7 - Emma Holland

Droga, acho que dei um chute muito alto. — Encaro a janela do prédio quebrada.

Mas que merda. Agora vou ter que subir e me desculpar. A bola nem minha é. Eu tenho que devolver pro meu irmãozinho senão ele me mata.

Saio do campo e contorno o parque pra entrar no prédio. E o pior de tudo é que vou ter que sair tocando as campainhas todas do 7° andar.

Dia de sorte Emma... Dia de sorte...

Isso tudo porque eu peguei a bola escondida.

— Bom dia Emma! — O porteiro sorri me dando passagem.

— Bom dia. — Sorrio e encosto no balcão do saguão.

— Deseja alguma coisa Emma? — A Senhora Roberts pergunta.

— Vocês por acaso receberam alguma reclamação de uma janela quebrada... — Dou um sorriso congelado e ela ergue as sobrancelhas.

— Sim. Sim. Nesse exato momento. Apartamento 7B. — ela me encara severamente — E por favor, mais cuidado com seus jogos. Seu pai vai odiar saber disso.

— Ele não precisa saber né! — Pego o elevador até o sétimo andar.

Meu pai é dono desse prédio e o que ele mais odeia é ver coisas quebradas por aqui. Sempre é prejuízo pra ele. Mas se a fofoqueira da recepcionista não falar nada estarei bem.

O elevador se abre e eu chego a porta do 7B, dando umas batidinhas enquanto minha perna balança de ansiedade.

Se for outro daqueles velhos rabugentos estou frita. Da última vez que tentei um esporte, era arremesso de disco e eu acertei na boca de um velho, e ele engasgou com a dentadura. Mas não morreu. Só fiquei dois meses presa nesse prédio fazendo limpeza nos quartos de luxo.

É cada coisa que a gente encontra limpando...

A porta se abre e um rapaz lindoooo me encara. Esse eu nunca tinha visto por aqui. Também eu moro no 1° andar e não saio pela porta convencional como todo mundo. Mas acho que agora vou começar a sair.

Ele é um pouco loiro, ou ruivo, ou será que ele tem os cabelos castanhos claro? Não dá pra saber a essa distância.

— Oi? — Ele diz depois de um tempo me encarando e sem eu dizer nada.

Oi, você sabia que a gente vai casar um dia?

— Oi. Eu sou a Emma. — Assinto sorrindo involuntariamente.

— Eu sou Elliot. O que deseja? — Ele segura a maçaneta enquanto me encara de um jeito indecifrável.

— É que acho que a minha bola quebrou sua janela... — Serro os dentes num sorriso lamentoso.

Sua feição indecifrávelmente linda muda pra um olhar estreito e uma cara de raiva terrível.

— VOCÊ QUEM DESGRAÇOU MEU ATELIÊ?!!!! — Gritou e eu tomei um susto.

Nossa, é pior que velho rabugento.

— Desculpa, não foi minha intenção. — me sinto pequena diante da sua ira.

— VOCÊ DEVIA TOMAR MAIS CUIDADO COM SEUS JOGOS! — Ele entra num quarto e volta como um touro bravo e com a bola toda suja de tinta mas mãos. — TOMA A DROGA DA SUA BOLA! EU DEVERIA TE PROCESSAR! EU VOU RECLAMAR COM O SÍNDICO DESSE PRÉDIO!!!

Cacete que cara bravo!

Um telefone começa a tocar e uma garota de avental aparece correndo pra atender. Não deu pra ver seu rosto porque o chato tá na frente.

— Calma Elliot! Você nem tava pintando nada importante. Ela não teve culpa! — A garota diz. — Alô, bom dia, aqui é a assistente do Cameron Blake, com quem eu falo? — atende o telefone com uma voz de aeromoça dando ênfase no nome Cameron Blake.

— Eu já pedi desculpas, não precisa contar pro dono. Por favor. — Peço encarecidamente.

Ele revira os olhos.

— Suas desculpas não vão fazer o meu ateliê ficar limpo. — diz friamente.

Mas que filho da puta mal humorado!

— Eu limpo se você quiser. — Sugiro educadamente.

— Não! Pra você derrubar o que sobrou? — Ri com deboche.

— Ah, quer saber, vai tomar no seu cu. A bola deveria ter acertado a sua cara também, pra ver se derruba esse seu mal humor! — dou as costas pisando firme.

A pessoa age com educação, pede desculpas e ele ainda debocha!

Depois da minha total falta de jeito para esportes e a total falta de educação do que eu pensei se fosse meu futuro esposo. Voltei pra casa e tomei um belo banho.

Eu queria, juro que eu queria ser uma pessoa que tem algum dom esportivo ou artesanal, mas eu sou um desastre. Parece que eu só presto pra administrar negócios. Isso me deixa careta.

Visto uma saia lápis, uma blusa elegante e prendo meu cabelo num coque. Passei um batom leve e calçei um salto discreto que combina com minha pasta e minha bolsa. Essa é a minha verdadeira feição. Não sei pra quê a escritora botou lá no cast que eu jogo futebol. Eu tento minha querida. Mas eu não tenho jeito algum.

Saio de casa pela porta da frente, exalando um perfume importado que ganhei. Eu não gosto de ser assim chique, mas o meu trabalho pede. Eu sou auxiliar do meu pai na administração do bocado de prédio que ele tem. Faço a contabilidade dos atrasados e danos, além de receber as reclamações e procurar resolvê-las. Eu sou o braço direito dele. Mas o que eu queria mesmo era não ter tanta responsabilidade.

Ao passar pela segunda vez hoje pelo saguão, vejo uma garota loira arremessar uma bola de papel de uma certa grande distância na lata de lixo. E olha, a bolinha entrou viu!

— Cesta! — Comemorou.

— Meu parabéns. Eu queria tanto saber arremessar assim. — Me aproximo dela admirada.

— E eu queria andar assim chique e ter cara de quem sabe o que quer da vida. — Ela sorri me analisando e eu também ri com seu comentário.

Gostei dela.

— Sou Emma. — Estendo minha mão para cumprimentá-la.

— Eva — Aperta minha mão. — Por pouco a gente não tinha o mesmo nome!

— É, a sorte é que eu tenho os cabelos pretos e você loiros. — Rio.

— Pra onde você vai assim tão chique? — Ela me acompanha saindo do prédio.

— Vou trabalhar. — Procuro um uber no app.

— Ah... — Ela parece pensativa.

— Você trabalho Eva?

— Não. Eu terminei o ensino médio e ainda não sei o que fazer. E não tenho emprego também. Meus pais queriam que eu fosse como você. É bom?

— Bom... — Sou uma risadinha. — Eu sou boa nisso, então pra mim é bom. Mas eu queria ser boa em outras coisas também. Como esportes. Hoje mesmo eu acabei quebran... — Sou interrompida pelo carro do Uber que para ao meu lado. — Tenho que ir Eva. — Lamento.

— Ah, que pena. Você mora nesse prédio?

— Sim. — Entro no carro.

— A gente podia se encontrar. Eu acabei de mudar pra casa do meu irmão.

— Seria bem legal. — abro minha bolsa e tiro um cartão. — Aqui meu número. Me chama no whats. — Entrego sorrindo e ela o pega.

— Cacete, já tenho uma amiga. — Comemora voltando pro prédio num tchauzinho e eu retribuo enquanto o carro anda.

Eu não tenho amigas. Nossa, isso é bem doido. De repente eu fiz uma? É assim fácil? Porque eu nunca consegui? Acho que as meninas que eu conheço nunca me consideraram. A Eva é doidinha, aposto que era iria rir se eu tivesse terminado de contar que eu quebrei a janela de alguém e como essa pessoa ficou brava.

Ela podia me ensinar a arremessar do jeito que ela faz!

Ai, tô empolgada agora!

Pago o Uber e saio do carro em frente a empresa do meu pai. É daqui que a gente administra tudo. Papai tem além dos prédios normal, hotéis e pousadas. Ele meio que saiu comprando os negócios decadentes dos outros e fez com que ficassem de pé novamente.

Pego o elevador para o 3° andar e quando saio do mesmo sou recebida por uma chuva de sorrisos.

— Good tarde galera! — Desfilo pelo corredor da sala. Foram montandos vários mini escritórios abertos onde a galera fica olhando um pra cara do outro por aqui. Eu tenho o meu escritório separado por ser filha do patrão. É bom que eu solto meus puns em paz.

— Bom dia, Emma. — Uma das Secretarias me cumprimenta sorrindo.

Se eles pudessem tirar meu pai e me deixar no comando da empresa, eles fariam. Não sou eu quem tá inventando. Eles já me falaram mesmo. Meu pai é um pé no saco.

— O que tem pra hoje Marta? — Entro no meu escritório acompanhada da minha assistente.

— Está aqui todas as reclamações e atrasos de aluguel desse mês. — Ela me entrega algumas folhas. Umas três mais ou menos.

— Okay. Vou analisar e qualquer coisa eu te ligo. — Sento na minha cadeira hipermegaconfortável de gente chique e coloco os papéis e minha bolsa encima da mesa.

— Você quer um café? — Ela aguarde em prontidão.

— Marta... Você sabe que eu não tomo café. Traz um açaí com nutella e morango.

Ela sorri e sai fechando a porta.

Estico minhas pernas de baixo da mesa e tiro o sapato.

— Senhor, dai-me coragem. — Bocejo me espreguiçando.

Almocei nem descansei já vim trabalhar. Vida de adulto nem sempre é legal.

Me ajeito na postura correta e tiro minha bolsa de cima dos papéis. O computador tá ligado, mas só funciona com a senha que só eu sei. Sempre peço pra Marta ligar o computador antes de eu chegar, porque eu nunca lembro a ordem dos botões.

Na lista de reclamações tem de tudo como sempre. Pia quebrada, vaso entupido, maçaneta com defeito, vazamento no banheiro... Janela quebrada.

Mas quem diria. O chato reclamou mesmo da janela quebrada.

[ Uma desastrada acertou a minha janela com uma bola de futebol. O nome dela é Emma, se vocês quiserem processar, ela provavelmente mora no prédio, porque a bola veio da nossa quadra. Por favor, concertem logo, essa janela é do meu ateliê e eu preciso mantê-la fechada para conservar minha arte. — Elliot Grayson]

— Filho da puta! — Praguejo em voz alta. Até meu nome ele citou! Ele pensa que eu sou o quê? Eu que mando nessa zorra!

— Que linguagem é essa, Emma? — Papai entra no meu escritório todo paletólizado.

— Desculpa pai. Eu pensei em voz alta. — Dou um sorriso culpado e ele senta na cadeira em minha frente, no outro lado da mesa.

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