Capítulo IV

João Felipe

Deixei o carro na garagem e entrei em casa muito irritado.

Estava chegando em frente à minha casa, quando me deparo com a Viviane abraçando e beijando um idiota dentro de um carro parado. Ela desceu rapidamente após isso, com um sorriso enorme, o que quase me fez ir até eles e dizer alguma besteira.

Era por estas coisas que eu preferia me distanciar. Não aguentaria ver essas cenas e não fazer nada. Eu era uma pessoa controlada, mas o forte sentimento que tinha por aquela garota me deixava fora de orbita.

Joguei as chaves em cima de um aparador ao lado da porta da sala de visitas com certa fúria.

- O que aconteceu, meu filho?

Me virei surpreso ao ouvir a voz de minha mãe, não a tinha visto quando entrei intempestivamente dentro da sala.

- Me irritei no trânsito, coisa boba. - Menti.

Jamais diria a minha mãe que o motivo da minha raiva era a filha dos empregados. Acho que ela surtaria. Imagina só, o seu primogênito caido de amores logo pela Vivi. Fiz uma expressão de repulsa. Minha mãe iria pirar, tenho certeza.

- Ah, meu filho. Você não deve se envolver em discussões de trânsito. Isso é muito perigoso! - Dona Marta falou, fazendo uma expressão de horror e levando a mão ao coração. Como sempre, muito dramática. - Sente-se aqui com a mamãe. Estava com muita saudade de você e desde que chegou, quase não o vejo. O que você tem feito? - Questionou curiosa.

Poderia dizer a verdade, que vinha evitando uma certa pessoa, e por isso passava a maior parte do tempo procurando atividades fora de casa ou mesmo trancado em meu quarto, mas claro que não iria falar isso.

- Tenho me reencontrado com alguns amigos da faculdade e também tenho ido a empresa. Preciso de inteirar de algumas questões, afinal, logo estarei tomando meu posto à frente da presidência da Mendes de Albuquerque. - A empresa de investimentos fundada pelo avô do meu pai estava na família já a três gerações e eu não poderia seguir outro caminho.

- É verdade. Como sempre, fazendo o que esperamos de você. - Falou toda satisfeita. - Eu não preciso ficar repetindo, mas faço questão de dizer o quanto me orgulho do filho que você sempre foi e é! Sempre responsável e fazendo o que é certo.

Ela levantou e me deu um forte abraço. Eu amava muito a minha mãe e jamais iria contraria-la com algo tão bobo como uma garota que nem mesmo combinava comigo. Eu encontraria alguém que estivesse à altura dos Mendes de Albuquerque.

Depois de aceitar seu abraço, sentamos e ficamos conversando sobre a empresa e também sobre alguns conhecidos. Minha mãe me atualizava sobre os acontecimentos da alta sociedade paulistana e eu a ouvia, mesmo que não estivesse totalmente ali. 

Viviane

Depois do episódio na entrada da mansão, dois dias atrás, eu não havia mais visto o João Felipe, o que era um alívio.

Estava saindo da faculdade bem mais tarde aquele dia, levando-se em conta que minhas aulas eram pela manhã e já passava das 19 horas, pois eu tinha estado na biblioteca estudando para as provas do final do semestre e acabei perdendo totalmente a noção do tempo.

Peguei meu celular para verificar as mensagens e vi que tinhas várias chamadas não atendidas do João Pedro.

Decidi retornar imediatamente, afinal, não era comum ele me ligar de maneira tão insistente. Normalmente ele se contentava em me enviar apenas mensagens e não insistia em um retorno imediato, pois sabia que eu estava na faculdade. Havia recusado sua carona hoje mais cedo, avisando que iria estudar na biblioteca.

O celular chamou várias vezes e ele não atendeu, o que acabou por me irritar. Estava um pouco estressada nos últimos dias, acredito que era a volta do Felipe para casa. Continuei insistindo enquanto caminhava dentro do campus da Universidade, em busca de um ponto de ônibus.

- Oi, minha linda! - Atendeu, por fim.

- Aconteceu alguma coisa? Você está bem? Seus pais estão bem? - Falei de um só fôlego. Até que lembrei das pessoas mais importantes para mim. - Aliás, meus pais estão bem? - Praticamente gritei, pensando já no pior.

- Deixa de loucura, Vivi! Está todo mundo bem. - Falou o João Pedro em tom de enfado.

- Então por que tinha esse número absurdo de chamadas não atendidas no meu celular? - Falei chateada com sua falta de empatia. - Você quer me matar do coração?

- Nossa, você anda tão dramática. O que está acontecendo com você? - João Felipe questionou, parecendo desconfiado.

Percebi que estava fazendo uma confusão muito grande em torno de algo simples, e concluí que estava muito tensa mesmo. Isso tudo graças ao retorno do irmão do meu melhor amigo. Resolvi relaxar um pouco e reconheci que precisava me desculpar pela turbulência.

- Desculpa, só estou preocupada com as provas finais. - Falei uma meia verdade. - Mas afinal, me fala, o que você queria comigo?

- Você sumiu a tarde toda, te mandei várias mensagens e você não respondeu. Só fiquei preocupado mesmo. Me fala onde você está, que eu vou te buscar.

Ou seja, realmente nada de grave havia acontecido, graças a Deus.

- Estou no campus ainda, acabei perdendo a noção do tempo enquanto estudava na biblioteca. Mas eu te falei que iria ficar estudando aqui hoje, não entendo por que você está surpreso, pois sempre faço isso, principalmente quando está tão perto do início das provas. Você que anda estranho.

- Não pensei que ficaria todo esse tempo por aí. - Se queixou, mas falando de maneira estranha, parecendo um pouco ansioso. - Estava esperando você me ligar, para eu te pegar

Combinamos então de que eu iria espera-lo em uma das lanchonetes que existiam dentro do campus e encerramos a ligação.

Eu tinha certeza que o João estava querendo conversar algo comigo, e acredito que seria algo sério e não apenas mais um dos chiliques dele. Ele estava estranho, notei pelo seu tom de voz, e já fazia alguns dias que estava inquieto.

O João Pedro não gostava de se abrir sobre seus sentimentos e emoções, era muito reservado e nunca o vi se apaixonar por nenhuma garota com que tenha se relacionado. Mas ultimamente, não o tenho visto com ninguém e ele está sempre sumindo, sem me falar onde estava e com quem. Tinha alguma coisa acontecendo com meu amigo e eu só espero que não seja nada grave.

Não demorou muito e ele chegou. Deveria estar em algum local próximo a Universidade, pois morávamos há pelo menos trinta minutos da faculdade e ele não gastou nem mesmo quinze para chegar até onde eu estava o aguardando.

- Vai logo falando qual o problema, por que eu sei que tem algum. - Fui entrando dentro do carro e sentando no banco do carona, ao mesmo tempo que já soltei essas palavras. - Não me enrola e não fica com essa cara de inocente!

- Vamos sair daqui. Quando chegar em casa, a gente conversa. Estou precisando desabafar. Há algo que quero compartilhar com você.

- Eu sabia que tinha alguma coisa! - Falei, o olhando com uma expressão inquisidora e preocupada.

Ele não falou mais nada e saiu com o carro do estacionamento onde estávamos. Entendi que ele queria falar apenas quando chegássemos em casa mesmo e decidi aguardar o seu momento. Nós erámos muito próximos, mas eu não tinha a menor ideia do que poderia ser esse assunto.

Ao chegar na mansão, íamos direto para o seu quarto quando encontramos com o João Felipe no corredor em que ficavam os quartos da família.

Nós estávamos caminhando de mãos dadas, pois notei que o João Pedro estava precisando de apoio e segurei sua mão. Ao olhar para nossas mãos unidas, João Felipe soltou:

- O casal resolver se assumir? - Perguntou com ex expressão de desagrado.

- Ainda não. Mas qualquer dia, pode acontecer. - Falou o João Pedro sorrindo.

Era sempre assim, o João Pedro nunca revidava a forma pela qual o irmão se referia a nós, o que me deixava bastante irritada.

- Vai sair, João Felipe? - Perguntou curioso, pois o Felipe estava muito bem arrumado, lindo como sempre e o seu cheiro era de enlouquecer uma pobre mortal apaixonada.

Ele ainda continuava encarando nossas mãos juntas, quando respondeu ao irmão, de maneira seca.

- Claro. Afinal, sexta feira é o melhor momento de relaxar. Estou aproveitando enquanto ainda não assumi a Mendes de Albuquerque.

- Nós também vamos sair, eu e a Vivi.

Olhei imediatamente para o João Pedro quando ele falou isso. Eu não tinha combinado nada com ele e não estava pretendendo sair esse fim de semana. As provas estavam muito próximas e eu jamais iria curtir uma ressaca, enquanto devia está estudando.

- Vamos na festa da Alicia Guimarães.

O João Pedro só poderia estar ficando louco ou brincando com a cara do Felipe. Eu detestava a Alicia e jamais pisaria meus pés em um evento em sua casa. O olhei de maneira ameaçadora e ele apenas sorriu. Soltei nossas mãos, chateada.

- Estou de saída exatamente para lá. Mas me diga, vocês foram convidados? - Falou como se duvidasse. - Vou reformular minha pergunta. A Viviane foi convidada? Por que até onde eu lembro, Beatrice e Alicia detestavam a Viviane. Em seu lugar, eu não a levaria, pois tenho certeza que não será bem-vinda na casa das nossas amigas. Ficarei realmente surpreso, caso isso tenha mudado nesse tempo que fiquei fora.

Eu desviei o olhar do João Pedro ao ouvir as palavras do Felipe e resolvi sair de perto dos dois, antes que eu fizesse ou falasse algo que me arrependeria, pois eu estava no limite.

- Estou saindo, João Pedro. Depois você fala o que quer que você tinha para falar. Não preciso ficar aqui ouvindo coisas desagradáveis vindas de pessoas tão esnobes.

Saí rapidamente, pois eu não me submeteria de forma alguma, aqueles desaforos gratuitos do João Felipe.

- Volta aqui, Vivi... por favor!

Não dei atenção as palavras do João Pedro e segui meu caminho.

- Cara, eu estava apenas brincando, você não precisava falar...! - Ainda ouvi o João Pedro reclamar com o irmão, antes de dobrar o corredor e descer as escadas às pressas. Estava chegando ao último degrau quando quase esbarrei com o senhor Rodolfo.

- Boa noite, Vivi! - Falou entusiasmado. Não sei como um homem tão gentil poderia ser pai daquele desagradável.

- Boa noite, senhor Rodolfo!

- Para onde vai com tanta pressa? Fique para o jantar. Tenho certeza que os garotos vão gostar muito da sua presença.

Quase perguntei quem seriam os garotos, mas não estava no clima para brincadeiras e falei apenas:

- Em uma próxima oportunidade, senhor Rodolfo. Estou estudando para as últimas avaliações do semestre e preciso me dedicar ao máximo! - Falei de forma que ele não percebesse como eu estava por dentro.

- Tudo bem então, minha querida. Está certa, não pode perder tempo mesmo. - Me deu um beijo respeitoso na testa, como costumava fazer desde que eu era criança e saiu, subindo as escadas.

Ao entrar na minha casa, encontrei meus pais assistindo TV. Cumprimentei com um beijo no rosto de cada um e fui para o meu quarto, precisava ficar sozinha.

O João Pedro ficou me ligando e mandando algumas mensagens, mas eu não iria voltar na mansão mais hoje de forma alguma e, apesar da sua insistência, ele acabou aceitando e disse que iria sair para se divertir então.

Eu só precisava de um banho e dormir.

Já deitada e tentando conciliar o sono, as imagens do que aconteceu hoje à noite não saiam da minha cabeça.

Por que o João Felipe fazia questão de me magoar? Por que ele necessita sempre passar na minha cara as nossas diferenças? Há anos eu tinha esses questionamentos e ao que parecia, não seria hoje que eu teria minhas respostas. 

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