A Luz do Luar.
A Luz do Luar.
Por: Mariana Ferrari.
1

          Quando me mudei para essa pequena cidade rodeada por montanhas e florestas, que tem um clima frio e úmido, eu apenas desejava conseguir ter uma vida normal de novo. E tem um enorme motivo para isso e vou contar, mas vamos começar desde o início, onde tudo começou. Bom, começou tudo com uma mulher e um homem que se conheceram numa festa da empresa, ambos viviam em uma grande metrópole e os dois acabaram tendo um caso, mas então essa mulher acabou engravidando, o safado deu no pé por que estava noivo e ela teve a criança sozinha. Ela foi morar com a irmã, mas tempos depois ela morreu de um câncer no fígado, então a criança foi criada pela tia, e essa criança sou eu. Essa foi à primeira parte, agora vamos para a segunda.

            Eu sempre fui uma pessoa muito bonita, minha pele é num tom claro, meus cabelos escuros são compridos até os ombros, meus olhos são castanhos esverdeados, minha boca não é carnuda, mas também não é fina. Sendo considerada bonita eu era uma garota muito popular, sempre rodeada por vários “amigos”, sempre tendo uma atenção mais do que desejada e também uma garota que desde quando perdeu a virgindade aproveitou bem a vida sexual, todo fim de semana saia com garoto diferente, transava onde desse e sempre se sentia bem satisfeita pelos elogios. Até que um dia, na verdade, em uma noite tudo isso mudou de uma maneira muito dolorosa e traumática. Era festa na casa de um garoto da escola, eu me lembro que até certo ponto que eu estava bem, dançando e bebendo normalmente com as minhas amigas, até que chegou um cara, conversamos por alguns minutos e minhas amigas nos deixaram sozinhos, nisso outro amigo dele chegou e de uma hora para outra eu comecei a perder todos os meus sentidos, a última coisa que me lembro era de estar subindo as escadas daquela casa com aqueles dois moleques me carregando.

            O resultado? Fui violentada, tudo foi filmado e enviado a toda cidade, é claro que aqueles dois foram presos, não apenas por um crime sexual, mas também por porte e envio de pornografia infantil. Eu só tinha dezesseis anos. Estava derrotada, entrei numa depressão profunda, tão profunda que não saia da minha cama, tentei suicídio, depois fiz todo um tratamento psicológico e quase dois anos depois nada ainda parece ter muito efeito, então minha tia, Eve, teve a ideia de nos mudarmos para o outro lado do país, para uma cidadezinha no meio do nada e que eu pudesse ter uma vida normal de novo, se quer saber, apenas aceitei por que de certa forma eu quero viver. Estamos vivendo aqui em Oak Village faz três meses inteiros e desde quando cheguei até agora não fiz um amigo sequer na escola, é meu último do Ensino Médio e eu realmente estou aliviada de terminar longe de toda aquela desgraça que vem rondando a minha vida.

            Não apenas meu estado emocional e psicológico mudaram depois daquela violência, por decorrência da depressão eu perdi muito peso, chegando há alguns meses atrás estar apenas pele e osso, o que realmente fez muita diferença, já que eu era uma pessoa extremamente vaidosa e cuidava do meu corpo para que ele sempre fosse em forma, na medida do possível. Além do meu peso, meu estilo de roupas mudou para roupas mais largas e escuras, meu cabelo vive sem brilho, opaco e despenteado, minha pele ficou mais branca pela falta da luz solar, a única coisa que consegui recuperar foi a minha higiene.

            Sim, eu pareço uma morta viva.

            — Ayla Crawford — disse meu professor de matemática, ele estava entregando as notas das últimas provas e como sempre, eu fui péssima. — Precisamos conversar... — ele disse me olhando por aqueles óculos fundo de garrafa e eu apenas assenti, depois voltei para minha carteira e sentei olhando para o meu D-. Peguei uma caneta e comecei a fazer desenhos escrotos no papel, desenhos que com toda certeza só uma pessoa perturbada como eu iria fazer, enquanto isso o professor continuou a chamar os alunos.

            — Orion Blackwood — disse o professor. Apenas levantei os olhos para ver, aquele era o estranho Orion Blackwood, lindo, corpo forte, alto para um ca***, os cabelos escuros de tamanho médio que terminavam no fim da nuca e perfeitamente sedosos, a pele castanha clara, os olhos eram escuros, eu diria até que seriam pretos vendo assim de longe. O rosto era simplesmente perfeito, maçãs do rosto marcadas, maxilar forte, nariz reto, boca um pouoc carnuda e bem desenhada. Ele era lindo, lindo de morrer. 

            — Meus parabéns — disse o professor sorrindo enquanto entregava a prova de Orion a ele que apenas sorriu de canto deixando a covinha do sorriso exposta e eu pude ver pelo papel, A+, o filho da p*** de um nerd ele é. 

            O sinal então tocou e rapidamente peguei minha mochila surrada e ia sair correndo antes que o professor me parasse.

            — Ayla — chamou ele quando eu já estava na porta e quando me virei Orion estava passando bem ao meu lado, ele me olhou de canto de olho e passou deixando seu perfume amadeirado absurdamente bom para trás. — Ayla, sobre suas notas...

            — Eu sei — disse indo até o professor. — Matemática não é meu forte, mas eu vou me esforçar.

            — Disse isso da outra vez Ayla, se continuar assim eu terei que reprovar você e soube que não é apenas na minha matéria que anda tendo dificuldades... — dificuldades? O nome disso é falta de interesse mesmo.

            — Prometo que dessa vez eu vou melhorar — eu disse apenas abaixando a cabeça e o professor fez um gesto com a mão que eu poderia ir embora. Sai da sala e quase me arrastando pelos corredores eu ia em direção a saída da escola.

            Assim que pisei meus pés para fora, começou a chover.

            — P***... — eu disse sem expressar emoção e então alguém parou do meu lado. Apenas pelo cheiro do perfume eu soube quem era. 

            — Clima maluco — disse o cara e o olhei, na verdade olhei para cima, era ele, o único dessa escola que havia notado minha presença inútil e desprezível.   

            — Na verdade ele é bem comum por aqui — eu disse colocando o capuz da minha blusa de moletom preta surrada.

            — Pode se resfriar indo embora nessa chuva toda — disse Orion com as mãos no bolso da jaqueta verde militar. — Se quiser eu posso te dar carona...

            — Não, valeu, eu estou 100% ok em ir na chuva — eu disse sem olha-lo. — Mas obrigada.

             — Disponha — disse Orion e então cruzei meus braços sobre o peito e desci as escadas, já que estamos no estado de Washington e mais ao norte, essa chuva é gelada feito facas do inferno.

              Já longe da escola e razoavélmente perto de minha casa enquanto eu caminhava pelas ruas desertas e molhadas próximas das árvores eu escutei um rosnado, um rosnado de um bicho realmente grande e que me fez paralisar e apenas mexer a bola dos olhos de um lado para o outro. Minhas pernas começaram a tremer, minha boca ficou seca e minhas mãos mais geladas do que estavam, lentamente fui virando o rosto para as árvores e vi dois enormes olhos amarelos me olhando entre as sombras, arregalei os olhos, agora eu sabia o que os coelhos e cervos sentiam ao serem caçados.

            Mas aquele bicho não se moveu um centímetro sequer.

            — Ayla! — escutei e gritei por conta do susto dando sobressalto, quando olhei para o lado era minha tia em nosso carro popular vermelho e antigo. — Menina quer pegar uma pneumonia?! Entra já nesse carro! — sem pestanejar eu entrei no carro e olhei para as árvores novamente, não tinha mais nada ali. Minha tia começou a gritar e a falar que eu era uma irresponsável, que eu iria ficar doente e mais mil e uma coisas, coisas que eu não escutei, pois, meu corpo ainda tremia, minha boca ainda estava seca e aqueles enormes olhos amarelos continuavam me olhando sem parar, como se olhassem dentro da minha alma.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo