Três

— Mas que mer... — Margot gaguejou, assustada por ter uma arma apontada para sua cabeça.

— Eu sabia que ela ia mandar alguém atrás de mim! — Ele disse com um meio sorriso triste. — Foi a Joyce que te mandou, não foi? — Ele perguntou, e Margot apenas assentiu. — Sabia! Aquela mulher é uma falsa! Joyce que faz a merda e, com medo das provas que tenho contra ela, manda que alguém faça o trabalho sujo!

— Do que você está falando?

— Não vai me dizer que ela não te contou? — Ele indagou com sarcasmo. — Pensei que isso era necessário para seu trabalho.

— Eu não costumo saber sobre o porquê das pessoas me procurarem. — Ela respondeu, levantando o queixo. Ela era uma assassina de aluguel, mas não aceitava que ninguém a maltratasse pelo que fazia.

— Então, querida Margot, você deveria saber que foi enganada e que está prestes a matar um inocente.

— Como posso saber se está falando a verdade? — Margot perguntou com a arma firme em suas mãos. Ele podia muito bem a estar enganando para fugir de seu fim.

— De duas maneiras... assim... — Andrew começou a falar de maneira calma e colocou sua arma aos pés da jovem. Retirou o celular do bolso. — E te mostrando os arquivos que tenho em meu celular e que provam que Joyce não é nenhuma santa. — Completou e esperou por uma reação de Margot.

Ela ponderou por alguns segundos.

Ela matava pessoas para viver, mas não tinha um coração ruim, apenas falta de sorte. Se aquele cara estivesse falando a verdade, ela não queria ser responsável pela morte de um inocente.

Foi por isso que, pegando a arma dele do chão e guardando a sua, ela disse:

— Me mostre esses arquivos.

Andrew teve que se segurar para não suspirar alto demais. Ele mal podia acreditar que ela estava lhe dando uma chance. Mesmo sabendo que talvez ela o matasse mesmo assim...

Bom, não seria tão ruim assim, afinal ao menos a sua carrasca era extremamente bela. Ele começou a passar pelos arquivos que mostravam todas as conversas entre ele e Joyce Carter.

Quando a esposa de seu melhor amigo, o magnata do petróleo Matthew Carter, tentava a todo custo o chantagear para que Andrew não contasse a ele sobre o gigantesco roubo que ela havia feito nos cofres da empresa.

Além disso, ele possuía cópias de documentos que provavam que ela estava deixando o marido na ruína.

— Mas porque ela está fazendo isso?

— Pelo que pesquisei, a família de Matthew esteve envolvida em um acidente que tirou a vida do pai de Joyce, e ela quer vingança.

— Meio que a entendo... — Margot começou a falar, mas foi interrompida por barulhos de tiro. — Que merda é essa? — Exclamou em meio ao susto enquanto Andrew a puxava para o chão.

— Ela mandou mais alguém! — Andrew disse, olhando para o carro que vinha do fim da rua em direção a eles. Um dos passageiros atirava na direção dos dois.

Margot pegou a chave do carro no pequeno bolso interno em seu terno e o destravou.

— Entra logo. — Ela gritou para Andrew, que abriu a porta de trás e entrou.

Margot abriu a do motorista e entrou também. Seu carro era à prova de balas, afinal era uma coisa fundamental em seu trabalho.

Enquanto o carro se aproximava mais e mais, Margot preparou sua Glock 17, apenas para o caso de necessidade, e arrancou com o carro, porém os atiradores do outro carro não desistiam e logo ficaram na cola dos dois.

— Você tem um arsenal no seu carro. — Andrew afirmou com surpresa, fazendo Margot dar uma risadinha.

— Eu sei. — Ela disse, o olhando pelo retrovisor enquanto fazia uma curva fechada e entrava em uma espécie de viela, observando o carro que os seguia passar direto. — Você está bem? — Perguntou com preocupação, se virando para trás e observando o belo homem, que parecia estar assustado demais com tudo o que acontecia.

— Sim, eu já imaginava que isso fosse acontecer. Por isso comprei a minha arma. — Ele respondeu, dando um sorriso mínimo.

Eles ficaram naquela viela por mais alguns minutos, até que Margot teve certeza de que não estavam em uma emboscada. Quando ela voltou a dirigir pela cidade, ainda sem rumo, seus pensamentos ficaram barulhentos. Seu chefe, Stan, iria acabar com sua raça por não ter matado aquele cara ainda. Ou pior: mataria outra pessoa para puni-la.

— No que está pensando? — Andrew perguntou enquanto se sentava ao lado da jovem, lhe dando um belo susto. — Está ponderando se me mata ou não, não é?

— Exatamente. — Margot resmungou sem nenhum traço de humor na voz enquanto passavam em frente a um prédio muito parecido com o que ela morava.

— Posso te fazer uma pergunta? — Andrew voltou a falar, e ela apenas assentiu. — Por que disse que “meio que a entende”?

— Porque eu também estou fazendo coisas ruins pela minha família. — Ela respondeu, observando-o pelo canto de olho rapidamente, mas a tempo de ver a surpresa em seu rosto. — Que foi? Pensou que eu fazia isso porque gostava? — Perguntou com sarcasmo, e ele tentou se explicar, mas, rindo, ela o cortou. — Está tudo bem, todo mundo pensa o mesmo.

— Então... O que houve para que você entrasse nesse meio?

— Meu pai, ele está muito doente. — Começou a explicar sem tirar os olhos da estrada. — E como estava desempregada, precisei pegar um dinheiro emprestado com um agiota...

— Com um agiota? Margot, você não sabia...?

— Que era perigoso? — Ela o interrompeu enquanto estacionava o carro em um bar bem afastado do centro da cidade. — Claro que sim, mas eu precisava. Já ouviu a expressão “tempos desesperados pedem medidas desesperadas”? Pois então, eu precisava fazer o que fosse necessário para salvar o meu pai.

— E como foi que você acabou como assassina de aluguel?

— Bom, como esse agiota sabia que eu tenho muito conhecimento e habilidade com armas, já que meu pai me ensinou como caçar e como usar armas desde que me lembro. Ele resolveu fazer uma troca: pagaria todas as contas hospitalares e de remédios do meu pai, e eu deveria trabalhar como assassina de aluguel para ele durante um ano. Eu não tenho orgulho algum do trabalho que eu faço, mas é ele que mantém meu pai vivo. — Respondeu, encarando-o e dando de ombros.

— Eu sinto muito. — Andrew disse, passando um dos dedos na bochecha da jovem e a fazendo sorrir.

— Não sinta, eu já estou no último mês do meu contrato, meu pai está quase melhor e logo voltarei a ter uma vida normal... — Ela foi interrompida pelo toque do celular de Andrew.

— Alô?

Coloque no viva-voz, Andrew, quero que sua nova amiga escute também. — Joyce disse do outro lado da linha, usando toda a frieza de que era capaz de imprimir em sua voz.

Andrew olhou para Margot de maneira assustada e fez o que a mulher pedira.

— Pode falar.

— Quem é? — Margot perguntou com preocupação.

Margot, Margot... você não deveria ter me contrariado. — Joyce falou com sarcasmo. — Deveria o ter matado no instante em que o viu, mas como não o fez, você terá de sofrer as consequências disso.

— Deixe-a em paz, Joyce, é a mim que você quer. — Andrew quase gritou para o pequeno aparelho em sua mão.

Os dois tomaram um susto quando a mulher riu.

Tolinho, você acha mesmo que eu vou deixar vocês dois em paz? Correndo o risco de você contar tudo para Matthew? — Ela zombou em meio as risadas. — Não, não. Já mandei dois amiguinhos meus atrás de vocês. — Continuou a falar, e como que para dar ênfase em suas palavras, o carro que os seguira há pouco tempo começava a vir em direção aos dois.

— Merda, merda, merda... — Margot sussurrou enquanto arrancava com o carro.

Espero que o inferno seja divertido, queridos.

— E agora, Margot? — Andrew perguntou em meio ao desespero, olhando para trás e vendo o carro cinza se aproximar mais e mais a cada segundo.

— Agora... — Margot começou a falar enquanto rodava o carro na pista e depois o parava assim que ficou frente a frente com o de seus inimigos. Pegou sua arma e entregou a de Andrew para ele. — Nós atacamos. — Continuou enquanto se sentava no colo de Andrew e lhe dava um beijo rápido. Abriu a janela e, colocando metade do corpo para fora, completou — Se eles se aproximarem demais, você vai para o banco do motorista e nos tira daqui. Entendeu?

— Sim.

— Então que comece a festa. — Ela sorria enquanto destravava sua arma, vendo o carro parar a poucos metros de onde o dela estava.

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