Annelise

***

Eu acordei animada. Fiz ioga e descobri que não sou tão boa nisso. O resultado foi uma dor quase insuportável nas costas. Devo ter dado um jeito ao fazer uma posição de modo errado. A animação ainda me tomava. Às oito em ponto, estava na Shaffer & Sheppard, cantarolando "Shape of You" de Ed Sheeran. Quando sentei-me  à minha mesa, tirei os fones de ouvido e levantei a cabeça para ver se Chase já havia chegado. Para a minha surpresa, a resposta era que sim. Em todos os dias em que trabalhei, ele nunca havia chegado tão cedo. Imaginei que estivesse aprontando algo. Talvez estivesse escolhendo a próxima vítima. 

O interfone da minha mesa tocou. Eu atendi. 

— Sr. Ward? — Perguntei. 

— Venha até minha sala. 

Eu levantei e me dirigi até seu escritório no final do corredor. A luz estava acesa, por isso que percebi que estava ali dentro. Bati à porta. Ele mandou eu entrar. Vestia um terno azul escuro, que de algum jeito realçava o olhar acinzentado. O semblante emburrado de sempre tomava conta de seu rosto, e andando para mais perto, notei que estava um pouco triste. Ele levantou os olhos, que me encararam cheios de sofrimento. Se eu não o conhecesse, ia achar que estava chorando antes de eu entrar. 

— Annelise, pode comprar um café para mim? — Perguntou, desviando o olhar. Eu notei uma pilha de papéis jogados em sua mesa. Alguns rabiscos assumiam formas de desenho, ideias de logos e palavras escritas, mas achei estranho os papéis de exames espalhados sobre a mesa. 

Assenti. 

Agrade-o e mantenha seu precioso emprego. 

— Um Machiatto, certo? 

— Ok. 

Eu virei para ir embora, e então, ele disse: 

— Annelise? — Uma pausa. — Obrigado. 

Algumas calotas polares devem ter derretido para que ele dissesse tal palavrinha mágica. Eu sorri e quase andei saltitando pelo corredor, cantarolando " Meu chefe gosta de mim", de Annelise Hamilton. 

Corri até o Starbucks do outro lado da rua. Por sorte, a fila estava dissipada, então pedi o café  e em alguns minutos, voltei para o prédio. Quando saí do elevador e fui para a sala do sr. Ward, dei de cara com ele. No momento em que ia entrar, ele abriu a porta, e colidimos. O café voou e explodiu nele, que gritou uma série de palavrões. O sr. Sheppard, que estava esperando na sala dele, inclinou a cabeça para ver o que estava acontecendo. 

— Porra! Você molhou o meu terno! — Seu tom era duro. — Não olha por onde anda, ou é tonta mesmo? 

Envergonhada, tentei pedir desculpas, mas ele só se irritou mais. O sr. Sheppard saiu de sua sala e eu acompanhei Chase, pedindo desculpas sem parar. Ele tirou o paletó e a camisa branca, e tive a oportunidade de ver os músculos de seu peito definido. Eu não percebi que estava babando, até ele dizer: 

— Gosta do que vê? 

Um sorriso amenizou a expressão irritada. 

Fiquei vermelha. 

Ele riu. 

— Isso foi uma armadilha, srta. Hamilton? Esbarrou em mim para que pudesse me ver sem roupa? — Perguntou. 

— Não. — Respondi mais que depressa. 

— Ah, que pena… — ele me estendeu o paletó e a camisa. — Porque deu certo. 

Eu tentei desviar os olhos de seu corpo, mas involuntariamente percorri o peitoral esculpido, o abdômen definido e… ai, meu Deus… ele ficava tão sexy sem camisa! Balancei a cabeça, afastando os pensamentos que tomaram a minha mente. 

Eu peguei o paletó e a camisa de sua mão. 

— Tem uma lavanderia na esquina. Se apresse — Exigiu e apontou o copo na minha mão. Eu fiz que sim. —, e traga outro café. 

Pisquei algumas vezes, paralisada. 

— Anda! — Ordenou. 

Eu fiz o que pediu. Corri novamente, com o paletó e a camisa na mão, e encontrei a lavanderia na esquina. Quando abri a porta, olhei ao redor e entrei. Vi algumas máquinas de lavar roupa enfileiradas e me dirigi até lá. Abri uma e algum tempo depois, corri para o Starbucks. Pedi outro café. Fui atendida. Peguei o café. Voltei para a lavanderia. Depois de secar a roupa, finalmente consegui voltar para o prédio, e descobri que Chase já não estava mais lá. Ele saiu sem camisa? 

Não pude deixar de imaginar ele desfilando pelas ruas de Nova York aquele corpo maravilhoso. 

Eu bufei, lembrando que tinha feito todo esse trabalho por nada. Bebi um gole do café. 

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