Para Sempre no Passado E Para Sempre no Futuro
Para Sempre no Passado E Para Sempre no Futuro
Por: Neener Beener
Capítulo 1
A maioria das pessoas nem ao menos se lembram que a Casa do Clã tem um calabouço, mas eu sim. Eu tenho um pequeno quarto nos fundos que costumava ser um cela solitária, ela cheira a xixi velho, vômito e sangue, mas com o tempo você se acostuma com isso, tenho uma cama estreita e um velho cobertor esfarrapado para me manter aquecida, ainda peguei um abajur do lixo que ainda funciona, então eu tenho luz para estudar. Lar doce lar e todo aquele jazz, né? Quer dizer, pelo menos eu não sou uma selvagem.

A sim, eu deveria me apresentar. Meu nome é Iokaste Latmus, mas todos me chamam de Kas, ninguém me chama de Iokaste, a não ser meus professores no primeiro dia de aula. Eu sou uma lobisomem no alcateia Lua de Prata, tendo em vista que eu sou órfã não sei exatamente quantos anos eu tenho, mas tenho quase certeza de que é 16. Eu também sou uma ômega, o que quer dizer que sou uma serva, meu trabalho é fazer as refeições para os lobisomens que vivem na Casa do Clã. Entre fazer o café e o jantar para centenas de lobos, limpar tudo depois que eles acabam e reabastecer as despensas dos apartamentos dos membros mais importantes do alcateia no terceiro e quarto andar, eu também faço coisas normais de adolescentes. Exceto que, na verdade, eu não tenho muito tempo livre para fazer essas coisas, então lição de casa e mais lição de casa são as únicas coisas normais de adolescentes que eu faço.

Agora, são onze e meia da noite, estou terminando minha redação de inglês, quando ouço a porta do calabouço ser escancarada. Ótimo. O que eu fiz agora? Não demora muito, Alfa Graham Connors é um alcoólatra. É muito difícil para lobisomens ficarem bêbados, portanto, você precisa beber muito para sentir os efeitos, o que significa que ele provavelmente teve uma briga com Luna Caroline por causa de seu alcoolismo, o que também significa que ela trancou ele para fora do apartamento e, por fim, isso significa que ele desceu até aqui para descontar sua raiva em mim. Apenas uma noite normal de terça feira aqui na alcateia.

O forte cheiro de whiskey chega ao meu nariz bem antes dele aparecer na minha porta. Eu sei o que vem por aí, então Já estou em pé esperando por ele.

Oh droga, droga, droga. Penso

“Alfa Graham, o que eu posso fazer por você?” Pergunto olhando para baixo. Mantenho minhas mãos cruzadas na frente do corpo tentando parecer o menor possível.

Sem uma palavra a garrafa de whiskey passa zumbindo pelo meu ouvido e estilhaça na parede sobre minha cama. Eu vacilo e não consigo evitar começar a tremer e me abraçar. Nós já tínhamos passado da parte do “oh droga”, nós estávamos no “oh merda” agora. Seja lá o que está para acontecer, será pior que o normal.

Ele avança e me agarra pelo pescoço com as duas mãos. Eu sinto as lagrimas brotarem nos meus olhos enquanto a falta de oxigênio deixava minha visão turva, desesperadamente agarro suas mãos tentando escapar, mas é inútil, ele me ergue pelo pescoço me deixando na altura de seu rosto. Seus olhos estavam negros como piche, indicando que seu lobo Ruckus estava na superfície. Seu hálito fede a bebida e seu rosto esta vermelho de ódio.

Eu começo a engasgar e sufocar pela fala de oxigênio. Sem aviso, ele me arremessa do outro lado do quarto, como se eu não pesasse nada, meu corpo bate contra a parede e eu caio de costa sobre a cama. Os cacos da garrafa quebrada perfuram minhas costas através da minha camiseta fina e o whiskey faz os cortes queimarem. Tento abafar um grito enquanto a dor me queima. Ele atravessa o quarto e me agarra com força pelo cabelo, sinto os cacos de vidro me cortando mais fundo enquanto ele me puxa para cima.

Ele me dá um tapa com toda sua força antes de me atirar no chão, ele me chuta na barriga e pisa nas minhas costas de novo e de novo, os pedaços de vidro entram cada vez mais fundo nas minhas costas. Sinto o sangue encharcando minha camisa rasgada, não ouse a me mexer e deixar ele ainda mais bravo. Sinto minhas costelas quebrarem cada vez que seu pé me acerta, um de seus chutes acerta o meu queixo. Sinto náusea, um zumbido no cérebro, o gosto metálico de sangue enche minha boca.

Alfa Graham tem me usado como seu saco de pancadas pessoal por anos, mas dessa vez foi muito pior que qualquer outra. Geralmente ele me bate algumas vezes, então me chicoteia até que eu esteja sangrando em carne viva. Nos últimos anos ele começou a mergulhar o chicote em acônito, o que faz eu me curar mais devagar, então agora eu tenho cicatrizes altas em minhas costas e braços.

“Alfa Gahm, P-pare. P-por favor.” Eu consigo gemer, minha voz é fraca e distorcida entre a mandíbula quebrada e o sangue saindo da minha boca. Ele para abruptamente e sai do quarto. Ele volta logo em seguida com o chicote e começa a massacrar minhas costas implacavelmente, o chicote está encharcado de acônito. As chibatadas, os cacos de vidro que ainda estão nas minhas costas e o acônito são demais.

Minha visão fica embaçada e eu desmaio.

Escuridão e dormência me cercam. É assim que morrer se parece? É pacífico, mas um pouco entediante, pelo menos eu não tenho que alimentar o alcateia. Oh droga, não tive a chance de entregar a redação de inglês, isso era bom também. Os bipes constantes e suaves eram calmantes. Não sei por quanto tempo eu estive morta, mas sinto como se quisesse abrir meus olhos e encarar a vida pós-morte.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, sou capaz de abrir meus olhos e descobro que estava sozinha em uma cama macia e confortável em um quarto limpo e bem iluminado. Isso que é a vida após a morte? Talvez isso seja uma área de espera, mas onde é o saguão? Será que tem um recepcionista? Lentamente minha mente se torna mais clara e eu percebo que não estou morta, estou no hospital da alcateia.

Preciso sair antes que o Alfa me ache fora do calabouço. Tento me levantar, mas mal consigo mover meu corpo, cada movimento causa uma dor excruciante. Começo a entrar em pânico, fazendo o bipe na sala ficar mais rápido, oh, eu estou conectada em vários aparelhos. Tento descobrir como desconectá-los para ninguém ouvir o barulho, tarde demais, ouço pessoas se aproximando pelo corredor. Tento me sentar, preciso ignorar a dor, tenho que escapar, devagar deslizo para a lateral da cama, minhas pernas estão bambas, os tubos e fios continuam grudados em mim me impedindo de ir muito longe.

O médico do alcateia abre a porta e entra com uma enfermeira. O médico é um homem velho, ele tem cabelos pretos que já estão se tornando grisalhos nas laterais, a enfermeira é jovem e tem os cabelo loiros e cacheados presos em um rabo de cavalo.

“Ah, Kas. Você acordou. Vamos te colocar de volta para a cama, tudo bem?” O médico diz gentilmente. Ele e a enfermeira ficam um de cada lado meu e seguram meus braços. Um grunhido profundo escapa do meu peito.

“Não toquem em mim.” Eu me mexo, me soltando deles. Minha voz sai áspera e para que tem mil agulhas perfurando minha boca.

“Está tudo bem, Kas, ninguém vai te machucar aqui. Nós estamos tentando te ajudar a se curar. Vamos te colocar de volta na cama e pegar um água para você.” O médico levanta os braços se rendendo.

Olho para ele hesitante antes de aceitar a ajuda deles para voltar para a cama. A enfermeira me dá um copo de água com canudinho. Toda a parte de baixo do meu rosto dói para beber, mas água faz bem a minha garganta.

O médico se senta na cadeira ao lado da cama enquanto a enfermeira checa meus sinais vitais e mexe nos tubos e fios presos a mim.

“Kas, você passou por uma cirurgia para remover centenas de cacos de vidro das suas costas, nos também precisamos realinhar algumas costelas, sua mandíbula e você tinha muito acônito no seu sangue. Nós fizemos uma transfusão para tirá-lo do seu organismo e permitir que você se curasse.” o médico explica. Você tem sorte de não ter morrido.”

Tem certeza sobre a última parte, doutor? Penso comigo mesma.

“Quando o alcateia percebeu que o café da manhã não tinha sido preparado, Beta Tate foi atrás de você e te encontrou no chão do seu... uh... quarto.” Ele me olha com simpatia. “Kas, quem fez isso com você? Isso é um crime que pode levar ao banimento do alcateia. Levando-se em conta as cicatrizes, essa não foi a primeira vez que você foi atacada.”

Eu não posso respondê-lo, então encaro minhas mãos no colo em silencio. Como posso dizer a ele que foi Alfa Graham quem causou isto? Ele nunca acreditaria em mim e, mesmo que acreditasse, o que eles fariam? Baniriam o Alfa? Sem chance. Eu decido que meu melhor movimento é balançar a cabeça em um não. Eu não quero ser chutada da alcateia por mentir, eu não tenho para onde ir, eu seria uma selvagem

“Ok. Vamos para a próxima pergunta. Quando você fez dezessete?” Ele olha para os papeis dentro de uma pasta.

“E-Eu não sei exatamente, senhor.” Digo honestamente. Ele me olha com a testa franzida, olha para a enfermeira e pede para que ela nos deixe a sós por alguns minutos. Oh droga, estou encrencada? Eu acabei de acordar, não sei o que eu posso ter feito enquanto estava dormindo. Ela termina o que estava fazendo e sai da sala.

“Você não sabe seu aniversário, Kas?” Ele me pergunta, confuso.

“M-meu pai me trouxe aqui quando eu era um bebê. Ele era um selvagem. Alfa Graham, bem... ele...” Eu sinto meu rosto ficar vermelho de vergonha, minhas mãos tremem e as lágrimas ameaçam escapar dos meus olhos. Eu não pensei que teria que contar esta história para o médico, achava que todos já sabiam.

Meu pai era um selvagem. Alfa Graham matou ele por entrar no território do alcateia sem permissão, eles não perceberam que ele estava carregando um bebê até que abriram sua jaqueta e viram que eu estava ali dentro. Foi um milagre eu sobreviver. Como eu era apenas um bebê eles não puderam se livrar de mim, mas eles não sabiam nada a meu respeito. Eu estava embrulhada em um cobertor com o nome ‘Iokaste’ bordado, então foi assim que me chamaram. Até onde eu sei meu pai pode até ser um sequestrador. A única razão pela qual meu sobrenome é Latmus, foi porque depois de terem matado meu pai, eles olharam dentro de sua carteira e a única identidade que ele tinha era um cartão de biblioteca que dizia Andy Latmus. Tentei buscar o nome dela na internet no computado da biblioteca da escola, mas nada apareceu nas minhas buscas.

“Você não precisa terminar, eu sei o que aconteceu com o seu pai.”

“Bem, depois que.... isso aconteceu... Luna Caroline cuidou de mim até que eu tivesse idade suficiente para ir para e escola, então ela me mudou para o calabouço. Eu tenho estado sozinha desde entã. Eu nunca descobri quando exatamente é meu aniversário, para ser honesta, você é a primeira pessoa que pergunta isso. Quer dizer, eu acho que tenho dezesseis, meu lobo ainda não despertou.”

O médico concorda, me olhando com pena, quase como se ele realmente se importasse. Ele me faz mais algumas perguntas sobre meu histórico médico, mas não tem nada que eu realmente saiba sobre isso também, não me lembro de já ter sido tratada por um médico antes.

“Entendo.” Ele fecha a pasta e guarda a caneta no bolso da camisa. “Bem, eu sei que você não teve a chance de se olhar no espelho ainda, mas quando o fizer, pode ser que se ache um pouco diferente. Não precisa se alarmar, eu acredito que seja um sinal de que seu lobo está começando a despertar. Fiz todos os testes que consegui pensar e não tem qualquer relação com alguma condição médica.”

Eu olho para ele confusa. “S-sim, senhor.” Eu assumo que ele se refere ao fato de eu estar me curando rápido, mas por que ele teve que me alertar? Por que apenas não me dizer?

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