Perdida em pensamentos

# Madalena

O quanto uma injustiça pode incomodar?  Ou melhor, o quanto as pessoas podem te julgar pelo que dizem sobre o grupo a qual pertence?  Porque a dor de ser humilhada parece ser quase insuportável?

Me sinto cansada disso.

Cansada de ser sempre julgada, humilhada, como se eu não tivesse qualquer valor.

Droga!

Eu sabia que qualquer ilusão com um homem como esse só poderia resultar em decepção.  Como pude ser tão idiota?

A escuridão me impede de vê-lo, mas consigo sentir seu olhar cruel latejando minha pele. Sei que estou errada em mexer nas coisas dele, mas isso não lhe dá o direito de me tratar assim.

De ser cruel.

_ Parece que não consegue pensar outra coisa sobre mim, não é mesmo?! _ disse com a voz ácida _ mas vou repetir para que não se esqueça,  EU NÃO SOU UMA LADRA!

Ele ficou calado. O silêncio tornou-se pesado.  A escuridão pareceu mais densa. Um abismo se abriu entre nós. 

_ Você não deveria mexer no que não lhe convém,  garota! _ ele disse com a voz dura.

_ Sinto muito por isso, conde. _ disse enquanto colocava o livro e a foto na mesa a minha frente.  _ sei que não tinha esse direito,  eu queria entender melhor você.  _ confessei por fim. _ saber como posso ajudá-lo.

O som de uma gargalhada amarga inundou o cômodo.

_ Você só pode está de brincadeira.  Não consigo imaginar como uma simples empregadinha pode me ajudar?  _ ele disse, fazendo com que suas palavras me atravessasse como lâminas afiadas, _ ou melhor, porque você acha que eu aceitaria sua ajuda?!

Como as palavras pode causar tanta dor?

_ Eu só queria. ..

_ Pois eu quero que não se meta onde não é chamada. Que faça a sua obrigação e não se esqueça seu lugar nessa casa.

_ Tem razão.  Não vai mais se repetir. _ afirmei com lágrimas nos olhos. _ não vou esquecer o meu lugar, conde.

Sai daquela sala decidida a esquecer essa história toda, a esquecer o conde.

***

Vê os dias seguintes se arrastarem lentamente pelos corredores da mansão.  Apesar de não comentarem, acredito que todos sabiam que algo tinha acontecido comigo.

Para completar tudo, os pesadelos que me acompaham a tanto tempo voltaram com mais frequência.  Não sei o quanto dele é real, como lembranças reprimidas dentro de mim.

Suspiro pesarosa. 

Preciso dar um jeito na minha vida. Seu André estava errado,  não é esse o meu destino,  não sou o milagre de ninguém. 

_ A comida não está do seu agrado, minha menina? _ perguntou amorosamente dona Marta ao sentar do meu lado na mesa. _ você parece triste, e imagino que algo deve ter acontecido. _ ela especulou com o olhar confortador.

_ Só não estou nos meus melhores dias. _ responde meio sem jeito. _ mas logo vou ficar bem.

Eu lutava para que essas palavras fossem verdade.

_ Eu sei que certas coisas na vida nos magoam,  querida.  Mas, não podemos desistir na primeira dificuldade, principalmente quando é assunto do coração.  _ ela afirmou sem titubear. 

_ Como a senhora pode saber? Quer dizer,  sobre mim e o... _ perguntei curiosa e com um pouco de vergonha. 

Ela respondeu sorridente:

_ Conheço aquele menino desde pequeno,  menina. Sei tudo o que ele passou, o quanto sofreu e como se fechou para o mundo. _ ela disse seria _ pelo menos até você chegar aqui. Eu e o André somos os únicos que ele ainda permite manter contato,  e nós vimos que algo estava diferente nele, havia um brilho que eu não via no seu olhar a muitos anos. O brilho da esperança. 

_ Eu não sou a responsável por isso,  dona Marta. _ afirmei um tanto decepcionada. _ ele não me quer por perto e deixou isso bem claro no nosso último encontro. 

_ Está enganada, querida.  _ ela disse pegando minha mão sobre a mesa _ só que quando ficamos muito tempo no escuro,  a luz nos incomoda e até pode machucar.  O nosso primeiro impulso é querer apagá-la, mas depois da dor, vem a sensação de finalmente ser livre, de poder ver.

Suas palavras fizeram meus olhos se encherem de lágrimas. 

_ Não desista dele, filha. Mostre o quanto o amor verdadeiro pode ser a cura que ele tanto precisa.

_ Eu não sei se consigo,  ele foi tão cruel. ..

Ela suspirou tristemente. Os segundos se passsaran até que ela respondeu:

_ Não estou dizendo que será fácil,  porque o conheço bem para saber que não vai ser. Por isso eu preciso saber de algo essencial: você consegue enxergar mais do que o cruel conde nele? _ ela me perguntou algo que eu não tinha parado para pensar até agora.

Eu consigo ver mais do que o cruel e misterioso conde?

Eu consigo ver mais do que as duras palavras ditas por ele?

Eu consigo ver mais do que ele deixa transparecer?

_ Descubra a resposta e saberá o que fazer, querida. _ ela disse deixando um beijo carinhoso na minha testa. _ saiba que sempre poderá contar comigo.

Eu precisava de uma resposta. 

Eu precisava de um tempo longe da mansão do conde.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo