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Dificilmente, Suzana se esqueceria de algo, era uma mulher dinâmica e bem-conceituada no ramo, apesar de ser uma bela morena, por volta dos 40 anos, nunca se casou, dedicando-se primordialmente a sua profissão. Ela tinha batalhado muito para montar essa exposição, trazendo peças de outros museus e a peça principal, que seria uma estátua representando um deus dourado, enfeitado com várias peças semipreciosas, com aproximadamente dois mil anos de idade. Seu seguro custou uma fortuna, tiveram que conseguir patrocínio de várias empresas para cobri-lo e a sua chegada dele seria um verdadeiro evento. Uma sala particularmente projetada para recebê-lo, recriava um templo antigo, com colunas e pintura especial, além uma iluminação, exclusivamente, projetada para realçar cada detalhe dela, que imitando piras de fogo, além de, um sistema de segurança excepcional. Junto com a estátua, também chegariam algumas das relíquias que haviam sido descobertas no mesmo local, há alguns séculos atrás, que passaram de museu a museu, até que desapareceram durante a 1ª guerra mundial. Essas peças teriam sido roubadas e, posteriormente, vendidas há um colecionador milionário, que as manteve escondidas por muitos anos, mas ele as deixou em testamento para o museu, onde se encontram atualmente.

O restante da equipe chegou no nosso horário habitual. Eu era a mais jovem, por isso fiquei amiga de uma das estagiárias, Helena. Ela era engraçada e tinha sempre um sorriso do rosto, morena, com cabelos pretos compridos e lisos, sempre presos em um rabo-de cavalo durante o dia, e com belos olhos amendoados, lhe dando um ar oriental.

- Bom dia, Diana. Chegou cedo hoje? – Ela perguntou, assim que me já trabalhando.

- Bom dia, Helena. Perdi o sono. – Respondi sem dar detalhes, estava mais interessada na peça que tinha na mão

- Está empolgada com a chegada das peças hoje? – Ela me perguntou cheia de animação.

- Sabe que tinha me esquecido disso, completamente. – Confessei, sem muito entusiasmo e continuei o meu trabalho.

No meio da manhã, todos nós paramos de trabalhar, porque um caminhão de transporte trouxe as caixas que continha a estátua dourada e as demais peças da exposição. A caixa da estátua era enorme e foi levada diretamente para a sala onde ficaria exposta, mas ainda não poderia ser aberta sem a presença das representantes do museu de onde a peça viera e da seguradora. Além disso, a imprensa, também, havia sido convidada, pois seria uma grande propaganda para a exposição e para o nosso museu.

E quando todo aquele alvoroço acabou, já era hora do almoço, Helena veio me chamar, como sempre, e junto com Celina, uma das secretárias do museu, fomos ao pequeno restaurante, que frequentávamos diariamente.

Estávamos esperando o sinal fechar para atravessarmos a rua, quando um táxi parou antes da faixa de pedestre para pegar um passageiro e um homem distraído, falando no celular, começou a atravessar a rua.

- Cuidado! – Eu gritei para ele que parou e deu um passo para trás, no mesmo momento que um carro passou em alta velocidade.

O sinal fechou e nós começamos a atravessar a rua, Helena e Celina estavam um passo na minha frente.

- Essa foi por pouco. – Ouvi alguém falar ao meu lado, olhei e lá estava a mesma velhinha do metrô.

- A senhora, outra vez! – Exclamei, surpresa, pois era muita coincidência, e apesar de estarmos andando rápido e a velhinha ser bem menor do que eu, ela acompanhava meu ritmo, sem ofegar e continuava a falar.

- Perto de você nunca acontece nada de grave, não é?

- Não estou entendendo o que a senhora está dizendo.

- Você nunca presenciou nada de sério, como um acidente fatal ou assassinato ou algo parecido.

- Não! Claro que não! – Já estava ficando assustada com aquela conversa doida, queria me afastar, mas não conseguia me desvencilhar dela

- Nenhuma situação grave, como acidente de carro ou mesmo um atropelamento por bicicleta, não é mesmo?

Fiz um rápido inventário na minha cabeça e não me lembrei de nada, só sabia de uma única morte que ocorreu na minha vida, porém eu não tinha recordação dela.

- Não que eu me lembre. – Conclui.

- E crianças pequenas e bichos gostam de vocês?

- Acho que sim. – Confirmei, pois, eu já havia notado isso.

- Eu sabia! – Disse a velhinha, animada.

- Sabia o que? – Aquela história já estava me irritando.

- Diana, cuidado com qualquer coisa diferente que aconteça com você, mesmo que pareça algo de bom. - Ela me aconselhou, em um tom mais sério.

- Como você sabe meu nome? – Indaguei, espantada, pois eu tinha certeza que nunca havia dito a ela, porém quando olhei, novamente, velhinha havia desaparecido.

Não podia acreditar, observei em volta e não a vi mais, como ela podia ter sido tão rápida assim, me aproximei das minhas colegas que andavam mais à frente.

- Vocês viram isso? – Questionei a elas, ainda abismada.

- Viram o que? – Helena me devolve a pergunta.

- A velhinha que estava falando comigo. Vocês não viram? – Insisti.

- Não, eu não vi ninguém. – Disse Helena, me encarando, sem entender.

- Nem eu. – Celina também negou, dando de ombros. – Mas, estávamos conversando distraídas. Falávamos sobre o novo livro de Samuel Zargo que será lançado agora. – Admitiu.

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