Se apaixonando na biblioteca

A semana passara se arrastando para alguém que ansiava a chegada da sexta-feira.

Theodore acreditava que ter sido honesto desde o começo fora o melhor para evitar problemas, uma vez que Gabriel se afastou de si até o dia em que o professor passara o trabalho.

Pelo o que pudera ver, Gabriel ficara próximo de Sadie Mckenzie e do time de voleibol da escola. Como esperado sua popularidade crescia na medida em que seu talento atlético era lapidado pelo técnico.

O aluno transferido brilhava como o sol no verão, sob os olhos claros de Theodore. O brilho era tanto que só podia ser admirado de longe.

Fora um tanto quanto desapontador, admitia Theodore, não ter sido capaz de desenvolver uma boa amizade com o alfa. Mas era bem melhor do que aguentar ele e Nicolas brigando como fizeram no refeitório duas semanas atrás.

Parecia que sua rotina retornara ao normal até um certo professor unir Theodore e Gabriel como uma dupla para fazerem o trabalho. Aproveitando a oportunidade, o loiro fizera a pergunta que tanto lhe rondara os pensamentos nos últimos dias e a resposta lhe deixara um tanto quanto nervoso.

Não. Nervoso não.

Esperançoso.

Gabriel havia dito que não se sentia incomodado com sua orientação sexual e nem com sua classe.

A falta de reação como se não tivesse interesse no assunto fizera o coração de Theodore acelerar. Um garoto bonito como aquele, popular atlético e um alfa, conversou consigo normalmente sem se importar com os rumores.

Não tinha como não ficar feliz com isso.

Por esse motivo Theodore aguardou ansiosamente pela chegada da sexta-feira.

Infelizmente não fora capaz de conversar com Gabriel nem sobre o trabalho. Todas as vezes em que fora até a quadra de vôlei entregar algum relatório pedido por Nicolas, percebia que o time treinava intensamente.

Na quinta-feira, quase que Theodore falecera quando chegara ao final do treino e vira os rapazes tirando as camisas suadas. Mau tivera tempo de dar uma boa olhada, pois a vergonha em seu rosto o fizera desviar os olhos antes que alguém implicasse consigo.

Mas fora capaz de ver um pouquinho.

Um pouquinho... Uau. Gabriel tinha braços fortes e a barriguinha lisinha.

— O que pretende fazer na aula vaga?

Acordando dos devaneios, Theodore piscara algumas vezes ao lembrar que estava virado para trás conversando com Nicolas. Balançando a cabeça para dispersar o pensamento sobre um certo alguém sem camisa, abrira um sorriso ligeiramente falso para disfarçar.

— Por que, você tem treino?

— O professor de educação física já ficou sabendo da aula vaga e quer aproveitar o tempo para treinar. — Resmungava Nicolas se deitando na carteira preguiçosamente.

O sorriso envergonhado desaparecia lentamente.

Imaginara que Gabriel também não poderia escapar das garras do treinador, naquele caso. Uma ligeira tristeza lhe abraçava em pensar que as coisas não dariam tão certo assim como ansiava.

Observara Gabriel a semana inteira e sua intuição praticamente berrava dizendo que o alfa não seria capaz de lhe dedicar um tempo para fazerem a atividade. Mesmo que tivessem dividido e fosse necessário apenas juntarem suas folhas de respostas, Theodore queria, e muito, que eles se encontrassem na biblioteca como esperado.

Mas Gabriel não viera.

Na sexta-feira encontrariam-se na biblioteca antes das aulas. Theodore ficou o esperando ansiosamente sendo frustrado. Apesar de que ainda tinha esperança de eles conversarem na sala de aula, mas Gabriel chegara atrasado e nem o olhara na cara. Então aproveitara a distração da aula para fazer o restante do trabalho. Pelo menos poderiam tirar alguma nota se entregassem.

— Vai precisar da minha ajuda? — Questionava o ômega querendo afastar os próprios pensamentos.

— Não, iremos jogar com um time já conhecido. E vai ser só um amistoso.

— Hm... Nesse caso vou para a biblioteca.

— Vai ficar lendo Crepúsculo, não vai?

Theodore corara violentamente desviando o olhar em uma óbvia resposta, ocasionando em um suspiro do seu melhor amigo.

— Pelo menos estará ocupando sua mente com alguma coisa. Te encontro na biblioteca ao final do treino então.

Quando o sinal tocara informando o horário da troca de aula, os colegas de classe de Theodore logo se espalhavam pelo pátio da escola. Ele fora o único a se manter dentro do prédio, esperando o caminho ficar vazio para seguir calmamente os corredores.

Não que estivesse fugindo de algum lugar, não mesmo. Apenas que seguir o caminho até a biblioteca em silêncio era prazeroso. Theodore sempre ansiava pelos livros que gostaria de ler entre as estantes, imaginando qual seria o mundo que invadiria na leitura do dia.

Torcia para que a escola tivesse conseguido alguns exemplares da nova série de vampiros. Era um sucesso que só entre as garotas, da qual Theodore fora incapaz de ignorar.

Ora essa, uma garota se apaixonando por um vampiro. A história tinha que ser fantástica! Era algo novo e excitante, uma vez que o amor e o perigo andam lado a lado.

Onde houvesse a chance de acompanhar romances, Theodore estava lá. Diante de tamanha empolgação, ele chegara a saltitar em seu caminho.

E quando a bibliotecária apontara a estante em que os novos exemplares foram guardados, faltou Theodore gritar de emoção. Para a sua sorte ficavam ao fundo da biblioteca.

Tamborilando os dedos pelas brochuras, seus olhos claros liam rapidamente os títulos até encontrar o novo exemplar.

— Que grande! — Exclamava o garoto ao olhar o tamanho do livro e o comparar com os outros dois anteriores.

Não perdera tempo, sentou-se ali no chão mesmo com as costas encostadas na estante. Abrira as primeiras páginas do livro e começara a mergulhar no mundo de fantasia.

Diferente da protagonista, Theodore não se imaginava sendo capaz de amar um vampiro. Mesmo sabendo que ele se esforçaria em não se alimentar do sangue humano, que ele fosse bonzinho, Theodore não conseguiria não sentir medo de ter sua vida em risco constantemente.

Morreria na primeira batalha. Fim da história. Aqui jaz Theodore Moss.

Contudo, se todo o perigo fosse tirado... Bem o romance até que seria interessante. Um garoto popular por manter-se afastado dos demais. Uma aura misteriosa que o rondava, envolvendo lendas antigas da cidade. Um homem forte ao ponto de arrancar uma árvore pela raiz..

Bem, isso seria exagerado, imaginava Theodore.

No final das contas o que lhe importava era o fato de se apaixonar por um homem que parecia fraco quando era forte. Forte o suficiente para lhe proteger. Ah, certamente essa ideia agradava Theodore.

Suas bochechas, inclusive, ficavam ruborizadas quando se imaginara nos braços de um sujeito sem rosto, mas forte. Sua mente traiçoeira logo tratara de resgatar a visão de um certo alfa sem camisa, imaginando o mesmo abraçando Theodore por trás...

— Parece uma leitura interessante — Assustando-se com a voz baixa, mas próxima, Theodore batera a cabeça na estante — Você está bem?

— Estou bem, foi só um susto.

Theodore erguera os olhos claros encontrando Gabriel apoiado nos joelhos, lhe encarando preocupado com a mão estendida para tocar em sua cabeça. Estando na última fileira de estantes próximo à janela, o brilho do sol e a cortina branca esvoaçante criavam um cenário angelical em torno do aluno novo.

Oh, certo. Parecia um anjo, e não um vampiro.

Desviando os olhos sentindo as bochechas queimarem em rubor, Theodore tateava o chão até encontrar o livro. O abrira rapidamente procurando a página em que havia parado a sua leitura.

— N-Não deveria estar no treino?

— Talvez eu devesse, mas resolvi te procurar.

Erguendo a cabeça rapidamente, Theodore percebia que Gabriel se sentava ao seu lado no chão mantendo uma certa proximidade entre eles. Indo para o lado e aumentando a distância, Theodore voltava a encarar o livro em mãos.

Ainda estava chateado pela sua ausência mais cedo.

— Por quê? Precisa de alguma coisa?

— Temos um trabalho de história para fazer, não é? Somos uma dupla.

Piscando algumas vezes Theodore concordara com a cabeça em seguida. Com um semblante confuso, e levemente indeciso, o loiro lhe entregava as palavras sussurradas.

— Eu já fiz.

Os olhos castanhos de Gabriel se arregalavam em surpresa.

— Quer dizer a sua parte, não?

— Quero dizer respondi todas as perguntas.

Cruzando as pernas, Gabriel virou-se para Theodore.

— Mas a gente dividiu o trabalho.

Ah, ele estava com as sobrancelhas arqueadas. Com certeza parecia irritado. Theodore sentia seu coração acelerar de medo. Não medo de Gabriel, mas medo de tê-lo irritado.

— Não tem problema, você parecia ocupado com o time.

Ouvia-o suspirar pesadamente. Theodore baixara os olhos para o livro, relendo a mesma linha algumas vezes. Até que desistira e deixara-se levar pela curiosidade, olhando Gabriel pelo canto de olho.

O alfa estava com a cabeça encostada na estante, sendo um tanto quanto difícil interpretar seu humor.

Teria sido ruim ele ter feito toda a atividade?

— Se importa de revisarmos então? Não fico muito feliz em saber que você fez tudo sozinho.

Inevitavelmente Theodore se surpreendia com aquilo. Seus dedos apertavam o livro ao tempo que seu coração acelerava desenfreadamente. Virando o rosto novamente para Gabriel, ele não conseguia esconder sua surpresa.

Seria a primeira vez que algum garoto, além de Nicolas, que não deixaria todo o dever sobre suas costas só para evitá-lo? Fora esse pensamento que lhe rondara aquela manhã inteira lhe deixando completamente chateado.

— Podemos?

— Ahn? Ah... Sim. Mas... O material está na sala.

— Eu vou pegar. Aproveito para trocar de uniforme.

Gabriel não permitira o outro garoto de lhe responder, logo se levantou e saíra da biblioteca.

Deixado para trás, Theodore marcava a página do livro com o indicador deitando a testa em seus joelhos abraçando suas pernas.

— Isso é muito injusto...

O coração batia acelerado.

Estava ansioso.

Quando finalmente acreditara ter dado conta de evitar algum problema, Gabriel agira fora do contexto. Quando pensara que o aluno transferido havia se encontrado com o próprio grupo e compreendido a linha limitante, ele resolvera ultrapassar.

Por que estava falando consigo?

Ora essa, por causa do trabalho.

Por que estava se preocupando que Theodore fizera o dever por inteiro e sozinho?

Ora essa, por ser gentil e educado.

Isso era muito injusto.

Levantando-se do chão seguindo para as mesas redondas em outro cômodo da biblioteca, Theodore buscara a mais afastada. Arrastando a cadeira e se sentando ali, aguardou o retorno de seu colega de classe.

Deitando a cabeça sobre os braços, cobrindo parte do rosto não conseguia controlar o rubor de sua face. Mesmo piscando os olhos, a imagem de Gabriel usando o uniforme de educação física agachado na sua frente, com a mão estendida e o olhar preocupado lhe surgia na mente fazendo seu coração acelerar desesperado.

Esperava que aquilo não acontecesse.

Por alguns minutos rezara aos céus que não acontecesse. Não com aquela pessoa.

— Pronto, aqui está. Peço desculpas por ter mexido em suas coisas.

Piscando lentamente, Theodore ouvia a voz de Gabriel com atenção, decorando seu tom e suas palavras. Erguendo a cabeça e se arrumando na cadeira, sorrira da melhor maneira que poderia.

— Está tudo bem, podemos começar?

Puxando o caderno e o livro de história, Theodore foleara as páginas e entregara as folhas dos exercícios ao colega. Evitou ao máximo de olhá-lo ou prestar atenção em qualquer movimento seu. Até mesmo arrastara sua cadeira aumentando a distância entre eles, temendo que seu coração lhe dedurasse.

Theodore queria muito se apaixonar.

Era ansioso para viver o amor no colegial.

Mas não se permitiria encantar-se por Gabriel.

— Está muito longe.

Theodore congelara. Não o olhara, tampouco respirava tranquilamente. Forçando-se a abrir um sorriso mascarado, continuou a fitar o livro de história.

— O livro? D-Desculpe, vou deixá-lo ali — Dissera Theodore empurrando o livro até ficar no meio da mesa, ideal para os dois lerem.

— Não. Você está muito longe.

Gabriel puxara a cadeira de Theodore para perto de si, diminuindo toda a distância entre eles. Quando os olhos claros e as bochechas rosadas foram direcionadas para si com surpresa, o garoto alfa apenas sorria gentilmente.

— Se ficar muito longe teremos de falar alto na biblioteca, não é mesmo?

Engolindo em seco, Theodore torcia para que de maneira alguma ele se apaixonasse pelo aluno transferido.

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