2. Alexia

Já era finalzinho da tarde quando deixei Patrícia, minha meia irmã e melhor amiga, na mansão em que ela morava com Alessandra, sua mãe. Passamos o dia inteiro no shopping hoje, houve um novo lançamento de sapatos de grife, nós não podíamos perder isso. Mais um sapato para a minha coleção, pena que as bolsas que eu tanto queria estavam esgotadas. Um dia inteiro no shopping, tirou o estresse do dia-a-dia, só com boas compras e uma noite na balada me acalmam. Além de sapatos, comprei alguns vestidos de noite para festas e para as baladas, roupas para o cotidiano para usar no dia-a-dia e roupas para o trabalho.

Por mais que meu pai se negue de me colocar para trabalhar com ele, achando que eu não sei fazer nada na vida, quero mostrar que sou mais esperta do que ele pensa. Eu poderia viver às custas do seu dinheiro, mas quero provar que posso administrar aquela empresa melhor do que ele. Aliás, eu tenho uma promessa a cumprir e não vou desistir.

Entrei na garagem da mansão do meu pai e antes de sair do carro, abri o meu pingente porta retrato, contendo a minha imagem e do Heitor, de oito anos atrás. Acariciei sua foto e dei um beijo, como se isso tivesse me dando forças para fazer o que eu tenho que fazer.

Saí do carro, dando ordens para os empregados levarem as minhas compras para o meu quarto e guardá-las nos seus devidos lugares. Entrei em casa e fui para a cozinha tomar um copo de água, pensando na proposta de casamento do Conrado, eu não respondi para ele, prometi que iria pensar. Na verdade, só queria ganhar tempo para encontrar uma desculpa, para terminar com ele. Conrado não é confiável, eu tenho um plano em mente, uma meta a cumprir. Para que meu plano dê certo, preciso conseguir convencer o meu pai a me deixar trabalhar com ele, para poder ter minha independência e morar sozinha. E um relacionamento não está nos meus planos, principalmente, um relacionamento com o Conrado. Além disso, faz tempo que não sinto mais nada pelo Conrado, nem prazer sinto mais quando transamos, ficou tudo mecânico, não tem mais o toque, não tem mais o tesão.

Homem para mim, tem que ser confiável, tem que me trazer segurança e me fazer vibrar me deixando louca na cama. Não dava para colocar qualquer um em minha vida, muito menos, com o plano que tenho em mente. As únicas vezes que eu cheguei ao orgasmo foi com meu Toy, um vibrador em formato de golfinho, que apelidei de Romão. Não é ciumento, não pede explicações, não precisa ligar no outro dia, só espera eu procurá-lo para me satisfazer. Ele sim, é o meu melhor companheiro.

Terminei meu copo d’água e voltei para a sala, essa casa fica enorme quando a Patrícia não dorme aqui, ela me faz falta.

— Trouxe algum presente para a sua mãe dessa vez?

Dona Paula, só porque ela é minha mãe, acha que eu devo algo a ela. Quarente anos, olhos castanhos, loira, cabelos lisos por causa de permanentes. Uma vez ela quase ficou careca de tanto passar química no cabelo. Eu tenho sorte de te puxado ao meu pai, não preciso de tanta química. Ela vive do dinheiro do meu pai e sempre quer mais.

— Eu tive um dia tão divertido com a Patrícia e nem pensei em você, que coisa né?

— Você deveria ter mais consideração com aquela que te trouxe ao mundo.

— Consideração? Por você? Onde você estava enquanto eu era criada por babás?

— Eu era muito jovem quando tive você, eu precisava de ajuda.

— Até os meus dezoito anos?

— Está reclamando do que? Você estudou nas melhores escolas, fez faculdade em Londres, fala seis idiomas, tem tudo o que quer nas mãos e ainda um dia vai assumir a empresa no lugar do seu pai, você deveria me agradecer pelo que eu fiz por você. — Dei uma risada sarcástica.

— O que você fez por mim, me fala? O que eu saiba, você nem me amamentou.

— Se não fosse por mim, quem assumiria a empresa, seria a idiota da sua irmã.

— Não fale assim da Patrícia, ela é muito mais minha família, do que você e o meu pai junto. E se um dia eu for assumir a empresa, é porque eu nasci primeiro, só isso.

— Você só nasceu primeiro, porque eu induzi o parto.

— O que? — perguntei surpresa ao ouvir isso, por essa eu não esperava.

— A mãe da Patrícia entrou em trabalho de parto de madrugada, mas só foi ter a Patrícia no final da tarde. Eu fiquei sabendo que ela estava no hospital, então eu fui para lá, na intenção de te ter primeiro, porque só o primogênito poderia assumir a empresa. — Ouvi tudo espantada, não acreditando em suas palavras. — Os médicos não queriam fazer o meu parto, pelo fato, que ainda faltava uma semana para a data prevista para o nascimento. Então, entrei na enfermaria e tomei alguns comprimidos que me fez te ter mais cedo. 

Fiquei espantada, que tipo de mulher põe em risco a vida da filha por ambição? Eu tenho os meus planos e quero mostrar para meu pai que sou útil. Mas nunca faria algo do tipo só para ter dinheiro, ou poder, ou algo que prejudicasse alguém, ou um filho. Essa mulher é muito fria.

— A senhora é louca só pode. 

Sabia que minha mãe tinha roubado o namorado da Alessandra, mas isso?! É demais para mim.

— Não, eu não sou louca, mas não me arrependo de nada do que eu fiz para chegar onde cheguei.

— Você alguma vez pensou em mim? Que essa sua atitude poderia me prejudicar?

— Não exagere! Você está aí, linda, forte e capaz de administrar aquela empresa melhor do que seu pai. — Continuei a olhando indignada.

Antes que eu tivesse tempo para responder, meu pai entrou em casa com a sua secretária e amante. Uma vez, eu os surpreendi transando na mesa do meu pai no escritório da empresa.

— Tenho trabalhos pendentes para fazer, vamos ficar no escritório, não nos incomode para nada. — Minha mãe fechou a cara imediatamente.

— Eu não acredito, Roberto, você trouxe essa vadia para trepar debaixo do nosso teto, com a desculpa de que é trabalho.

Faz tempo que eu não me intrometo nas brigas dos meus pais. Ele não esconde suas traições e nem minha mãe. Eles só não se separam, porque não são casados oficialmente e minha mãe se recusa sair da mansão.

— Não enche o saco, lembre-se que você mora aqui de favor. A única responsabilidade que eu tenho, é com nossa filha. — Que responsabilidade?

Ele nunca se preocupou em cuidar de mim de verdade, sempre achou que o seu dinheiro compraria tudo. Ele só se preocupou em cuidar das minhas babás, imagine o trauma que carrego em ver meu pai transando com as minhas babás na minha cama.

Pergunte-me por que ele só teve a Patrícia e eu, de filhas?! Um ano após do nosso nascimento, ele contraiu caxumba de uma de suas amantes e a caxumba desceu para o saco deixando-o estéreo, quase que ele perde as bolas, mas felizmente, ele se curou e agora come toda mulher que quer abrir as pernas para ele.

Eu não culpo as mulheres, meu pai é um homem lindo e atraente. Com seus quarenta e dois anos de idade, cabelos lisos e castanhos, olhos azuis, corpo definido por causa de academia. Gostava de se cuidar para chamar a atenção da mulherada, principalmente, para fechar negócios e abrir outros, se é que você me entende.

— Eu e a Sara precisamos planejar uma estratégia para descobrir quem está por traz dos desfalques da empresa e impedir que o Francisco desfaça a sociedade. São milhares de empregados que serão demitidos, se não tomarmos uma atitude.

Não fazia ideia que a empresa estava com problemas.

— Pai, se o senhor quiser, eu posso ajudar você.

— Acho que a ajuda da Alexia seria bem útil — disse Sara tocando o ombro do meu pai, deixando minha mãe mais irritada.

— Eu não tenho tempo para ficar ensinando.

— Não precisa me ensinar nada, a Sara vem me informado sobre algumas coisas que acontecem na empresa. — Meu pai olhou surpreso para Sara e ela engoliu seco.

— Quem te deu a permissão para vazar informações?

Eu tinha ameaçado Sara para me deixar informada sobre as transações do meu pai, depois que os peguei fazendo “transações” no escritório dele, mas ela não me informou sobre esse problema que a empresa está passando. Acho que vou ter que ter uma conversinha com ela e lembrá-la que sua reputação está em jogo.

— Pai, sou eu sua filha, não uma inimiga. Acho que já passou da hora de me colocar para trabalhar com você. 

Ele deu uma gargalhada muito alta e exagerada.

— O que você sabe fazer, a não ser compras e gastar o meu dinheiro?

— Por que eu fiz faculdade, se não é para trabalhar com o senhor?

— Para desencargo de consciência.

— Eu posso muito bem ajudar o senhor na empresa.

— Eu não preciso de sua ajuda. Vamos Sara, temos muito o que fazer.

— A minha mãe tem razão, acho que você não deve ter nenhum problema na empresa, você só a trouxe para cá para humilhar a mamãe, trepando com sua secretária. E a única desculpa para não me deixar trabalhar com você, é porque não quer parar de comer suas secretárias.

Meu pai já tinha dado alguns passos em direção ao escritório, ao ouvir-me desafiá-lo, virou-se para mim e me esbofeteou na cara. Eu olhei para ele com ódio nos olhos.

— Você não sabe do que você está falando, amanhã eu vou precisar viajar, a Sara está aqui para me ajudar em algumas coisas pendentes, o Robson vem daqui a pouco para nos ajudar e o Antony vai assumir a empresa até eu voltar. Agora não me venha com suas frescuras, porque não estou com paciência para aturá-las. A única coisa que você e sua mãe me serve para mim, é para pousar diante da mídia, para mostrar-me como um homem responsável, pai de família e nada mais. — Ele falou de uma forma fria, o que me doeu muito.

— Você também tem outra filha, sabia? — falei entre lágrimas.

Como ele quer se mostrar um homem responsável, tendo duas famílias?

— Que também não me serve para nada, se uma de vocês fosse homem, aí sim, serviria de alguma coisa.

— Eu ainda vou te provar que está errado, eu posso ser melhor do que você pensa. — Ele riu debochando da minha cara.

— Tá, acredito!      

Ele saiu de perto de mim, puxando sua secretária e amante para dentro do escritório. Não demorou muito e ouve-se gemidos.

— Você não vai fazer nada? — minha mãe falou indignada.

— Ele não perde por esperar, vou mostrar para ele do que sou capaz.

— Eu estou falando de agora, você não vai fazer nada agora? Ele está lá dentro, trepando com aquela vadia.

— O que você quer que eu faça? Quem deveria fazer é você, quem sabe eles topam um ménage.

Meu interesse não está nas vadias que meu pai come, meu interesse é provar para ele que eu posso administrar aquela empresa melhor do que ele. Tenho planos, preciso da minha independência, tenho uma promessa a cumprir e preciso que meu pai me aceite a trabalhar com ele. Por isso, enquanto ele estiver viajando, eu vou assumir a empresa no seu lugar, aí ele vai ver o meu potencial e vai ter que me colocar para trabalhar com ele. Não estudei cinco anos em Londres, num curso que odiava, me tornando a melhor da turma, para ouvir ele me dizer que só sirvo para ficar fazendo compras. Ele vai ter que me aceitar a trabalhar com ele, sim. Nem quem seja a última coisa que eu faça.

— Ok, se você não vai fazer nada, eu vou fazer. 

Minha mãe pegou sua bolsa e saiu da mansão, eu poderia ficar curiosa para saber o que ela vai fazer, mas imaginei que ela iria se encontrar com um de seus amantes, para dar o troco no meu pai. Afinal, chifre trocado não dói.

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