Capítulo 3

Lívia 

Estou me segurando pois estou em pé. O homem que provavelmente está roubando a carroça está se divertindo com o que está fazendo. Não consigo vê-lo com clareza pois os raios do sol estão muito fortes. 

Olho para trás e percebo que tem alguns homens correndo atrás de nós, imagino que seja à mando das irmãs, para o meu resgate, mas, eles estão à pé, então não irão nos alcançar. 

- Senhor?! - Chamo-o mas ele parece não me ouvir. - Senhor?! 

Aff. Ele precisa deixar que eu me sente, se eu continuar desse jeito eu irei me desequilibrar e cair. 

- PEGUEM O LADRÃO! - Consigo ouvir um dos homens que está nos perseguindo, e todas as pessoas que estão na estrada começam a nos olhar e gritar alguma coisa. 

Eu começo e me sentir amedrontada. Isso não estava nos planos, e se der tudo errado? 

Conforme vamos avançando, tudo vai se distanciando. O homem entra com a carroça em uma rua deserta que leva à floresta e então para quando estamos próximos das árvores. Ele ainda não percebeu a minha presença, ou finge não me notar. Ele desce da carroça com pressa, segurando um saco nas mãos. Eu rapidamente desço também. 

Ele começa a andar rumo às árvores, sigo-o. Agora consigo olhar melhor para a aparência dele, pelo menos pelas costas, ele possui os ombros largos, cabelos compridos e presos, usa vestes de guerreiro. 

- Senhor? - Chamo-o, mas ou ele é surdo ou está me achando com cara de tonta. - Senhor ladrão!? - Quem sabe ele não gosta de ser chamado pelo que é? 

- Vá embora, menina. - Diz sem parar e sem olhar para trás. 

- Ah! Eu sabia que você sabia que eu estava com você! - Digo indignada. - O senhor não é um homem muito honrado, pois teve a coragem de roubar uma carroça sagrada! É a carroça das irmãs! Elas são mulheres santas! Se bem que o senhor é um ladrão, então, provavelmente o senhor não liga para a sua honra. - Paro de falar e respiro um pouco. - Será que o senhor pode andar mais devagar?

Ele para abruptamente e se vira para mim com rapidez, segurando os meus braços com força, tão rápido eu vejo seus olhos cores de mel me olharem com impaciência.

- Pare de falar! Pare de me seguir! Pare de me olhar! - Diz me sacudindo, soltando faíscas pelos olhos.

Fico imóvel por alguns segundos, além de medo eu estou deslumbrada, pois eu nunca havia visto em toda a minha vida um homem tão... Lindo.

Eu nunca vi homens bonitos... Os homens do mosteiro não possuem vaidade alguma, e, a maioria são velhos.

Ele me solta e volta para o seu caminho. 

- S-senhor, por favor me ouça! - Volto a segui-lo. - Eu preciso muito de sua ajuda, preciso que me leve pra casa. - Digo mas ele continua em silêncio, andando com pressa. - Eu nunca estive fora do mosteiro antes, digo, estive quando eu tinha oito anos, mas eu era uma criança e não me lembro de nada.

- Vá embora, garota. - Diz sem parar e sem olhar para trás. 

Continuo seguindo-o, sinto que ele é uma boa estratégia para eu chegar até Luzem. Ele parece inteligente e ágil. 

- Eu não conheço nada, não sei qual caminho eu devo seguir... Por favor, leve-me até Luzem em segurança, percebo pelas suas vestes e pela espada em sua cintura, que o senhor é um guerreiro... Um guerreiro ladrão, mas ainda assim é um guerreiro... E como nós já nos conhecemos, então não precisarei correr o risco de ter que pedir ajuda a algum desconhecido que pode ser algum psicopata assassino e resolva me atacar.

- Pare de falar! Se você não parar de falar, logo irão nos encontrar.

- Se o senhor parar e me ouvir, então eu poderei lhe dizer baixinho, mas o senhor prefere ficar andando e me ignorando então me responda, que escolha eu tenho?

Ele para novamente. Sinto algo se remexer dentro de mim, que se intensifica quando ele se vira para trás. 

- Me responda, garota, você só sabe resmungar e ficar falando e falando e falando? - Ele parece muito preocupado, pois enquanto fala fica fazendo gestos com as mãos e sua expressão está ruim.

- Preciso de sua ajuda, por favor, senhor...

- Se vai ficar falando comigo, pelo menos pare de me chamar de senhor.

- S-sim, c-claro senhor, quero dizer, do que gostaria que eu lhe chamasse? 

- Vicent. - Diz e em seguida me puxa para si tapando a minha boca e me arrastando para trás de uma árvore. 

Logo ouço vozes. 

Mas, o que realmente está me perturbando, é estar praticamente abraçada à um homem. 

Meu pai provavelmente teria um ataque se me visse assim. 

- Acalme-se! - Vicent diz baixinho em meu ouvido, me causando arrepios por todo o corpo. - Eles não irão nos encontrar aqui. - Conclui e eu tento afastar meu rosto. 

Isso é constrangedor. 

Alguns minutos se passaram e finalmente me vi livre dos braços de Vicent. 

- E então? Aceita me levar em segurança até Luzem? - Pergunto quando ele volta a caminhar pela floresta. 

- Não tenho tempo para isso, pretendo te deixar na primeira oportunidade, volte para o mosteiro, é lá o lugar de mocinhas como você. - Do quê esse homem está falando? 

- Eu nunca mais voltarei para aquele lugar! Não que eu seja uma pagã, mas, eu não tenho vocação religiosa! Meu pai me deixou lá a vida toda para proteger a minha reputação, ele prometeu me casar aos vinte anos e quando finalmente faço vinte anos o que ele me diz? Que devo esperar mais um ano, por isso eu fugi, eu não aguentaria mais um ano naquele mosteiro, AI! - Me assusto com um mosquito gigante que grudou em meu cabelo. 

Vicent para os passos, joga o saco para o lado arrancando a espada da cintura com uma rapidez incrível e a levanta contra mim. 

- Onde? - Pergunta procurando por um possível inimigo. 

- Aqui! No meu cabelo! Tira! Tira! Tira! - Peço dando pequenos pulinhos de medo. 

Vicent guarda a espada novamente. 

- Pobre donzela. - Revira os olhos e então estica as mãos até o meu cabelo e tira o mosquito gigante. 

Ele fica olhando para o meu rosto, sério e com curiosidade. 

- Obrigada. - Sorrio sem graça. - Por favor, Vicent, leve-me até Luzem. 

- Quanto em ouro você vai me pagar? - Pergunta com olhos zombeteiros. 

- Sou bastante rica, posso lhe dar bastante ouro... Vai depender de como o senhor vai me tratar. - Empino o nariz. - O senhor está sendo muito rude comigo, desde que nos conhecemos. 

- Se estiver mentindo pra mim, eu... 

- Não estou. - Interrompo. 

- Se é assim, então eu te levo até Luzem, com algumas regras. 

- Regras? Eu acho que sou eu quem deveria... 

- A primeira regra é não fale, a segunda regra é não fale e a terceira regra é não fale. - Diz pegando o saco de volta e retomando o caminho. 

Fico em silêncio. Sou tão irritante assim? 

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