Durval - O rei da máfia
Durval - O rei da máfia
Por: Maíny Cesar
Prólogo

Frase

Ele não busca reconhecimento, sucesso ou fama.

Ele busca vingança.

Prólogo

Aqueles lindos olhos claros que mais parecem um oceano de águas limpas e turbulentas me encaram assustados e com uma súplica silenciosa por socorro. Inutilmente tento soltar as correntes que prendem meus pulsos na barra de ferro atrás das minhas costas.

O pequeno corpo escultural que se encaixa perfeitamente ao meu é brutalmente estuprado diante dos meus olhos, sem que eu nada possa fazer. Por mais que eu grite, implore e ofereça minha vida em troca da dela, recebo chutes e pancadas. Sou obrigado a assistir toda maldade dos homens que um dia confiei, acreditei e jurei lealdade.

Os meus próprios companheiros e amigos mancham a pureza e inocência daquela alma cheia de vida que me encara com um pedido de perdão. O desespero estampado em seu olhar me desfaz em pedaços, não poder fazer nada me mata lentamente. Nenhuma mulher merece passar por isso, nem vivenciar tanta dor. Incapaz, tenho que assistir sem conseguir mover um único músculo do meu corpo para ajudá-la.

Por que? Eles deveriam protegê-la, assim como aos seus colegas de trabalho. Como policiais deveriam ser a justiça e não a desgraça, mas tudo aquilo que sempre acreditei, desmorona diante dos meus olhos.

Se eu desistisse das investigações, nada teria acontecido com Lana, mas a minha teimosia me levou a perdição, machucou quem eu mais amo. Eu deveria estar em seu lugar, deveria morrer por ela, morrer a protegendo, mas não, ela está lá, em meu lugar. Lana não merece maldade alguma, sempre foi uma mulher gentil e dedicada, ela não deveria pagar pelos meus erros.

Eu quero me soltar e matá-los friamente, quero rasgar suas gargantas lentamente, mas eu não posso.

Não posso ajudá-la, não posso salvá-la.

Me debato nas correntes soltando um rugido desesperado que queima minha garganta, um soco forte vem de encontro ao meu rosto e nem mesmo assim paro.

As algemas não cedem, por mais que as force, elas permanecem firmes. Vendo que eu não pararia quieto, um dos homens de Jacob atinge o lado esquerdo da minha face com um metal pontiagudo. Sou obrigado a fechar meus olhos ao sentir o metal rasgar minha pele. O sangue quente escorre pelo meu rosto e por um momento acredito ter perdido a visão, mas a dor física é irrelevante comparado ao desespero que comprime meu peito.

Atordoado e incapaz, encaro os seus lindos olhos azuis fixos aos meus. As lágrimas incessantes escorrem por sua face e os gritos de desespero já não rompem mais seus lábios.

Lana está cansada de lutar, exausta de tantas torturas e investidas brutais contra o seu corpo pequeno. Olhos que sempre foram tão puros e cheios de vida, agora me encaram vazios. Com as últimas forças que lhe resta, estica sua mão em minha direção sussurrando um pedido de desculpas, enquanto desfalece diante de mim.

Você não pode me deixar... — Sussurro sem acreditar no que estava acontecendo.

O desespero domina cada parte do meu corpo, me sufoca e mata lentamente. Ela não pode desistir da vida, não me pode deixar.

Não pode me deixar! — Grito forçando as correntes contra os meus pulsos na inútil tentativa de escapar.

Deixo minhas lágrimas correrem livres, querendo trazê-la de volta para mim. Querendo sentir seu corpo colado ao meu, seu sorriso tímido de todas as manhãs marcado por suas covinhas, mas de nada adianta.

Lana! — Grito mais uma vez.

Meu corpo estremece ao sentir sua alma partir e restar apenas seu corpo sem vida diante de mim.

Acordo em um sobressalto agarrando os lençóis com força suficiente para rasgá-los. O ar entra em meus pulmões com força, queimando minhas narinas, suor escorre pela minha testa e o vento frio da janela entreaberta deixa arrepiado os pelos do meu corpo.

Ofegante e cansado, fecho os olhos passando as mãos no rosto na tentativa de tirar aquelas imagens da minha mente, esquecê-las, mas nada adianta.

Encaro o teto observando seu tom azulado pela pouca claridade da luz da lua que entra pela janela. Transtornado, espero minha respiração se acalmar enquanto sou obrigado a vivenciar aquelas imagens mais uma vez em minha mente.

Mais calmo, me viro para olhar o relógio sobre a escrivaninha ao lado da cama, suspiro pesadamente ao ver que consegui dormir apenas uma hora e meia. Fecho os olhos passando as mãos na testa ao perceber que meu tempo de sono está diminuindo gradativamente. Ultimamente os sonhos estão mais intensos e reais do que o normal, como se quisessem me punir dia após dia.

Cansado e aturdido demais para permanecer ali, me sento na cama com certa dificuldade. Apoio as mãos no rosto novamente, a fim de dispersar aquelas imagens da minha mente, mas não seria tão simples assim.

Atordoado com o pesadelo recente, apoio-me nos móveis à minha volta para chegar até a cômoda. Derrubo alguns vidros de perfume ao puxar com brutalidade as gavetas, apressadamente pego os pequenos frascos de remédios controlados e sem paciência jogo os calmantes dentro da boca, engolindo-os de uma vez.

Respiro profundamente na tentativa de estabilizar meus sentimentos para finalmente iniciar meus afazeres do dia.

Um pouco desnorteado, sigo para o banheiro entrando embaixo do chuveiro com as roupas que tinha no corpo. A água fria escorre pela minha pele quente tencionando ainda mais meus músculos e aos poucos, minha mente cansada e abatida se alivia, acalmando aquele sentimento de incapacidade e dor latente.

Retiro minhas roupas as jogando em um canto qualquer, aproveitando para tomar um banho demorado, para ser sincero mais demorado do que gostaria, porém serviu para esfriar minha cabeça, acalmar a ansiedade e diminuir a sede de vingança.

Preciso manter a calma para não fazer qualquer investida impensada. Resta apenas um dos assassinos da minha esposa, e terei a honra de matar com minhas próprias mãos como fiz com os outros três e farei com qualquer um que tentar me impedir. Mas tenho que organizar friamente meus planos para pegá-lo sem falhas.

Ao sair do banho visto uma calça de moletom e opto por ficar sem camisa. Seco rapidamente os cabelos com uma toalha os deixando bagunçados e despenteados sem me importar com aparências.

Toda noite é a mesma coisa, procuro me afundar no meu trabalho para não ter tempo de dormir, contudo o cansaço domina meu corpo e acabo cedendo a necessidade de descansar. Mas a cada dia que se passa a morte de Lana retorna em pesadelos brutais e dolorosos.

Ela era uma mulher doce, simpática e extrovertida, seu maior sonho era ser mãe. Mas infelizmente tudo nos foi tirado naquela noite.

Como o dia começaria bem mais cedo do que o normal, sigo para minha academia, preciso descontar o ódio que circula em minhas veias e com certeza seria no saco de pancadas.

As horas se arrastam lentamente e só paro o treino ao sentir o cansaço tomar conta dos meus músculos. Ofegante enxugo o suor que escorre em minha testa, arfando em busca de um pouco ar e paz, mas de nada adianta, as imagens continuam mais vivas em minha mente do que eu gostaria.

Vendo que nem mesmo a academia me tiraria aquela sensação de inquietude, tomo mais um banho e visto uma roupa social jogando meu sobretudo por cima dos ombros, encaixo perfeitamente o chapéu Fedora sobre a cabeça escondendo minha cicatriz. Mesmo sabendo que meus homens não me importunam dentro de casa, gosto do conforto e da paz que meu chapéu traz. É como se ele escondesse os meus pecados, as falhas e lavasse a minha alma. Uma falsa sensação que traz o mínimo de paz ao meu coração

Sigo para o escritório sentindo finalmente os efeitos do remédio acalmando a tensão constante do meu corpo. Acomodo-me em frente à mesa e observo os inúmeros papéis sobre ela, sem muita vontade de lê-los ou assiná-los.

Seria um longo dia, mas com certeza as investigações para a conclusão da minha vingança renderiam e fariam cada minuto valer a pena.

Falta pouco, muito pouco, para que eu consiga chegar a um dos principais responsáveis pela morte de Lana e eu faço questão de destruí-lo, lenta e dolorosamente sem um pingo de piedade.

Me tornei Durval — El T**o apenas para ter o imenso prazer de sentir o sangue quente daqueles homens escorrer pelas minhas mãos, como já fiz com os outros três e seus capangas.

Não poupei esforços, criatividade e vidas para arrancar a verdade de cada um deles. Pagaram com seus corpos todas as dores que minha preciosa esposa sentiu. E agora só falta mais um para completar minha vingança.

Aperto os papéis em minhas mãos os amassando e nem mesmo os remédios manipulados de Lourenço são capazes de conter o ódio que domina o meu peito.

O escritório fica sufocante diante desses sentimentos que me sugam, sou obrigado a jogar os papéis sobre a mesa e caminhar para a cozinha na tentativa de me acalmar.

Já está amanhecendo e isso é ruim, pois não gosto e muito menos permito que meus homens me vejam nesse estado de descontrole. Eles me respeitam pelo poder e autoridade que passo, mas neste momento sou apenas um homem quebrado e perdido com um forte desejo de vingança.

Seguro a garrafa de whisky disposta sobre a pia a virando em longos goles. O líquido forte desce queimando minha garganta, me trazendo uma sensação de alívio momentânea.

A mistura dos calmantes com o álcool não é uma das melhores combinações, causam efeitos adversos, mas neste momento queria apenas esquecer aqueles olhos que suplicavam por socorro.

Já se passaram dezessete anos e nada, absolutamente nada em minha vida mudou, a dor, o desespero, a angústia, o sofrimento, os pesadelos, tudo é tão real como se a cada dia eu vivesse novamente o dia de sua morte.

E assim sou forçado a viver essa mesma história dia após dia, esperando que cada um daqueles homens queime no fogo do inferno assim como eu queimarei, pois eu sei que para mim já não há mais salvação.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo