A máscara lhe dava a aparência sombria que exalava, porém apenas o terno preto era capaz de fazer a mesma coisa. O olhar da mulher desceu para as mãos do homem, torcendo para não parecer sentir falta do aperto ao redor de sua garganta. Mas ele percebeu, sempre percebia.E quando seus olhares se encontraram, de um tom de azul para o outro, foi como uma implosão. A mulher se perguntou como vivera vinte e três anos sem experimentar aquela sensação. Ela se sentia amarrada sem cordas, silenciada com palavras nos lábios, ressuscitada pela morte. Era como se o que houvesse de obscuro nele desse luz à ela.Custou muito esforço para Blair conseguir esconder as raízes do medo se infiltrando em seu corpo. Se aquele homem realmente fossem quem Spencer dizia, ela não devia se aproximar daquela forma, naquela intensidade.Para Ethan, o encontro de olhares valera mais do que qualquer encontro de corpos. Era como se ele fosse um livro aberto àqueles olhos, sendo lido parte por parte. O homem se aprox
Quando Ethan pegou o microfone, os ruídos ao redor do salão cessaram. As pessoas queriam o ouvir e esforçavam-se para tal. Sua voz trovoou, fazendo Blair prender a respiração e lembrar-se de momentos antes, quando aquele tom era usado para dizer que ele a queria. Ele começou a discursar com facilidade, como se tivesse passado a vida toda fazendo aquilo.As palavras do homem sobre o palco acabaram em poucos minutos. Ele não precisava ser prolixo para expressar tudo que desejava. A economia de gestos e ações era parte da névoa misteriosa que o envolvia. E quando a música clássica recomeçou, o prato principal foi servido pelos garçons ao longo do salão. Nada menos que exímio.- "Vamos falar com alguns conhecidos. Você nos acompanharia, Jean? Essas pessoas são fãs do seu trabalho" a mulher, Sra. Clark, convidou.- "Claro, seria um prazer" Jean se levantou e olhou para a filha. Buscou algum indício de que ela o queria ali, mas não encontrou.- "Blair, Drake" e com um aceno de cabeça, ele s
Blair acordara na manhã seguinte pensando em como amava o lugar, mas odiava a forma como tudo e todos acordavam tão cedo. Ela se preparava para voltar a Las Vegas quando a porta do seu quarto foi aberta. Apenas Drake tinha o cartão de acesso para destravar a porta, então ela não deu-se ao trabalho de olhar para ver quem entrara.- "Eu estou destruído" o homem se jogou sobre a cama desalinhada e soltou um suspiro de alívio.Blair estava no banheiro, arrumando seus pertences antes da viagem de volta. Ela apareceu na porta e olhou para seu amigo amarrotado, cheirando à bebida e mulher cara.- "Noite agitada?" ela perguntou enquanto escovava as longas madeixas de seu cabelo.- "Não me lembro da metade" Drake confessou.Após a conversa mais do que íntima com Ethan, Blair foi incapaz de continuar naquele ambiente. Ela sentia que perderia as faculdades mentais a qualquer minuto. Com uma desculpa qualquer, ela se retirou para seus aposentos e derivou em um merecido sono. O que ela não esperav
Os dias arrastaram-se com lentidão pelo restante da semana. Blair havia iniciado o novo emprego, no qual trabalhava apenas para manter aparências enquanto sua real função era ser olhos e ouvidos de Spencer. Nenhum de seus colegas de trabalho sabiam, ou suspeitavam, e isso a fazia pensar ainda mais em como se parecia com uma espiã.Blair fechou os últimos botões do casaco que usava. Ela estava em frente ao prédio onde trabalhava, dentro de um táxi. A movimentada Strip acordara cedo na manhã de sexta-feira, estava movimentada e pronta para o dia que se iniciava. A cidade sempre alegre não perdia seu brilho. Alguns cassinos luxuosos já abriam suas portas para os bilhões, outros ainda não haviam dormido.Ela estava feliz em seu novo emprego, pois era diferente de todos os anteriores. Era fácil para Blair conseguir empregos em locais de muita movimentação. A contratavam apenas pela aparência, porque sabiam que aquela ruiva seria um ímã de freguesia. Mas não demorava muito para os assédios
- "Ela não é do tipo curiosa" Daliah garantiu.- "Ela me perguntou sobre meu pai" Blair caminhou até a cafeteira e retirou o último café que havia preparado, o colocando na bandeja.- "Esse assunto não conta"- "Eu sei que gera curiosidade, mas continua sendo minha vida pessoal" a ruiva analisou o que estava na bandeja; açúcar, cafés, colheres, creme e adoçante. Parecia bom o suficiente.- "Se acostume com a fama, gata" Daliah bebeu o último gole de sua água e saiu da cozinha, rumo ao caos de roupas e corpos estressados que lhe esperavam.Blair via-se incomodada. O mundo era grande e perigoso, mas, neste ponto, ela também era. Sabia lidar com pessoas, situações e momentos. Nunca se submetia ao superior. Porém, essa era sua vida antes dos holofotes acesos sobre sua pessoa. Depois de aceitar seu pai como provedor, ela havia visto o mundo com olhos diferentes. Não tratava-se apenas de sua luta diária para ser alguém decente. Era sobre provar ser alguém diferente do que haviam bordado.Bl
Drake havia feito uma viagem de três dias para Los Angeles no fim de semana. Iria fazer alguns testes, a convite de grandes nomes da indústria cinematográfica. Ele tinha a beleza e carisma, restava saber se tinha talento para atuar.Blair trabalhara até tarde na sexta-feira, pois a Fashion Week se aproximava e tudo precisava ser meticulosamente perfeito. Era a semana mais importante do ano para a indústria da moda, e Blair precisava se concentrar naquilo. Não que aquele caos de roupas, corpos e acessórios fizesse sentido para ela.No sábado, seu dia de folga, ela aproveitou para ir à academia do prédio. Suas curvas não se davam apenas pela genética. Blair evitava pensar em Ethan a todo custo, forçando seu corpo a malhar mais pesado toda vez que lembrava de sua voz. Por um momento, Blair chegou a pensar que a atração de Ethan Banks por ela havia sido fogo passageiro, queimando tudo e sumindo logo após.Quando o domingo chegou, ela se sentiu cansada suficiente para dormir até tarde. Os
Ao chegar em casa, trinta minutos mais tarde, Blair entrou pela sala do apartamento, já retirando seus saltos. Estava cansada, mas não fisicamente. A luz da cozinha estava acesa, e podia-se ouvir vozes vindas do local, então logo soube que seu amigo, Drake, havia chegado da breve viagem para Los Angeles.Blair arrastou-se até a cozinha, notando que as vozes eram masculinas. Uma delas foi reconhecida no mesmo instante; Jean Collins. Foi como um basta na eletricidade que seu corpo ainda sentia após o encontro inesperado com Banks. A mulher suspirou, pensando em milhares de motivos para aquela visita, ainda mais sendo tão tarde. Ela decidiu, por fim, apenas tentar afogar os pensamentos destrutivos que tinha quando seu pai estava por perto e entrou na cozinha.Na mesa redonda, Jean e Drake desfrutavam de petiscos e bebericavam vinho, como bons amigos. Blair sentiu seu estômago revirar-se.- "Oi, gata" Drake se levantou, caminhou até ela e lhe abraçou com força suficiente para roubar seu f
1 ano antes...As pessoas costumam procurar ajuda psicológica quando sentem que não podem lidar com as próprias mentes sozinhas. É deprimente, pois deveríamos ter outra saída. Conviver com uma mente conturbada não é interessante. E, no consultório, nos sentimos como ratinhos sendo examinados e testados; nos fazem perguntas óbvias. Chego a me perguntar o porquê de estar ali, em frente à uma mulher bonita, contando todos meus segredos imundos.Mas funciona com meu amigo, Drake, então talvez funcione comigo. Eu vejo a evolução dele, o quanto ele gosta das seções semanais de terapia, e penso que, em algum momento, vou evoluir também. Sim, como em um passe de mágica. Espero transcender, esquecer meu passado, resolver meus problemas friamente, lidar com minha cabeça conturbada e, de uma hora para a outra, ficar curada. É o que espero, mas sei que as coisas não funcionam assim, nem mesmo nos milagrosos consultórios médicos.Para Drake, a terapia é uma religião. Ele evolui tanto, e tão bem, q