Capítulo 5

James sentia as correntes de prata queimando seus pulsos, e mesmo de costas podia sentir o olhar da multidão sobre ele. 

Havia uma espécie de construção onde ele foi conduzido para subir os degraus, no meio daquilo estava o tronco que ele estava acorrentado.  

James desejou que nem Alice e nem sua mãe estivessem no meio da multidão.  

Alguns minutos depois, o próprio Alfa Turner apareceu cercado de lobos e com sua espada na cintura, seu casaco de pele cinza-escuro.  

No momento que o olhar de pai e filho se encontraram, uma espécie de corrente de ódio e decepção passou entre os dois. James estava completamente imobilizado no tronco, sem camisa.  

O arauto do Alfa anunciou exatamente a violação dele para todos os presentes, quando terminou um lobo que segurava o chicote e seria o executor da sentença se moveu.  

James com sua visão periférica e excelente audição, conseguiu ouvir quando o executor da sentença jogou o braço do chicote para trás para executar as chibatadas. 

Ele esperou receber a primeira chicotada, porém ela não veio. 

Quando abriu os olhos percebeu que seu pai havia segurado o chicote no ar impedindo-o que o mesmo voltasse com força nas suas costas, o macho que segurava o objeto de tortura olhou confuso para o Alfa. 

 

— Não haverá sentença hoje, Alfa? — questionou o macho. 

 

Nate Turner olhou para o chicote que ele havia segurado e depois para seu filho, todas as pessoas estavam em um total silêncio esperando o desenrolar da situação, segundos depois ele decidiu. 

 

— Eu farei. — Anunciou puxando o chicote. 

 

[...] 

Alice arfou quando o Alfa Turner segurou o chicote, por um mísero segundo seu coração se encheu de esperança ao acreditar que Natanael Turner revogaria aquela sentença.  

Que pararia aquilo.  

Todas as suas esperanças morreram quando observou como ele segurou o chicote... O olhar gelado em seu rosto lhe disse o que estava prestes a acontecer antes mesmo das palavras saírem de sua boca.  

 

Seu coração se encheu de dor ao ouvir Natanael Turner proclamar para todos que ele faria aquilo... Pelos deuses não... 

 

Ela olhou para o outro lado, Vlad Villin e seu clã esperando ansiosos para o início daquilo, ela os amaldiçoou em pensamento e coração. 

 

Não deixe que as coisas aconteçam assim, dessa forma não. Alice rezava para nenhum deus em particular. 

 

Ela fechou os olhos, incapaz de presenciar a cena que se desenrolava, alguns segundos depois ouviram o estalo do chicote e com ele ela aguardou que viesse alguma reação de James.  

 

O chicote estalou mais uma vez e nada. Apenas silêncio de James. 

Alice sentiu que seus joelhos cederiam, que ela iria cair quando mãos a seguraram a amparando com gentileza. Ela olhou para cima com sua visão ainda turva devido às lágrimas, mas reconheceu os cabelos ruivos de Jenny que era um pouco mais alta que ela.  

 

Jenny a abraçou, Alice deixou que sua amiga a acolhesse em seus braços, caso contrário não aguentaria. Desmoronaria na frente de todos. 

 

As chicotadas continuaram e nenhuma reação da parte de James foi expressa, era como se ele não estivesse lá, no entanto, o sangue das suas costas pingava manchando o chão de madeira.  

Alice sentiu seu coração acelerando como nunca, a cada chibatada naquele macho era como se fosse em sua própria carne, como se o seu próprio sangue estivesse sendo derramado na frente de todos.  

Ela se desvencilhou de Jenny que tentou segurá-la e empurrou os machos que estavam a sua frente os tirando de seu caminho.  

A loba mal respirava, sem conseguir puxar ar suficiente para seus pulmões, suas mãos suavam e tremiam enquanto empurrava as pessoas a sua frente.  

O suor no seu rosto não correspondia com o clima, que era frio, seu coração batia forte e sua mente era como um redemoinho, um caos.  

Alice sabia estar prestes a fazer uma loucura, estava em colisão. 

 

Ela conseguiu chegar nas escadas da pequena construção do tronco, viu alguns machos tentando segurá-la, mas ela conseguiu se desvencilhar de todos eles, subiu correndo e foi como se o mundo se tornasse lento demais para ela.  

Lento o suficiente para que Alice se opusesse entre o Alfa e seu filho, de joelhos ela se colocou diante do Alfa que a adotou, ciente de que ele poderia castigá-la por sua intromissão, por tamanha audácia. Era uma Nask. Apenas uma Nask se lembrou. 

 

Mas mesmo tendo essa origem tão humilde não conseguiu permanecer parada diante de um ato tão bárbaro como aquele.  

Ciente de que ela era a causadora, ela curvou totalmente sua cabeça ao chão, sua testa encostando no assoalho de madeira grosseira, suas lágrimas tocando o chão.  

Ela esperou o chicote atingi-la, aguardou os gritos do Alfa. Nenhum dos dois aconteceu. 

 

Segundos depois que o impensado ocorreu, ela viu o chicote cair diante dela.  

Alice ousou erguer o olhar e viu o Alfa Natanael Turner paralisado, sua expressão de completo choque. Seu olhar para ela não era de ira, sua expressão era de confusão.  

Lentamente Natanael Turner dirigiu seu olhar para seu filho ensanguentado no tronco, depois voltou a olhar para ela e algo pareceu brilhar em seus olhos verdes profundos, alguma espécie de compreensão das coisas que a própria Alice não compreendeu naquele momento.  

Mas fosse o que fosse o Alfa recuou, assentiu para a jovem Nask que não tinha nome, nem valor e se retirou daquele lugar deixando todos surpresos. 

 

Alice ficou de joelhos com suas mãos trêmulas, ela respirou com força percebendo o que acabara de fazer, um grande burburinho se iniciou e uma das vozes mais alta era do clã de lobos Villin.  

Elas os ignorou no instante em que ouviu uma voz chamá-la. Uma voz um pouco confusa. 

 

— Pequena Nask, é você? 

 

Ela se virou para o macho preso ao tronco, reuniu forças para se levantar mesmo com todo o seu corpo tremendo, cada célula do seu corpo parecia estar se desfazendo sem acreditar haver conseguido parar aquilo.  

Ela deu alguns passos na direção do macho e viu pelas marcas nas suas costas que não parou a tempo, ele estava muito machucado.  

Mesmo que sua cura de lobo fosse muito mais rápida que a dos humanos, James ainda não era totalmente um lobisomem, ainda não chegara sua primeira Lua Cheia, e o chicote parecia ter prata nele. O que era doloroso e mortal para os lobos.  

Portanto a cura dos lobos mais velhos não era como a dele, ela segurou o choro completamente preso em sua garganta e olhou nos olhos verdes intensos daquele macho. Seu coração se partiu em vários pedaços. 

 

— Quem mais seria Oriedreh? — perguntou ela com a voz embargada com o choro. 

 

Ele sorriu levemente e murmurou: 

 

— Pensei que fosse uma deusa. 

 

Foram as suas últimas palavras antes de desmaiar. 

 

Alice assistiu enquanto os outros machos o colocavam em uma cama de madeira improvisada e acompanhou seu transporte para o castelo Turner.  

Jenny correu para o seu lado e as duas se mantiveram juntas durante todo o percurso, Alice chorou em silêncio enquanto Jenny a abraçava e tentava consolá-la.  

Porém, nada do que Jenny dissesse mudaria o fato de aquilo era sua culpa.   

Quando chegaram ao pátio do castelo, parou diante de todos nos degraus: 

— Ele não receberá nenhum tratamento para dor, deixe que se cure sozinho! É a minha ordem! — anunciou ele e desapareceu no interior do castelo. 

Alice observou James ser levado na carroça para o interior do castelo. 

Na mesma hora ela se virou para Jenny. 

— Preciso de ajuda! 

— Eu conheço esse olhar... E a resposta é não, você ouviu o alfa! 

 

[...] 

O corredor estava silencioso e parcialmente iluminado por algumas tochas. 

— Desobedecer a ordem do alfa é muito arriscado Alice... — sussurrou Jenny enquanto as duas lobas estavam escondidas na curva do corredor. 

Alice se voltou para ela e fez: 

— Shh... 

Ela olhou novamente para o corredor, e constatou que estava vazio. 

No mesmo instante segurando o cesto com alguns curativos e ervas para a dor, ela puxou Jenny. 

As duas correram em direção a porta de James. 

Quando Alice chegou na porta, antes de girar a maçaneta para entrar, Jenny segurou sua mão: 

— Deixe que eu leve os remédios, e poderemos sair logo daqui. — Sugeriu. 

Alice olhou nos olhos da amiga, e naquele momento ela se lembrou que Jenny sempre tivera uma certa afeição por Jamie. Ela puxou sua mão da dela, e respondeu: 

— Eu serei rápida. Vigie a porta. 

Ela disse isso, e girou a maçaneta entrando no quarto que estava mergulhado na meia luz. 

Havia uma luz trêmula de algumas velas na parede de pedra. 

O quarto estava mergulhado no silêncio, e Alice teve que se acostumar com a luz fraca.  

— Alice? 

A voz de James soou no quarto, e Alice rapidamente olhou em direção a voz do macho. 

Ele estava se sentando em uma cama grande de madeira, seus olhos verdes estavam profundos sobre a luz das velas. 

Alice não perdeu tempo, e caminhou até ele deixando os remédios e pomadas que havia trazido na mesinha ao lado da cama. Ela começou a revirar os potes, para saber o que pegar primeiro. 

— O que está fazendo aqui? — perguntou ele, e sua voz era urgente.

Sem olhar para ele, ela respondeu:

— Eu vim para cuidar dos seus ferimentos.

Pela sua visão periférica ela o viu se levantar da cama, e parar atrás dela.

Ela continuou organizando os curativos quando James segurou ambas as suas mãos.

Ele estava muito próximo, ela podia sentir o calor em suas costas, e em suas mãos que detinham seus pulsos.

Alice engoliu em seco todo seu sangue começou a correr mais rápido, seu coração batia como um louco, e suas mãos tremeram por alguns segundos.

James estava perto demais, e ela sabia que não devia estar tão próximos.

—  Está arriscando sua segurança por nada.—  murmurou ele contra sua orelha.

Ela engoliu o ar, e o soltou em seguida.

Por nada? Ela se perguntou.

—  Estou arriscando para ajudar você — rebateu, e esperava que ele a abraçasse e reconhecesse seu gesto. Não queria vê-lo sentir dor.

James continuou contendo suas mão, até que se aproximou ainda mais e ela sentiu seu corpo quente contra o seu. Naquele momento, Alice ficou paralisada.

—  Não posso vê-la sendo punida, não posso. Isso me causa uma angústia mais profunda e vasta que o céu. Eu ficarei sem saber o que fazer comigo mesmo…

Seu coração naquele momento se encheu de uma tola esperança, que de alguma forma, ele sentisse algo por ela. E isso doeu, porque parecia impossível que essa fosse a realidade.

Todas as suas esperanças foram ladeira abaixo quando ele se afastou bruscamente dela e Alice se virou para ele.

James estava caminhando pelo quarto, e de costas para ela.

—  Não precisa temer por mim, sei o que estou fazendo. —   disse ela a ele.

Então, de repente ele virou e ela viu em seus olhos toda a angústia e preocupação.

—  Eu tenho que proteger você, será que não entende? E não me ajuda se estiver aqui, se arriscando por mim! — disse ele, sua voz mais alta.

Ela tentou ir até ele, mas o lobo recuou alguns passos e Alice perguntou:

—  Por que me proteger assim? porque?

James engoliu em seco, e respondeu:

—  É o meu dever, como um lobo tão próximo de você desde nossa infância…

Ela sentiu algo se formar em sua garganta, um nó terrível e cerrou os punhos.

— Eu não sou sua irmã! —  esbravejou Alice.

 

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