã se torceu para baixo em puxão dado pela bebê, o bico do seio ficou exposto de repente, dando a oportunidade para a bebê que mais do que depressa o pôs na boca. 

 Catherine a sentiu sugar e fez uma careta dolorida. Eram terrivelmente sensíveis seus seios, então quando o CEO quis pegar a filha, ela o gritou:

— Não a puxe!

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