Capítulo 3: Os dois lados da moeda

Mia Santana

Era sábado, o dia de acordar tarde, era o que gostaria de fazer, no entanto...

- Acorda amiga - gritou Raquel.

- Quel para, é sábado - disse colocando minha cabeça debaixo do travesseiro.

- Vamos se levantar, nós vamos à praia, já até combinei com as meninas...poxa amiga se levanta- ela começou a puxar meu pé - vamos!

- Tá bom! - pulei da cama e fui tomar banho, coloquei uma roupa confortável, quando voltei encontrei Raquel sentada na minha cama. Ela às vezes se esquecia onde era a casa dela, e se mudava para a minha.

(...)

Fomos tomar café da manhã, minha mãe estava na cozinha sentada, tomando suco.

- já acordada mãe - sentei- me de frente para ela.

- Sim, tenho que entregar uns desenhos na empresa, e ajudar na preparação da festa - ela olhou para nós - Bom dia, Raquel.

- Bom dia, tia.

- Festa? - questionei.

- Sim festa, bom...Leonardo vai assumir algumas funções na empresa, o pai vai festejar, e é claro os sócios...portanto, eu como futura sócia, e sogra dele estou ajudando na preparação da festa, você minha querida se prepare.

- Tia, o Leonardo é muito gato, minha amiga tem sorte - Raquel sempre puxava o saco da minha mãe, mas mesmo assim dona Lídia não ia com a cara dela.

- Com toda certeza - disse minha mãe.- filha, logo, logo, será você indo trabalhar na Fontoura Construção.

- Que bom mãe - respondi não tão animada quanto gostaria.

- Onde vão?

- à praia - respondeu Raquel.

- filha, você chamou o Leonardo? - minha mãe olhou-me séria.

- Não - revirei os olhos - nem sabia que iria para a praia e depois é um programa só de meninas, não é Raquel?

- Sim, mas amiga depois poderíamos ir ao cinema, conheci um gatinho na faculdade - disse toda animada - seria perfeito, não é tia?..um programa de casais.

- Sim, pronto filha, você vai e fique bem bonita para o seu namorado.

- Mãe, me arrumo para mim mesma, mas obrigado pela dica - ironizei.

Minha mãe me deu um olhar mortal e levantou-se bruscamente, indo para a pia lavar sua louça.

- Querida, vou deixar um recado para a sua avó, ela foi caminhar, mas não se preocupe quanto à ela, não vou demorar a chegar - disse indo para a sala, pegou sua bolsa no sofá e se dirigindo para a saída -  curta seu namorado, querida - Então fechou a porta.

- curta seu namorado, querida - imitou Raquel e em seguida riu - sua mãe força muito a barra.

- Que bom que percebeu.

- Quando você respondeu pra ela, pensei que ela fosse te estrangular com o olhar - provavelmente ela estava se imaginando fazendo isso.

- Minha mãe gosta muito do Leonardo.

- Esta? Ela falta beijar os pés dele.

- É melhor tomarmos café - finalizei a conversa.

(...)

A praia estava ótima, Bruna e Mel estavam curtindo muito.

- Odeio ser ruiva - disse Raquel - vamos dar mais um mergulho, e vamos embora amiga, porque senão amanhã estarei irreconhecível - ri do seu drama.

- Você é linda Raquel - a repreendi - Além disso, nem vem reclamar, você praticamente me forçou a vir.

- nos forçou - disse Bruna - a Raquel é muito persuasiva - fiquei surpresa por ela dizer algo, Bruna não era muito de conversar.

- eu diria chata mesmo- disse eu rindo, acompanhada de Mel. Bruna apenas tomou sua água de coco, sem se importar.

- Gente a praia está ótima...- Mel iria dizer algo mais, porém travou como se tivesse saído de órbita.

- Mel? - escutei um grunhido, era Raquel.

- não acredito! - disse Raquel - ele me persegue na faculdade, em casa e agora até na praia, será possível que ele esteja em todos os lugares! - Olhei para onde as duas mantinham a atenção. Ah Pedro, o irmão mais velho da Raquel, olhei para Mel e entendi na hora.

- Raquel? Ele não é seu irmão, é óbvio que você vai vê-lo em casa - disse Bruna.

- Raquel, acho que a Mel ficou caidinha por ele - falei, Mel saiu do transe na hora.

- o quê ! - As duas disseram ao mesmo tempo. Pedro estava saindo da água com sua prancha, então ele olhou para o lado, e nos viu, seu olhar fixou em mim, depois em Raquel e nas meninas - então ele se virou e foi para o lado oposto.

- É Raquel, acho que ele não gostou de te ver também - provocou Bruna, ficamos rindo da cara da Raquel.

(...)

Raquel colocou uma blusa de manga comprida, óculos escuros, e um chapéu, ela estava “tentando se proteger do inimigo, o sol.”

Fui dar um mergulho com mel, enquanto Bruna e Raquel conversavam.

- Mel, você se interessou pelo irmão da Raquel?

- Ficou muito na cara, né?- perguntou.

Mergulhei em uma ondinha - sim! mas, não te culpo, ele é gatinho - disse nadando para perto dela. Pedro era ruivo como Raquel, ele era um ano mais velho que ela.

- ele é lindo - suspirou - só que ele nem me notou - disse triste -  e ele te olhou esquisito, como se você fosse encrenca - Mel ficou pensativa.

Havia percebido isso também. Pedro me olhou estranho, como se não tivesse gostado de ter me visto, e Mel notou isso, já havia reparado que ela era muito perceptiva.

Saímos pulando as ondinhas, então Mel caiu na areia de barriga.

- calma gatinha - era nada mais, nada menos que...Pedro.

- obrigada - disse Mel.

- de nada - ele deu uma analisada básica nela e sorriu, eles ficaram se encarando de forma nada discreta, percebi  que estava sobrando, então saí de fininho.

Quando caminhava para onde as meninas estavam...

- Mia!

Virei-me lentamente.

- Oi Nicolas - ele se aproximou.

- Oi Mia - disse tirando o cabelo do meu rosto, ele me olhou como se estivesse perdido -  preciso conversar com você.

- Claro, eu ia mesmo te procurar, depois do que ocorreu no refeitório, senti que deveria conversar com você - disse eu e ele assentiu.

- Vem, tem um lugar ótimo aqui perto.

- Eu vou só pegar minha bolsa.

Peguei minha bolsa e me ajeitei. Coloquei minha saída de banho e uma blusa.

- onde vai Mia?

- eu preciso ter aquela conversa com o Nicolas - Raquel entendeu, Bruna não deu muita importância e voltou a conversar com a Raquel.

Fomos ao restaurante na praia mesmo e sentamos em uma mesa distante, Nicolas pediu dois milkshakes de chocolate.

- Então, está namorando.

- Sim.

- Como?

- Nick, como acha que as pessoas namoram?

- Eu só não quero pensar em você com outro cara que não seja eu -  olhei para ele - Mia! Por que se afastou de mim daquela forma.

- Eu estava de luto, foi difícil.

- Poderia ter te apoiado, faria isso e você sabe.

- Nicolas, eu não queria que ninguém me ajudasse.

- O que aconteceu? Sei que não foi só isso.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Lembrar daquele dia era muito doloroso, e o pior era que tinha que viver com esse nó na garganta e esse aperto no peito, todos os dias. Era difícil controlar tudo o que sentia com relação ao que vivi. Muitas vezes, quando acordo pela manhã, desejo que tudo aquilo tenha sido um pesadelo, mas, é só abrir os olhos que a realidade me derruba e me consome. E eu sufoco. Tenho medo de um dia não restar mais nada de mim, apenas um punhado de nada.  Um punhado do que eu fui um dia.

Fico encarando Nicolas tentando encontrar as palavras, mas, tudo o que faço é chorar, Nicolas me encara ainda sem entender, tentando me confortar, mas a dor é tão grande que as palavras “sinto muito”não parecem corretas, apenas parecem um eufemismo.

- Foi um acidente de carro - chorei - estava minha mãe, meu pai e eu.  Meu pai tentou resistir, mas você sabe. Ele morreu por minha causa!

Nicolas segurou minha mão que estava sobre a mesa.

Depois de alguns minutos consegui controlar o choro.

- Eu descobri que não era - suspirei - que não sou filha dele, ele era o meu padrasto, meu pai verdadeiro foi um bandido, ele morreu na cadeia na mesma época.

Nicolas me olhou espantado - Estava discutindo com a minha mãe no carro, meu pai se distraiu da direção, porque eu segurei o braço dele, eu estava transtornada demais para pensar no que estava fazendo.

- Mia, foi um acidente.

- eu sou uma assassina - falei angustiada e um turbilhão de lembranças que me assombravam vieram na minha mente como um flash, Nicolas veio até mim e me abraçou.

- ela estava grávida - ele me apertou mais e sussurrou.

-sua mãe... - engoli o choro, e assenti.

- Ela estava grávida de um filho deles, deles.... e eu não, eu era filha dela com um bandido, um bandido. Ela nem queria me ter, ela estava bêbada quando me concebeu.

- Como descobriu isso?

- Nesse dia fomos almoçar num restaurante e vimos meu pai biológico, ele se aproximou, disse que eu era a cara dele, minha mãe não se importou comigo ali, e jogou um monte de verdades na cara do homem, em uma que ela 'estava bêbada demais quando me fez' , acho que ele estava chantageando ela, ou algo assim - A blusa de Nicolas estava molhada de lágrimas.

- e seu pai, o senhor Ricardo?

- ele ficou furioso, deu o nosso telefone para o...talvez ele achasse que eu fosse querer mais explicações, sobre o passado, não sei.

- Não foi culpa sua.

- Foi sim, meu pai morreu um dia depois do acidente, minha mãe perdeu o bebê, e meu pai biológico, no dia do enterro do meu pai Ricardo, recebi uma ligação da polícia, meu pai de sangue se chamava Geraldo...ele tinha morrido na cadeia.

Nesse momento, eu já tremia de tanto chorar.

- Todos morreram, morreram - Nicolas me ninava, e murmurava palavras de consolo.

- Não foi sua culpa - repetiu, mas eu não conseguia acreditar.

Passamos um tempo assim, abraçados, quando me recuperei me afastei, olhei nos olhos de Nicolas.

- Minha mãe ficou destroçada e mergulhou no serviço e na bebida, eu achei que não merecia ser feliz e você Nicolas - suspirei - me deixava feliz.

- Mia, por favor me deixe consertar, me deixa te amar e te fazer feliz- disse próximo do meu rosto - me deixa curar essa dor que você sente - ele segurou meu rosto entre suas mãos e me beijou.

Beijou- me lentamente e com saudade, mas não demorou muito, pois, desviei o rosto.

- Nicolas eu não quero te fazer sofrer, não quero que tudo o que eu sentia por você volte.

- Eu sei que você ainda me ama.

- Eu não sei se é bom amar, eu só não quero sofrer mais.

- E esse playboy que você está namorando? - senti raiva em seu tom de voz.

- Ele me faz bem, de um jeito que não sei explicar - desabafei - é menos intenso do que o que eu sentia por você, é disso que eu preciso.

- Foi sua mãe, não é? Ela nunca foi com a minha cara, vivia jogando esse cara pra cima de você, não se lembra da sua festa de 15 anos, apenas seu pai impedia que ela levasse as loucuras para frente.

- Sim - isso era verdade, meu pai tinha um poder especial sobre minha mãe - Mas o Leonardo faz bem para mim, vai fazer bem.

- Ele vai fazer bem para o bolso da sua mãe! - me levantei, já tinha dito tudo.

- Eu esclareci tudo com você - disse pegando minha bolsa - estou com outra pessoa agora.

Saí apressada do restaurante, mas ele me alcançou e me puxou ao seu encontro.

- Você acha que agora que sei a verdade vou deixar você ir - ele tirou meu cabelo do rosto - eu vou lutar por você Mia.

- Nicolas...já deixei tudo claro, o que você quer de mim!

- Você...Mia. Eu quero você! - Então me puxou para um beijo.

(...)

Nicolas foi o meu primeiro amor e talvez ainda o ame, mas, sinto que amar não é o suficiente. Sinto-me oca por dentro, só um sorriso me arranca da escuridão, e Leonardo faz isso comigo. Toda a experiência que eu tive amando, a dor da perda me tirou, não posso confiar no amor, ainda não consigo.

- Nick, ainda dói muito - ele me encarou.

- Eu sofri Mia, quando você me deixou, eu sofri.

- Eu não consigo, Nicolas - falei de cabeça baixa, ele segurou meu queixo e me fez olhar em seus olhos.

- Eu espero - disse ele - te esperei até agora e vou continuar esperando.

- Isso não é certo, vim aqui para finalizar esse assunto, devia à você uma explicação e eu dei, agora podemos seguir em frente.

Afastei-me - Mia! Mia! Eu não vou desistir de você...Nunca.

Nunca.

Não olhei para trás, não podia mais suportar, o choro me consumiu e a dor tomou meu peito. O carro. Meu pai. Nicolas. O que eu sabia do amor...nada? Tudo? O amor para mim, era um fio de dor ilimitado que apertava meu coração sem pena.

Bruna Martinez; idade: 20 anos.

- Tchau Bruna - disse Raquel se afastando.

Estava no calçadão. Onde ela poderia ter ido? Olhei ao redor tentando localizá-la.

Peguei o celular.

Então? - questionei.

Ela está em um restaurante com um cara - disse a voz masculina no outro lado da linha.

Como ele é? - Agora estava realmente surpresa.

Moreno e alto. Estão se beijando - ri. Sabia muito bem quem poderia ser...tinha duas opções, a primeira totalmente descartada, Leonardo estava na empresa do pai, tinha certeza disso através dos meus informantes. Então Mia era uma safada, tinha que ter um defeito, não é mesmo?

Continua seguindo ela.

Você sabe que vai ter que pagar o favor - disse ele em tom irônico.

Claro que sei Alonzo! Não é como se fosse esquecer tudo o que o papá  fez por mim.

Só ele?

Você também. Quanto ao plano principal, já está meio caminho andado.

(...)

Peguei um táxi e segui para o casarão onde estava hospedada.

Desci do carro e dei mais que o necessário de pagamento ao motorista, ele olhou a casa assustado e nem questionou quando dei aquela quantia. Que inteligência.

Tinha dois brutamontes na entrada.

- Bruna Martinez - disse fria - minhas malas chegaram hoje cedo.

Eles se entreolharam e abriram passagem. Essa era a casa de Constantino Diaz, um dos criminosos mais temidos da América Latina. Aquilo para mim, é claro, não era nada.

Constantino estava no escritório, tendo um acesso de tosse. Bati na porta e escutei um entre! bem baixinho.

- Está tudo bem?  - perguntei.

- Que bom que chegou Bruna! Sabia que estava na cidade. Como você conseguiu sobreviver aqui sem minha proteção? Sabe o que gente como nós faz com intrusos.

- Estávamos em negociação, fico feliz que entenda meus motivos.

- Motivos assim alimentam grandes poderes.

- Motivos cruéis...você quer dizer - me sentei de frente para ele.

- Bom...você bem sabe da minha condição, preciso que fique ao lado do meu filho e o auxilie na administração dos negócios.

Os "negócios" de Constantino eram, drogas e rachas.

- Pode deixar.

- Infelizmente, um dos nossos melhores mestres de corrida, e também fonte de muito lucro saiu do nosso mundo - gargalhei, se tivesse uma forma de sair, eu estaria muito longe agora.

- Teria a mesma reação que você, mas o garoto é filho de um bilionário. Esse homem é praticamente dono da cidade. Ele soube sobre as atividades do filho de forma nada discreta. Agora temos que tomar cuidado, não desejo matar alguém como ele, não quando pode ameaçar meus negócios.

Então uma luz se acendeu na minha cabeça. Que conveniente. Será que ele falava de Gustavo Fontoura?

- Entendo. Por acaso estamos falando de Leonardo Fontoura? Filho de Gustavo Fontoura?

- ele mesmo.

Sorri. Que conveniente.

Então a porta foi escancarada. Coloquei as mãos no peito devido ao susto.

- Nicolas? Como ousa entrar assim na minha sala? - Constantino se levantou da cadeira e colocou as mãos sobre a mesa.

- mandou caras me seguirem? Já disse que não faço parte dessa sujeira!

Será que ele viu Alonzo?....Não, Constantino deve ter mandado alguns dos capangas dele.

Constantino começou a tossir.

- Sabe que com a minha condição terá que se acostumar com a "sujeira" - disse Constantino com a voz rouca.

O velho caminhou e ficou de frente para o filho.

- o câncer no pulmão evoluiu, terei que me afastar para fazer um bom tratamento. Você cuidará dos negócios.

- Nunca - rosnou.

- Sua mãe recebeu cinco ameaças de morte, você... passou de cem? - aquilo estava interessante, os dois se encaravam e pareciam que iriam se matar a qualquer momento - se não assumir, alguém vai, mas você e nem sua mãe vão ver isso. Eu mesmo já poderei estar morto!

Nicolas abaixou a cabeça frustrado.

- E não se esqueça daquela garota - disse eu fingindo interesse nas unhas.

Nicolas levantou a cabeça e me encarou.

- Você? Você estava com.... - ele iria dizer Mia, mas desistiu, ele olhou para o pai.

- Eu mesma, de qualquer forma você iria saber - estendi a mão, Nicolas olhou para mim ainda confuso.

- o que é isso pai?

- Essa é Bruna Martinez, ela vai ser seu braço direito nos negócios.

Nicolas arregalou os olhos. Com toda certeza ele deveria estar pensando que eu não parecia uma grande criminosa.

- Como uma pessoa que deve apoiá-lo sei exatamente a primeira coisa que devemos fazer. Você vai adorar.

Constantino sorriu. Minha frase pode ter soado com duplo sentido, suspirei ao me dar conta disso.

- Aposto que se darão bem. Devo ir agora, deixo tudo nas mãos de vocês.

Ele fechou a porta com um clique. Não resisti, e revirei os olhos, apesar de ser bem vista por Constantino, o fato de ser mulher sempre atrapalhava, os homens são tão otários.

- Eu não entendo - Disse Nicolas.

Sentei na ponta da mesa.

- Sei que não - e muito burros também - mas, sei que ainda gosta da Mia, se importa com seus amigos. Então, não tem como você não aceitar a vontade do seu pai. Você está condenado nesse mundo "sujo" , assim como eu.

- Do que exatamente você está falando? - Iria ensinar Nicolas a aproveitar o poder que tem nas mãos, ele será o chefe de uma grande organização e precisa se comportar como tal. Em vista disso, não tem como ignorar a grande oportunidade de usar isso ao meu favor.

- Você verá! - olhei para o telefone fixo na mesa.

(...)

No fim do dia fui dar uma corrida na praça. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e partir.

- Pensei que fosse demorar mais - disse Alonzo, se colocando ao meu lado, ele estava vestido com uma camiseta cinza, uma bermuda leve preta e um tênis azul escuro. Alonzo era quatro anos mais velho do que eu, e ele usava esse fato para tentar mandar em mim, odiava isso.

- Sabe que sou pontual.

- Certo. Como estão as coisas? - Perguntou ele.

- Constantino viajou. Deixou-me praticamente no comando.

- praticamente?

- Tenho que supervisionar o filho dele.

- Não faça nenhuma besteira. Sabe que se o matar, nunca terá paz.

- Claro que não vou matá-lo - tirei a foto de Nicolas do bolso e mostrei para Alonzo.

-  Era ele! Era ele no restaurante - disse Alonzo pegando a foto.

Assenti.

- e adivinha? Esse é o filho de Constantino.

- Ele? Não pode ser!

Até então ninguém sabia qual era o rosto do filho de Constantino, ele tinha conseguido manter isso em sigilo por muito tempo.

- Constantino vem sofrendo ameaças, muitos líderes sabem que ele está com o pé na cova. O filho e a esposa estão sendo constantemente vigiados. Acho que agora todos já devem ter tomado consciência de quem é o filho de Constantino, e possivelmente isso vai ser o início de um grande banho de sangue.

- Isso é perfeito para você, não é? Sendo ele....Você nem vai ter que se esforçar muito para......

- cala boca! - grunhi.

Continuamos correndo.

- O que tem em mente? Já está na toca do lobo.

- Apenas diga ao nosso pai que assim que conseguir o que quero, farei o que ele quer.

Assim que passamos por entre um monte de árvores enfileiradas, Alonzo me puxou e me encostou em uma delas.

- Espero que você cumpra com sua palavra, pois, nem que eu tenha que te arrastar Bruna, você vai cumprir sua parte no acordo. Eu apenas aceitei toda essa palhaçada por você. Não me decepcione - disse ele encarando meus lábios, mas depois voltou a me olhar nos olhos, como se estivesse dando um aviso silencioso.

Alonzo correu para longe de mim. Ele iria embora agora, me deixaria aqui, mas eu não era burra ao ponto de pensar que não deixaria ninguém me vigiando.

É, se tivesse uma forma de sair, eu já estaria longe a muito tempo.

Quando percebi que tinha corrido tanto, que cheguei exatamente onde queria, estava na frente da Fontoura construção. Não era tão longe do casarão de Constantino.

Olhando o fluxo de pessoas entrando e saindo, vi ele, o idiota teve a coragem de desligar o telefone na minha cara, sem nem me deixar falar,  provavelmente pensando que era fácil assim se livrar do mundo que ele insistiu tanto em entrar, apenas para chamar a atenção do papaizinho dele, pobre coitado, ser um playboy deve ser muito difícil.

Aposto que ele não esperava por essa, atravessei a rua e vi o deslumbrante carro dele. Balancei a cabeça negativamente.

Leonardo entrou no veículo, e sentou no banco do motorista, colocou a chave na ignição, quando iria ligá-lo.

- Se eu fosse te matar, você estaria completamente perdido.

Ele gritou, e se encostou na porta. Sim, eu estava sentada no banco do passageiro, sorri e dei um tchauzinho para ele.

- Bruna? Quê....quê....

- Eu te liguei mais cedo.

- Não....Não ligou - ele parecia estar em fase de negação.

- Pode acreditar, fui eu, sou funcionária do seu antigo patrão, o Capitão.

Ele colocou a cabeça no volante.

- me deixem em paz.

Coloquei meus pés sobre o painel do carro. Leonardo acompanhou o movimento, ele encarava meu pé como se estivesse pronto para cortá-lo.

- Como entrou aqui? - rosnou, levantou a cabeça e me encarou finalmente.

- Isso não importa - tirei um cartão de dentro do bolso - esse é o local da próxima corrida.

- Não vou.

- Você vai sim. Eu poderia até te liberar, mas ao contrário de Constantino, que prefere não se meter com gente da laia de Gustavo Fontoura, eu não tenho nada a perder - disse piscando para ele.

Saí do carro me sentindo vitoriosa.

A única coisa que tinha certeza agora era que teria minha vingança, isso ninguém poderia tirar de mim, apenas assim conseguirei seguir em frente. Minha família nunca se importou comigo, nunca. Desde cedo tive que aprender a sobreviver sozinha, aprendi a matar para me defender. Agora, agora que sobrevivi a tudo aquilo, finalmente terei o que sempre me manteve viva todos esses anos.

Afinal, toda história tem dois lados. O meu é o mais cruel e obscuro deles.

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