Capítulo Dois

Parte 1...

Mike estava abaixado, olhando os pontos na barriga de uma gatinha que havia sido trazida pela dona às pressas. A gata não tinha raça definida, era uma vira-lata muito bonita, branca e amarela.

A mulher a encontrara na rua, muito magra e a levou para casa. Agora morava em sua casa há dois anos e era muito apegada à sua nova dona e sua casa. Mas era uma gatinha muito danada e que mexia em tudo. Acabou engolindo um dos carretéis de linha que a mulher usava para suas costuras e começou a passar mal.

Infelizmente foi necessário fazer uma cirugia de emergência, mas foi bem sucedida e agora a gatinha estava em recuperação. A dona poderia levá-la de volta dentro de quatro dias.

Antes ela precisaria ficar em observação mais próxima e evitar fazer movimentos bruscos, então ele a colocara em uma pequena gaiola que limitava seus movimentos e também um colar cirúrgico em volta do pescoço para que não retirasse os pontos.

Levantou e mexeu os ombros, sentindo a tensão do dia. Parecia que os animais ficavam mais agitados dentro de certo período porque na última semana eles tinham recebido animais com mais casos necessitando de cirurgia por terem engolido algo perigoso.

Muitas vezes por terem que ficar muito tempo dentro de casa, devido as chuvas ou aos donos saírem, muitos ficavam entediados e tudo virara um brinquedo em potencial. E às vezes esses brinquedos traziam problemas que precisavam de atendimento médico.

Mike abriu a gaiola e pegou a gata no colo com todo cuidado, andando pela sala devagar, acariciando sua cabeça, lhe dando um pouco de conforto após dias ali dentro, longe do aconchego de seu lar e de sua dona. Muitos animais ficavam estressados pela ausência de rostos conhecidos e lhe dar um pouco de atenção e carinho o fazia entender que não estava abandonado.

— Pronto - se abaixou e a colocou de volta — Agora você tem que dormir um pouco, hum?... Isso mesmo, quietinha - alisou de novo sua cabeça — Em poucos dias você vai estar com sua mamãe humana.

Ficou olhando enquanto ela se ajeitava no colchão dentro da gaiola e procurava a melhor posição para dormir. Tinha sido uma boa cirurgia e a recuperação dela seria completa.

Ficou feliz com isso, até porque já tivera fracassos também e isso lhe doía muito. Claro que a vida era assim, nunca se podia saber exatamente o que poderia acontecer.

Apenas tinha a esperança de que seus esforços fossem sempre um sucesso, mas teve que aprender a perder também.

Tinha um grande amor e respeito pelos animais,. Desde cedo ele sabia que era isso o que queria fazer. Cuidar desse animais tão especiais. Mas foi difícil a primeira vez que perdeu um paciente e ficou dias se remoendo, sentindo culpa e remorso. Infelizmente ele não podia salvar todos.

Ouviu a porta abrir e olhou para trás. Era Eliza, sua assistente na clínica. Ela sempre ficava ao seu lado quando fazia alguma cirurgia. Ela entrou com um sorriso grande e trazia um refrigerante consigo.

— Que tal um refrigerante gelado? - esticou a garrafa para ele.

— Não dessa vez, obrigado - negou com a mão — O que preciso é comer algo de verdade - esticou os ombros e estalou o pescoço — Essa semana tem sido bem agitada.

— Verdade - ela bebeu um gole — Você vai embora?

— Daqui a pouco. Ainda tenho algumas coisas para resolver antes de poder descansar. Apesar da hora adiantada - olhou o relógio — Já são quase seis da tarde.

Eliza o olhou de cima até embaixo. Desde que entrara na clínica que ela tinha um queda por Mike. Não era direta no assunto, mas vez ou outra ela estava sempre tentando chamar sua atenção e ele já tinha entendido isso.

— Porque não passa lá em casa depois? - lhe deu um olhar mais lascivo — Tenho um vinho maravilhoso guardado para uma ocasião especial. Podemos pedir uma comida gostosa, talvez francesa ou italiana - deu um passo em sua direção — O que acha?

Ele sabia que ela tinha interesse nele. Não era bobo. Depois de um tempo passou a observar que ela sempre o convidava para ficar em sua casa, mesmo ele nunca aceitando. Primeiro que não a conhecia bem, apesar dela trabalhar ali com eles há nove meses já. Segundo que apesar de ser muito inteligente e bonita, com seu grande cabelo loiro quase branco e olhos muito verdes, ela não sentia nada diferente por ela.

Não quis ser mal educado e nem queria misturar trabalho com vida pessoal, pelo menos não nesse caso. Todas as vezes que lhe dava uma indireta ele fazia de conta que não tinha entendido e quando era algo mais direto, ele sempre recusava de modo gentil.

— Seria ótimo realmente - começou gentil — Mas infelizmente eu vou ter que recusar - ela fez um biquinho — Faz tempo que minha mente está ocupada com outras coisas e ter um envolvimento com uma colega de trabalho não seria nada bom - explicou educado — Você é uma garota linda, inteligente e divertida, mas eu não acho certo estragar uma parceria de trabalho por algo que não sei se daria certo.

Ela encheu o peito de ar e soltou devagar. Parecia analisar o que ele lhe dissera. Ele não quis magoar seus sentimentos, mas precisava ser honesto com ela, para que não ficasse sempre na esperança de algum dia poder ter algo com ele que não fosse relacionado ao trabalho.

— Pelo menos você reparou em mim - deu uma voltinha — Mas quem garante que isso vá dar errado?

— E quem garante que vá dar certo? - ergueu uma sobrancelha — Eu prefiro não arriscar uma profissional talentosa como você.

— Já parou para pensar que temos muitas coisas em comum? Quantas vezes já rimos juntos, salvamos nossos animais, cuidamos dos clientes que chegam nervosos?

— Realmente, temos muito em comum, mas apenas no sentido profissional, Eliza. Não seria justo com você que eu lhe desse esperança de algo mais sério além disso.

Ela abaixou a cabeça assentindo, parecia magoada.

— Tudo bem, você quem sabe - deu de ombros — Mas eu garanto que poderia ter uma grande surpresa comigo.

Se virou e saiu da sala. Mike ficou levemente chateado, pois não tinha intenção de ferir seu ego, mas não iria mentir e se envolver com ela apenas para que não ficasse triste. Não era um adolescente que fazia as coisas sem pensar direito.

E ele estava mais preocupado com a clínica e com seu trabalho. Se envolver com alguém teria que ser algo que o arrebatasse. Apenas ter casinhos não lhe era suficiente e isso apenas tomaria seu tempo para coisas mais relevantes.

Trabalhavam juntos a um bom tempo e ele sabia que ela era uma boa profissional e isso não era algo que achasse em qualquer esquina. Se tivessem algo e isso viesse a atrapalhar seu desenvolvimento na clínica seria péssimo, não apenas para ele.

Mas ele tinha sido educado e honesto, se ela não entendia ou não aceitava isso, não era culpa sua.

Melhor ser honesto do que entrar em um caso com ela e depois de dias acabar tudo e ser tachado de aproveitador. Ela pareceu aborrecida, mas tinha certeza de que agira certo ao lhe dizer a verdade. Talvez depois ela pensaria direito e veria que foi melhor assim.

Ele gostava muito de seu modo de trabalhar, mas isso não queria dizer que tinha atração por ela, mesmo sendo uma mulher muito bonita e com certeza atraente para outros homens.

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