Carlos Eduardo

- Seis meses antes (dos oito anos) -

Eu estava na fila aguardando para acessar o interior do Manhattan Bar. Era o aniversário de dezoito anos de Alissa e estávamos empolgadas. Ela seria a primeira a completar a maioridade. E para mim tudo era ainda melhor: a primeira vez que eu saía numa casa noturna. Geralmente minhas saídas eram na casa das minhas amigas ou festas particulares, em casa de conhecidos.

Minha mãe era legal, mas infelizmente havia casado com um homem chato que me importunava o tempo inteiro e se achava meu pai, embora não fosse. Ele não era só conservador, mas fazia questão de tentar mudar a opinião de minha mãe com relação a tudo. Como era aniversário de Alissa e a mãe dela insistiu para eu acompanhar elas, teria minha primeira vez no Manhattan Bar.

Assim que passei pelo segurança e acessei a porta de entrada, havia um pequeno espaço sem absolutamente nada. À esquerda, uma porta que dava de frente para o caixa, onde se ganhava a consumação mínima, que vinha em forma de cartão. Ali também era pago o cartão ao final da noite. À esquerda, o primeiro bar, todo espelhado, com belos barman’s e os mais variados tipos de bebidas e coquetéis coloridos enfeitavam o lugar. Dava vontade de provar tudo. Algumas banquetas altas ficavam dispostas para quem preferisse beber sentado. Passando alguns metros, à esquerda, uma pequena escada, pouco iluminada, de onde se acessava o segundo andar, que tocava músicas dance. Dali não se ouvia nada lá de cima. Mas sim o som que vinha da pista de baixo, que ficava à frente, numa área mais ampla. Onde estávamos era claro e bem iluminado. Passando dali, via-se a enorme pista de dança, um degrau abaixo. Ela ficava centralizada, cercada por camarotes com bancos de couro e mesas em mármore à esquerda. À frente, o palco, já com microfones e instrumentos musicais esperando a banda. À direita, o segundo bar, interligado ao palco. Era igual o da entrada, porém maior. Na lateral direita, antes do bar, uma pequena entrada com porta vai e vem em madeira, estilo veneziana, onde ficavam banheiros masculinos e femininos, um de frente para o outro.

Felicidade era a sensação que irradiava de mim, ouvindo as minhas músicas preferidas em meio ao ambiente escurecido com algumas poucas luzes ora brancas, ora coloridas.

- E então? – perguntou Alissa.

- Amei. – falei atenta a tudo.

Alissa e Valquíria já havia estado ali uma vez. Mas eu não fora junto. Daniela havia ido mais vezes, com outras companhias.

Descemos e começamos a dançar imediatamente. Isso eu amava nas minhas amigas: eram divertidas o tempo todo. Tirando Val, que nem sempre estava de bom humor. Mas naquele dia especialmente ela estava. Eu conheci Alissa e Daniela há três anos, quando entrara no ensino médio. Valquíria eu conhecia desde que minha memória começou a existir. Estudamos juntas a vida inteira, desde o primeiro ano. Mas naquela época não éramos melhores amigas. Fomos criar este vínculo quando trocamos de escola e fomos para o ensino médio.

Ainda assim criamos laços tão fortes que nos conhecíamos só de olhar uma para a outra. Alissa era apaixonada por Saul, que estudava na mesma escola que nós. Ele costumava ir ao Manhattan e foi daí que descobrimos o lugar. A intenção era encontrá-lo lá. Na primeira vez ela o viu lá, mas ele ficou com outra garota. Doeu nela, que acabou ficando com outro. Hoje era aniversário dela e quando assoprou as velinhas antes de sair, ela desejou ele. Esperávamos que o desejo das velas desse certo.

A noite foi divertida. Tinham muitos garotos bonitos que era até difícil escolher. Não éramos perfeitas, mas não servíamos para feias, então logo estávamos com muita companhia masculina tanto dançando conosco quanto ao nosso redor, como abutres na carne nova.

Ganhei um vestido preto da minha mãe para sair naquela noite. Era lindo, porém havia ficado um pouco curto. Não deu tempo para trocar, pois ela me entregou minutos antes de eu sair para a casa de Alissa. No dia anterior eu havia pintado meu cabelo de rubi. A nova Juliet era ruiva. Mas havia sido morena, loira, platinada, preto azulado e até estilo Geri Halliwell, das Spice Girls. Como boa aquariana, eu gostava de mudanças e fugia do tradicional. Não sabia por quanto tempo eu seria ruiva, mas atualmente eu gostava. Meus cabelos nunca estiveram tão compridos: no meio das costas. Eu não conseguia deixar crescer mais. Não tinha paciência alguma para nada. O avermelhado combinava com minha pele clara e meus olhos esverdeados. Meu cabelo era liso. Eu era magra... E não gostava muito do meu corpo por isso. Sonhava ter mais coxas, mais bunda e menos peito. Mas nem tudo é como se quer quando a gente só tem 17 anos.

Começou a tocar “Santeria”, uma música pela qual eu era simplesmente fanática. Sem pensar muito e depois de beber já três drinques, me joguei no meio da pista e comecei a dançar loucamente. Quando vi um garoto estava junto comigo, imitando meu jeito louco e sem ritmo. E ele também sabia toda a música. Enfim, alguém com bom gosto musical. Ele era magro, mas tinha braços fortes. Era um pouco mais alto que eu (qualquer pessoa era mais alta que eu), tinha cabelos castanhos não tão curtos e completamente desalinhados. Seus olhos eram claros... Pareciam-me azuis na pouca luz que tínhamos. E boca dele era perfeita. Não sei se foi tão claro que fiquei olhando para a boca dele que quando percebi, ele se aproximou de mim e me beijou.

A boca não só era bonita, mas beijava bem. Seus lábios eram quentes e ele tinha gosto de bebida doce. Sua língua era exigente. Ainda dançávamos quando passei meus braços pelo pescoço dele, para intensificar aquele beijo maravilhoso. Ri em meio ao beijo na boca quando ele abaixou as mãos e puxou meu vestido para baixo. Quem em sã consciência puxa o vestido de uma garota para baixo e não para cima? Nos soltamos quase sem fôlego e já não dançávamos mais tanto quando ele olhos nos meus olhos e perguntou:

- Qual seu nome?

- Juliet. E o seu?

- Carlos Eduardo... Mas pode me chamar de Cadu.

- Pode me chamar de Juliet. – eu ri.

- Hum... Vou te chamar de Ju. – ele disse pegando minha mão e me puxando para perto do corpo dele, enquanto suas mãos envolviam minhas costas e ele voltava a dançar junto de mim.

Não, eu não lembro mais que música tocava. Eu sequer sei quem estava perto de nós ou se existia alguém. Eu poderia dizer que foi a bebida em excesso que me deixou completamente embriagada por aquele homem. Mas não foi. Era algo que eu nunca senti antes. Não sei porque... Mas foi especial. E não pelo fato de ele ser bonito.

A banda começou a tocar e me virei para olhar enquanto ele ficou atrás de mim, abraçando-me por trás, sem nunca me soltar. A sensação que eu tinha era de que o conhecia há mais tempo. E meu corpo parecia não querer ficar longe do dele...

Vez ou outra ele me dava beijos no pescoço e descansava o queixo nos meus ombros. Se aquilo não era perfeição, eu não saberia dizer o que era.

Quando percebemos a banda acabou a apresentação. Não nos soltamos um minuto sequer. Depois de mais outros beijos envolventes e nenhuma tentativa de escorregar as mãos por lugares proibidos, ele perguntou:

- Você mora aqui na cidade?

- Sim. E você?

- Na cidade vizinha.

- Estuda onde? – perguntei na certeza de que ele era estudante de ensino médio também.

- Escola Técnica.

- Perto de onde estudo. – observei feliz.

- Vai dizer que você estuda no Instituto?

- Aham. – concordei.

- E só nos encontramos aqui? Como eu nunca vi você na rua?

Eu ri novamente:

- Eu não ando muito pelas ruas não.

- Na verdade, nem eu. – ele admitiu. – Não costumo sair muito.

- Se eu disser que é a primeira vez que venho aqui, acreditaria?

- Se eu disser que eu também, você acredita?

Começamos a rir. Eu completei:

- Um garoto que não gosta da noite?

- Na verdade gosta, mas não é um doido para viver na rua.

- Eu gosto bastante... Mas tenho uma família um pouco tradicional e conservadora.

- Devem ser parentes da minha. – ele riu.

- Pelo menos podemos escutar música... Já que você também gosta de Sublime.

- Gosto bastante, embora não seja o fã número um deles.

- Achei que era...

- Passou a ser a música perfeita quando a vi dançando tão empolgada... Acho que até é minha preferida agora.

Eu ri:

- Se continuar falando assim, vou me apaixonar...

Eu falei isso mesmo? Você está louca, Juliet?

- E ainda não está? – ele riu alto. – Eu já estou... Completamente.

Ele me beijou de novo. Seus lábios sedentos devoravam os meus. Eu estava para dizer que foi meu melhor beijo até aquele momento. Mas, não imaginando que aquilo poderia ficar ainda melhor, fui surpreendida quando ele me abraçou com força, me apertando contra si, e depois me levantou, trazendo-me até seus lábios novamente. Carlos Eduardo era fascinante e sabia como satisfazer uma adolescente sonhadora, mas ao mesmo tempo pouco inocente.

Foram vários beijos quentes trocados durante a noite. Mas não durou muito. Logo alguns garotos vieram até ele:

- Precisamos ir.

Ele me olhou e fez uma carinha triste. Sério, você precisa mesmo ir? Tem certeza de que não quer ficar para sempre nos meus braços?

- Chegou minha hora. – ele falou.

- Foi bom conhecê-lo, Cadu. – confessei.

- O prazer foi todo meu, Ju.

Ele me deu um beijo rápido e andou. Ei, você foi perfeito... Não vai marcar de me ver de novo? Fiquei ali, parada, o vendo partir. Volte aqui, amor da minha vida. Quero você para sempre... Casa comigo.

Acompanhei-o até ele desaparecer entre a multidão, sentindo meu coração apertado.

- Não vai dizer que se apaixonou? – perguntou Dani me abraçando por trás.

- Completamente... Não dá para ver os corações saindo pelos meus olhos?

- Dá sim... Agora vira para cá, pelo amor de Deus. Não duvido que você vá atrás dele.

- Então me segura firme. – brinquei.

Realmente não havia mais nenhuma graça aquele lugar depois que ele partiu. Eu nunca fui uma garota muito recatada. Gostava de me divertir e mesmo quando minha mãe tentava me impedir, eu ainda assim burlava as regras. E isso gerava alguns castigos de vez em quando. Eu esperava que quanto chegasse aos dezoito anos isso acabasse. Agora era esperar, pois logo chegaria a minha vez. Dei meu primeiro beijo aos trezes anos, bem atrasada das minhas outras amigas. Foi com um garoto desconhecido. Eu tinha medo de beijar um que eu gostasse ou conhecesse e ele achasse que eu não sabia beijar. Então a tática foi aprender com um desconhecido para aprimorar com os outros. Eu ainda era virgem... E acreditava que era por falta de oportunidade. Gostei de muitos garotos, quase sempre fiquei com quem eu queria e namorei alguns que só atrapalharam minha vida. Eu era focada nos estudos, dedicada, mas 50% do meu tempo era voltado para paixões da adolescência. Amava um a cada semana e “desamava” em duas. Isso me diferenciava bastante de minhas amigas. Alissa ficava com outros garotos, mas gostar era só de Saul. Valquíria, por sua vez, gostava de Adriano há muitos anos e não ficava com ninguém a não ser ele. O primeiro beijo dela foi no ano passado, obrigada por nós. De tanta insistência, ela acabou cedendo às nossas pressões. Beijou uma pessoa que nós escolhemos e depois nunca mais viu uma boca masculina na vida. Acho que ela fez alguma promessa que só beijaria a segunda vez se fosse Adriano. Ainda assim ela sempre saía conosco. Mas seu humor dependia de Adriano aparecer no local ou passar por ela na rua. Daniela era a única de nós que já havia perdido a virgindade. Já havia sido noiva e com ele havia feito sexo pela primeira vez. Noivado terminado e tínhamos uma Dani que podia dormir com quem quisesse sem se importar. Ela que aproveitava bem a vida. Nós, pobres medrosas... A primeira vez é sempre conflitante para uma garota. Principalmente quando já não se é tão jovem, e ao mesmo tempo não tão velha. Tínhamos um pacto que a primeira que fizesse contaria todos os detalhes (quando eu digo todos é absolutamente todos). Dani dizia algumas coisas, mas ela não era tão clara como queríamos. Ela perguntava se queríamos filmar a próxima vez... Simplesmente ríamos. Só quem não passou por isso sabia o quanto se tinha curiosidade.

Mal sabíamos que realmente não era possível descrever com tantos detalhes para as amigas... Porque talvez aquele momento tivesse que ser um segredo para sempre. Principalmente quando ele envolvia a quebra de um pacto de amizade. Sim, fui eu que quebrei o pacto... E não as perdi, mas também nunca mais foi a mesma coisa. Mal eu sabia o quanto aqueles momentos todos eram preciosos. Muito menos a reviravolta que Cadu daria na minha vida e o quanto ele seria responsável pela minha destruição.

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