Capítulo sete

Já se passaram dez dias desde que assumi o bar enquanto os donos estão em outro estado e hoje estou em uma correria sem tamanho, ainda mais que acrescentei café da manhã e lanches variados ao bar e a freguesia aumentou ao ponto de ter que por mesas para o lado de fora do bar.

Ontem Logan veio aqui e tomou café, elogiou muito a comida e me deixou uma gorjeta bem generosa. Ele ficou me olhando e eu me senti estranha e logo fui me ocupar de servir os outros clientes, mas a sensação de ser observada por ele continuou. Talvez eu esteja louca.

Estava atendendo uns clientes quando ouço gritinhos animados que logo me deixa feliz.

– Mamãe, mamãe, olha!! O meu dente caiu!! – vejo minha filhinha banguelinha mostrando o dentinho em uma toalhinha.

– Desculpa Cindy, mas Luz não parou quieta até eu trazê-la aqui para te mostrar o dentinho. – Dou um sorriso para minha amiga e lhe digo que está tudo bem, abraço Bia e as convido para sentarem.

 Falo para Jô se sentar e lhe sirvo um pedaço de bolo de fubá, suco para as meninas e café para ela.

Luz não quis sair do meu colo, então eu tinha que usar apenas um braço para atender aos clientes. Assim que sirvo seu Joaquim, vejo Logan parado, sem ação, olhando de mim para Luz. Olhei para Jô que também percebeu e ficou intrigada com o jeito que ele nos olhava.

Ele percebeu que estava encarando demais e decidiu se aproximar.

– Boa Tarde! Eu gostaria de um pedaço de bolo de aipim.

– Boa Tarde! Já lhe sirvo. – Sinto-me estranha com o olhar dele, mas finjo não perceber.

– Luz, fica aqui sentadinha no balcão enquanto eu vou ali na cozinha e já volto.

– Tá, mamãe.

A deixo no balcão e olho para Jô que entende e fica de olho. Estou na cozinha quando escuto Luz conversar com Logan como se o conhecesse. Sorri porque minha pimentinha é tímida perto de estranhos e com ele, ela está conversando como se já o conhecesse há tempos.

– Minha mãe diz que às vezes o sapatinho é do nosso tamanho, mas de algum jeito ele não cabe mais, ela fala que é um tal de sentido “fugurado”.

–  Ela disse o que a gente faz quando isso acontece? – Logan perguntou e pelo jeito parecia curioso.

– Ela diz que a gente deixa para outra pessoa e luta para conquistar um sapatinho novo, outro dia ela falou com a minha tia que isso se encaixa na vida.

– Princesa, conte-me mais.

– Eu acho que meu pai achou o sapatinho e está procurando ela e quando ele achar a mamãe, ele vai me conhecer.

Estava terminando de preparar o café quando ouço mais uma pergunta.

– Princesa, você não conhece seu pai?

– Não. Meu papai precisou viajar pra muito longe e ainda não encontrou a gente. – Sinto tristeza em sua fala.

– Sua mãe lhe disse isso?

– Sim.

– Eu me chamo Logan, e você princesa?

– Eu sou a Ana Luz, mas todo mundo me chama de Luz, porque eu sou a luz da minha mãe. – Tio Logan, sabia que eu ouvi minha mãe falando com a tia Jô que você é um gato?

Nesse momento eu estava levando a garrafa de café e ela quase caiu.

– Interessante... o que mais ela disse? – ele estava rindo! Meu Deus, agora meu rosto está vermelho carmim.

– A tia Jô falou umas coisas que não entendi e ela disse que você nunca vai olhar para ela mesmo. A tia Jô falando que ela é gata, mas eu acho que a mamãe está esperando o papai aparecer.

– Ana Luz Campello Siqueira, que coisa feia é essa? Além de escutar a conversa dos adultos, ainda conta para estranhos. – Digo e a olho de cara bem feia e ela começa a chorar.

– Desculpa mamãe, não vou falar de novo.

– Dessa vez você está desculpada. – Dou um abraço na minha pequena delatora.

– Desculpe, seu Logan, não leva muita coisa que ela fala a sério não, Luz é só uma criança. – Tento disfarçar.

– Ela é uma criança inteligente e bonita, com certeza herdou da mãe dela.

Fico corada com seu elogio. O agradeço e vou servi-lo, depois vou até Jô, que está rindo da minha cara.

– Jô, não diga nada e pare de rir, afinal, a culpa também é sua que deixou ela falando com ele.

– Ah! Nunca vi a Luz conversar tão abertamente com um estranho.

Estava conversando com Jô quando Luz me apronta novamente.

– Tio, um dia vai lá em casa me visitar, tá? Tenho um quarto de princesas com casinha e tudo.

Fico sem ter onde enfiar a cara e peço à Jô que a leve embora. Luz reluta, mas acaba desistindo e antes dela ir, faz Logan prometer que irá  visitá-la. Chego até ele e digo.

– Desculpe minha pimentinha seu Logan, é que ela é prematura, por esse motivo ela é agitada desse jeito.

Ele me olha estranho e vejo preocupação em seus olhos.

– Aconteceu alguma coisa na gestação dela?

– Nada grave, só que passei muitos problemas sozinha. Se não fosse Jô, Rick, seu Zé e dona Guta me ajudarem, não sei o que teria sido de nós duas.

– Por que você colocou o sobrenome do pai dela?

– E como você sabe? – olhei desconfiada.

Ele deu de ombros e respondeu. – Apenas deduzi.

Abaixo minha cabeça e respondo. – Não sei o motivo, apenas queria que ela tivesse alguma parte do pai dela.

– Pelo seu olhar esse cara te magoou demais. Se ele aparecesse agora lhe pedindo perdão, o que você faria? – outra pergunta estranha.

– Acho que o perdoaria. – Respondo depois de um segundo pensando.

Ele olha para mim com um sorriso. Definitivamente, esse cara é louco.

Seu Benedito chega ao bar e vou lhe atender, quando retorno, Logan havia ido e deixado uma gorjeta bem generosa novamente.

Neste dia, Jô me fez contar cada detalhe sobre o que aconteceu após sua saída do bar e depois que lhe conto tudo, ela fica batendo palminhas igual a uma retardada. Acho que minha amiga passa muito tempo com as meninas.

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