A Noite Nos Persegue
A Noite Nos Persegue
Por: Bruna Fioreszco
Dez anos depois

   O céu estava escuro quando o avião pousou no aeroporto de Nápoles, o frio seguia implacável como era esperado daquela época do ano, abotoei meu casaco como uma maneira de impedir o vento de entrar, tomei um último olhar pra trás antes de seguir rumo a minha escolha, talvez eu nem tivesse escolha afinal, nao quando o sangue fala tão alto.

   Meus passos logo se tornam inaudíveis entre as conversas da multidão, alguns passos e encaro Mateo distante, ele esta diferente de como eu me lembrava, os olhos azuis parecem profundos e as olheiras entregam as noites mal dormidas, mas sua presença imponente continua a mesma, como um animal prestes a atacar, as pessoas se desviam dele involuntariamente, mas os olhos mais corajosos e curiosos acompanham seus movimentos, por um minuto sinto um sentimento familiar, mas o empurro para o mais profundo da minha mente e termino meu trajeto até ele, apesar das mudanças seu perfume continua o mesmo e ainda preciso levantar meus olhos para conseguir encara-lo.

-Como foi o voo? -Sua voz grave chamou minha atenção e desligou meus pensamentos.

-Cansativo, nao esperava chegar tão tarde, mas parece que o que eu quero nao importa, como sempre.

-Todos te esperam na mansão, alguém virá pegar sua bagagem.

   A idéia de voltar pra casa me parece estranha, por muitos anos a mansão foi o meu lar, por toda a infância estive correndo por seus corredores e salas, completamente alheia a realidade cruel da minha família.

   O caminho é percorrido em completo silêncio, com qualquer outra pessoa o silêncio prolongado seria desconcertante, mas com Mateo era reconfortante como uma pausa do mundo antes de mergulhar na realidade de dor e caos que me esperava.

   Os portões da mansão se abrem e consigo ver os jardins e a árvore com o meu balanço agora cobertos de neve, ao passar pelas grandes portas de madeira,  o barulho dos passos no assoalho e toda a agitação e conversa mantém minha mente fixa no presente, mas inevitavelmente um misto de sentimentos me sufoca ansiedade, nervosismo, tristeza e até saudade.

-Bem vinda senhora, seu quarto está pronto e o jantar será servido assim que autorizar.

   A mulher de baixa estatura e rosto inexpressivo permanece a alguns passos em um sinal de respeito velado. Aceno positivamente realmente nao muito interessada no jantar e finalmente sentindo a realidade me atingindo, estou em casa, pela primeira vez depois de dez anos, estou em casa.

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