Capítulo sete

Chegou o grande dia e eu não me sentia pronta, mas quem se sente né; levantei muito cedo, preparei tudo que tinha que levar, água não poderia faltar, já tinha comprado um tablete de chocolate para acalmar os ânimos, caneta, lápis, borracha, documento, tudo certo.

Para minha surpresa, mamãe estava na cozinha, cantarolando Gonzaguinha, seu ídolo, e preparando um café delicioso que o cheiro espalhava rapidamente pelos pequenos cômodos da casa.

"Acho que o afago também fez bem a ela". Penso abrindo um leve sorriso.

Que alegria ver mamãe assim, alegre, cantarolando e disposta, isso me motiva e inspira.

—Bom dia senhora "Gonzaga", sonhou com o ídolo hoje? —Dei—lhe um beijo no alto da testa, por um acaso minha mamãe estava mais baixa do que eu, eu tinha me tornado uma enorme "vara pau".

—Bom dia meu amor, estou atraindo pensamentos positivos, hoje você precisa de toda positividade possível, te desejo toda sorte do mundo, e sei que você vai se sair muito bem, é uma menina inteligente e especial, vai ganhar o mundo querida e, olha, nada de se bloquear por causa dos outros, sempre olhe para seus objetivos e foque no futuro. —Mamãe acordou poética também.

Olhei para ela com uma cara de interrogação, mas ela continuou com seus sábios conselhos, e eu, não sou boba, absorvendo cada palavra da minha progenitora, especialíssima conselheira, meu exemplo.

—Ah mamãe, quando crescer quero ser igual a senhora, se bem que poderíamos ficar para sempre juntas né?

—Não seja igual a mamãe querida, corra atrás do seu sucesso, seja independente e lute por suas conquistas, a mãe não estará para sempre do seu lado, mas tenho certeza que criei uma grande mulher; e se apresse, a hora está passando.

A caminho da prova do Enem, fiquei com as palavras da mamãe na cabeça, o que me inspirava cada vez que chegava mais próximo da escola, cheguei e já sentei logo na carteira marcada com meu nome, coloquei as mãos no queixo, com os cotovelos sobre a mesa, e repassava cada pergunta na minha cabeça, acho que o cheiro de neurônios pegando fogo já estava exalando.

A prova teve a presença de poucos alunos, talvez uns quinze no total.

Depois da prova, eu consegui respirar naturalmente, coisa que não fazia a uma semana, cheguei abracei papai e entrei para abraçar mamãe também, ela estava lá, linda e plena, em frente ao espelho, com seus cabelos grisalhos soltos sobre os ombros, passando um batom cor de café.

—Olha, como está uma diva, mamãeeeee. Parabéns, um arraso. —Falei aplaudindo levemente aquele ato tão diferente que nos surpreendeu.

—Olha filha, tem coisa aqui que eu nem me lembrava que tinha, estou experimentando, mas nada fica bonito como antes; como foi lá na prova?

—Foi bem mamãe, apesar de ter estudado três meses, algumas questões me pegaram de surpresa. Falei me sentando ao seu lado.

Começamos a folhear álbuns de fotos antigas, e cada uma tirava um suspiro diferente da mamãe, até que encontrei uma foto do meu irmão falecido, como ele era lindo, fiquei um tempo olhando, e mamãe ficou curiosa.

—O que achou filha?

—Nada mãe, vou na cozinha preparar um chá, a senhora quer? —Falei escondendo disfarçadamente a foto.

—Quero sim filha, obrigada, traz aqueles biscoitos de polvilho que dona Ana trouxe, estão deliciosos.

Fui para cozinha levando aquela foto, e depois de olhar por um tempo, joguei dentro da fornalha do fogão a lenha e me certifiquei que tivesse queimado por inteiro, eu estava feliz demais em ver mamãe bem, não queria que uma foto a fizesse voltar a chorar.

O dia do Enem, foi um dia marcante e feliz, aquele dia que a gente não quer que acabe.

Agora a ansiedade era outra, a nota, como será que foi, será que fui bem?

Começou novamente toda aquela agonia.

"A coragem não é a ausência do medo,

É a persistência apesar do medo"

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