6 - Raphael

Raphael abriu os olhos e se assustou ao ver que estava caído no chão de um dos quartos do hospital onde trabalhava. Sua cabeça doía e por um instante permaneceu sentado, tentando entender por que estava naquela situação.

Levantou-se lentamente e enquanto ajeitava o jaleco, reparou que havia sangue em sua roupa, na parede e chão onde estava encostado á pouco. Alarmado, ele vasculhou o corpo à procura de ferimentos, mas não encontrou sequer um arranhão, exceto por um corte em sua calça branca, na altura do joelho, em cima de uma mancha de sangue ainda meio úmida. Seu rosto e cabelo também tinham sangue, mas olhando no espelho, também não viu corte algum, e um objeto que viu no reflexo deste espelho trouxeram-lhe à lembrança, tudo o que acontecera ali.

Era o livro que o professor Thomas Wilson autografou, minutos antes de desaparecer consumido por aquela luz em forma de asas. Luz essa que o arremessou como se tivesse sido atingido por uma descarga elétrica.

Essa mesma luz, parece ter acabado com a energia do hospital que estava sendo iluminado pelas luzes de emergência. Tudo aquilo parecia loucura e abrindo o livro leu novamente a dedicatória no autógrafo, como que para ajudar a acreditar que o professor esteve ali.

"Como um anjo, cuidaste dos feridos, és digno do nome Raphael"

Reler aquelas palavras o fez sentir novamente a emoção que sentiu na primeira vez, mas também serviu como confirmação de que não estava ficando louco.

Olhando para o relógio, viu que eram quase nove horas da manhã, ou seja, ficou desacordado por quase cinco horas.

— Como ninguém me encontrou desacordado? — perguntou a si mesmo e olhando para o corredor viu que estava deserto. O hospital parecia abandonado — Que diabos aconteceu aqui?

Olhou ao redor mais uma vez, como se não soubesse o que fazer em seguida e se lembrou de que a sala tinha câmeras de segurança que poderiam ser mais uma confirmação, então seguiu pelo corredor em direção à escada, já que provavelmente os elevadores não estariam funcionando.

O gerador de emergência era suficiente apenas para serviços essenciais, como manter aparelhos ligados e sala de monitoramento ficava no terceiro andar, e funcionava com energia auxiliar, proveniente de baterias de emergência usadas para não se perder nenhum registro, então não teria problemas em rever o que aconteceu devido à falta de energia.

O segundo andar do hospital, era onde ficava o centro de tratamento intensivo do hospital, e alocava os pacientes que se encontravam em estado grave e necessitavam de atenção e aparelhos especiais e para acessar as escadas que levavam ao terceiro andar, Raphael teve que atravessar mais um corredor.

Passando pelos leitos viu algo que o aterrorizou de vez. Os pacientes do CTI foram abandonados, e jaziam mortos. Os aparelhos deveriam ter sido religados manualmente após o retorno da energia, mas não foram. Precisava mais do que nunca saber o que tinha acontecido, para que todos fugissem assim.

Ao passar em frente a uma janela, mais uma surpresa — lá fora, a escuridão tomava o céu, como se ainda fosse noite. Olhou para um relógio em uma parede próxima, confirmando que eram mesmo nove da manhã, e então sentiu o terror crescendo dentro de si. Tudo parecia um pesadelo, o mundo imerso na escuridão, pacientes abandonados no hospital e mortos, espectros de luz que desintegram pessoas.

Se apressando, subiu as escadas com passos rápidos e decididos, mas antes de entrar na sala de monitoramento, seguiu para a sala do Dr Abraham Hill. O Dr Hill era proprietário e diretor do hospital e era um dos cirurgiões mais importantes do mundo.

— O Dr Hill jamais abandonaria seus pacientes — pensou, dirigindo-se para a sala do diretor, mas ao entrar viu que não havia ninguém.

Aproximando-se da mesa, algo chamou sua atenção; roupas jaziam no chão, entre a cadeira e a mesa, e pegando-as viu que se tratava das roupas do doutor, pois no bolso havia um relógio antigo com a inscrição Dr. A. Hill, um presente de sua filha, que ele carregava sempre consigo.

— Preciso saber o que aconteceu— disse o jovem guardando o objeto em seu bolso e virando-se seguiu para a sala de monitoramento.

Abrindo o sistema de monitoramento, buscou primeiramente o leito onde o professor estava, e digitou o horário de quatro e trinta da manhã como início da reprodução. Avançando alguns minutos, lá estava ele, entregando o livro nas mãos do professor, que o autografou e devolveu. Em seguida, pegando o esfigmomanômetro, colocou-o no braço do professor e então vieram o clarão e o golpe que o arremessou contra a parede e desligou as luzes e aparelhos do hospital, enquanto a sala parecia tremer.

Focando no professor, o viu desaparecendo, consumido por aquela luz. Viu e reviu algumas vezes, aproximando a imagem e, colocando em câmera lenta, teve certeza de que aquela luz que consumia o professor tinha o formato de asas.

Voltando o foco para sua queda, no outro canto do vídeo, viu o momento que seu joelho chocou-se contra a mesa e seu osso se partiu e se expôs, rasgando-lhe a pele e a calça. Sua cabeça também se partiu no choque contra a parede, e mesmo antes de perder os sentidos seu sangue já devia ter escorrido quase pela metade.

Sem acreditar no que estava vendo, pulou duas horas no vídeo e viu que não havia mais ferimentos em seu corpo. Retrocedendo o vídeo cuidadosamente, viu o momento em que os seus ferimentos se curaram.

Em câmera lenta, viu admirado o osso do seu joelho se reconstruir, seguido do restante dos tecidos subcutâneos e por fim a pele, sem deixar nenhuma cicatriz sequer. A cabeça seguiu a mesma sequência e se reconstruiu. Era difícil de acreditar, mesmo assistindo ao vídeo várias vezes.

Decidiu ver o que aconteceu no hospital enquanto estava desacordado, e clicou na opção que abria multijanelas no monitor e vários quadros se abriram na tela, cada um com os registros da câmera de monitoramento de um setor específico do hospital.

Destacando a câmera da sala do Dr Hill, ele viu o momento que ele foi consumido sobrando somente suas roupas. Em outros vídeos viu outros médicos desaparecendo tbm, todos no mesmo horário, inclusive o Dr Hill e o Professor Thomas.

Viu que o tremor aconteceu em todo hospital, ao mesmo tempo, e os funcionários saíram desesperados do prédio seguidos dos pacientes que conseguiam se mover sozinhos. Os pacientes que precisavam dos aparelhos, não tiveram chances e morreram lentamente.

Era muito para digerir. Tudo parecia um filme de ficção do Spielberg. O terremoto, as asas de luz, as pessoas sendo consumidas, o seu corpo se regenerando, tudo era muita loucura.

Viu e reviu diversas vezes os vídeos, pelo que pareceu ser umas duas horas, sozinho naquela sala e naquele hospital abandonado, até que um movimento na câmera da entrada do hospital chamou sua atenção: Um carro freou bruscamente, parando em frente à entrada. Da porta do motorista irrompeu apressadamente um jovem, que abrindo a porta traseira do veículo, pegou nos braços um homem mais velho, desacordado.

O homem tinha uma faixa em volta do peito, manchada de sangue e havia urgência nos olhos do rapaz, então, o instinto de enfermeiro de Raphael o fez querer ajudar. E sem pensar mais, se levantou e seguiu apressadamente ao encontro dos recém-chegados.

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