Vida noturna

Acordei aquela noite. Acordei irritado. Havia passado mais de vinte minutos e eu ainda não estava pronto pra cair na maravilhosa noite de segunda, além disso minhas mãos estavam meladas de esperma.

Tive imediatamente que tirar aquela camisa ridícula com cheiro de perfume barato e cigarro vagabundo, aquele jeans desbotado e aquele calçado de mendigo, além de claro, colocar aquele óculos brega num lugar muito distante de mim.

Tomei rapidamente um banho, não deu tempo eu tirar os pelos ao redor do meu saco. Mas pro serviço daquela a noite, não fazia mal.

Fui até meu quarto, o abri com a chave que só eu sabia onde ficava, pois não queria que aquele idiota do Théo entrasse e curiasse minhas coisas, abri o guarda-roupa e vi meus elegantes ternos e blazers, pendurados em cabides, tinha vários pares, era bastante raro eu repetir um, então escolhi o apropriado pra ocasião.

Coloquei uma camisa preta sem estampa por baixo, uma calça jeans torelli escura, que tinha as pernas folgadas, e da cintura até a coxa ela conseguia definir bem as linhas do volume do meu saco, além de fazer minha bunda parecer ainda maior do que de costume. Coloquei também minhas pulseiras de couro e dois dos meus anéis prediletos na mão canhota, junto com o cordão de prata, fino, que eu adorava usar. Passei um mata rato — perfume caríssimo importado — era um amadeirado, o famoso ‘Eau Toilette’, as moças adoravam. Calcei o sapato social nandense e já estava pronto. Era hora de trabalhar.

Peguei o elevador e fui até a garagem, desliguei o alarme do meu Audi RS 5 Coupé Esport, dei um alô pra o Inácio, era ele quem vigiava os carros naquele prédio, ele retribuía com um sorriso. Cara legal, homem branco, careca, corpulento e que trabalhava naquele prédio desde os vinte anos, naquela época ele tinha quarenta. Apesar de ser bem mais velho que eu, que tinha 32, ele me admirava e sempre falava: “Ulisses, você é um tremendo filho da puta, mas invejo a sua vida.” Inácio só pegava o turno da noite, era o horário que eu começava a usar os meus badalos.

Acelerei o potente motor do meu belo e preto carro, dei uma ré brusca, saí da garagem e acelerei para o meu destino, deixei marcas de pneu no asfalto, eu amava fazer aquilo.

Cheguei no bairro Candeias às 19 h em ponto, estava atrasado, pois tinha que está lá as 18 h, mas estava pouco me fodendo. Não havia nada de mais chegar um pouco atrasado, eles sabiam que eu era bom em recompensar.

O casal Montana, era composto por Tânia, mulher negra, cabelos cacheados e Adolfo, homem branco, aparência bem tratada. Ele era militar, ambos possuíam trinta e tantos. Não tinha filhos e adoravam uma terceira companhia. Eles sempre preparavam tudo antes de eu chegar, quarto limpo, arrumado, cheirava até pinho.

Para nós homens, entrar no clima do sexo é simples, principalmente quando se faz michê, e se tratando disso, é bem natural. Qualquer beijo, ou toque, ou visão mais privilegiada de alguma parte do corpo de uma bela mulher — e pronto — estamos preparados para meter. Aliás, para ser sincero, basta pensar em sexo e já podemos ter uma ereção. No entanto, naquele meu ramo de trabalho eu precisava lidar com pessoas do mesmo sexo. E para mim, que sou hétero era uma grande batalha entre a minha masculinidade e a profissão. Porém com o passar do tempo percebi que foder outros homens apenas por dinheiro não colocava a minha masculinidade em cheque, tanto que pra esse casal em específico eu dava o melhor de mim.

As vezes eu até me questionava, como cheguei aqui? A tal ponto? Vi que uma vez uma garota me ofereceu uma fruta e eu experimentei a maçã do conhecimento, então abri os olhos para a lascividade e a luxuria deste mundo.

Eu não me importo com os outros, se eu posso gozar. Carrego este pensamento para todos os meus serviços, pois gozar é isso. É isso que me envolve durante o curto período que tenho a noite.

Ulisses, e enquanto o amor? Para quê amar, se você pode gozar. Para quê se envergonhar de fazer michê, se eu estou simplesmente gozando. E enquanto as coisas que você não se lembra? Para quê a busca incessante por memórias a mim retiradas, se eu posso GOZAR!

Nesta cidade não cabe apenas o desejo, é necessário saber gozar. E eu gozo e faço outras pessoas gozarem. Dessa maneira, com este pensamento, trato homem e mulher da mesma forma.

Fodo apenas com o intuito de GOZAR e receber uma boa quantia no final. Mas pra isso é necessário ter estômago, ter técnica e isto eu tive que aprender com a prática. Veja o caso em questão:

Tânia adorava ser chupada, mas era o marido dela que gostava de levar uma rola no cu, todo aquele jeito de machão se transformava numa putinha decaída na cama.

A ideia de começar aquilo foi dela, mas quem estava adorando era ele. Então sempre começava por aquela bunda seca e cabeluda, quando eu excitava a próstata dele com o meu pau é que ele começava a ficar duro, e então, cada um procurava um buraco pra preencher.

Tânia não tinha uma buceta apertada, isso não me incomodava, no entanto, ela pedia pra eu foder o rabo dela, então o marido ficava por baixo, a penetrando pela vagina, enquanto eu melava meus dedos de saliva para lubrificar aquele cu apertado, ela tinha alergia de lubrificantes industriais, então o cuspe era a melhor opção, logo pouco a pouco ia empurrando até que minha rola se encontrasse totalmente lá dentro.

Eu costumava dizer que cu era uma coisa delicada, cu era só pra quem sabia comer, caso contrário tudo se tornaria uma experiência dolorosa tanto pra quem dava, quanto pra quem comia. Como uma velha amiga me disse uma vez “Há toda uma classe de dar e comer um rabo.” Então assim começávamos a trepar freneticamente.

Ela gemia enquanto eu ficava de joelhos virado para a bunda dela, eu a segurava pelos ombros, outrora pelos cabelos e empurrava com força, as vezes ela não controlava os músculos do períneo e começava a peidar, tudo isso ao mesmo tempo que o marido a comia por baixo.

Adolfo sempre gozava antes e aquele dia não foi diferente, então ele saiu, sentou-se na poltrona da frente e deixou o resto comigo.

Eu costumava fazê-la gozar umas meias dúzias de vezes seguidas, quando ela estava se recuperando de um orgasmo, eu ia e dava outro a ela. A ideia era sempre manter o dedo tremendo naquele acinzentado clitóris. Ela era um pouco seca, a todo momento eu precisava tirar o meu pau e dar uma lubrificada com a língua dela, pra então dar prosseguimento.

Ejaculei e me deitei ao lado dela, de frente para o marido. Enquanto o meu pau aos poucos ia liberando a pressão, fui na mesinha ao lado e ainda liberando oxitocina acendi um cigarro e ofereci a eles. Eles negaram, mas eu fiquei ali deitado com o braço por trás da cabeça, enquanto nu, jogando as cinzas no chão. Eles que limpassem, foda-se.

No fim de tudo, eles me pagavam. Eu ia embora e dizia para não comentar com ninguém e que se me vissem durante o dia, não falassem comigo. Era pra eles fingirem que nem me conheciam. Eles eram clientes antigos, fiéis e sempre cumpriam com o acordo. Como foi com duas pessoas, cobrei o dobro, claro.

Eram quase dez da noite, ainda estava cedo, o Bar de Clemer só fechava as 2 h, independentemente do dia, então resolvi ir até lá.

Aquele bar era conhecido como o submundo da putaria, lá rolava de tudo, ninfetas deprimentes e decaídas, cafetões de todos os tipos e suas prostitutas, bissexuais, lésbicas, gays, trans, michês de luxo ou pé de chinelo, coroas carentes e a ralé que ficava rodando a bolsinha — Ou as carteiras — na parte mais badalada da Rio-Bahia. Lá era o ponto de parada para pessoas como eu. Eu amava o conhaque de ameixa que eles serviam lá.

Quando eu cheguei no bar, logo na entrada, notei um anão dando um trato numa garota magra e que aparentava ser viciada em craque.

Andando mais um pouco o ambiente ia ficando azulado, um som muito alto, pessoas dançando como loucas, passando ecstasy pela língua, outros cheirando pó em cima da mesa dos cantos reservados.

Me aproximava do balcão e Clemer já colocava o conhaque pra mim, eu era um dos clientes que mais frequentava aquele estabelecimento, então eu nem precisava pedir, porque ele já sabia o que eu queria. Tirando algumas raras situações em que eu necessitava de algo mais forte, como vodca.

Clemer apesar de ter um bar/ puteiro, aparentava ser um virgem. Ele era gordo, fedia a maconha, rosto barbudo e triste, preenchido de cravos com um olhar de fracasso, olhar que me lembra um certo alguém.

Me sentei ali e fiquei a observar o movimento, enquanto tomava minha bebida. De repente chegou Rick, ele não estava com uma aparência muito boa.

Me dê uma vodca aí, Clemer. — Ele pediu ao chegar.

vodca? — Perguntei — Parece que alguém não teve uma boa noite.

Tive que chupar um pau de um travesti. — Ele disse — Parece que aquela porra não lavava o saco a meses. Preciso de uma vodca pra matar esses germes que ficaram na minha boca.

Cara, já disse pra você estabelecer um padrão — Eu falei — Você topa tudo, parece que está morrendo de fome.

Tô pensando em parar de fazer michê.

Por quê?

Quero ter uma vida decente, sabe? Sem mais vaginas deformadas ou rolas ensebadas.

Não era um assunto inédito, toda semana ele vinha com aquele papo de querer parar com os serviços de michê, aí no dia seguinte ele ia e fazia as mesmas coisas.

Rick costumava ir de três em três dias ao confessionário, apesar de ser uma ação entre ele e o padre eu sabia que na verdade ele ia pra pedir perdão por ser um homem da noite. Mas como viciados em cigarro, ele sempre dizia que ia parar, mas nunca conseguia.

Pra não ser indelicado, eu sempre o ouvia e o aconselhava. Conselhos que era um repeteco de palavras rotineiras.

Ah, não é tão ruim. — Eu disse — Ontem mesmo você comeu a … Como era o nome dela mesmo?

Cíntia!

Isso mesmo. Ela era jovem e gata.

Mas era louca.

Pensei que você as curtia.

Eu curto, mas estou me cansando.

Sorri, dei mais um gole na bebida e um breve silêncio se fez. Ele virou a vodca de vez e pediu outra.

Você já comeu duas bundas de uma vez? — Ele perguntou

Isso é fisicamente impossível, num é não?

Ele olhou pra mim e gesticulando as mãos falou.

Ulisses, tudo depende de técnica. — Ele projetou as mãos para frente e começou a falar como seria. — Você coloca duas bundas uma virada pra outra, pede elas pra ficarem em posição fetal e entre os regos você penetra o seu pau.

Engasguei com o conhaque.

Puta que pariu, nunca pensei nisso.

Por isso que você sempre será o meu pupilo — Ele disse.

Como eu falei, Rick era daquele jeito. Uma hora ele se lamentava por fazer michê e na outra ele tá inventando posições sexuais. Ele era muito criativo quanto a isso.

Ele olhou para o lado, pigarreou e acenou com a cabeça dizendo:

Veja quem tá vindo lá.

Virei de vez o conhaque e pedi outro.

Parece que ela está mais nova a cada dia. — Eu disse.

Era Grasiele. Nível book rosa, morena, alta, olhos sedutores, muita maquiagem, implantes de silicone, vestido apertado e batom cor de café que combinava com a cor das unhas. Ela tinha uma pele alva e linda, curvas sinuosas, as suas sobrancelhas eram um pouco grossas, mas continuava a ser bonita e gostosa.

Já chegou oferecendo um trago no cigarro que ela estava fumando. Eu dei uma puxada e virei o resto do conhaque.

Ta de folga essa noite, Grasi? — Perguntou Rick.

O boiola que pediu meus serviços só tinha dinheiro pra meia hora de foda, ele gozou com cinco minutos e passou o resto do tempo falando que a esposa era uma sacana que estava traindo ele. — Ela suspirou enquanto soltava a fumaça pelas narinas. — Um cuzão, apenas mais um cuzão.

É, parece que não tivemos uma boa segunda feira. — Disse Rick.

O que houve com você? — Disse ela colocando o cigarro na boca de Rick.

Nada demais. — Ele disse.

Ele chupou um pau cheio de sebo de um travesti. — Eu disse.

Grasi sorriu.

Então você fez uma garganta profunda num traveco e ainda por cima estava sujo? — Ela perguntou ironicamente. — Espero que você procure tomar um antifúngico ou um antibiótico, vai que a sua boca apodrece.

Vai a merda Grasiele. — Ele falou num tom agressivo. Mas foi motivo para todos nós sorrirmos dele.

Ah, Ulisses, eu dei o seu número pra um coroa rico aí. — Disse Grasi — Ele disse que queria você pra fazer um trabalhinho michê.

Que trabalho? — Perguntei.

Ele não quis me dizer, só me disse que pagaria o triplo do valor de mercado e por hora. — Ela disse — Sabe que isso é muito, né?

Muito estranho, isso sim.

Eu só te disse pra você ficar esperto quando ele te ligar. Ah! Também disse que você só trabalha a noite.

Tudo bem.

Fiquei ali no bar conversando com Grasi e com o Rick, até um pouco mais de uma hora, depois saí, peguei meu Audi e fui embora.

Cheguei em casa e Isabelle já estava lá.

Acho que vou ter que trocar as trancas dessa porta. — Eu disse.

Relaxa. — Ela disse. — Como foi com os Montanas?

A mesma porcaria de sempre. — Eu disse — O palhaço não aguentou um minuto de rola.

Ela se aproximou de mim e cruzou os braços no meu pescoço e ficou a me olhar com aqueles hipnotizantes olhos.

Ah, Ulisses ele é um militar. — Ela disse com aqueles lindos lábios vermelhos — É durão, macho alpha, só não quis te humilhar e dar mais prazer a mulher do que você.

Você é uma sacana, sabia? — Sorri pra ela.

Muitos homens são assim — Ela disse, depois mudou o tom de voz, começou a falar pausadamente e movimentando os lábios de uma forma bem sedutora — só a-pa-rên-cia.

Ela me deu um rápido beijo, tirou os braços do meu pescoço e se sentou naquela poltrona que ela tanto adorava.

Tirei meu casaco em seguida o blazer e me deitei no sofá ao lado da poltrona que ela estava sentada.

O Théo me sacaneou mais uma vez — Eu reclamei pra ela.

O que ele fez dessa vez?

Eu precisava estar na ativa as 18 h, mas só acordei as 19 h.

Ela se levantou e se ajoelhou do meu lado, dizendo:

Você não acha que tá na hora de assumir o controle definitivamente?

Do que você está falando? — Perguntei

Tô dizendo que você deveria tomar o lugar daquele imbecil, você faz as coisas melhores do que ele.

Não é assim que funciona, você sabe disso. — Suspirei.

Ela se levantou, respirou fundo e se virou.

Aquele cara foderá com você. — Ela disse.

Fiquei em silêncio. Ela foi embora.

Fui até o guarda volumes, em baixo tinha uma agenda, chequei a cliente do próximo dia, seria a dona Marília.

Escrevi no quadro:

Olhe na agenda assim que acordar.”

Em seguida tomei mais uma dose de uísque, com um comprimido, fui pra cama e garrei no sono, com roupa e tudo.

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