O preço do amor
O preço do amor
Por: Melissa Guedes
Capítulo 1

“Finalmente, Pallot Arts Gallery!” Eliza exclamou eufórica para si mesma, a medida que seus olhos maravilhados contemplavam o requinte daquele edifício, sem ainda acreditar na sorte que tivera de conseguir estágio naquele lugar.

A arte desde sempre fora uma paixão para Eliza e foi na adolescência que ela começou a fazer seus primeiros esboços, pois era através do desenho que ela expressava todas as suas emoções. Sonhos, frustrações e decepções ganhavam cores e tornavam-se pinturas em suas telas, na qual representava a imagem de um mundo perfeito e idealizado. Eliza não era apenas uma jovem pessimista, mas também uma garota sonhadora, que a certa altura de sua vida refugiou-se entre tintas e pincéis para fugir dos seus problemas e esquecer quem era e, como consequência disso, aos vinte e dois anos ela ainda procurava um significado real para sua existência um tanto vazia.

Deixando de lado suas turbulências interiores, ela olhou mais uma vez fascinada para a galeria, que em sua visão sonhadora parecia uma verdadeira obra de arte que contemplaria perfeitamente as esculturas de Donatello.

Como o momento presente exigia dela foco e determinação, ela deixou momentaneamente seu encantamento de lado e entrou confiante na galeria e dirigiu-se a seguir a recepcionista.

— Buongiorno, signorina. — Eliza a cumprimentou educadamente.

A secretária de Giulietta retribuiu a saudação polidamente, deixando evidenciar claramente que estava entediada. Mas, como o ofício lhe exigia polidez, ela perguntou-lhe mais amável. 

— Em que posso ajudá-la?

— Me chamo Eliza Villar. Tenho uma entrevista com signora Pallot...

— A estagiária. 

A secretária a interrompeu abruptamente e assumindo sua postura inicial, pediu indiferente. — Sente-se e espere. A signora Pallot está em reunião.

Diante daquela nada convencional recepção, Eliza agradeceu a acolhida por mera educação, enquanto por dentro uma vozinha interior esbravejava afrontada: 'que mulher rude! Espero que o restante dos empregados não seja um reflexo dessa secretária mal-educada.'

Mas, como ela não estava ali para criar caso, ela sentou-se obediente em uma confortável poltrona e esperou pacientemente por horas; aproveitando vez ou outra àquela excessiva demora para olhar discretamente para o ambiente ao seu redor, que, aliás, exalava riqueza e elegância por todos os lados, indicando-lhe que aquele era o verdadeiro mundo dos bem-nascidos. O mundo ao qual ela não pertencia.

Olhar ao seu redor e não se perceber parte daquele lugar, deu-lhe certa nostalgia e a fez mergulhar dentro de si mesma.

Eliza Villar era filha única, fato que a fazia se sentir solitária, e às vezes ela chegava a cogitar em como seria bom ter irmãos — alguém com quem pudesse conversar, dividir problemas ou até mesmo brigar vez ou outra.

Pensar na possibilidade de como teria sido sua vida se tivesse irmãos a fez suspirar desanimada, pois aquela era uma possibilidade remota. Algo irreal e fora de cogitação, de maneira que ela teria que se contentar em ser filha única, pois, apesar de Fernanda Villar — mãe de Eliza — ter ficado viúva muito cedo, ela não se casou mais, e desde então, se dedicava exclusivamente a sua filha e isso, de certa forma a incomodava, pois mesmo sem querer, sua mãe acabava sufocando-a.

Não ter tido uma infância feliz e abastada sempre pesou negativamente na vida dela e a fazia sentir-se inferior — talvez pelo fato de desde pequena ter que aprender a conviver com o mínimo —, já que o que sua mãe ganhava não era o suficiente para suprir algumas de suas necessidades básicas, de maneira que a educação seria sua porta de entrada para um futuro melhor.

— Signorina Villar. Siga-me por favor.

A voz longínqua da secretaria a trouxe de volta a realidade e segundos depois Eliza foi conduzida para uma sala ampla e requintada. Os móveis eram revestidos de couro legítimo; telas colecionáveis de artistas renomados e objetos de arte de grande estética adornavam o local; tudo perfeitamente distribuído em uma enorme sala.

Detalhes como aquele deixavam o ambiente sofisticado e aconchegante e ouriçou novamente o deslumbramento dela, o que de certo modo não a fez perceber de imediato uma mulher ruiva e elegantemente vestida sentada em um canto a parte do escritório, aparentando ter cerca de quarenta anos — bonita e sofisticada — de estatura alta, cabelos medianos, olhos expressivamente verdes com algumas pequenas sardas emoldurando seu rosto pálido. Sem dúvida aquela elegante mulher tratava-se de Giulietta Pallot, sua futura chefe.

— Sente-se, signorina Villar. — Giulietta pediu-lhe, indicando-lhe a cadeira à sua frente, demonstrando está ligeiramente curiosa em relação a ela. — Fiquei muito impressionada com o seu currículo, mas confesso que não esperava encontrar uma garota tão jovem.

Frente àquela observação o ar pareceu falar-lhe e ela a encarou frustrada. Era verdade que ela era muito jovem, mas Eliza não via nenhum obstáculo em sua idade que diminuísse suas qualificações e atribuições. Ela tinha plena consciência de seu potencial como conhecedora de arte e estava mais do que capacitada para estagiar lá, a menos, é claro, que fosse norma da galeria não contratar jovens.

Como se àquela fosse uma verdade absoluta, ela perguntou-lhe desanimada. — A Signora não admite pessoas jovens?

— Perdoe-me querida. Não foi isso que eu quis insinuar. — Giulietta a corrigiu amigavelmente aliviando assim a fina camada de tensão no rosto de Eliza. — Pelo contrário; será bom ter um rosto jovem desfilando pela galeria. Infelizmente, já não me encaixo mais nos moldes dos meus vinte anos.

Ouvir aquilo deu-lhe um novo ânimo e ela sorriu aliviada, pois tinha batalhado muito para conseguir aquele estágio e não seria justo perdê-lo por conta de sua pouca idade.

Como observou Giulietta, Eliza era uma brasileira muito atraente e era dona de uma beleza exótica: tinha cabelos castanhos médio com nuances de vermelho, olhos cor de mel, pele clara e levemente bronzeada e pernas definidas. De longe, um bom físico.

— Posso chamá-la de Eliza?

— Sim, signora Pallot. — Ela respondeu feliz por ter sido aceita no estágio.

Como se a urgência de a situar quanto a admissão dela se fizesse necessária, sua contratante evidenciou.

— Minha querida, você foi altamente recomendado pelo Professor Salvattori e será a primeira estrangeira a ser contratada por esta empresa, por tanto espero que você não me decepcione.

— Agradeço-lhe pela oportunidade e pode ter certeza de que não a decepcionarei.

— Sinceramente, espero que não. — Reforçou com a nítida sensação de que iria arrepender-se mais cedo do que imaginava.

Depois de acertados todos os detalhes de sua contratação, Giulietta ligou para a recepção e em questão de minutos a secretária se encontrava em seu escritório. Após receber as instruções necessárias, Eliza foi encaminhada para o salão de exposições que era a parte mais aguardada por ela, dada a diversidade de obras de artes distribuídas no hall do imenso salão.

Quando a secretária a deixou ela arregaçou as mangas e se entregou à tarefa que deveria desempenhar — embora fosse etiquetar telas, esse trabalho era digno e a deixava orgulhosa, e aquela atividade prazerosa a manteve ocupada a manhã toda e, quando ela percebeu, já se passava das treze. 

A barriga roncando era um convite sútil para o almoço e depois de ela guardar o resto do material que estava manuseando, pegou sua bolsa e se dirigiu a um pequeno restaurante nas proximidades da galeria. O almoço foi simples e não durou mais de meia hora, e assim que o terminou retornou imediatamente para o seu estágio. Ao aproximar-se da galeria viu que tinha uma Mercedes prateada estacionada em frente à porta principal da mesma, e pela opulência do veículo ela julgou tratar-se de um cliente muito rico.

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