Capítulo 05

                                                          •Isabela•

Caminhamos para o estacionamento onde o Noah já nos aguardava dentro do carro. Vienna apontou para um importado vermelho, que não faço a mínima ideia de qual seja, mas sabia que era para poucos. Ela entrou primeiro no banco de trás, Anne entrou pela outra porta e eu pelo mesmo lado que a Vienna, ficando assim na janela.

Quando olhei pelo espelho retrovisor da frente, me deparei com o embuste, 

de cara fechada.

—Ele vai junto? —Perguntei de repente.

—São apenas quinze minutos de convivência amiga, meu cunhado vai ficar bem quieto na dele, relaxa! —Vienna comenta enquanto Noah ria disfarçadamente.

—Foi mal meninas, lembrei que tenho compromisso. —Abro a porta do carro para sair, porém Vienna me segura desmentindo.

—Tadinha, não sabe nem mentir. —Diz fechando a porta. Noah tirou o carro do estacionamento não me deixando escolha, revirei os olhos novamente e me ajeitei no banco.

—Faz duas semanas que estou na escola e não vi esse cara, a partir do momento que ele desgraçou meu livro eu passo a encontra-lo em todo canto, é sério isso? —Resmunguei, e as meninas é quem riram abafado. 

—Então mané, o Dave vacilou ali naquela jogada, os caras não estavam perdoando... —Iniciou uma conversa nos bancos da frente, afundei-me ainda mais quando Ethan abriu seu vidro para me olhar pelo espelho. Ficamos em uma disputa de quem olhava mais feio, que logo se tornou em quem revirava mais os olhos. 

—O que foi? —Cochicho ao perceber Vienna reprimindo um sorriso travesso.

—Nada não, coisa da minha cabeça. —Diz baixo.

—Estão falando de mim? —Anne praticamente deita no colo da Vienna para entrar na conversa.

—Estamos, segredo de facção! —Brinquei. Meu celular toca na bolsa, pego imediatamente e atendo o mesmo com o nome "Olívia Palito" no visor.

—Pronto, perseguição! 

—Acabei de chegar em casa, que horas você chega?

—Só volto na parte da tarde, por quê?

—Vou dar uma volta, queria saber se você está com a chave.

—Estou, pode ir.

—Eu não pedi sua autorização, disse que vou sair! 

—E eu disse que tabom, pode ir! 

—Nos vemos mais tarde, beijo.

—Beijo! —Desligo e noto a curiosidade nos olhares das meninas.

—Quem era? —Anne pergunta maliciosamente.

—Minha irmã. —Respondo rindo, acabando com a alegria das duas.

—Ah que chato, queria incluir homens na pauta de hoje. —Responde se ajeitando no banco.

—Você queria o quê? —Noah pergunta enciumado do banco da frente. 

—Nada amor, ela não disse nada! —Vienna responde pela Anne. Eu observava tudo divertidamente. 

—Você não estava falando sobre futebol? Nós queremos falar também. —Anne diz cinicamente.

—Eu conheço você não é de hoje Annabeth! 

—Eu também te conheço não é de hoje Noah. Lembre-se disso. Te emprestei minha melhor amiga, mas posso pega-la novamente! —Vienna fez um “Puff", seguida de uma careta engraçada. Dando a entender que aquela “discussão” já havia acontecido outras vezes. 

Encontro um par de olhos me encarando novamente pelo espelho. Arqueei a sobrancelha questionando, até que ele fechou finalmente o vidro.

—E então Isa, o que achou do treino, acha que o time tem chance? —Noah me surpreende com a pergunta. 

—Ah, não entendo nada sobre futebol. Mas, vocês pareciam saber o que estavam fazendo. —Noah riu junto com as meninas. 

—Se isso foi um elogio, obrigado. Diz aí, de que lugar da Florida você é? —Indagou interessado. 

—Overtown, Miami. —Respondi orgulhosa.

—Miami? —Repetiu surpreso. —Por que alguém sairia de Miami? Por acaso está sendo procurada pela federal?  —Noah arriscou olhar brevemente para trás, me fitando realmente curioso. 

—Já é um crime sair de São  Petersburgo, você só pode ser uma fugitiva da polícia para deixar Miami! —Vienna aparentou estar tão indignada quanto.

—Bem, na verdade eu nasci e cresci aqui. Me mudei para Miami com oito anos, e agora voltei, pois a sede de onde minha tia Ellie trabalha retornou pra cá. —Resumi muito superficialmente.

 

Passamos o resto do caminho conversando sobre minha antiga cidade, mais especificamente, eu respondendo as mais absurdas dúvidas que eles tinham, sobre todo o estereótipo de se viver em Miami. 

—Estão entregues meninas! —Noah parou de frente para uma casa muito bonita, duas vezes maior que a minha.

Desci do carro após me despedir e esperei elas descerem também. Uma viatura parou do outro lado da rua me chamando a atenção, dela desceu um policial e do banco do passageiro, para minha surpresa, o garoto que acertei em cheio no primeiro dia de aula.

O homem mais velho entrou primeiro dentro de casa e o garoto fica parado mexendo no celular.

—Aquele não é o Jony? —Perguntei para Vienna, que olhou para o outro lado da rua ainda dentro do carro.

—Sim, ele mora ali. —Responde apenas. Lembrei do que me falaram sobre ele estar sem carro por minha culpa e devido seu sumiço na escola decido por conta própria resolver essa situação. 

Atravesso a rua deixando as meninas perguntando o que eu estava fazendo e antes que o garoto pudesse fechar a porta de entrada, paro em sua frente. O mesmo me olha como se estivesse vendo um E.T.

—Você? —Acho que já vi essa mesma cena hoje.

—Oi, eu posso falar com você? —Pergunto sem nem mesmo ter ensaiado o que falar.

—Não... —Ele não foi seco, mas sim receoso.

—Soube que seu pai te deixou sem carro. —Ignoro sua resposta.

—O que você quer? E como soube onde eu moro? —Deu um passo para frente, para poder fechar a porta atrás dele, a fim de que ninguém escutasse essa conversa de certo.

—Vim para casa da Vienna e vi você chegando. Queria saber porquê você não disse a verdade...

—Já conheceu meu priminho então? É isso ele falou enquanto você dava em cima dele? —Estava prestes a dar uma bela resposta por ter me ofendido quando seu pai aparece na porta.

 Quão loucas devem ser as estudantes daquela escola? Todo mundo que eu falo só exemplificam um motivo.

Isabela brigou com o Jony? Levou um fora! 

Isabela brigou com o Ethan? Levou um fora! 

Isabela matou o presidente? Levou um fora! 

—Boa tarde! —Cumprimenta-me duvidoso.

—Boa tarde, ham... —Fico sem palavras.

—John! John Clarck, você é amiga do meu filho? —Perguntou ríspido após se apresentar. Antes que Jony negasse confirmo que sim.

—Sou sim! Mas, na verdade vim aqui para falar com o senhor. —Jony me fitou incrédulo. —Isabela, muito prazer. —O cumprimento com um aperto de mão. John pareceu perder a cor dos olhos, e eu novamente me senti um E.T.

—Falar comigo? Por acaso... não é possível...

—Vim pedir para tirar o Jony do castigo? Não! —O interrompo. Sem questionar o fato dele ainda me observar como se eu fosse uma assombração. —Na verdade não é exatamente isso, eu só vim esclarecer uma situação. —Me olhou ainda mais curioso. —Bom, senhor John, eu soube que você soube por terceiros que o Jony se envolveu em uma briga logo no primeiro dia de aula e por isso lhe deu algumas penitências, eu só queria dizer que não foi bem isso que aconteceu... —Jony me olhou surpreso, mas ao mesmo tempo aflito, suplicava de forma oculta, para que eu não diga o que realmente aconteceu, apesar de ser muito besta, seu pai é policial, e eu já tinha escutado sobre sua fama. 

De tão besta ele vai achar que estou inventando, por isso terei que inventar para que ele acredite, e também para que Jony não me odeie ainda mais por faze-lo passar por isso. —O que eu gostaria mesmo que você soubesse, é que o Jony na verdade me defendeu. —Os dois arregalam os olhos. —Bom, ele não tinha nada a ver com a briga que eu comprei por causa da minha irmã... mais nova... —Tento improvisar da melhor maneira. Afinal ele é um policial e eu estou dando um falso testemunho, pelo menos na Flórida isso é crime! —E se o Jony não tivesse me ajudado, não sei o que seria de mim, então não acho justo que ele seja punido por algo benéfico que ele fez por impulso, mesmo que seja uma briga sabe, e eu espero poder ajuda-lo assim como ele me ajudou, pelo menos esclarecendo a situação e quem sabe, o senhor possa repensar a punição já que ficar sem carro está prejudicando seus dias letivos.

Faço minha melhor cara de cachorro pidão. E me arrependo por nunca ter treinado ela no espelho antes. 

Ele olhou para o próprio filho que ainda me encarava, se eu não estiver enganada consigo sentir uma pontada de orgulho que acabo de instalar no peito de John.

—Isso é verdade Jony? —Pergunta ao garoto que fica sem respostas.

—Pode ter certeza! Imagine, meu primeiro dia de aula em um país diferente arrumando uma briga enorme, o senhor precisava estar lá para ver da encrenca que ele me tirou. —Está bom Isabela, não se empolgue.

—Está no sangue, sabe... —Inflou o peito em uma falsa modéstia. —o dever, faz a gente agir impulsivamente as vezes. Vai lá filho, leve a sua amiga para tomar um sorvete. —Entrega uma chave de carro ao Jony que ainda estava sem reação. —Foi um prazer Isabela, eu preciso voltar ao trabalho agora, fiquem à vontade. —John passou pela gente, mas chegou a me olhar uma última vez, parecia intrigado com alguma coisa. 

—O prazer foi todo meu Sr. John! Bonita medalha! Bom trabalho. —O homem caminha sorrindo em direção a viatura, pude jurar que ele limpou a medalha do peito com bafo e manga da roupa. Volto minha atenção ao garoto que me encarava sério.

—O que você quer? —Pergunta sério!

—Um muitíssimo obrigado para começar! —Respondo séria. —Eu procurei você na escola para pedir desculpas novamente, mesmo você sendo um grosso comigo, mas como não estava indo, eu não estava em paz comigo mesma, não quero sorvete muito obrigada, eu não achei que seria tão fácil!

—Eu não vou te agradecer! E não pedi sua ajuda. —Não me abalo com seu mau humor.

—Que pena, além de mal educado é ingrato. Não esperava menos, ah e que fique claro, não compro briga de ninguém, tampouco sou influenciável. —Me refiro a essa tal briga dos dois, como ele mesmo insinuou que eu estava fazendo.

Ainda permaneceu ali parado, me olhando irritado, dou ombros e saio sem ao menos me despedir, já que ele não se deu o trabalho de me agradecer. Atravesso a rua e encontro com as duas preocupadas.

—O que você foi fazer lá? —Vienna pergunta boquiaberta.

—Fui pedir desculpas! —Falo apenas. As duas me olham desacreditadas.

—Desculpas pelo quê?

—Pelo mal entendido! —Respondo o obvio.

—E ele aceitou? —Anne estava estática.

—Na verdade não, mas vai me agradecer tenho certeza.

—E o coronel John? Ficou muito bravo? —Anne se pronuncia pela primeira vez.

—Não, muito pelo contrário, o convenci de devolver o carro para o Jony, ele ficou orgulhoso na verdade, nos disse até para irmos tomar um sorvete juntos. —As duas ainda me olham pasmas.

Senti que estava sendo observada, e quando olhei para o lado, encontro Ethan, mas não consegui decifrar sua expressão de espanto, pois também aparentava estar furioso.

Só fechou o vidro quando Noah se despede, mas não fez o mesmo. 

—Você está sendo irônica é isso? —Anne e Vienna se olham.

—Não. 

—Fez isso para provocar o Ethan então? Isa isso não é uma boa escolha.

—Não preciso fazer escolha alguma. Não estou em jogo, e mesmo que estivesse, fui resolver algo particular entre Jony e eu, não tem nada a ver com o Ethan ou essa briga entre os dois, cada um que se vire com seus próprios problemas, quando o assunto é comigo, não mando recado. Se ele não gostou, reclama no RH! 

Mais uma vez elas se olham preocupadas. 

***

Seremos o melhor trio da Saint Mary's

Minha primeira tarde com as meninas estava sendo agradável, compramos algumas besteiras e devoramos tudo enquanto assistíamos um filme de romance. Anne dormiu na metade, Vienna está se acabando de chorar e eu permaneço neutra, também concentrada, ou melhor dizendo, em todas as falhas cenográficas e de atuação pensando no que eu faria para aquela história ficar ainda melhor.

Desde hoje cedo eu fiquei pensando em algumas coisas referente a Anne e o Theo. Desde que ela o viu conversando com uma garota no campo. Pelo que entendi os dois tem uma espécie de amizade colorida sem nenhum compromisso afetivo e de fidelidade, o que explica o fato dele estar cantando a menina sem se importar se tinha alguém de olho ou não, ou o que falariam da Anne em relação a uma possível traição, mas de fato apenas o pequeno ciclo de amizade entre os quatro meninos e as duas sabem sobre o caso deles. 

Mas, o que explica o desconforto da Anne? Assistindo um romance também sobre amizade colorida e com os 99% do livro que "terminei" de ler ontem, descobri algo em comum, ambos falam sobre a descoberta inerente! 

As vezes é possível que você tenha sentimentos por alguém, que durante muito tempo pode ser abnóxio, mas esses por tanto acumulo de verdades não ditas e ações jamais executadas (porém de profunda e genuína necessidade de sentir e agir, mesmo que inconscientemente) se tornam os mais perigosos! 

E quando falamos de amor próprio e descobertas pessoais, estamos falando também na liberdade de poder realizar seus desejos mais egoístas, independentemente de reciprocidade! Ser seguro ou se sentir seguro, é a chave para absolutamente qualquer relação da nossa vida, interpessoal, profissional, particular ou em geral. 

—Você reparou? —Vienna me tira dos devaneios quando o filme quase chega no final. 

—O que? —Pergunto desnorteada.

—A história da Shely, é bem parecida com a da Anne! —Faz uma analogia entre a personagem do filme e nossa amiga.

—Bom, levando em consideração que só nos conhecemos a duas semanas, acho que ela não teve tempo de falar muito sobre sua vida amorosa. —Comento e rio abafado. Afinal ela praticamente leu meus pensamentos.

—Resumindo, ela e o Theo sempre foram amigos, desde o primário, assim como o Ethan, Noah e Dave, eles se conhecem desde crianças, há algum tempo em uma das festas do Ethan os dois ficaram bêbados e acabaram ficando pela primeira vez, mas ninguém além de mim é claro ficou sabendo, então eles esconderam de todo mundo, disseram que seria a primeira e última vez, daí teve a segunda, a terceira, a quarta, e sempre seria a última, no final das contas os dois assumiram uma amizade colorida em segredo. Eles ficam quando der vontade depois a amizade continua como se nada tivesse acontecido. —Não é o que pareceu hoje pelo olhar dela, e pelo jeito apenas eu percebi, graças ao meu lado observador!

—Que legal! —Finjo surpresa. 

—Você acha? —Pergunta estranhando.

—Sim! Se eles conseguem separar o conveniente do perigoso, para eles é ótimo, ficam quando bem entendem e vida que segue sem qualquer tipo de envolvimento profundo ou compromisso, é difícil ter esse controle emocional.

—Quem disse que eu tenho controle emocional? —Anne nos assusta resmungando de repente, ainda sonolenta. —Vocês não têm vergonha de ficar falando da vida alheia, bem em frente a alheia? —Finge estar ofendida. Sentou-se no sofá e se espreguiçou.

—Estávamos falando que esse filme conta a história da sua amizade colorida, como a Isa não sabia sobre ela, eu contei. Ela disse que você é muito segura de si em conseguir controlar os próprios sentimentos. —Anne nos enfitou por alguns intermináveis segundos, seu olhar queria nos contar algo que ela estava ainda criando coragem para falar.

—Aconteceu alguma coisa, vocês brigaram? —Vienna interrompe o silêncio. —É por isso que você ficou evitando ele... hoje de manhã? —Espera por sua resposta que não veio, foi aí que matei a charada, ela estava desconfortável demais ainda procurando as palavras.

—Você gosta dele! —Afirmo observando sua reação.

—O que? Não eu... —Respirou pesadamente, não precisava dizer mais nada.

—Ai meu Deus! —Vienna se vira totalmente, ficando de frente para ela.

—Não sei, não sei Isa, ontem pareceu tão mais intenso sabe, eu não queria sair de perto dele, e ele também parecia querer que aquele momento nunca acabasse, mas eu sei que ele saiu dali já pensando na próxima garota, eu não quero gostar dele! Esse é definitivamente um risco que eu não estou disposta a correr. —Diz quase em tom de desespero, me olhando séria.

Lembra o que eu falei? Anne era sim alguém bem segura de si e eu não tenho duvidas disso, mas os acúmulos de sentimentos reprimidos por um medo incabível de aceita-los, confundiu seu eu segura com seu eu medrosa. A partir do momento que você cria uma situação onde não pode mais controlar seus instintos primitivos e eles se tornam uma tortura, você não está mais no comando, o medo está! Ou seja, você não se sente segura o suficiente de assumir seus sentimentos e no caso da Anne, por conta do medo de perder a amizade, ou o que restou da relação deles dois. 

—Amiga como isso aconteceu? Vocês estavam tão certos de que conseguiriam manter uma amizade mesmo ficando, eu sempre te achei tão relevante com relação a isso... e agora? Vai acabar uma amizade de anos caso não seja reciproco? —Vienna estava preocupada.

—Não, não é isso, eu não disse que gosto dele, eu só não gosto mais dessa situação, só isso, eu vou saber por um fim, sem afetar nossa amizade.

—Então por que já não pôs? Por que ficar agindo assim invés de resolver?

—Na verdade, é que, eu sei muito bem que sou só mais um brinquedo pra ele, eu sinceramente não ligo pelo fato dele também ser o meu, nós apenas ficamos sabe? Eu nego porque ele também nega, nós preferimos assim, o que ninguém sabe ninguém estraga, e ninguém nessa escola sabe. Ninguém tirando a Samanta. 

—A Sam? O que ela tem a ver? —Vienna indaga surpresa.

—Espera, Sam? Aquela garota de quem vocês falaram? —Tento lembrar.

—Ela mesmo. Hoje quando a treinadora nos juntou para fazer dupla, ela comentou algo sobre estar esperando o Ethan sair do vestiário e ouviu o Theo falar de nós. 

—E isso não é bom? Ele está falando de você para os meninos? Garotos não fazem isso com frequência. 

—Não, não foi bom. Se a Sam ouviu certo, ele contou a eles das nossas ligações de madrugada e ainda zombou: e daí? Falo com ela de madrugada e de dia nem a cumprimento. —Abrimos a boca em formato de "o". —Ainda falou algo do tipo: se ela pular fora eu pulo também, ela não é a única que me liga de madrugada. 

—E ainda teve a cena hoje no fim do jogo com aquela garota. —Completo e ela concorda, está na hora de usar todos os meus anos de análise, livros de auto conhecimento, romances intermináveis e minha experiência com um amigo que foi um sucesso. —Olha, eu não sou a pessoa mais experiente pra falar sobre isso, mas, se não quer que passe disso, o jeito é cortar pela raiz, toda vez que vocês se encontrarem você vai criar expectativas que você mesmo diz ser em vão, então se você sabe que não tem futuro, por que apostar em um relacionamento as escondidas?

—Porque é bom...eu acho. —Descontrole emocional é um porre! —O problema não é, os garotos saberem, o problema é ele me ridicularizar como se eu fosse uma qualquer sabe? Como se eu ficasse atrás dele disponível o tempo todo. E porra eu estou sempre disponível! —Se exalta com ela mesma.

—Era bom! Quando não passava disso, agora é mais que isso, você está em cima do muro, uma hora vai ter que descer, é tudo ou nada se joga e aposta pra ver no que vai dar, ou corta logo de uma vez antes que isso chegue a um ponto incontrolável. —Digo surpreendendo a mim mesma, não é como se eu fosse uma psicóloga, afinal meus conhecimentos reais de sentimentos vão de zero a menos um, mas isso foi no mínimo, comovente!

—Você tem razão, o que acha que devo fazer? —Opa, melhor eu baixar minha bola...

—Aí eu já não sei, deveria perguntar pra Vienna, ela já passou por isso! Se fosse comigo eu apenas me forçaria a não sentir, doa o que doer, mas o meu conselho é, primeiro tentar descobrir se ele também está tão confuso quanto você, acho que isso já é um começo. —Ela sorri confiante.

—Eu faria exatamente o mesmo, tentaria descobrir se é reciproco, o único problema é que, conhecendo o Theo assim como nós te conhecemos, ele também não faz a mínima ideia, não é só chegar e perguntar, ele vai ficar confuso e com certeza não vai saber dizer, porque ele também gosta de ficar com você isso é fato! Mas, temos que descobrir algum jeito dele perceber isso sem ninguém pressionar. —Vienna expõe.

—Pelo contrário! —As duas prestam atenção em mim. —Homem é realmente muito diferente das mulheres, eles não irão fazer uma tarde dos meninos e expor seus sentimentos após um filme clichê. —Anne riu envergonhada. —Nós vamos ter que pressionar sim!

—Como assim? Colocar ele na parede? — Balanço a cabeça negativamente.

—Curiosamente, eu tenho PHD em cupidologia. Já ouviram aquele ditado, a gente só dá valor quando perde? —As duas continuam com uma interrogação no olhar. —Meu melhor amigo Andrew e eu, tínhamos uma espécie de relação parecida. Nós ficamos uma vez, depois fingimos que nada aconteceu, mas eu chamo de, um erro bem sucedido, porque realmente nada mudou. Ele sempre gostou de uma menina chamada Norah, e eu sempre tentei ajuda-lo, ela até chegou ter uma amizade com ele, ficaram durante um tempo, mas disse que não passaria disso. Acontece que quanto mais ela o rejeitava, mais ele corria atrás. Andrew nunca foi mulherengo nem nada disso, mas certa vez, estávamos em uma festa comemorando uma proposta de emprego que ele havia recebido, ela estava lá, e eu achei que mais uma vez ele iria tentar algo, mas invés disso decidiu ignora-la, não para provocar, não faz o tipo dele, mas, ele simplesmente resolveu que passaria a noite com a gente, amigos e não correndo atrás de alguém que não queria nada com ele, adivinhem, ela percebeu, dias depois os dois engataram em um namoro. 

Contei a história nostálgica. 

—E você ficou como? —Vienna questionou melancólica. 

—Feliz é claro. Ele sempre gostou dela. —Dei ombros como se fosse óbvio. —Quero dizer que a Anne deve ficar com outra pessoa! 

—Quer que eu use outro cara para esquecer o Theo? —Pergunta pasma.

—Anne, a vida não é um conto de fadas ao contrario do que muitas pensam, e não estou falando de fazer ciúminho, estou falando de amor próprio, como o Andrew fez. Você deveria se permitir ficar com outra pessoa, conhecer caminhos diferentes, por acaso você já ficou com alguém depois dele? 

—Não! —Agora ela parece muito mais pensativa. 

—Ao contrario dele! Você pode nem gostar dele direito, pode só ter acostumado, e foda-se se gostar de outra pessoa, se for reciproco ótimo, senão é só repetir o processo. É impossível não gostar de você pra começo de conversa. Entretanto, se mesmo assim, você ficando com outra pessoa, depois de todas as tentativas falharem... aí sim, você pode tomar uma decisão segura. Talvez até se declarar e dizer o que sente pelo Theo. —Agora sim seus olhos brilhavam em aprovação.

—Você tem toda razão. Theo tem tudo de mim, e a culpa é minha, eu não soube separar as coisas como vocês souberam, como ele soube. Então só cabe a mim mudar essa situação. Não quero prejudicar ainda mais nossa amizade. —Todas sorrimos felizes pela sua iniciativa. —Mas o que eu faço por enquanto? Não tenho ninguém que esteja interessado em mim, e não vou sair distribuindo flertes, vou parecer uma desesperada! 

—Você precisa fazer isso por você, por mais que seja bom fisicamente, está acabando com o seu psicológico, pelo simples fato de não poder cobrar nada dele. Então ame a si mesma e não deixe mais que isso aconteça, é simples. Só de fazer isso você estará aberta a novas oportunidades, e quando você realmente se interessar por alguém, vai fundo. —Elas me ouviam como se eu fosse a voz da razão. 

—Vamos sair, nos divertir, conhecer gente nova, quem sabe só um carinha qualquer não abra sua mente? —Vienna se empolga. Anne continua me olhando encantada.

—Isa eu queria ter esse auto controle todo que você tem, quer dizer, você consegue pegar uma situação e excluir a primeira pessoa dele, consegue ver o melhor cenário, você sempre foi assim? —Anne pergunta. 

—Nunca passei por isso! Então sempre fui a terceira pessoa! —Rimos juntas. —Digo, acho que nunca gostei de alguém a ponto de me perder para os próprios sentimentos. 

—Nunca teve medo de estragar sua amizade com esse Andrew? —Neguei confortavelmente. 

—O fato dele ser mais velho, assim como os outros com quem eu andava, pode ter ajudado no meu amadurecimento, minha irmã diz que eu penso como um homem. —Elas riram concordando. 

—Ou só não encontrou a pessoa certa mesmo, alguém que te tire dos trilhos. —Vienna sugeriu, parecia estar falando dela mesma. 

—Gosto de pensar que ninguém tem esse poder contra mim. Gosto da calmaria, de zonas confortáveis. —Vienna mais uma vez sorriu de um jeito cúmplice. 

—As pessoas que chegam para ficar, geralmente vem acompanhada de um furacão. —Falou encarando o teto, deixando subentendido. Não sabia se ela estava falando do próprio relacionamento, ou da minha chegada, ou de tudo o que aconteceu até agora. 

—Ferrou, então a Isabela é a alma gêmea do Jony, Ethan e todos que cruzaram seu caminho até agora. Ela é a própria Katrina! —Gargalhei pela forma que a loirinha falou.

Passamos o resto da tarde conhecendo um pouco mais umas das outras, as duas não são invasivas, não forçaram a amizade. Nossos gostos, pensamentos e personalidades são bem parecidos. Foi questão de tempo para estarmos conversando como se já nos conhecêssemos a muito tempo. 

Nunca pensei que me sentiria tão bem acolhida, gratuitamente, não é como se elas fingissem simpatia para se aproximarem dos meninos por exemplo. Tampouco eu tenho algum interesse em algo que elas possam me oferecer, é simplesmente sincero. Como era com meus meninos.

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