CAPÍTULO 4

Os primeiros versos — 1989

Belinha contava os dias para o aniversário de nove anos. Era a primeira vez que comemoraria em uma boate badalada pelo público juvenil da época: a Mikonos. Situada no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, a discoteca era conhecida pelas matinês privadas, que embalavam as tardes das crianças e dos pré-adolescentes da zona sul.

Era praticamente um sonho ter uma festa no local e a menina não poderia estar mais exultante com a conquista. Tamanha expectativa também tinha outro motivo: um convidado para lá de especial. Já fazia meses que Isabela admirava Rafael de longe, fitando-o, em silêncio, durante as aulas de português e de matemática. Com os cabelos castanhos lisos, ele ostentava um topete típico de galã de novela e era, sem sombra de dúvidas, o garoto mais bonito da classe.

Por vezes, Belinha se perdia nas explicações da professora, desatenta à matéria, mas totalmente consciente de cada movimento feito pelo amado. Estudava os seus olhos castanhos e embevecia-se com o seu sorriso aberto, fazendo conjecturas na sua fértil imaginação.

No grande dia, Belinha se paramentou com um vestido de ombreiras altas e saia rodada, repleto de cores vivas e salpicado de pequenos brilhos. Mesmo envolta por toda a timidez que lhe era peculiar, estava confiante e julgava-se invencível.

A sua força esvaiu-se aos poucos, conforme o relógio avançava e o convidado de honra não aparecia. Chegou a hora de cantar parabéns e de cortar o bolo, mas Rafael não tinha mesmo dado o ar da graça. Ignorara o seu convite e dispensara a sua festa. O brilho que inundava os olhos de Isabela já havia fugido para longe. Estava opaca, murcha e muito sentida.

Foi para casa, cabisbaixa, e não teve ânimo nem para abrir os presentes. Pegou um caderno em branco, agarrou uma caneta e, sem prestar muita atenção no que fazia, transformou em palavras toda a sua dor.

Preencheu diversas páginas de relatos, lamentos e tentativas de poesias. Sentiu-se leve e revigorada, como se tivesse transferido para o papel tudo aquilo que a afligia. Foi natural, intenso e muito libertador. Eram os seus primeiros textos; o início de um caminho marcado pela escrita; o passo definitivo para uma vida rodeada de literatura.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo