E, ao contrário do que ela esperava, ele teve tempo para esticar a mão e impedir que as portas de aço se fechassem. Então o nervosismo a abraçou novamente.
A primeira coisa a ser sentida por ela foi o perfume do homem. Era como se seu olfato fosse desenvolvido apenas para aquele aroma. Forte, másculo e viciante. Não era só o perfume; aquela sensualidade não poderia ser encontrada em um frasco de vidro. Grande parte da atração que aquele cheiro espalhava era a persona do homem, em si.
Ela não via seu rosto coberto pela máscara cinza, mas o sentia na pele como se emanasse fogo. O homem era alto e forte, cada parte de seu corpo preenchia o smoking negro de maneira estratégica.
A máscara acima dos lábios desenhados, do nariz perfeitamente alinhado e da mandíbula marcada levava mistério ao homem, como um cavaleiro negro.
E sob aquela névoa estavam olhos azuis esverdeados. A ruiva sabia que precisaria de muito tempo olhando para eles até decidir se eram verdes ou azuis, mas também sabia que não conseguiria. Ele era sombrio demais para isso. Era intimidador. Aquele homem seria capaz de cativar uma multidão de pessoas, se quisesse, mas também poderia assustar a estes apenas com um olhar.
Sua mão foi até o painel e teclou o botão de maneira casual, mas não parecia tão simples vindo de uma figura como aquela. Sua mão expunha algumas veias saltando sob a pele, algo que o tornava másculo em um alto nível. Também havia um anel em seu dedo anelar, mas a mulher não teve tempo para o analisar. Cada movimento gritava controle meticuloso, centrado suficiente para decidir e comandar, diferente de qualquer outro que Blair havia visto.
Não era apenas uma tentação, era um convite.
Por um instante, ele olhou para a ruiva. Não que a tivesse ignorado antes, mas sabia fingir que sim. O homem sabia quando estava no controle de uma situação e, sem dúvidas, ele estava. O que emanava dele era inalcançável e inacessível. Parecia longe, mesmo estando ao lado de Blair.
A mulher ergueu os olhos para o homem alto ao seu lado, percebendo que seu olhar era ainda mais perigoso do que seu perfume. Ela sentia como se ele a atravessa-se, invadisse e explorasse sem permissão alguma. Blair aqueceu sob o azul daqueles olhos malignos, capazes de arrastar ao inferno ou voar até o céu.
Ela não pensou uma segunda vez antes de avançar sobre ele. O homem ao seu lado significava perigo e, ao mesmo tempo, era um ímã impossível de romper. Ele chamara com um olhar, e ela aceitou.
Ela se aproximou e grudou o vestido vermelho ao smoking. O homem não ficou surpreso, e não recuaria. Os lábios rosados dela, cobertos por uma camada brilhante de gloss, também o cativaram no primeiro segundo.
Ele agarrou sua cintura fina e aproximou aquele corpo macio ao seu, pronto para fazer jus à cidade do pecado. As mãos dele causaram um formigamento na pele dela, mesmo sob o vestido. Ele sabia o que estava fazendo, como estava fazendo, toda a excitação que fazia crescer apenas com um toque.
A mão que antes agarrava a cintura da mulher subiu lentamente, de forma planejada para aumentar o desejo. Ele deslizou a ponta dos dedos sobre o decote do vestido, tocando a pele levemente, provocando ardência. E quando alcançou sua garganta, o homem apertou os dedos ao redor do local, fazendo Blair pender a cabeça para trás.
Nenhum dos dois parecia preocupado com as variáveis, só o desejo se desenrolando entre eles era importante. A necessidade de algo carnal era palpável e, para além disso, a fusão entre eles seria esclarecedora. Ela queria saber como ele podia exalar tanto poder, e ele queria descobrir como ela conseguira ser tão angelical e sedutora ao mesmo tempo.
A forma como o maxilar marcado do homem enrijeceu fez Blair fraquejar e engolir com dificuldade, completamente afetada. O que quer que acontecesse entre eles seria como atear fogo em seus corpos.
Os lábios rosados dela se abriram para acomodar a respiração exigente que se perdera em sua garganta. Até respirar havia se tornado difícil no momento que as portas se fecharam e aqueles olhos se voltaram para ela. Contudo, a submissão que aquelas mãos a faziam sentir era o principal motivo de sua falta de fôlego.
Blair já estava nervosa ao lado dele antes, mas, junto ao seu corpo, ela sentia-se derreter. Não parecia real a ideia de que um homem de preto, tão bonito quanto um deus, tivesse lhe ganhado sem esforço algum, conquistando seu corpo como se o possuísse desde sempre.
Ele apertou os dedos em sua pele, tanto em sua garganta quanto na cintura, e um suspiro próximo à um gemido foi sua resposta. Blair estava entregue, desejando com todas suas forças que aquele aperto jamais chegasse ao fim.
O homem a empurrou para trás até que a tivesse como uma vítima, presa entre a parede do elevador e o corpo forte. E quando ele aproximou-se, prensando o corpo rígido contra o macio, Blair sentiu toda sua magnitude. Ela fechou os olhos, incapaz de suportar a intensidade do toque, do olhar, do aroma e da expectativa.
Aquele homem olhava para ela com desejo violento, deslizando os olhos por seu corpo como um caçador. Ele enfrentava uma dura batalha contra seu impulso, tentado a avançar sobre ela, contido pela ética e bom senso. Sua respiração pesada batia contra a pele feminina, causando sensações que a ruiva não seria capaz de descrever.
Ele aproximou os lábios do rosto dela, ainda segurando sua cintura e apertando sua garganta, e precisou de todas suas forças para não perder a postura e o controle sobre si mesmo, apenas pelo prazer de ter controle sobre ela.
Entretanto, todo o clima gritando sexo ao redor de ambos foi quebrado quando as portas se abriram no salão principal. O homem soltou a ruiva com economia de esforço e se retirou. Sequer olhou para os lados quando abandonou o elevador, muito menos para trás.
Blair precisou se recostar na parede para recobrar a sanidade, sentindo falta do toque que havia perdido como o pulmão sente falta do oxigênio. Ela ainda podia sentir os dedos daquele anjo caído em sua pele, e isso a assustou. A mulher viu-se inclinando para frente somente para sentir um pouco mais do perfume que ele deixou. O perfume que ainda estava em sua pele.
A última coisa de que precisava era de um homem como aquele, capaz de desarmar suas defesas e deixar suas pernas fracas. Aquilo seria perigoso demais, intenso demais, e ela sabia.
Era um sábado chuvoso em toda Las Vegas e, no banco traseiro do carro, Blair analisava a paisagem que se desenrolava através da janela. Seus pensamentos estavam dispersos, percorrendo um passado não muito recente.- "A noite foi uma loucura" Drake comentou.Ele estava usando óculos escuros para esconder as olheiras após passar grande parte da noite bebendo com sua amiga. Depois do evento, eles voltaram para o apartamento onde moravam e abriram algumas garrafas de um bom vinho.- "Com certeza" Blair concordou, imediatamente se lembrando do encontro com certo cavaleiro no elevador.Ela ainda não era capaz de acreditar que aquele homem havia lhe seduzido a ponto de avançar sobre ele. O que a confortava era a ideia de que não ver-se-iam novamente, pois a maioria das pessoas presentes no evento da noite anterior moravam em Los Angeles, não em Vegas.- "Nunca mais vou beber" Drake se aconchegou no banco traseiro do Bentley ao murmurar, feliz pelos mimos que o pai de Blair lhes oferecia. Na
Naquele momento, o mundo de Blair deixou de girar e saiu de órbita. Dentre todas as pessoas na festa, todos os homens, todos os rostos, ela havia encontrado Ethan Banks, o nome na lista negra de Spencer. Ela não sabia como reagir, e pareceu esquecer-se de respirar também. Não se tratava apenas de um possível criminoso sendo investigado, mas sim do homem mais atraente que seus olhos tiveram o prazer de ver.- "Bem, eu poderia começar pegando leve. Mas você conhece essas garotas, elas querem saber se você está disponível" o apresentador brincou, e a sombra de um sorriso pouco sincero cruzou o rosto de Ethan.- "Isso pode ser discutido" foi sua resposta.A voz do homem foi como um sopro de vida em Blair, mesmo não pessoalmente. Grave e rouca, aquela era a definição do som que mais parecia sair de um trovão do que de cordas vocais. E, mais uma vez, a plateia explodiu em gritos.- "Felizes, meninas?" Jimmy estendeu os braços como se tivesse acabado de entregar uma conquista para as moças.
- "Não acredito que vamos para o tapete vermelho novamente" Drake murmurou em um gritinho, mal escondendo a alegria que sentia naquele dia.Após receberem uma cesta de café da manhã enviada por Jean, ambos haviam feito uma confortável viagem até Los Angeles. O ponto crucial fora o jatinho fretado pelo Sr. Collins para que a filha dispusesse de todo conforto possível. A intenção era envolver Blair até que seus pensamentos pudessem girar em torno do homem que o pai era, e não do homem que foi.- "Você combina com essa vida" Blair respondeu enquanto deslizava os dedos pelo cetim do vestido que usaria na noite.Era uma peça imponente, em um tom de vermelho muito próximo dos fios acobreados em seu cabelo. Diferente do anterior, o vestido não era ousado. De mangas longas, comprimento recatado e frente fechada, o modelo Dolce&Gabbana parecia perfeito para a ocasião. Seu único detalhe relevante, para além da costura bordada, era a longa abertura nas costas.- "Concordo"Drake apreciou a vista
Sede dos filmes mais aclamados pelo mundo cinematográfico, a cidade dos anjos era mais um ambiente de fingimento e atuação do que de prazer. Os locais, por mais luxuosos e elegantes, não exalavam dinheiro como Vegas. E nem deveriam. Para Los Angeles, o legado de Hollywood era suficiente.Os eventos eram, também, um momento adequado para reafirmar laços de influência e mostrar ao mundo que, para além do dinheiro, os convidados tinham contatos. Era um acordo confidencial entre as estrelas americanas; estar no topo e ajudar quem estava no topo a permanecer.No banco de trás da limusine, Jean, Drake e Blair esperavam do lado de fora do Roosevelt. Um dos hotéis mais famosos entre as estrelas do tapete vermelho. A princípio, seria apenas um jantar entre o elenco que compunha o filme, mas acabara se tornando motivo para uma pequena aglomeração de fotógrafos.- "Você está bem famoso" Drake sorriu para Jean.- "Parece que sim" o homem mais velho olhou para fora, vendo todas aquelas pessoas ido
A máscara lhe dava a aparência sombria que exalava, porém apenas o terno preto era capaz de fazer a mesma coisa. O olhar da mulher desceu para as mãos do homem, torcendo para não parecer sentir falta do aperto ao redor de sua garganta. Mas ele percebeu, sempre percebia.E quando seus olhares se encontraram, de um tom de azul para o outro, foi como uma implosão. A mulher se perguntou como vivera vinte e três anos sem experimentar aquela sensação. Ela se sentia amarrada sem cordas, silenciada com palavras nos lábios, ressuscitada pela morte. Era como se o que houvesse de obscuro nele desse luz à ela.Custou muito esforço para Blair conseguir esconder as raízes do medo se infiltrando em seu corpo. Se aquele homem realmente fossem quem Spencer dizia, ela não devia se aproximar daquela forma, naquela intensidade.Para Ethan, o encontro de olhares valera mais do que qualquer encontro de corpos. Era como se ele fosse um livro aberto àqueles olhos, sendo lido parte por parte. O homem se aprox
Quando Ethan pegou o microfone, os ruídos ao redor do salão cessaram. As pessoas queriam o ouvir e esforçavam-se para tal. Sua voz trovoou, fazendo Blair prender a respiração e lembrar-se de momentos antes, quando aquele tom era usado para dizer que ele a queria. Ele começou a discursar com facilidade, como se tivesse passado a vida toda fazendo aquilo.As palavras do homem sobre o palco acabaram em poucos minutos. Ele não precisava ser prolixo para expressar tudo que desejava. A economia de gestos e ações era parte da névoa misteriosa que o envolvia. E quando a música clássica recomeçou, o prato principal foi servido pelos garçons ao longo do salão. Nada menos que exímio.- "Vamos falar com alguns conhecidos. Você nos acompanharia, Jean? Essas pessoas são fãs do seu trabalho" a mulher, Sra. Clark, convidou.- "Claro, seria um prazer" Jean se levantou e olhou para a filha. Buscou algum indício de que ela o queria ali, mas não encontrou.- "Blair, Drake" e com um aceno de cabeça, ele s
Blair acordara na manhã seguinte pensando em como amava o lugar, mas odiava a forma como tudo e todos acordavam tão cedo. Ela se preparava para voltar a Las Vegas quando a porta do seu quarto foi aberta. Apenas Drake tinha o cartão de acesso para destravar a porta, então ela não deu-se ao trabalho de olhar para ver quem entrara.- "Eu estou destruído" o homem se jogou sobre a cama desalinhada e soltou um suspiro de alívio.Blair estava no banheiro, arrumando seus pertences antes da viagem de volta. Ela apareceu na porta e olhou para seu amigo amarrotado, cheirando à bebida e mulher cara.- "Noite agitada?" ela perguntou enquanto escovava as longas madeixas de seu cabelo.- "Não me lembro da metade" Drake confessou.Após a conversa mais do que íntima com Ethan, Blair foi incapaz de continuar naquele ambiente. Ela sentia que perderia as faculdades mentais a qualquer minuto. Com uma desculpa qualquer, ela se retirou para seus aposentos e derivou em um merecido sono. O que ela não esperav
Os dias arrastaram-se com lentidão pelo restante da semana. Blair havia iniciado o novo emprego, no qual trabalhava apenas para manter aparências enquanto sua real função era ser olhos e ouvidos de Spencer. Nenhum de seus colegas de trabalho sabiam, ou suspeitavam, e isso a fazia pensar ainda mais em como se parecia com uma espiã.Blair fechou os últimos botões do casaco que usava. Ela estava em frente ao prédio onde trabalhava, dentro de um táxi. A movimentada Strip acordara cedo na manhã de sexta-feira, estava movimentada e pronta para o dia que se iniciava. A cidade sempre alegre não perdia seu brilho. Alguns cassinos luxuosos já abriam suas portas para os bilhões, outros ainda não haviam dormido.Ela estava feliz em seu novo emprego, pois era diferente de todos os anteriores. Era fácil para Blair conseguir empregos em locais de muita movimentação. A contratavam apenas pela aparência, porque sabiam que aquela ruiva seria um ímã de freguesia. Mas não demorava muito para os assédios