Cap. 2 - Entendendo os detalhes

Eu descia a rua de minha casa. A chuva molhava meus cabelos e meu rosto pingava algumas gotas. Alguns carros passavam ao meu lado e sempre olhava para o lado, conferindo se não iriam jogar água em mim. Vez ou outra parava debaixo de alguma marquise, olhava o tempo e pensava que até o clima conspirava contra mim naquele dia. Por fim, cheguei a um terminal de ônibus. Sentei-me numa cadeira e fiquei a pensar. Sem me dar conta, falei sozinho, como que resmungando em voz alta.

- “O que faço agora? Sem dinheiro, sem casa, sem comida e sem rumo. Ainda para completar, essa chuva parece não querer me dar trégua.”

Algumas poltronas ao meu lado um senhor de meia idade esperava alguém, lendo um jornal. Parecia ser muito dono de si, o que não percebi naquele dia e nem mesmo dei atenção a qual jornal ele lia. A minha visão agora, vendo-me de fora, foi que havia feito aquilo pretensiosamente. Mas, não. Havia sido um desabafo interno, sem qualquer pensamento de chamar a atenção de alguém. Entretanto, como às vezes não sabemos o que as outras pessoas pensam e interpretam de nós, o que falei deu resultado.

- Com licença meu jovem. – disse o Senhor sentado ao meu lado, a algumas poltronas de distância. – Não sei se disse isso esperando que alguém o ouvisse, ou esperando algo em troca, mas, funcionou. – disse ele sorrindo mostrando seus dentes amarelados, bigode encurvado, suas rugas de seus cinquenta e tantos anos de idade e uma calvície modesta no alto da cabeça.

- Desculpe meu Senhor, eu não queria perturbar sua leitura. – falei com jeito de moleque e ele sorriu ainda mais.

- Parece que não está muito bem hoje, não é meu rapaz? Posso sentar-me com você? – perguntou lisonjeiramente.

Nada respondi, somente tirei o violão que estava a ocupar algumas cadeiras ao meu lado, e o coloquei do outro lado, de forma que pudesse abrir espaço para que se sentasse mais perto. O Senhor levantou-se calmamente, dobrou o seu jornal e o colocou debaixo do braço. Era alto, forte, vistoso. Trajava-se de pano muito bom pelo que pude ver. Sentado ao meu lado notei que parecia menor do que realmente era.

- O que está acontecendo com você meu Jovem? – perguntou ele.

- Saí de casa. – respondi secamente e continuei a olhar para fora, onde parecia contar as gotas da chuva que não desistiam de cair.

- Algum motivo especial? – perguntou ele enquanto tirava uma cigarreira do bolso, muito “chique”, por sinal.

- Idiotice, talvez. – respondi, acompanhando com meus olhos os seus gestos para com a cigarreira. – Poderia me dar um cigarro? – perguntei.

- Você é muito jovem para isso meu rapaz. – disse ele com um cigarro ao canto dos lábios rindo-se.

- Eu já fumo há algum tempo. – respondi.

Virou a cigarreira para mim de modo que eu peguei um cigarro, logo ascendeu seu isqueiro de “bacana” e levou até perto de meu cigarro e depois se voltou para acender o seu.

- Para onde está indo? – perguntou.

- Boa pergunta para eu mesmo me fazer. Acho que não tenho ideia, nem mesmo alguma parada. Qualquer lugar está de bom tamanho para mim.

Ele riu um pouco e perguntei:

- Qual é a graça de ver um rapaz da minha idade, sentado numa rodoviária e sem destino para tomar?

- Toda a graça do mundo! Com certeza! – respondeu ele com seu trejeito, tragando a fumaça de seu cigarro e agora ele era quem olhava as gotas da chuva caindo na parte de fora da rodoviária. – Estou vendo que nos parecemos muito meu jovem. – disse ele soltando a fumaça, rindo e intrigando-me.

- Como? – falei.

- Qual a sua idade? – perguntou.

- Dezesseis.

- Somente um ano mais velho que eu. – disse e continuou a olhar para fora, a chuva com um sorriso leve aos lábios.

- Qual a graça? – insisti.

- Quando eu tinha quinze anos eu também saí de casa. – disse ele inclinando-se um pouco sem virar o rosto, somente com os olhos fazia contato comigo. - Sozinho, sem ninguém. Fiquei andando pela cidade. Tinha muitos conhecidos de forma que não foi difícil encontrar pousada. Eu era muito rebelde, para minha época. E minha época já está bem distante desta realidade que temos hoje meu jovem. – disse olhando um pouco para a chuva como se tentasse relembrar sua época. - Tomei uma caixa de engraxate e fui ganhar dinheiro para comprar uma passagem. Quando consegui, fui parar na cidade grande. Quinze anos, inexperiente e com um grande sonho, ainda bem que o tempo era bem diferente de hoje. – relembrou. - Ali estava eu, parado na rodoviária imensa daquela cidade, sem saber o que fazer, igualzinho a você.

- E o que fez?

- Falei alto também, contando a minha situação e um senhor achou engraçado. Eu era pequeno, raquítico, assim como você. – disse ele e nada pude fazer, era realmente um tanto magro. - E o homem deu-me um serviço e um lugar para morar. Daí em diante, fiz tudo o que queria. Minha vida foi uma loucura, uma bela loucura. – disse empolgando-se.

- Interessante. – comentei. – Pena eu não ter a mesma sorte. Nem mesmo ter ido para cidade grande.

- Quem sabe? – disse o homem. – Às vezes você dá sorte com alguém!

- Acho que por aqui eu não vou encontrar alguém desse tipo.

- Não se sabe, às vezes, tudo conspira contra nós, outras vezes, conspira-se ao nosso favor.

Escutei estas palavras e levantei-me. Coloquei a mochila às costas enquanto sentia os olhos daquele senhor me sondando.

- Aonde vai? – perguntou ele depois de observar-me.

- Vou arrumar uma caixa de engraxate. – falei. – Arrumar algum dinheiro para ir embora daqui.

- Muito bem! É uma decisão acertada filho. Mas, e se eu lhe disser que não precisa fazer isto?

- Como assim? – perguntei. – Acabou-me de dizer o que fazer enquanto contava a sua vida. Acho que preciso fazer isto!

- Qual é o seu nome? – perguntou apertando os olhos.

- Me chamam de Coiote. – respondi.

- Sente-se meu rapaz. – fez um silêncio. - Quero lhe fazer uma proposta.  – disse apontando com a mão estendida à poltrona ao seu lado.

Sentei-me colocando a mochila ao chão novamente como antes ela estava. Fiz todos esses movimentos vagarosamente. Media a situação e o senhor que estava à minha frente.

- Quero lhe ajudar. Gostei de seu jeito de rebelde. Vou lhe poupar de ir para outra cidade. Gostaria de trabalhar para mim?

Fiquei um tempo ainda a observar ele e a minha sorte, como se fosse pessoa sentada ao lado dele.

- Sim! Preciso trabalhar! – respondi. – Faria isso por mim sem ao menos me conhecer?

- Claro! – disse ele com um sorriso grandioso e paterno. - Existem situações que estão além de nossas compreensões. Esta, é uma delas.

- Obrigado! – falei timidamente. – Não sei nem o que dizer. – falei abaixando a cabeça.

- Não diga nada! – pausa entre a conversa. – Está bem! Tenho uma sobrinha de sua idade que está chegando daqui a pouco. Ela está um tanto abatida, pois, seus pais faleceram num acidente de trânsito. Minha irmã, que é sua mãe, faleceu. Ela está sozinha e irá morar comigo, sou seu único parente vivo. Acho que vocês podem se dar muito bem, virarem amigos. Ela precisará de alguém da sua idade aqui em sua nova vida.

- Nossa! Realmente não compreendo por que está me ajudando desta maneira!

- Eu já passei por muitas coisas nessa vida meu rapaz. Você não me parece ser um “mau sujeito”, somente está um pouco desatento a sua própria vida e desatento entre as ações de um mero adolescente, mas, o tempo, ah! Esse cura qualquer ferida. Até rebeldia! – disse rindo-se.

Fiquei em meu profundo silêncio e pensei muito a respeito de tudo, inclusive das boas palavras faladas pelo homem. Achei um tanto estranho, mas, logo percebi que em seu rosto havia uma expressão facial muito segura de si. Senhor de si. Fiquei mais tranquilo, pois realmente precisava de uma ajuda daquelas e pensando bem, até mesmo parecia que já o conhecia. Coisas de nossa mente.

- Estamos conversando há um bom tempo e eu nem mesmo sei o seu nome. – falei.

- Francisco Fagundes. Pode chamar-me de Fagundes. É assim que todos me conhecem. – respondeu. – Bem, esse é o ônibus. – disse levantando-se.

Fiquei esperando um bom tempo, ali mesmo onde estava. Uma garota ruiva desceu do ônibus, correu e abraçou o tio, derramando algumas lágrimas. Esses momentos são realmente aflitivos para mim e fiquei quieto em meu canto, não o conhecia e muito menos sua sobrinha para estar ao meio dos dois num momento tão difícil. Mas, compreendo que seria uma época difícil para ela e para ele também.

Algum tempo depois, a garota pegou sua mala e Fagundes a puxou pela mão. Vieram ao meu encontro. Seus olhos vermelhos e algumas lágrimas transformaram seus olhos castanhos claros em dois vitrais mostrando o reflexo, até então desconhecido da própria rodoviária, agora, com ar de alguma arte. Um nariz fino condizia com seus lábios delicados, porém bem desenhados e até certo ponto carnudos e proporcionais.

- Renata. Este é o filho de um amigo meu. – disse ele dando uma piscadela para mim, já montando um “álibi” acaso sua sobrinha quisesse perguntar de onde eu havia surgido. – Lhe darei um emprego na fábrica e lhe alugarei um apartamento de um dos meus prédios. Espero que se deem bem. – disse pegando as malas da sobrinha.

Cumprimentei-a com a cabeça e fui correspondido pela mesma maneira. A timidez e as lágrimas em seus olhos me comoveram, bem como também me encantaram. Ficamos nos olhando por um tempo, enquanto Fagundes ia à frente levando a mala de Renata. Após isso, peguei minhas coisas e carreguei meus pertences, sempre atrás dos dois. Chegando ao carro do Sr. Fagundes, pude perceber que não se tratava de pessoas simples. Tinham posses, e muitas, pois o carro importado dava mostras de que levavam uma vida extremamente luxuosa. Abriu o porta-malas e colocou as coisas de Renata e as minhas também. Levei meu violão comigo, pois era a coisa mais valiosa que julgava ter na época.

Depois de um tanto andar pelas ruas da cidade debaixo de uma garoa fina e sem ao menos uma palavra dita dentro do carro, chegamos a um condomínio de luxo. Eram casas com requintes indiscutíveis e nesse momento foi que percebi onde estava. Parecia não estar na mesma realidade, parecia estar em outra cidade.

- Bem Coiote. Hoje ficará conosco e amanhã bem cedo irei levá-lo a Fábrica. Lhe mostrarei o seu serviço. Por enquanto, será meu convidado e jantará e dormirá em minha casa. Tudo bem? – perguntou ele em tom paternal.

Parou assim seu carro diante da casa mais luxuosa da rua, quiçá, do condomínio! Descemos do carro e eu admirei aquele lugar, tão diferente da realidade a qual morava. Anestesiado com tanta beleza, mesmo debaixo de chuva, fiquei parado observando aquela linda construção com um jardim magnificamente trabalhado e ornamentado. Não havia sido feito sem alguém especializado para executar ornamentos em jardins, pois assim se mostrou.

Renata suspirou profundamente ao olhar aquele paraíso, que para ela já era um tanto familiar e com algumas lembranças.

- Boas recordações me vêm quando chego a sua casa tio. – disse ela abraçando-se novamente ao tio deixando uma lágrima escorrer pela face e deixando-me um pouco mais deslocado.

- Bom, crianças! - disse amistosamente chamando mais a minha atenção do que a de Renata. – Vamos entrar, podemos pegar um resfriado nesta chuvinha gelada. – disse ele se encolhendo em seu paletó e esfregando as mãos.

Algumas pessoas que trabalhavam para Sr. Fagundes vieram e pegaram nossas coisas. Assim que entramos, uma senhora, nitidamente emocionada, veio abraçar a Renata. Era uma senhora baixa e protuberante. Aparentava ter mais ou menos os seus sessenta anos de idade, mas, era bem viva em seu olhar e gesticulações.

- Minha querida! – disse ela abrindo os braços e abraçando o corpo miúdo de Renata diante do seu.

- Abigail. – disse a voz forte do Sr. Fagundes. – Apronte mais um quarto de hóspedes para o nosso amigo Coiote. Irá pernoitar aqui.

Abigail soltou Renata e pôs seus olhos miúdos por cima dos óculos a fim de me inspecionar, mas, de um jeito simples e maternal. Eu não estava vestido como eles. Era um mero garoto de família simples e estava com roupas bem surradas. Meu rosto também estava surrado, por golpes de rebeldia dados por mim mesmo.

- Sim Sr. Fagundes. – disse ela olhando para mim.

Fui levado para o quarto e não era diferente da casa inteira. Era muito luxuoso e bem ornado. O banheiro do quarto em que estava, parecia maior do que o quarto que eu tinha em minha casa. Na verdade, parecia ser maior que a casa inteira onde vivia com meus pais. Tentei não ficar estaqueado com tudo aquilo, mas, simplesmente, era impossível. Tomei um banho quente ao qual me fez nascer novamente. Nunca havia sentido tal prazer tomando um simples banho. Logo que estava pronto, Abigail bateu a porta do quarto onde estava.

- Venha Coiote. O jantar já está servido. – disse a voz ecoando no comprido corredor do andar superior da mansão.

Desci com a ânsia de querer comer um búfalo. Tamanha era a fome. Mas, não contava com aquela comida estranha que fora trazida e colocada à minha frente. Mesmo sem saber se iria gostar, fiquei imaginando quantos pratos daquele teria que comer para me sentir satisfeito. Tão pequena era a porção, que talvez, fosse para uma criança de alguns meses de idade! Renata desceu sorridente e disse que havia ligado para sua melhor amiga e que já estava com saudades de tudo por lá. Sentou-se em sua cadeira de frente para mim e seu tio estava ao seu lado esquerdo, olhou para o prato que já estava posto a sua frente e fez uma cara de espanto e ao mesmo tempo de repugnância.

- Tio? – disse ela pegando e mostrando o prato para Fagundes que já havia dado algumas garfadas. – O que é isso?

- Sabia que não iriam gostar. – disse olhando ironicamente para ela e depois para mim, vendo que eu ainda não tinha juntado coragem para experimentar.

- Você vai comer isso Coiote? – perguntou Renata ainda com a mesma cara de repugnância.

- Se eu soubesse o que é isso talvez eu até experimentasse, mas eu nunca vi isso na minha frente. Nem por televisão! – falei olhando para o prato tentando entender o que seria aquela comida estranha arrancando gargalhadas dos dois sem perceber.

- Tudo bem então. Vamos pedir pizza! – respondeu Fagundes levantando-se da cadeira e fazendo a felicidade minha e de Renata.

Subitamente, o filme em que passava a minha vida, parou. Olhei para o lado e vi meu outro eu, no mesmo plano em que estava. Disse-me:

- Vê? Lembrava-se disto?

- Não. Nem sequer achava que teria sido assim! – falei mostrando-me estar um tanto espantado com aquela velha lembrança.

- Você, meu caro Coiote, esqueceu muito mais do que pensa e do que precisava esquecer. Terá que relembrar tudo agora, como já lhe disse antes.

- Chega a ser estranho. – falei. – Vendo-me mais novo, dessa forma. Na verdade, eu compreendo e não compreendo ao mesmo tempo. É tudo muito novo e muito louco para mim!

- Estamos somente no começo. Ainda verá muita coisa. – respondeu meu outro eu olhando novamente para frente, para a cena que estava parada.

Tomada de movimento assim que me virei também para frente, o filme de minha vida voltou a movimentar-se. Estávamos todos em uma sala de TV. Assistíamos a um filme que nem fiz questão de prestar atenção. Deitados ao grande sofá diante da tela que mais parecia um cinema de tão grande e luxuosa, mesmo para a época, nem mesmo percebi que Renata estava agora feliz por estar ali. Nascia ali um aconchego familiar. Mas, no dia, nem mesmo entendi tudo aquilo.

Fomos dormir, pude ver agora que consegui ter uma bela noite de sono. No outro dia, Abigail, a governanta da casa de Fagundes, foi-me chamar bem cedo. Disse que eu iria conhecer meu apartamento num dos prédios de Fagundes.

Logo que arrumei meus pertences, desci. Coloquei as mochilas e o violão ao canto da grande sala. Fui até a copa, onde encontrei a materna governanta Abigail. Já estava servindo Sr. Fagundes, ao qual estava comendo um pedaço de pão e fez-me sentar à cadeira apenas com um gesto.

Sentei-me a mesa e tomei café comendo junto algumas bolachas deliciosas as quais nunca havia provado. Alguns minutos depois, Renata desceu e sentou-se alegre ao meu lado. Deu bom dia ao tio e pegou algumas bolachas. Fagundes terminou de tomar seu desjejum e esperou-me terminar. Sr. Fagundes tirou do bolso algumas notas e deu para Renata e disse que era para comprar algumas coisas que achasse necessário. O valor daquelas notas e a quantidade delas me deixaram um tanto constrangido. Logo descemos, eu e o Sr. Fagundes.

Saímos da casa de Fagundes. Eu deixei aquele lugar luxuoso e sabia que seria muito improvável que voltasse ali novamente, nostalgicamente olhei para trás e nunca mais voltei àquele local. Mesmo assim, agradecia intimamente a bela e agradável noite que passei ali. No caminho, fiquei a lembrar das coisas que aconteceram e vi a distância da desigualdade a qual eu pertencia em relação à Renata. Descobri aí o desinteresse em ser amigo dela, pensando que eu sendo pobre, nunca teria assunto em comum com ela.

- Bom Coiote. – disse o Sr. Fagundes. – Vou lhe mostrar o seu serviço em uma das minhas fábricas.

Fomos então para a Fábrica de tecido, na qual, logicamente, produzia diversos tipos de tecidos. Senhor Fagundes mostrou-me o funcionamento de toda a linha de produção como se fosse à coisa mais maravilhosa do mundo, o que não achei à primeira vista e não pude perceber isto no dia, quando ainda era um moleque, mas, agora, vendo tudo novamente, pude ver que Senhor Fagundes tinha ao mesmo tempo amor e profunda realização por tudo aquilo. Ao final, mostrou-me os diferentes tipos de tecidos depois de prontos e ainda me fez ter uma aula de qualidade de tecido. Era realmente a sua paixão, pois o quanto sabia me deixava desnorteado. Explicou-me também que aquilo era enviado como matéria prima para confecções de grifes famosas. O meu serviço, como me mostrou, era anotar quantos metros de tecidos foram feitos pelas máquinas e tomar os pontos, que eram as assinaturas dos funcionários. Havia então a troca de turnos às seis da manhã e às seis da tarde. Neste meio tempo, eu podia fazer o que quisesse.

Disse-me ainda que meu salário seria descontado durante três meses, para que pagasse as coisas que estavam dentro de meu apartamento, ao qual, não seria de graça, obviamente. Mas, teria o necessário em alimento para este período. Depois disso, o salário seria meu e o aluguel seria descontado direto da folha de pagamento. Um tanto cômodo para mim, claro.

Saímos da empresa e fomos para o prédio. Chegando, o porteiro foi avisado que teria um novo locatário do apartamento e trabalharia na mesma empresa que ele, de forma que mesmo em serviços completamente diferentes, iríamos ser amigo de trabalho e funcionários da mesma empresa. Subimos em seguida e paramos no sétimo andar. Andamos por alguns metros saindo do elevador e chegamos ao apartamento que seria o meu. Setenta e sete. Fagundes abriu a porta do apartamento e me fez entrar primeiro. À minha frente havia um tapete ao chão, verde, que cobria quase toda a extensão da sala. Ao lado do tapete, a um canto, um pequeno som portátil que me serviria muito. Na cozinha havia a pia pequena, uma geladeira pequena e um fogão. Havia duas cadeiras e uma mesa de bar também, daquelas de metal, a qual já disse estar lá. No quarto, um colchão ao chão sobre o carpete e alguns pregos na parede que serviriam de cabide.

- Não é muita coisa, mas para você, que nem sabia onde iria dormir, acho que já está de bom tamanho. – disse Fagundes com a mão à cintura e um sorriso largo nos lábios.

- Não tenho como agradecer Sr. Fagundes. – falei emocionado. – Nunca irei esquecer tudo o que está fazendo por mim.

- Agora se lembra como veio parar aqui? – perguntou meu outro eu parando o filme de minha vida.

- Sim. Nunca poderia esquecer o que o Sr. Fagundes fez por mim naquela ocasião. Nem ao menos me conhecia e abriu as portas para mim.

- Por que será que ele fez isso por você, hein?

- É uma ótima pergunta que somente naquele dia eu me fiz. – falei.

- Nem pensou o que ela achou de você?

- Pensei. Mas, àquela hora em que Fagundes deu a Renata aquela quantidade de dinheiro, suficiente para pagar a compra mensal de minha família e ainda mais, para gastar com futilidades, eu logo percebi que ela não seria para mim. – respondi.

- Estes são os opostos que deve prestar mais atenção. Nem tudo que vemos pode ser levado tão seriamente. Ela estava acostumada com aquilo, você não. As pessoas têm muito mais do que apenas uma aparência externa. Todas as pessoas, embora às vezes pensássemos que não, têm seus valores escondidos no fundo de sua alma. Até mesmo as pessoas que achamos que não estão nem aí para a vida, têm seus momentos de tristeza, seus valores e assim por diante. Somos seres humanos, assim sendo, somos frágeis. E o que acontece com você, acontece com todos os que estão classificados dentro desta categoria de “raça humana”. Claro que muitas pessoas escondem seus verdadeiros sentimentos, pois acham que devem se mostrar fortes, sempre. Mas, bem, não estou aqui para lhe falar de psicologia, embora este assunto esteja inteiramente ligado com nosso interior.

Assim que terminou de dizer estas palavras, voltei ao normal e vi que estava novamente em meu banheiro. Vi-me ainda ao espelho e meu outro eu disse:

- Bem Coiote, já são quinze para as seis da tarde. Acho que precisa ir cumprir o seu papel na Fábrica, não é?

- Sim, é verdade. – disse. – Quando eu voltar ainda estará por aí?

- Se você quiser que sim, estarei. – esmaeceu-se.

Peguei meu maço de cigarros e desci do jeito que estava. Nunca havia me preocupado com roupas. Passei pelo porteiro o cumprimentando assim como fazia há anos e rumei para meu serviço, sempre pensando no que estava acontecendo comigo. Tive a impressão de estar sendo seguido. Talvez por mim mesmo. À beira da loucura. Andava pela rua soltando fumaça e olhando para os lados com sensações difíceis de serem descritas. Cheguei ao serviço na Fábrica. Já fazia um bom tempo em que eu trabalhava ali e havia feito muitas amizades com os funcionários e sempre me cumprimentavam alegremente. Fiz meu serviço normalmente enquanto escurecia uma noite bonita, fria, de lua bem-feita e em um céu límpido e estrelado.

Acabei de fazer o que era de minha incumbência e saí da Fábrica. Não queria voltar para o meu apartamento, de forma que fui andar um pouco. Sentei-me no banco de uma praça no centro da cidade e comecei a olhar tudo com outros olhos. A realidade estava um tanto estranha para mim, estava com uma cor de ilusão, ou de sonho. Decidi voltar para casa depois de algumas horas, uma lata de cerveja e um tanto de ideias mirabolantes e sem nenhuma conexão.

Chegando a casa, peguei um dos meus cigarros prontos e ascendi sentado ao meu colchão. Alguns minutos depois, me lembrei do espelho e fui até ele, ao banheiro. Olhei novamente o espelho e meu reflexo aos poucos fora se modificando.

- Você voltou meu caro! – disse meu outro eu.

- Tenho algumas perguntas a fazer. – falei incrédulo.

- Pois então! Vamos tentar achar as suas respostas! – disse ele confiante.

- Depois que saí do serviço, minha realidade estava um tanto diferente, dispersa. Parecia que eu estava dentro de meus sonhos. O que vem a ser isso?

- Nossa! Você já consegue diferenciar? – se surpreendeu e me perguntou o outro eu.

- Como? Não entendo? Diferenciar o que?

- Realidades, ora! Bem, de qualquer forma, acho que você está indo depressa demais.

- Depressa demais? O que significa isto? – perguntei já esquecendo a antiga pergunta e ficando um pouco atônito visto ter mudado completamente o assunto.

- Deixe-me ver como explicar esta questão. – disse ele olhando para baixo e coçando a cabeça. - Temos realidades diferentes no mundo e em nossas cabeças, digo, nossas mentes. As escolhas, novamente, são responsáveis por essas realidades. De acordo com uma escolha pode-se ter uma realidade, ou, uma mudança de realidade. Mas, voltando a sua pergunta anterior, essa mudança de coloração realística, para uma coloração onírica, mostra que sua mente está se modificando, pois, agora, está tendo mudanças de opiniões. Não é todo dia que conversamos com nossos reflexos ao espelho e com outra personalidade. Não é verdade? Por isso, tudo tende a mudar dentro e fora de você.

- Então, hoje, como estou lhe vendo e conversando com você, toda a minha realidade está mudando? – perguntei um tanto absorto.

- Sim! Em resumo, isto é o que está acontecendo. A nossa mente é uma máquina superpoderosa e ainda não a conhecemos. Esta frase é o que dá a percepção de que podemos muitas coisas que nem mesmo ainda conseguimos imaginar! Nossa mente é fantástica!

- Mas, eu achei estranho. Tudo estava diferente do que eu costumava ver. Mesmo com a mente entorpecida pela bebida, tudo estava colorido de uma forma diferente, como se já esperasse que as coisas fossem assim.

- Você está mudando internamente. O que achava antes ser real se tornará ilusão. E a ilusão tornará uma nova parte da sua realidade.

- Ei! Espera um minuto aí camarada! – falei olhando ao espelho. – Agora você pirou? Está ficando louco e me deixando também! Como o que é real pode virar ilusão, e, a ilusão pode virar uma nova parte da minha realidade?

- Eis o nosso problema. Não seria irrealidade de sua mente conversar consigo mesmo olhando ao espelho e ainda mais, se o seu próprio reflexo tomasse outra personalidade?

- É. – pausa e fiquei a analisar o que ele disse. - Faz muito sentido isto que me disse. – falei ainda pensando em sua explicação.

- Com isso chegamos ao ponto em que a realidade virou ilusão e a ilusão virou realidade, pois isso está acontecendo com você neste exato momento e não podemos negar que isto até parece insano. Não é verdade?

- Isto está ficando assustador demais para mim. – falei rindo.

- Assustador é ver onde sua mente é capaz de chegar! Esta primeira visão de que a realidade que você achava ser verdadeira está modificando-se, é prova de que sua mente é mais rápida do que achávamos que era! Está nos surpreendendo! Enquanto muitos que fazem esta experiência de conhecimento interno demoram de quinze a quarenta dias para entender que não era loucura e conseguir concentrar diante do espelho, você demorou apenas algumas horas! E poucas horas na verdade.

- Espere um minuto? Isto o que está acontecendo comigo também acontece com outras pessoas? – perguntei novamente sem ao menos perceber que saíamos e voltamos várias vezes do assunto.

- Sim! A cada momento! Mas, cada mente anda de acordo com sua capacidade de entender suas próprias realidades, ou melhor, suas realidades internas. Cada um é um universo à parte. – respondeu ele. – Mas, agora, voltemos ao nosso “filme”. Faltam ainda muitas coisas para serem vistas.

Como se eu fosse sugado, voltei a entrar no espelho e agora vi novamente meu eu mais jovem, olhando o meu apartamento, ao qual estava até o momento. Apertei a mão agradecendo o que estava fazendo. Fagundes sorriu gentilmente e entregou-me as chaves.

- Espero você às seis da tarde, hein? – falou ele e entrou ao elevador.

Entrei ao apartamento assim que fechou a porta. Minha vontade era de gritar de pura felicidade, mas achei melhor não. Fiquei observando encantado todo aquele apartamento que agora seria meu. Nem passou pela minha mente que eu iria ficar um bom tempo sem receber um salário. Havia muitas coisas no armário debaixo da pia, muito bem limpo e arrumado. A geladeira, embora quase em miniatura, estava repleta de coisas gostosas. O banheiro era pequeno, embora não apertado. Naquele momento, era tudo o que eu precisava. Um espelho pequeno e um armarinho. Atrás, pregado na porta, um espelho maior que permitia ver quase o corpo todo. O apartamento estava de acordo com que um garoto de dezesseis anos gostaria de ter.

Os três meses se passaram e neste intervalo fiquei em casa. Aproveitava para ficar fumando e escutando música. De vez em quando pegava algum livro para ler, coisas como psicologia ou neurolinguística, coisas deste ramo. Quando terminou o período, no quarto mês, recebi meu primeiro salário e voltei à rotina de sair. Tratei de encontrar meus amigos. Fui encontrar com eles em uma praça, a qual sempre estavam. Muitos começaram a me perguntar por que havia eu sumido daquele jeito. Expliquei que estava trabalhando e que tive um tempo em meu apartamento pensando em besteiras e viagens engraçadas.

- O que está rolando por aí? – perguntei com aquele jeito de moleque de dezesseis anos, o que, vendo-se, causa certo espanto.

- Vai rolar uma festa daquelas que não podemos perder! Festa Eletrônica na casa do Carlinhos! Você vai, não é Coiote? – Falou Marquinho e toda a galera olhou para mim.

Havia mais ou menos umas dez pessoas, entre garotas e rapazes alguns conversavam entre si, outros escutavam música no fone de ouvido e outros ainda tocavam violão. Era uma turma legal, todos tinham seus pensamentos insanos de vez em quando.

- É. Vou sim. Faz muito tempo que não saio por aí. Tenho que ir nesta festa. Arejar a cabeça do cubículo em que moro.

- Legal! – retrucou Marquinho pegando em minha mão e fazendo um estalo alto. – Vamos comprar algumas bebidas para chapar a mente!

Era ainda muito cedo para a festa, de forma que fomos matar o tempo, matando algumas garrafas de Vodca, como era de nosso costume beber. Ficamos fora de nossas percepções, alguns cigarros fizeram com que nossas mentes despertassem para o que poderia ser a pura irrealidade. Chegando à hora da festa, todos, inclusive eu, estávamos completamente bêbados. Por várias vezes tentei acender um cigarro, mas sempre acendia ao lado contrário, caia na risada em seguida e até mesmo esquecia que queria fumar.

Chegamos à porta da festa e havia muitas pessoas ali. O som da festa estava alto o suficiente para que da esquina pudesse ser ouvida as batidas graves da música eletrônica, com isso fiquei um tanto alto. As batidas do bumbo hipnotizavam-me, grave como elas, eu, longe de minhas condições normais, dava cada passo em conformidade com a música. Achava que escutando aquela música poderia eu voar, e, pelo que me contaram depois, acho que consegui planar, pelo menos em pensamento.

Quando entrei na casa, vi que estava repleta de pessoas e minha mente estava alucinada, talvez, longe do que poderia ser a realidade daquele simples momento ‘festil’. Entrei junto com Marquinhos e no meio da escuridão esfumaçada, com a ajuda sonora, fiquei perdido ao meio de todos. A música mais uma vez forçou um colapso e fui envolvido num transe. Parecia estar em um ritual indígena ao qual eu fazia parte e era o prato principal. Queriam pegar-me e assar na chama de uma fogueira. Fogueira essa, existente somente em minha mente. As pessoas olhavam-me e as luzes especiais, colocadas para dar um efeito a mais às músicas eletrônicas, fizeram com que minha viagem fosse quase real. Ao meio da multidão tive um grande susto. Vi meu próprio rosto a alguns metros de distância de mim, ao meio da multidão, completamente estático. Joguei-me ao chão com medo de ter-me visto. Neste momento Marquinho me achou caído ao chão num canto da festa e me pôs de pé.

- Segura a onda Coiote! Nunca foi de pirar e vai começar a viajar agora? Segura a onda Maluco!

- Cara? Você viu? – falei assustado.

- Vi o “que” cara? Está ficando louco? É melhor tu te controlar, tem muita gente olhando para você!

Olhei para um lado e para outro. Tentei procurar-me novamente. Olhei para Marquinho e este estava com cara de quem não estava gostando da minha “piração”. Peguei meus cigarros e acendi um.

- Vou tomar um ar lá fora. – falei e sai.

Andando em volta das pessoas tentei achar caminho para sair. Cheguei até o portão e algo me fez parar e olhar para trás e novamente me vi. Estava agora mais nítido, pois havia luz e não era aquela escuridão de dentro da casa onde rolava a festa. A casa, por si só, já era grande e na parte de fora da casa, também era de uma proporção cinematográfica. A minha visão de mim mesmo agora era totalmente fora da realidade. Senti o arrepio entrar pelos pés e, num segundo, subir e descer mais de trinta vezes o meu corpo até a cabeça. Em questão de segundo, olhei para o lado tentando ver se alguém estava vendo o mesmo que eu. Em seguida, a visão de mim mesmo desapareceu. Foi neste momento em que pensei que estava louco. Não louco de bebida e drogas, mas louco, louco de ir para o sanatório. Corri para casa e naquele dia não consegui dormir.

O “filme”, parou. Voltei ao meu banheiro.

- Você foi longe demais naquele dia. – disse meu outro eu ao ver que estava chocado com o que havia visto.

- Era você, não era? – perguntei espantado.

- Sim. Era. – disse calmamente.

- Por que quis assustar-me daquele jeito? – perguntei.

- Bom, foi neste dia que provamos que sua mente pode ir mais longe do que a mente comum das outras pessoas. – disse em bom tom.

- Deu nó! Agora eu não entendi “patavina” nenhuma! – falei.

- Neste dia, sua mente saiu vagando pela ilusão. – dizia ele. - O consumo exagerado de bebida alcoólica relacionada às drogas, fez com que você chegasse muito longe, quase que num desligamento completo. Com isso, você estava entrando numa realidade paralela. O seu corpo entorpecido fez com que sua mente ficasse mais ágil, embora possa parecer um tanto contraditório. Eu estava ali para lhe ajudar a voltar ao normal. Nunca pensaríamos que você pudesse me enxergar. Mas, como já disse, sua mente nos consegue surpreender.

- Então, existem diversas realidades paralelas? – perguntei tentando entender sua explicação.

- Sim! Existem diversas realidades paralelas! As quais não podemos simplesmente visitar e ficar por isso mesmo! Uma mente que faz este tipo de transição, pode nunca mais voltar a sua realidade natural.

- E eu consegui visitar uma realidade paralela?

- Sim, conseguiu. Para ser sincero, agora você está visitando uma realidade paralela. Mas, neste momento, você está pronto para entendê-la. Não entraria “ao espelho” se sua mente não pudesse conceber.

Fiz silencio por um minuto. As respostas de meu outro eu, estavam começando a me perturbar de forma assustadora. Depois que vi toda aquela cena novamente e agora por um novo ângulo de visão, pude perceber que todo aquele local de nada me interessou. Eu realmente estava vendo tudo de forma destorcida e não entendia nada que as pessoas falavam. Comecei a lembrar agora fora da visão, que eu tinha um sério problema de me “desligar” em algumas determinadas situações. Estar sempre mais distante que o normal quando estava sobre o efeito das drogas e do álcool. Além da dor de cabeça tremenda da ressaca, sempre havia um efeito moral também no outro dia, o de nunca se lembrar destas coisas que aconteciam comigo e outras pessoas vinham até mim para contar-me o que eu havia feito. Era um tanto constrangedor.

- Mas, aconteceu muito mais do que viu naquela festa. – disse meu outro eu interrompendo minha profunda reflexão e fazendo-me olhar ao espelho novamente. – Você perdeu mais detalhes desta vez.

- Mais detalhes?

- Sim! Mais detalhes que construiriam uma opinião, foram deixados para trás. E estes podiam mudar, talvez, a perspectiva do que faria dali para frente.

- O que foi que deixei para trás?

- Olhe por você mesmo. Vou deixar-lhe andar pela sua lembrança. Todo o caminho que fez, irá fazer novamente.

Entrei novamente ao espelho e o filme estava no mesmo ponto, e caminhava como se fosse eu, mas, sem o efeito trágico das drogas e o álcool. Com a idade presente. São e lúcido. Logo na porta tive um susto. Ao lado de onde parei, Renata, a sobrinha de Fagundes, meu ajudador, estava parada no portão da festa. Tentava de todas as maneiras chamar minha atenção e eu desapercebendo àquele detalhe. Renata vendo-me numa situação deplorável, tresloucado, encharcado em banho de vodca, logo me deixou em paz. Coisa que para mim nem fora percebido no dia em que tudo aconteceu. Vendo isso agora, causou-me espanto.

Tudo parou e voltei ao meu banheiro.

- É. Nisso você tem razão! Deixei um muro inteiro para trás, não foi só um tijolo! – falei.

- Você deixou uma vida passar, jogando fora o que poderia ser o começo de um grande amor.

- Nunca imaginei que Renata fosse uma pessoa que gostasse de festas deste tipo. – falei.

- Renata é mais interessante do que você possa imaginar! – disse ele surpreendendo-me por ele saber de quem tratava e ainda saber detalhes sobre sua vida. - Terá uma nova chance, se sair bem... Logo poderá conhecê-la melhor, de uma forma que irá espantar-se com ela.

- Assim espero. Não posso dar uma de louco novamente. – disse isso e ri envergonhado acendendo outro cigarro.

- Bem. Acho que hoje é só isso. Devo dizer-lhe que você nos surpreende. Sua mente permanece intacta quanto à velocidade de raciocínio, mesmo enquanto está se vendo ao espelho. É fato impressionante. Acho que devo aprender outras coisas contigo. – disse meu outro eu.

- Sempre temos que dizer que não sabemos de tudo. E é melhor dizer que não se sabe, do que provar o que realmente sabe-se. – falei.

- Belas palavras! – disse ele. – Agora, tente dormir, refrescar a mente um pouco é necessário. Amanhã poderemos conversar um pouco mais. Peço-lhe então para que descubra sozinho o que se esqueceu de aprender e agarre em pensamento. Amanhã conversaremos.

Como se fosse uma televisão sendo desligada sobrou somente o meu verdadeiro reflexo. Um rosto aparentemente cansado foi mostrado ao reflexo e pude ver que aquela loucura realmente cansava-me muito, embora pudesse ficar mais um bom tempo sobre esta viagem interna.

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