CAPÍTULO 1 - OITO ANO DEPOIS

(Camila)

Hoje eu estou completando dezoito anos e novamente tenho certeza que minha mãe esqueceu disso mais uma vez. Eu não a culpo, ela anda trabalhando muito e está exausta. Estou muito preocupada com a saúde dela.

Ela não é a mulher feliz e saudável que era quando o meu pai era vivo. Infelizmente, as coisas ficaram muito difíceis depois que meu papai morreu. Como o barco que meu pai trabalhava estava sem revisão e papai não estava em dias com alguns impostos mamãe nunca conseguiu receber ajuda do governo. A nossa renda era exclusivamente das unhas que ela fazia.

Como não tinha condições de continuar pagando a escola para o meu irmão, ele saiu da escola e foi para uma pública. Como bolsista eu poderia terminar o ano naquela escola, mas optei para ir para a mesma escola que meu irmão.

Dois anos depois da morte do papai, Átila, o meu irmão que estava andando com alguns jovens rebeldes foi preso numa instituição para menores por vadiagem e pequenos delitos. Minha mãe perdeu algumas clientes, porque as madames não queriam contato com a mãe de um marginal.

Nessa época quase passamos fome. Só não passamos porque minha mãe eu começamos a vender quitandas nas ruas e na praia. Também comecei fazer enfeites com as conchas que eu mesma recolhia para vender. Mas a situação estava cada vez mais difícil, porque quando o meu irmão saiu do reformatório ele começou a se envolver com drogas e daí nem as quitandas as pessoas queriam comprar.

Para não passarmos fome minha mãe aceitou se casar com o Turco, um homem que vivia bêbado mas que era dono de um quiosque. Só que nunca mais a vi feliz porque o desgraçado vive batendo nela.

Quando completei quinze anos o desprezível do meu padrasto me obrigou a sair da escola para trabalhar no quiosque. Ele disse que a minha beleza exótica e personalidade marcante iria atrair clientes. Eu chorei muito porque era meu sonho fazer faculdade, mas infelizmente nunca poderei realizar.

Mas apesar de ser um beberrão e preguiçoso o meu padrasto tinha razão. Desde que comecei a atender no quiosque a clientela melhorou e conseguimos dinheiro para reformar a nossa casa, o quiosque e até pagar uma clínica de reabilitação para o meu irmão. Felizmente, ele se recuperou e agora ajuda no quiosque.

Em três anos a nossa vida melhorou um pouco. Não posso reclamar. Sorrio olhando o mar a frente do nosso quiosque. Hoje o movimento está parado. Acho que vou entrar na água mais tarde. Amo um banho de mar.

_ Terra chamando Mila.

Eu saio dos meus devaneios ouvindo a voz da minha melhor e única amiga.

_ Oi Larissa – eu a cumprimento com um abraço e um beijo no rosto – Eu não vi você chegar.

_ Deu para perceber – ela disse toda serelepe – Estou aqui há um tempão tentando chamar sua atenção e você não estava me ouvindo.

Fico constrangida por causa da minha distração por isso me desculpo:

_ Sinto muito amiga, mas você sabe que quando fico olhando para o mar eu me perco.

_ Hãhã – ela concorda sorrindo.

_ Mas você não deveria estar ajudando sua mãe na boutique?

Eu pergunto surpresa porque desde que terminou o Ensino Médio no ano passado, ela está ajudando sua mãe na loja que ela é dona. Ela nunca gostou de estudar, por isso mesmo tendo condições financeiras de ir para uma faculdade em Atenas ela ficou aqui em nossa pequena ilha grega.

_ Ela me dispensou agora pela tarde, depois que soube dos meus planos para hoje a noite – minha amiga me respondeu.

_ Quais planos?

Ela sorri e abre sua bolsa. Procura uma coisa lá dentro e pega um ingresso.

_ Aqui está – ela me entrega.

_ O que é isso? – pergunto lendo o ingresso.

_ É meu presente de aniversário – ela diz sorridente – Feliz dezoito anos!

_ Você se lembrou.

_ Como eu ia me esquecer do seu aniversário amiga.

Eu fico emocionada e muito feliz por ter uma amiga como ela. No começo eu me senti um pouco usada porque ela se aproximou de mim por causa da paixonite que tinha pelo meu irmão. Mas depois mesmo sendo de classes sociais diferentes conseguimos firmar uma verdadeira amizade.

_ Como faz tempo que você não sai para se divertir, eu pensei que poderíamos ir à boate hoje de noite.

_ Eu não sei se estou no clima...

Ela insiste mais um pouco:

_ Amiga, desde que terminou com o Erik você nunca mais saiu para se divertir.

Ela tem razão. Desde que terminei com o idiota do meu primeiro e único namorado nunca mais saí para me divertir. Não é porque eu estava curtindo "fossa" ou desesperada pelo nosso término. Na realidade eu nem gostava dele, só o namorei porque ele estava há anos no meu pé e pensei que talvez ele pudesse me fazer apaixonar.

E ele tinha exteriormente tudo para me conquistar, classe, beleza e muito dinheiro. Não que eu seja interesseira, mas quem quer namorar um pé rapado? Pra passar necessidade, continuo sozinha.

Mas em dois meses de namoro, fui percebendo algumas atitudes dele que me fizeram perceber que ele estava mais para sapo do que para príncipe.

Ele ficava insistindo para fazermos sexo. Sempre ficou me dizendo que a entrega da minha virgindade seria uma prova de amor. Eu sempre ri e retrucava que um anel de diamantes e uma aliança antes seria uma grande prova de amor dele para mim.

Mas é claro que ele nunca me pediu em casamento. Para falar a verdade nem em namoro para a minha mãe. Ele nunca quis entrar na minha casa ou participar de um almoço com a minha família. Sempre arrumou desculpas. Também nunca me apresentou a sua família e quando encontrávamos com alguns de seus amigos ricos ele não me apresentava como uma grande amiga.

No começo do nosso namoro eu me senti um pouco lisonjeada porque ele se interessou por mim. Eu não me considero  feia, mas também não tenho o padrão de beleza pregado pela sociedade. Não sou alta, tenho apenas 1,60 de altura. Também não sou magra.

Cheguei a conclusão que a intenção dele era apenas curtir e tirar minha virgindade. Ainda bem que não me deitei com ele, mas infelizmente desperdicei meu primeiro beijo com um cafajeste como ele. Ele não estava a fim de nenhum relacionamento sério e por isso terminei com ele. Ele não aceitou muito o término ao ponto de dizer que iria espalhar para a ilha toda que eu era uma golpista que queria dá o golpe do baú nele.

E eu sabia que se ele espalhasse isso muitas pessoas iriam acreditar, principalmente pelos erros do meu irmão e pelas atitudes do meu padrasto. Por isso, opto não freqüentar os mesmos lugares que ele e seus amigos.

_ Vamos amiga! Você não pode viver isolada na sua casa de noite como um ermitão.

_ Você tem razão! Eu vou e me divertirei bastante – aceito o convite da minha amiga.

_ É assim que se fala, Mila.

Eu sorrio e ela me dá outro convite me falando:

_ Esse daqui é para o gostoso do seu irmão.

Eu balanço a cabeça e sinal de negação.

Ela gosta do meu irmão e acho que ele também gosta dela, mas um relacionamento entre eles está fora de cogitação porque a família dela nunca aceitaria que ela namorasse um rapaz como meu irmão: pobre e um ex-delinquente.

_ Bem... amiga eu já vou porque quero ficar linda para essa noite.

_ Até parece que você precisa! – eu digo.

_ É sempre bom melhorar o que já é bom. Passo na sua casa às nove da noite.

Eu sorrio e nos despedimos.

Volto a olhar para o mar e vejo um homem loiro e alto caminhando em direção ao quiosque.

Fiquei admirando aquele corpo atlético molhado pela água do mar. Ele é muito lindo. Um verdadeiro deus grego. Sorrio comigo mesmo espantada pela atração que estou sentindo pelo desconhecido já tinha visto homens tão bonitos como ele, mas nunca senti esse movimento na barriga como estou sentindo nesse momento.

O homem vem até a mim e me pede com uma voz sensual e rouca:

_ Água mineral, por favor.

_ Com gás ou sem?- pergunto.

Ele me observa de cima abaixo com seus olhos verdes azulados. Droga! Me sinto um pouco desconfortável por não estar mais bem arrumada.

_ Com – ele responde.

Eu vou até o refrigerador e pego uma garrafa de água. Volto para o balcão e pergunto:

_ Quer um copo?

_ Não precisa.

Eu entrego a garrafa pra ele e ele pega. Alguns dedos nossos se encostam e eu sinto um arrepio na pele. O que está havendo comigo? Que sensações são essas?

Ele destampa a garrafa e bebe um pouco da água. Ele faz isso de uma forma tão sensual que mexe comigo. Ele tira uma nota com valor alto da bermuda e coloca no balcão.

_ Vou pegar o seu troco.

_ Não precisa.

Ele sorri e se vira indo embora.

E eu fico olhando aquela nota alta e pensando que para deixar um valor alto como aquele por uma água, ele deve ter dinheiro sobrando. Quem será que é ele?

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