Oito

Estar chapado, era coisa de outro mundo. Você podia rir para uma batata frita, que ninguém iria ligar.

Nós já estávamos sentados no chão, quando alguém passa gritando do nosso lado.

— TEM UMA LOUCA DANÇANDO SOBRE O BALCÃO! ELA VAI TIRAR TUDO!

— Essa eu preciso ver. — Colin fala, antes de sair correndo.

Quando todos os garotos levantam, eu decido que só vou para não ser o único por fora daquele assunto.

Assim que chego à cozinha, vejo praticamente a festa inteira ao coro de "tira", Lacey sobre o balcão dançando completamente bêbada e Thomas puxando a barra do vestido dela. Como se aquilo fosse fazê-la descer.

— Que merda está acontecendo? — pergunto, me aproximando de Thomas. — Lacey, desce daí. Vem.

— Sai, Brandon.

— Ela está bêbada.

— Jura? — ironizo, sem tirar os olhos de Lacey. — Vem. Desce. Você vai se machucar.

— NÃO!

Eu já estava começando a ficar irritado com ela.

— Ela propôs que ficássemos bêbados juntos e...

— E por que você parece estar bem? — encaro Thomas. — Por acaso estava planejando se aproveitar dela?

— Brandon, eu...

Antes que Thomas pudesse falar qualquer coisa, desfiro um soco em seu rosto com tanta força, que o faz cair no chão.

Não demora para que a música pare e todo mundo esteja encarando o que está acontecendo.

— Você nunca mais, chega perto dela. — digo, apontando o dedo em seu rosto, que sangrava. — Me entendeu?

Sem esperar a resposta, seguro na mão de Lacey - que estava imóvel, encarando Thomas no chão - e ajudo ela a descer.

— Não quero ir. — ela diz, ainda encarando o loiro.

— Não perguntei.

Ao sentir que Lacey iria protestar e fazer um escândalo de bêbada para ficar, puxo-a pela cintura e a jogo sobre meus ombros.

— Brandon, me solta! — Lacey começa a socar minhas costas, o que me deixa ainda mais irritado.

Ao fumar maconha, tem que se estar preparado para todo tipo de sentimento. Se estiver feliz, vai ficar em dobro, se estiver triste, a mesma coisa.

Eu estava com raiva, é aquela atitude dela só estava piorando meu estado.

Tento esquecer que tinha uma garota gritando e socando minhas costas, enquanto a levo até o carro.

Depois de muito custo, abro a porta e coloco-a sentada. Lacey estava tão cansada de gritar, que quando passei o cinto pelo seu corpo, ela estava praticamente dormindo. Assim que tomo a direção do carro, ela começa a resmungar:

— Eu queria ficar...

— Você está...

— Ficar bêbado é engraçado... — ela diz, e ri. Seus olhos ainda estavam fechados. — Eu sempre quis...

— Ficar bêbada?

— Encontrar meus pais. — olho-a de lado. — Saber o motivo deles terem me deixado naquele orfanato.

— Você não tem nenhuma notícia?

— Não... nada além de uma pulseira de ouro e um bilhete. Tudo o que eu queria era uma resposta. Apenas isso.

Não consigo respondê-la.

— Por que eles não me quiseram? Será que não tinham condições? Será que fui indesejada? — ela começa a chorar. — Por que, Brandon?

Tudo o que eu queria, era conseguir ter palavras para confortá-la naquela hora. Mas embora ela estivesse abrindo seu coração, minha mente era de um completo vazio. Era até possível ver uma bola de feno passando por ela.

Lacey cochilou logo depois daquela breve conversa.

Quando chegamos em casa, ajudei-a a sair do carro e a entrar na casa.

— Brandon... — ela murmura, com a mão na boca. — Eu vou...

Antes que pudesse falar qualquer coisa, Lacey corre escada acima. Na maior lentidão possível, vou atrás dela. Bato de leve na porta do quarto e vou diretamente para o banheiro.

Lacey estava com a cabeça enfiada dentro do vaso sanitário, vomitando tudo o que podia e não podia.

— Deixa eu te ajudar. — digo, já me abaixando ao lado dela.

— Não! Sai da...

Mais uma enxurrada de vomito. Seguro seu cabelo escuro com uma mão e com a outra, massageio suas costas. Eu tentava não olhar, senão acho que seria capaz de fazer a mesma coisa.

— Vomita. Você vai se sentir melhor.

Deve ter se passado uma hora, quando Lacey praticamente cansou de vomitar. Estávamos em uma posição tão confortável no chão, que eu apenas me estiquei para molhar a mão na pia e logo depois passei em sua boca.

Lacey encosta sua cabeça entre meu peito e pescoço e murmura algumas coisas, antes de apagar. Estava tão cansado de toda aquela adrenalina da briga, que dormi em seguida.

[...]

[Lacey]

Eu já tinha ouvido falar da ressaca. Boca seca, dor de cabeça e uma enorme vontade de nunca mais beber de novo. Mas a parte em que se acordava abraçada a um garoto bonito e no chão do banheiro, era novidade para mim. 

Assim que tento me desvencilhar dos braços tatuados de Brandon, o mesmo acorda.

— Hmmm... bom dia. — murmura, com a cara amassada. — Como se sente?

Sento na sua frente, com as pernas cruzadas e seguro minha cabeça.

— Acabada. Por que estávamos deitados aqui?

Ele ri e coça os olhos. 

— Você vomitou demais e eu te ajudei. Como logo depois você adormeceu nos meus braços, e fiquei sem coragem de tirar você daqui...

— Então decidiu dormir no chão?

— Sim. — ele coça a cabeça. 

Ouvimos leves batidas na porta do quarto e só tivemos tempo de olhar para trás, quando Aby apareceu na soleira da porta do banheiro. 

— O que aconteceu?

Levantei com tanta rapidez, que acabei ficando tonta e quase caindo. Minha sorte foi que Brandon estava logo atrás de mim e me segurou. 

— Teve uma festa ontem e...

— Brandon! — Aby o repreende, sem deixar que termine de falar. — Você deixou embebedarem ela?

Brandon ri.

— Não, senhora. — digo. — Eu quis. Brandon me tirou de lá, quando viu que eu estava sem controle. — olho para ele. — Aliás, obrigada. 

— Você lembra de tudo?

Balanço a cabeça negativamente.

— É um misto de coisas. Minha cabeça parece que vai explodir.

— Vou falar com Úrsula para te trazer um remédio. — Aby diz. — Descanse por hoje. 

— Descansar? Mas... não... não precisa.

— Quero que fique no quarto hoje. De preferência, na cama. 

— Mas eu estou bem. — firmo, mesmo tendo total certeza que não estava.

— Querida, eu estive lá, no primeiro porre de Brandon. Ele quase entrou em coma alcoólico. Hoje é sua folga. 

Olho para Brandon, buscando uma ajuda, mas ele apenas dá de ombros. Pelo visto não tinha como debater com Aby.

— Quando ela fala assim, você só precisa aceitar.

Aby sorri e depois sai do quarto. 

— Eu vou tomar um banho. — Brandon diz, esticando a coluna. — Você devia fazer o mesmo, antes de deitar. 

— Tenho outra escolha?

— Ficar fedida. 

É a última coisa que ele diz, antes de deixar o quarto rindo. 

Tranco a porta do banheiro e me dispo, logo indo para o chuveiro. Deixo a água quente escorrer pelo meu corpo, afim de aliviar aquela dor que tanto me consumia. 

Eu me esforçava para lembrar da noite passada, mas desde o momento em que estava sentada na beira da piscina com Thomas, até acordar nos braços de Brandon, era um enorme vazio. Na verdade, ainda vinha uns flashs, de shots com tequila, o sorriso de Thomas e muita risada.

Após o banho, visto o roupão e vou até o closet. Visto um short jeans com uma blusa qualquer e me enfio embaixo das cobertas, depois de pentear o cabelo. 

Não demora para que Úrsula entre no quarto, munida de uma bandeja com café da manhã e remédio.

— Dona Aby disse para tomar o remédio primeiro. — diz, me entregando o comprimido. — E disse também que não é para deixar você trabalhar hoje. 

— É, ela acha que eu estou ruim, mas até que estou melhor.

— Esse remédio, irá fazer o enjoo ir embora, mas deixará você com bastante sono. 

Assim que engulo o remédio, sorrio para Úrsula.

— Por mim, tudo bem. Se não posso trabalhar, durmo. 

Após Úrsula se despedir, me ocupo em comer o que ela havia levado. Quando termino, deixo a bandeja ao lado da cama e ligo a TV. Não demora para que eu caia no sono. 

[...]

Quando desperto, o céu já está parcialmente escuro. 

Saio da cama e pego a bandeja do chão, descendo em seguida. Era possível ouvir o barulho da TV na sala principal. Depois de limpar a sujeira do café, vou até a sala e observo a cabeleira de Brandon. O filme parecia triste, e ele estava tão concentrado. Quando o filme foi para o comercial, a tela ficou preta e Brandon me enxergou por ali. 

— Como está? — pergunta, sem se virar. — Sente aqui.

— Melhor. E você? Por que está em casa?

— Minha aula foi mais cedo hoje. 

— Hm... — murmuro, sentado ao seu lado. — Onde está todo mundo?

— Meu pai em uma reunião, minha mãe saiu com amigas e Úrsula deve estar descansando. 

— Entendi.

Olho para a televisão, e fico encarando-a, sem realmente prestar atenção no que passava ali. Na minha visão periférica, Brandon estava inquieto. Era como se ele quisesse falar algo. 

— Que foi? — pergunto.

— O que?

— Você quer falar alguma coisa? 

Ele fica me encarando com aqueles olhos vibrantes, e passa a mão pelo cabelo.

— Você disse uma coisa ontem... — murmura. — Sobre seus pais.

— O que?

— Disse querer saber o que aconteceu. Que precisava disso.

Abaixo a cabeça.

— E preciso. — digo. — Todas as pessoas que eu conheci no orfanato, sabiam o que tinha acontecido com a família. Todos, menos eu. Eles eram órfãos, mas e eu? O que sou?

— Você não sabe de nada? — nego com a cabeça. — Nada mesmo?

— Não. Não havia nada demais no bilhete, e a pulseira, bem, é só uma pulseira. 

— Tem alguma teoria?

— Ahhh, várias, mas ao longo dos anos, eu parei de criá-las e só tentei aceitar a escolha deles. 

— Quer achá-los?

— Eu só queria uma resposta, entende? — ele acena. — Vou entender se não quiserem me ver, mas... eu só preciso saber o porquê.

— Vou te ajudar a descobrir.

— Me ajudar? O que? Por quê?

— Porque você foi a única pessoa que pensou em me ajudar, então nada mais justo que eu retribuir o favor. Confesso que estou um pouco curioso também. — Brandon ri e eu faço o mesmo. — Meu pai tem um amigo que é detetive, e eu tenho total certeza que ele consegue descobrir o que aconteceu com seus pais. 

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