Capítulo 2 - Reconhecimento de Território.

Briana é extrovertida e descontraída, enquanto David parece bem tímido e introvertido, fico pensando em como eles se conheceram e acabo chegando a conclusão de que Briana deve ter colocado o pobre David em alguns problemas no início do relacionamento, eu sorrio o pensamento enquanto observo os dois sorrindo um para o outro.

Eu sigo os dois ainda com um sorriso, contagiada pela vibração amigável e familiar que eles transmitem, embora o resto da casa me pareça um pouco fria demais, mesmo sendo elegante ao extremo. Briana aponta para o balcão e, tanto eu quanto o David, nos sentamos. Ela nos serve xícaras de chá fumegantes e coloca um prato branco com biscoitos com gotas enormes de chocolate na nossa frente, minha barriga ronca.

— Podem se servir, vou pegar o bolo também, e tem frutas. — Ela tem essa energia todos os dias, ou é só porquê sou novidade aqui?

— Se for por mim, eu já estou muito satisfeita com os cookies. — Ela sorri e concorda com a cabeça, mas pega as outras coisas mesmo assim.

— Então, nos fale sobre você. — Tomo um pequeno gole de chá para ganhar algum tempo para pensar na resposta, mas acabo tendo que fazer um esforço muito maior para não fazer uma careta.

— Bom, eu tenho vinte e cinco anos, terminei a faculdade de artes tem um ano, eu trabalhei em alguns empregos de meio período durante todo o tempo de faculdade, mas quando me formei acabei conseguindo um emprego em uma loja de antiguidades linda, sai de lá para vir para cá. — Eu adorava aquele lugar, se eu tivesse continuado morando em Chicago, com certeza não teria saído de lá. — Passei os últimos dois anos praticando artes marciais no meu tempo livre, principalmente defesa pessoal, mas isso foi quando eu passei a morar totalmente sozinha, antes eu tinha uma colega de quarto, sabe?

Isso sim é mentira, comecei as artes marciais para me sentir segura depois do que aconteceu com meu ex, o que funcionou um pouco.

— Isso é muito importante para uma mulher, principalmente para uma jovem como você. — Briana diz e David concorda obediente, eu quase rio, mas me contenho.

— Concordo totalmente, me faz sentir mais segura. — Digo firme. — Mas se estão preocupados com minhas qualificações para o emprego, garanto que vou dar o meu máximo para ajudar Elijah a melhorar.

— Não estamos duvidando da sua capacidade, Hayden. — David fala e eu olho para ele. — Nós confiamos que Dimitri escolheu você porque você é a mais qualificada para o cargo, ele não colocaria alguém despreparada para cuidar de um de seus filhos. — Concordo com a cabeça, me sentindo um pouco boba no momento.

— Exatamente. — Briana diz e coloca uma mão sobre a de David. — Nós só queremos ter certeza de que, além de profissional, você é uma pessoa legal também.

— Eu entendo, me desculpa. — Ela levanta uma mão para me parar.

— Não precisa pedir desculpas, querida. — Seu sorriso chega aos seus olhos de um jeito carinhoso, isso aquece meu coração, principalmente quando ela segura minha mão com força.

— Eu disse antes, gostei de você.

— Que bom, porque eu também gostei de vocês.

Ela ri e eu dou uma mordida generosa e me delicio com o chocolate macio e quente, ela deve ter tirado esses cookies do forno a pouco tempo.

— Meu Deus! — Dou um leve tapinha no balcão e saboreio mais um pouco. — Que minha mãe não me ouça, mas esses são os melhores cookies que eu já comi na minha vida. — Tanto ela quanto David riem, é curioso que eles pareçam tão interessados em me conhecer além das minhas habilidades para o trabalho.

— Eu fico lisonjeada com seu elogio. Sua mãe cozinha também? — Concordo com a cabeça enquanto mastigo e, quando engulo, respondo.

— Sim, ela tem uma confeitaria lá, o forte dela são os bolos que, além de muito bonitos, são incrivelmente deliciosos. — Briana parece satisfeita com a conversa até então.

— Você não se importa que eu te encha de perguntas? O Sr. Allen não nos contou muito além do seu histórico profissional quando nos falou que você viria. — Eu franzo o cenho e concordo com a cabeça.

— Claro, tudo bem, podem perguntar o que quiserem, fico feliz em responder. — Ela puxa um banco e se é ao meu lado.

De repente me sinto meio encurralada sentada assim no meio dos dois, quase me pergunto se é seguro tomar esse chá.

— Você é de Chicago, certo?

— Sim, senhora. — David ri baixinho e recebe um olhar de repreensão de Briana.

— Não precisa ser tão formal, me chame de Briana, está tudo bem. Mas me diga o que trouxe uma garota jovem para Harlley? — Eu engulo em seco com seu tom surpreendentemente áspero.

— Bri… — O tom de David é baixo e repreensivo.

— Só estou tentando conhecê-la melhor.

— Conhecerá com o tempo, ela só está aqui tem quinze minutos. — O clima pesa entre eles, e estaria tudo bem se eu não estivesse entre eles nesse exato momento.

— Está tudo bem, David, eu disse que responderia qualquer pergunta que vocês tivessem. — Ambos olham para mim com atenção. — Chicago é uma cidade grande, movimentada, sirenes para todos os lados e chega a ser meio claustrofóbico as vezes. Eu sou uma pessoa tranquila, precisava de uma mudança de ares depois de passar minha vida inteira lá.

— Entendo, mas é um pouco estranho uma garota da sua idade trocar a Cidade dos Ventos por Harlley assim, ainda mais para trabalhar como cuidadora de um veterano de guerra. — David limpa a garganta e se ajeita em seu banco, mas ainda está claramente desconfortável.

— Tudo bem, já chega. Briana, por que não leva a Hayden para um tour e depois a leva para o seu quarto? Aposto que ela quer descansar um pouco depois de passar tantas horas naquele avião, certo, Hayden? — Okay, está acontecendo alguma coisa aqui, por que eles parecem tão tensos?

— Certo. — Briana diz e se levanta, eu pego mais um cookie e a sigo, feliz por deixar minha xícara chá quase intocada para trás.

— Na verdade… — Ela para de andar e olha para mim. — Eu gostaria de conhecer meu paciente, Elijah está aqui? — Ela olha para David por cima do meu ombro por um breve momento e depois olha para mim de novo. Não sei o que está acontecendo, mas não estou gostando.

— Claro, ele deve estar na biblioteca agora. Dav, pode levar a mala direto ao quarto dela?

— Posso sim. — Ela sorri educadamente. Eu a sigo até a entrada da casa e passamos pelas as escadas do hall com um pouco de pressa.

— Então, David falou que você cozinheira daqui e ele é o motorista. — Falo puxando assunto.

— Exatamente, sou a cozinheira e governanta. Já David trabalha na área da administração da casa e como motorista também. Somos só nós dois que ficamos aqui todos os dias, quer dizer, somos três agora que você está aqui, o resto dos funcionários tem seus dias de trabalho específicos, então é tudo bem quieto por aqui.

— Entendi. E quanto a Elijah? Qual é a rotina dele? — Ela para de andar novamente e olha para mim com uma mistura equilibrada de empatia e preocupação.

— Ele acorda cedo e faz sua rotina de caminhada às cinco da manhã, quando volta toma seu café na biblioteca, passa horas lá, então almoça e fica lá até que de a hora dos seus exercícios na academia, depois janta e vai dormir. — Confusa, eu dou um passo em sua direção.

— Mas isso não parece grande coisa. Passar o dia todo enfurnado em uma biblioteca não é exatamente saudável, mas ele mantém uma rotina de exercícios e faz as três refeições diárias, então qual o problema aqui? — Ela suspira e coloca uma mão no meu ombro.

— Para começar, a única refeição realmente feita por assim dizer é o café da manhã, as outras ele só come menos de um terço e abandona o prato. Ele anda bebendo muito, mais do que eu gostaria de admitir. E quanto aos exercícios, ele tem um ferimento de guerra na perna direita, então ele se recusa a fazer exercícios da cintura para baixo. — Eu aceno com a cabeça em compreensão. — Ele é um bom garoto, sabe?

— Foi o que David disse. — Ela sorri. — Só não entendo o motivo de vocês estarem reafirmando isso para mim. — Ela se inclina um pouco na minha direção e, como se fosse contar um segredo, ela abaixa o volume da sua voz.

— Você precisará ser forte e ter estômago para lidar com ele. — Arqueio uma sobrancelha, não acreditando muito. Fala sério, pode realmente ser tão ruim assim? — Você verá em breve o que eu quero dizer.

Briana passa um braço sob o meu e me arrasta pelos corredores em um ritmo acelerado. Tenho pouco tempo, mas me admiro com os belos quadros e decorações antigas, me fazem sentir que viajei no tempo pela história da arte, embora existam alguns quadros que eu não reconheço de cara os artistas por trás.

— Na área leste são só quartos os quartos de hóspedes, então podemos pular essa parte. — Ela aponta para o corredor citado e vai para o lado oposto. — Aqui temos a sala de jogos.

— Ela abre duas portas grandes e eu arrasto meus olhos pelo cômodo incrível. Tem uma tv enorme, sofás e puffs espalhados, a mesa de bilhar mais chique que eu já vi, mesa de ping pongue, consoles de vídeo game e até mesmo cabines de jogos antigos de fliperama. Isso aqui é demais para mim!

— Eu não acredito nos meus olhos.

É bem impressionante, não é? — Concordo com a cabeça, meus olhos brilhando de animação. — Os pais do Eli trazia ele e os irmãos aqui quando eram pequenos, eles não saiam desse cômodo por nada no mundo. — Seu sorriso é nostálgico, mas consigo ver uma pontinha de tristeza. — Você pode vir aqui sempre que quiser, está a sua disposição.

— Isso é incrível, mas não parece muito divertido estar aqui sozinha. Acha que posso convencer Eli a fazer alguma dessas atividades comigo? — Ela nega comprimindo os lábios.

— Tudo é possível, mas não posso dizer que é muito provável. Elijah tende a ler o máximo que pode com o tempo que tem.

— Entendi. Pretendo mudar essa rotina monótona dele, verei o que posso fazer depois.

— Como você já viu a cozinha e essa sala, acredito que a única coisa que vai te impressionar de verdade é o que tem atrás dessa porta. — Ela vai até o fundo do cômodo em que estamos e a abre, da um passo para o lado para que eu entre primeiro e eu arregalo meus olhos ao perceber que é uma sala de cinema.

— Eu simplesmente não posso acreditar que passarei os próximos seis meses da minha vida nessa mansão! — Briana ri.

— É bom ter mais alguém aqui. Esse lugar também está a sua disposição sempre.

— Graças a Deus, acho que eu choraria se eu não pudesse vir aqui. — Passo a ponta dos dedos pelo braço de uma das poltronas de couro marrom chique. — Mas quando você fala que está disponível, não consigo não pensar se existem cômodos que eu não terei acesso.

— Na verdade existem alguns que você não deveria ir. O estúdio de música, por exemplo, e o jardim privado lá trás, são os lugares preferidos do Elijah e ele prefere ficar sozinho neles. — David falou desse tal jardim, mas saber que não posso só me dá mais vontade de ir ver o que tem lá. — Vamos, tenho que te mostrar a área da piscina e depois vamos lá fora.

A parte de da piscina é tão incrível quanto o resto da casa, quebra um pouco o clima antiquado, mas ainda assim não é nada simples ou básico… não posso acreditar que eles tem uma FICKING PISCINA SEMI OLÍMPICA… em casa.

— O senhor Joseph costumava competir quando era adolescente, era um dos melhores nadadores na equipe dele tanto no ensino médio quanto na faculdade, mas agora que ele está trabalhando com o pai, mal tem tempo de praticar. — Sua expressão é nostálgica e levemente melancólica.

— E esse tal de Joseph é um dos irmão de Eli, certo? — Ela concorda com a cabeça.

— É o irmão mais velho dele, o mais novo se chama Tobias. Todos eles tinham os esportes preferidos durante o ensino médio, Joseph era a natação, Eli tinha a corrida e Tobias era um atleta. — Ela suspira. — Mas como todos já são homens feitos agora, têm outras prioridades, e esse se tornou um dos lugares menos usados da casa, mas se você gosta de natação, é uma ótima opção.

— Concordo, agora que o verão começou, parece realmente uma boa ideia.

— É a sua estação favorita?

— Não exatamente, eu gosto do clima frio. — Do lado de fora eu puxo bastante ar, enchendo meus pulmões lentamente e então expiro.

— Isso pode ser conveniente para você então, aqui costuma ter temperaturas baixas mesmo durante o verão.

A sigo ate a beira de uma piscina selvagem em um formato não muito convencional, tem espreguiçadeiras e um bar do outro lado do pátio.

— Aqui é a área de lazer, você pode ficar a vontade para usar quando estiver fora do seu horário de trabalho. A hidromassagem e a sauna são ótimas, recomendo. — Ela me lança uma piscadela e eu não discordo, longe disso!

— Parece bem relaxante. — Posso ver mais distante a tal quadra de tênis que David havia comentado, mas tem mais algumas contrações depois dela que me chamam atenção.

— Pronta para conhecer seu quarto?

— Mais que pronta. — Briana é rápida e objetiva, vou ter que fazer um tour mais detalhado depois. Vou verificar mais de perto a hidromassagem, com certeza.

Nós voltamos ao Hall em um silêncio desconfortável e subimos as escadas lentamente, eu já estou cansada, essa casa é enorme! Atravessamos um corredor e ela aponta para algumas portas.

— Esses três primeiros quartos pertencem aos irmãos e ao de Eli. — Me pergunto onde está a mãe dele. — A biblioteca é mais às frente, o quarto de Eli é no fim do corredor e esse é o seu quarto.

Ela aponta para a porta ao lado e eu fico confusa por estar a apenas alguns poucos metros de distância do quarto de Elijah.

 — Caso ele precise de alguma coisa, é bom que você esteja por perto. — Ela completa.

— Está tudo bem, acho que é conveniente. — Viramos mais um corredor e paramos em frente a uma porta alta de madeira escura, a maçaneta é velha, rústica, para falar a verdade. — Aqui é a biblioteca. Você pode entrar enquanto o Sr. Elijah não estiver, ele não gosta de ser incomodado. — Eu suspiro, talvez não seja tão fácil quanto eu pensei que seria. — Bem, quer repassar suas funções? — Concordo com a cabeça.

— Claro. Eu tenho que incentivar que Eli faça os exercícios, fazer com que ele coma e, principalmente, fazer companhia. — Ela sorri e segura meus ombros com carinho.

— Você vai m****r bem.

— Alguma dica, além de ser paciente, corajosa e persistente? — Ela ri.

— Seja você mesma, querida, acredito que é o suficiente. — A porta se abre atrás da gente e uma figura alta e com o rosto escondido por um capuz de moletom sai parcialmente.

— Tsk…

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