Capítulo Dois: Primeiro dia de aula

Hoje eu acordei mais cedo do que esperava, ainda eram 04:50 da manhã e o despertador estava programado para às 05:50, e as aulas começavam apenas às 07:00, maldita ansiedade. Eu estava bastante ansioso, mesmo sabendo que nada mudaria naquela escola, apenas os nossos professores e talvez alunos novos, ou a aluna nova na minha turma esse ano.

Fiquei sentado na cama esperando a preguiça passar para começar a minha higiene e a me arrumar adequadamente para a escola, o tempo foi passando e quando olhei já era 05:15, rapidamente me levantei e fui em direção ao banheiro e ao parar em frente do espelho pude observar minhas olheiras que estavam um pouco fundas, consequências de uma noite de sono mal dormida. Ao entrar no box e finalmente tomar coragem para ligar o chuveiro, a água gelada caía em meu corpo me fazendo relaxar, depois de me enxaguar, finalmente sai do banheiro, tinha se passado apenas quinze minutos, ainda era 05:30. 

Ao colocar meu uniforme e passar um pó compacto para disfarçar as olheiras que teimava em aparecer quando um toque me chama atenção, e eu sabia o que era, era o meu celular tocando indicando que chegou mensagem, e apressadamente fui ver quem era, e um sorriso tomou conta do meu rosto.

Meu amor.

Online.

— Que o seu dia seja tão belo quanto você, te vejo na escola.

Aquela mensagem fez meu coração aquecer e pular de alegria, eu realmente o amava.

— Bom dia meu amor, eu serei o de uniforme. Te vejo na escola.

— Você foi muito convincente, tchau, até lá.

Offline.

Tinha outras mensagens também, mas não era muito importante, eram só os meus amigos e algumas pessoas aleatórias da minha família. Ao guardar o celular no bolso da calça, desço a escada e vou diretamente para a cozinha e acabo encontrando a minha mãe sentada na mesa bebericando o seu café.

— Bom dia meu doce, nem seis da manhã é ainda e você já está pronto. — Falou tirando a atenção do celular que estava em sua mão. 

— Na verdade já são seis, mãe. — Eu disse indo em direção ao armário para pegar o cereal.

— Mesmo assim você já está pronto, o que é um milagre.

— Não dormi direito essa noite passada, amanheci com olheiras horríveis!

— Eu tenho pó caso queira para disfarçar. — Falou voltando a atenção para o celular.

— Valeu mamãe, mas eu ainda tenho pó. — Falei derramando o cereal e o leite numa pequena tigela de vidro.

— Hoje eu irei levar você, seu pai saiu mais cedo hoje, ele tem uma cirurgia de emergência para fazer. — Ela disse se levantando e indo colocar a sua xícara na pia.

— Tudo bem, mas e você? Não vai para a clínica hoje não?. — Perguntei com a boca cheia

— É falta de educação falar de boca cheia, amor. E não, não irei para a clínica hoje, vou na ginecologista saber se é normal a ausência da minha menstruação. 

— Não se preocupe mamãe, é normal ou cesárea. — Eu falei e acabei gargalhando e com a minha mãe não foi diferente, eu amava os momentos de mãe e filho que tínhamos.

Ao me assumir gay, no começo meus pais ficaram em choque, passaram mais de uma hora calados sem ter o que falar, mas no final, ambos me abraçaram e me deram amor e apoio.

Meu pai era cirurgião geral e minha mãe nutricionista, nós temos uma vida boa, eu estudo em uma escola considerada elite e não é querendo me gabar, mas sou bastante inteligente e prometo dar orgulho aos meus pais.

— Querido, estou vendo que você já está quase terminando o seu café, se apresse para escovar os seus dentes ou iremos nos atrasar. — Disse indo em direção ao banheiro que tinha na cozinha. 

Corri novamente para o meu quarto, e assim que entrei no banheiro fui logo pegando minha escova e pasta de dente, eu escovava os dentes de um modo frenético, como se minha vida dependesse disso, assim que cuspi, pude observar vestígios de sangue, provavelmente machuquei de novo as minhas gengivas com o jeito rápido que eu escovava, eu tinha que parar de ser assim, se eu passasse enxaguante bucal e fio dental, eu ia me atrasar, então optei por fazer na volta. Ao chegar no final da escada, a minha mãe já estava na porta à minha espera.

— Podemos ir agora magestade? — Perguntou minha mãe rodando a chave do carro.

— Sim, bela rainha. Podemos ir aonde você desejar. — Eu disse sorrindo.

— Meu desejo agora, é que você vá para a escola para que eu possa fazer minhas coisas. — Disse me puxando para fora de casa.

— Seu desejo é uma ordem. — Eu disse enquanto ela ligava e entrava no carro.

Ligo o meu celular e conecto o fone de ouvido, minha mãe não era muito de conversar enquanto dirigia, ela se concentrava bastante, porque uma vez enquanto conversávamos ela se distraiu e quase bateu o carro, desde então, nossos passeios de carros são silenciosas, e eu não achava ruim, eu gostava de silêncio. Decidi abrir as conversas que eu não tinha visualizado mais cedo, começando pela as da Claryssa.

Doce Clary

Offline.

Descobri que o nome da garota nova é Camila, será que ela gostará da gente?

Duvido muito que goste, tive um pequeno encontro com ela ontem na festa, ela estava com o João, o Edu e outros amigos dele.

Eu visualizei as mensagens dos meus parentes e não passava de mensagens de bom dia e outras tentando me convencer a me converter para o cristianismo, pois de acordo com eles eu era uma abominação, e que eu queimaria no fogo do inferno, mais desejo luz a todos e que Deus cure o coração amargurado de todos eles. 

Não demorou muito para chegarmos ao colégio, já que ficava a quinze minutos da minha casa até a escola.

— Você vai ficar bem, meu amor? — Perguntou minha mãe alisando o meu rosto.

— Não se preocupe, mãe, eu ficarei bem. 

— Então quando acabar a aula, me ligue que venho lhe buscar ou você pode pedir para o Edu levar você de volta. — Falou me puxando para me dar um beijo na bochecha.

Saí do carro e em frente da escola estava Lucas e Claryssa, esses dois não me enganavam, uma hora ou outra, eles vão acabar namorando.

— Você não respondeu a minha mensagem, posso saber o porquê? — Perguntou a Clary cruzando os braços. 

— Na verdade eu respondi sim, mas você já não estava mais online. E eu conheci a aluna nova na festa ontem a noite, ela estava com os meninos e me olhou como se ela estivesse com nojo. — Falei fazendo careta e me lembrando da cara de metida da aluna nova.

— Talvez  seja só impressão sua, você é muito amorzinho para alguém te olhar assim. — Falou Lucas e Claryssa concordou. 

Ficamos cerca de 05 minutos parados na frente da escola, mas não éramos os únicos, como hoje era o dia apenas do terceiro ano, todos os rostos eram conhecidos por mim, já que era do ano passado também.

Procurei pelo Eduardo e não o encontrei, talvez ele não tenha chegado ainda, mas avistei o João, ele era o melhor amigo dele desde que conheci eles, talvez ele tenha notícias do Eduardo.

— Gente, vou falar com o João já volto. 

— Vê se você não se encanta e fica lá, volta mesmo para conversar com a gente. — Falou Lucas se aproximando mais de Claryssa.

— Não precisa de drama, é claro que eu irei voltar para ficar com vocês. Mas antes preciso saber de uma coisa, vocês estão ficando ou algo assim? — Perguntei e percebi que a Claryssa tinha ficado vermelha como um camarão, então eles tinham algo.

— Sobre isso.. — Lucas tinha a mão atrás da cabeça e ele sempre ficava assim quando queria falar algo mas não sabia como.

— Eu não sei como te contar, mas… — Antes de terminar a frase, Claryssa interrompeu terminando o que lucas ia falar.

— Estamos ficando sério, mas não sabíamos como falar. — Falou rapidamente que só alguém que a conhece bem entenderia.

— Assim como vocês me apoiaram, eu irei apoiar vocês em tudo, em qualquer decisão e uma hora isso ia acontecer, eu estava pensando sobre vocês assim que saí do carro, espero que comecem a namorar logo, agora estou indo.

— Obrigada, é por isso que você sempre será nosso melhor amigo fêmea. — Claryssa disse sorrindo e encostando a cabeça no peito de Lucas. 

— Melhor amigo fêmea, só vocês mesmo!

Eu sempre soube que uma hora eles iam começar a ficar, e eu amava eles juntos, eles juntos passavam uma sensação de paz, um completava o outro e eu queria ser assim com o edu também. Ao me aproximar do João, ele estava com uma cara desconfiada de como quando você quebra um vaso ou o copo preferido da sua mãe ou quando você acoberta um amigo que fez besteira. 

— Oi, João. Você sabe me dizer se o Eduardo já chegou? — Perguntei enquanto ele olhava de um lado para o outro. 

— Henry, como você está? Nem falei com você ontem. Eu não sei onde o Edu tá, acho que não chegou ainda. — Falou coçando a cabeça.

— Estou bem, João. Hum, tá okay, muito obrigado. — Falei sorrindo e indo em direção aos meus amigos. 

A atitude do João foi bastante estranha, e isso eu não poderia negar. E eu estava novamente criando coisas que não existiam, eu sei que ele me contaria se algo estivesse acontecendo com o Eduardo, será que ele se machucou?, não, ele teria me enviado uma mensagem. 

Assim que cheguei no lugar em que os meus amigos estavam, o sinal da escola foi tocado e ao adentrar na escola, fomos instruídos pela vice-diretora a seguir para a quadra da escola e lá estava a diretora Alcione e alguns professores que até então eram desconhecidos por mim.

— Então, hoje vocês iniciam uma nova jornada das vidas de vocês, o último ano do ensino médio. Alguns esperavam por isso e outros talvez não, nesse ano vocês descobriram o curso que querem e em que faculdade querem. Várias opções serão mostradas e esse ano será o ano do autoconhecimento, o meu conselho para vocês é que estudem e qualquer dúvida que surgir, perguntem aos professores que eles ajudaram. E é isso, a sala de vocês será a do terceiro corredor, sala 26. Agora será as apresentações dos professores. — Disse a diretora Alcione.

— Olá meus queridos, meu nome é Elizabeth e eu serei a professora de português de vocês. — Falou uma baixinha com óculos de garrafa passando o microfone. 

A apresentação seguiu e eu procurei o Eduardo por toda parte, já era de se esperar que ele só chegasse depois das apresentações. Assim que acabou a apresentação, fomos levados pelo coordenador para a nossa sala que lá ele passaria os horários das aulas. 

Estava sentado na primeira cadeira da frente quando vejo o Eduardo, João e a Garota nova chegarem juntos, será que eles estavam juntos?, várias  perguntas surgiram em minha mente, mas não liguei muito, eu confio no namorado que tenho.

— Pensei que você fosse fazer barraco. — Sussurrou Claryssa atrás de mim.

— Eu não sou desse tipo e você sabe disso. — Falei me virando para trás e no mesmo instante o coordenador pede atenção e começa a entregar os nossos horários das aulas e matérias extracurriculares, entre elas estavam a dança, que todo ano recrutavam meninas e meninos do segundo e terceiro ano para dançar nas festividade que acontecia na escola, a outra era um módulo de biologia que não fazia parte das nossas aulas, e a última era de química avançada. 

Um papel para a inscrição foi dado para cada um, era possível ouvir os murmúrios dos alunos que não tinham gostado das opções, mas a direção da escola não se importava. Uma voz me chamou a atenção quando falou:

— Você vai ficar muito gostosa na roupa das meninas da dança. — Falou a voz quase inaudível por conta do barulho, mas ainda sim dava para ouvir. Era a voz dele, era a voz do Edu e eu tinha certeza que não estava louco, mas o mesmo estava olhando para o papel enquanto a Camila sorria, é, talvez tenha sido coisa da minha cabeça. 

Cinco minutos foi tempo o suficiente para preencher a ficha de inscrição e logo em seguida, os professores passaram entregando a lista de assuntos que seriam dado por eles e os que mais caem no vestibular. Eu estava empolgado, esse ano seria o melhor para mim, além de fazer dois anos com o Edu, o tão esperado vestibular ia acontecer. 

Os livros foram entregues, pagamos os livros no dia em que os nossos pais iam pagar a rematrícula e só pegamos os no primeiro dia de aula, o bom é que não carregamos peso, já que tínhamos armários para guardar, uma coisa estilo estados Unidos, mas não é de menos já que é uma escola particular.

Fomos dispensados às 11:30, e enquanto eu arrumava minha bolsa o Edu tinha saído com os livros, provavelmente para guardá-los. Arrumei apressadamente minha bolsa, meus amigos perceberam já que eu não havia me despedido deles, falta de educação, eu sei, mas queria ficar um pouco ao lado do meu namorado.

Assim que me aproximei, meus olhos arderam quando vi que a Camila estava encostada com a mão em seu peito, eu não tinha gostado do que tinha visto.

— Oi amor. — Disse me aproximando e vendo a Camila tirar a mão bruscamente do peito do Eduardo. Dei um beijo calmo e lento que não foi retribuído, algo tinha acontecido, ele sempre retribuía os meus beijos.

— Oi, Henrique. — Falou num tom seco.

— Você poderia me levar para casa? — Perguntei olhando para o lado.

— Sim, eu posso. Tchau Cami.

Seguimos para o carro dele que estava estacionado na frente da escola, já que o estacionamento era apenas para os professores. Assim que sentei no banco do carro, percebi que estava mais deitado e eu não tinha deixado ele assim na noite passada.

— Porque o banco está assim se eu não deixei ele assim na noite anterior? — Perguntei desconfiado.

— Eu dei uma carona para o João hoje, e ele é bastante folgado. — Falou e eu sabia que ele estava mentindo. 

— Mas o João falou que não sabia onde você estava quando perguntei a ele hoje de manhã na escola. 

— É porque tive que voltar e levar minha mãe ao médico. — Ele falou suspirando.

— Mas ela tem o carro dela, então ela iria dirigir não?.

— O carro dela quebrou, vai ficar de perguntinha mesmo? Porra, você tá chato hoje. — Falou batendo no volante.

— Não está mais aqui quem falou, e não precisa falar desse jeito comigo, se você não quer me dizer quem estava com você, tudo bem Eduardo. Não precisa me contar tudo, só não minta para mim. — Falei virando o rosto e sentindo as lágrimas querendo chegar. 

— Me desculpa, minha mente está confusa, me desculpa. 

O restante da viagem foi silencioso, nenhum de nós dois abrimos a boca para falar, eu estava magoado com ele, ele nunca falou daquele modo comigo, mas poderia ser apenas um dia ruim como todos nós temos. Assim que chegamos em casa o convidei para entrar e fomos em direção ao meu quarto e ele logo se jogou na minha cama. 

Tomei um banho e me deitei ao seu lado, como estávamos acostumados a fazer.

— Independente de tudo, você é muito especial para mim. — Eduardo falou do nada me fazendo levantar a cabeça e o beijar. 

O beijo se iniciou lento, ele no começo exitou, mas cedeu e acabou me beijando, subi em seu colo e comecei a tirar a sua camisa e ele estava fazendo a mesma coisa, seu membro estava ficando duro e eu sentia meu corpo em chamas, quando o seu celular tocou e rapidamente ele visualiza a mensagem e diz.

— Eu tenho que ir, amanhã nos encontraremos novamente. — Falou vestindo sua camisa e indo embora.

O acompanhei até a porta e fiquei lá até o carro sumir da minha visão, ele não estava bem mesmo.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados