Esposa

Oliver sorriu descontraído ao ver a reportagem na revista e pela primeira vez sentiu pena de seu amigo,  Henrique que estava com o olhar distante e o semblante preocupado.

–O que vai fazer? – Oliver perguntou ao colocar a revista em cima da mesa de  Henrique –  Essa hora todos devem estar comentando.

–Eu sei –  Henrique murmurou sem vontade ao pensar na hipótese de Regina descobrir – mas antes de fazer algo preciso saber quem começou com os rumores. Oliver, você poderia me ajudar nisso?

–Como?

–Investigue onde, com quem e como começou esse boato de meu casamento. Preciso saber com quem estou lidando antes de pedir uma retratação a revista.

–Entendi. Considere feito, mas... A mulher da festa, o que vai acontecer com ela?

–Nada – falou calmo – irei me desculpar pelo transtorno e só.

Oliver assentiu sorrindo e logo saiu da sala de  Henrique, deixando sozinho com seus pensamentos.

***

Isabella chegou cedo ao seu trabalho com um sorriso genuíno no rosto. Apenas em imaginar o rosto de Nicole ao ver a reportagem sobre o, suposto, casamento dela com o milionário Avellar um sorriso vinha em seu semblante. Ela estava tão absorvida pelos seus pensamentos que não deu-se conta da aproximação de um colega de trabalho.

–Já está tudo pronto, Bella? – um homem alto com feições gentis perguntou sem paciência pela terceira vez para Isabella.

–Está, me desculpe – ela disse envergonhada ao entregar uma pasta com vários documentos. Isabella estava auxiliando na diretoria, enquanto a turma em que lecionava estava em uma aula em campo. Ela havia se formado em letras com honra e não demorou para encontrar um emprego em uma escola particular renomada.

–A propósito – o homem falou ainda parado em sua frente – é verdade que está casada? Vi algo sobre isso na internet. Imaginei estar solteira.

–É...Bem.... Apenas aconteceu – disse incerta. Olhou para o celular em sua mão e sorriu – sinto, mas tenho que atender a ligação – falou mentindo ao sair da sala rapidamente. – “Não sei ate quando poderei fugir dessas perguntas. Não tinha imaginado que essa historia iria crescer tanto” pensou ao se lamentar – pelo menos Nicole não continuará me achando uma derrotada.

Isabella caminhou pelos corredores vazios a espera de alguma ideia, mas percebeu frustrada, que a sua única saída seria contar a verdade.

–Vou aproveitar um pouco disse e depois... Bem.. Depois contarei a verdade – se decidiu por fim ao ir ate a sala dos professores. Suspirou aliviada ao encontrá-la vazia. Ela pegou uma xícara de café, sentou no sofá e lembrou-se de  Henrique. A cena em que caia sobre ele e o beijo trocado não saiam de sua mente. – O que ele deve estar fazendo agora? Será que já viu a reportagem? – se perguntou ao levar a xícara aos lábios pensativa.

***

–Imagino que já sabe quem é para estar parado aqui em minha frente com esse sorriso convencido na fase –  Henrique disse ao ver Oliver sentado em sua frente sorrindo fervorosamente ao abrir um dos botões de seu paletó.

–Na verdade descobri. Foi mais fácil do que esperava.

–E quem é a pessoa? Eu a conheço?

–Na verdade... Creio que muito bem – disse lembrando-se da festa beneficente – tenho certeza que já imagina quem é.

–Então diga logo – falou exasperado – sabe que odeio suspense.

–Por isso que gosto tanto de fazer.

–Que seja – falou conformado – quando irá me levar ate ela?

–Bem... – olhou em seu Rolex dourado sorrindo – creio que às uma da tarde.

–Porque uma?

–Ela também trabalha Rick. As mentiras não estão mais dando retorno, sabe como é, né? A era da globalização acabou com o sustento deles.

–Engraçadinho.

–Me espere na garagem as doze e quarenta – piscou levantando-se – tenho certeza que irá adorar saber quem é sua esposa – ao dizer isso saiu da sala ainda sorrindo. Ele não havia acreditado que a mulher que estava nas manchetes com  Henrique seria a mesma que estaria espalhando os boatos – Isso que é sorte – murmurou ao pensar na coincidência.

Antes do horário previsto,  Henrique já estava em pé ao lado do carro de Oliver a sua espera. Ele olhou pela quinta vez para o seu relógio, enquanto olhava em volta a espera de seu amigo. Ele estava disposto a resolver tudo o mais rápido possível antes que a fofoca abalasse a sua credibilidade nos negócios e com Regina.

–Veio muito cedo – Oliver falou atrás de  Henrique, assustando-o – pelo que me lembre disse as doze e quarenta e não doze e meia – reclamou sorridente – deve estar muito ansioso para conhecer sua esposa, não é mesmo? Não se preocupe. Ela é linda.

–Quando cansar dessas piadas sem graça, você me avisa.

–Será difícil meu amigo, muito difícil – disse ao pegar a chave do carro e destrancá-lo – não precisa ter pressa. Estamos com tempo, provavelmente iremos vê-la saindo do trabalho. Será uma cena digna de um filme.

–Só espero que não seja um filme de terror –  Henrique resmungou ao entrar no carro. O caminho foi feito em silencio, pois Oliver temia revelar a identidade da mulher. O que ele mais queria era ver o semblante surpreso de seu amigo. Em poucos minutos ele estacionou em frente a um colégio de ensino fundamental, saiu do carro e ficou a espera que  Henrique fizesse o mesmo – Porque estamos aqui? – perguntou ao olhar em volta – pensei que iríamos ver a mulher que está espalhando essas mentiras sobre mim.

–E é o que vamos fazer, meu amigo. Tenha paciência – Oliver disse misterioso ao olhar para a entrada do colégio.

 Henrique suspirou frustrado ao olhar na mesma direção. Observou a fachada antiga do colégio, os grandes portões, mas uma mulher descendo as escadas em direção a saída chamou a sua atenção. Olhou com atenção e percebeu ser a mesma que havia lhe beijado.

–O que ela faz aqui? – indagou-se pensativo, mas ao olhar para Oliver e novamente para ela não precisou escutar nada. Ele soube ao ver o sorriso genuíno em seu amigo que a mulher que estava espalhando os boatos encontrava-se em sua frente. – Aquela mulher... – andou até ela em passos rápidos e não demorou para alcançá-la. – Muito bem.. Vejo que nos encontramos novamente, Esposa –  Henrique disse frio ao olhar para a pequena mulher, que nada lembrava a mulher sensual da outra noite, a sua frente. Ele a fitou de cima a baixo percebendo seus cabelos castanhos, seu olhar claro e sua baixa estatura.

Assim que saiu do colégio, Isabella estava envolta em pensamentos sobre como contar a verdade a Nicole que ao escutar a voz de Henrique Avellar imaginou estar tendo alguma alucinação, mas ao olhar para os inconfundíveis olhos verdes sentiu a sua garganta secar e no mesmo instante percebeu que ele havia descoberto a verdade.

–Do que está falando? – indagou pasma.

–Não é este tipo de relacionamento que anda espalhando que temos por ai?

–Não sei do que está falando. Eu... Não estou espalhando nada – defendeu-se hipnotizada pelo seu olhar.

– Engraçado porque não é isso o que estão dizendo por ai – a olhou de cima a baixo – porque está dizendo que estamos casados? Ate onde eu me lembre... Meu gosto por mulheres continua elevado e devo dizer que você esta bem abaixo das expectativas.

–Olha aqui....Sr Avellar. Não sei por que veio atrás de mim e sinceramente não quero saber, mas não acho muito delicado de sua parte vir me fazer acusações, das quais duvido muito que tenha provas. Tem alguma prova que sou a culpada? – indagou firme.

 Henrique deu um passo para trás como se houvesse sido apanhado de surpresa, olhou para Oliver como se pedisse apoio e ao vê-lo balançar a cabeça negativamente sorrindo, percebeu que o seu amigo estava mais para um inimigo.

–Não, ainda não tenho provas – falou sério.

–ótimo. Voltaremos a nos falar quando tiver alguma prova, até lá.. Peço para que não saia dizendo por ai que estou dizendo ser sua esposa – virou de costas e ao andar levou a mão em seu coração, o qual batia descompassado – Droga, pensei que ele não me deixaria ir – murmurou aliviada.

–É, parece que ela é bem mais durona do que eu pensei – Oliver disse sorrindo levemente ao colocar a mão sobre o ombro de  Henrique, o qual permanecia impassível - vamos voltar para o hotel?

–Aquela baixinha irá se ver comigo, Oliver procure um advogado. Pretendo processá-la.

–Tem certeza disso?

–Absoluta.

Oliver deu de ombros e seguiu ate o carro sendo seguido pelo seu amigo e chefe. “Algo me diz que ainda a veremos muito por ai”Oliver pensou ao dirigir de volta ao hotel.

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