Capítulo 05

— Qual foi, cara? Cê não tem senso de humor, não? — questionou Luc, aborrecido.

— Tenho. Mas demonstro apenas com pessoas do meu vínculo íntimo, e nesse caso, você está bem distante de estar incluso nele. — pigarreou Dean, exausto e estúpido. — Tive um péssimo dia hoje, favor, não me aborreça.

Luc ergueu uma mão em rendição, afinal o garoto parecia mesmo querer ficar sossegado. Descontente consigo mesmo, ele ligou a televisão velha à qual nem Dean viu-a ali, e colocou no jornal local. 

Apanhou o livro de cima do criado mudo e tratou de ler, sempre prestando atenção nas notícias. Irritado e já suando porque não tinha como colocar o ventilador para girar, Dean afrouxou a gravata e a retirou, colocando-a sobre a cama.

Ergueu-se do móvel e retirou o blazer, a camisa e deixou às costas em direção a Victor, que prestou bastante atenção na moldura copular do rapaz. Era atraente, mas não a ponto de trocar vagina por outra coisa. Indo mais fundo, Dean retirou o cinto e, em seguida, os sapatos, deixando por último à calça. 

Minutos depois, pegou uma toalha e entrou no box. Tomou banho na água fria e dissipou àquela sensação desesperadora de abandonar tudo na mesma hora e voltar para Ashton City, para William e a paz acolhedora de seu bairro. Porém, não deixaria ninguém atrapalhar seus sonhos. De volta ao quarto, ele vestiu uma nova sunga e colocou a toalha na cabeceira da cama, e foi até o armário e procurou por uma peça de roupa mais casual.

Luc, àquela altura, acompanhava tudo a olho distante. Fingia está lendo quando, na verdade, prestava atenção em como o colega de quarto lhe atraía tanto em todos os aspectos. De roupa e cabelos penteados, Dean passou perfume e, para não ser inconveniente, resolveu saudar o anfitrião, que apesar de perverso, tinha lá seus motivos.

— Boa noite.

— Ei! Onde pensa que vai assim todo arrumado? — Luc o questionou, ao levantar e desligar a tevê. 

— Vou numa casa noturna duas quadra da universidade. Por que? 

Victor fechou o livro e sorriu maliciosamente.

— Nada. Só me espere um pouco que irei contigo...

— De jeito algum. Eu não preciso te suportar até mesmo dentro de uma festa. — Dean falou pegando a chave de seu carro. — Até mais ver.

Ele levantou o objeto, mas antes que pudesse dá qualquer passo, Luc pegou-as de sua mão e tratou de esconder no lugar menos indesejável: sua cueca.

— Cara, cê é nojento. — assegurou Dean, a semblante explosivo.

O mais velho, por sua vez, sorriu.

— Tudo que está aqui, não é desconhecido pra você. Agora senta aí, que já volto. 

Ele pegou a toalha no armário e saiu rumo ao banheiro. Dean, não tinha nada a fazer a não ser aguardar o imbecil retornar, se arrumar e, somente então, ir para à festa. Festa esta que começara muito mal por sinal. 

Luc tomou banho, mudou de roupa, penteou os cabelos e passou perfume. Pegou à carteira no armário e deu um giro de provocação.

— Como estou? 

— Da mesma forma como saiu daqui. Vamos! — disse Dean, prestes a perder à paciência. — Ou ainda está a tramar alguma coisa?

Luc deu de ombros.

— Não. Tô tranquilo, vamos?

Ele jogou a chave e Dean apanhou no ar. Abriu à porta e caminhou pelo corredor que dava acesso direto ao estacionamento da faculdade e desligou à segurança do automóvel, deixando Luc boquiaberto.

— Seu carro é bonito. — o loiro elogiou.

— Obrigado. Entra aí! — pediu Dean, contornando o automóvel e entrando no veículo, seguido por Luc, eufórico esfregando as mãos. — Coloca o cinto e cala à boca.

Luc estreitou o olhar. Jamais tivera deparado-se, em três anos naquela faculdade, com alguém tão misógino quanto Dean parecia. Seus colegas de quartos eram, em sua maior parte, pessoas calmas e relaxadas, sem toda àquela aura densa envolta de seus corpos.

— Se você quiser eu posso ir andando. — disse Luc.

Dean arqueou uma sobrancelha e virou o rosto encarando o anfitrião. E que anfitrião! Luc era muito bonito, axalava um cheiro másculo e hipnotizante como se tudo ao redor dele dependesse exclusivamente daquilo.

— Primeiro, eu não te convidei, você foi quem se ofereceu a vir. Segundo...

— Dean? — Luc o cortou. — Só dirige logo essa droga de carro para chegarmos nesta merda de casa noturna. Depois, quando voltarmos, conversamos, certo?

Dean lutou, mas foi uma luta da qual perdeu sem chegar aos trinta segundos do primeiro round. Ligou o carro e deu partida, deixando o estacionamento e indo rumo à casa noturna.

Luc fitou-o enquanto dirigia, Dean parecia ser uma pessoa legal, uma criatura que sofrera bastante e tentou se proteger com um escudo de ódio e senso de humor impenetrável.

— Por que você se faz de azedo, em? — Luc perguntou no meio da viagem.

Dean ligou o rádio e não deu à mínima, porém, logo o silêncio foi rompido porque Luc desligou o som.

— Eu fiz uma pergunta. Pode respondê-la? — insistiu.

Dean virou o rosto rapidamente e lançou o carro contra um porte freando bruscamente antes de bater, ficando a centímetros do material de concreto.

— Ei! Ficou maluco?

— Não, ainda não me viu maluco. Cala essa boca e faz silêncio, quando eu quiser falar sobre à minha vida eu chego contigo e falo. Entendeu?

— Cê é bem estressado, em? Fiz uma pergunta, quis ser educado. — defendeu-se. — Esse seu mal humor todo tem haver com o bonitão da foto?

— Que bonitão? Que foto? — exaltou Dean, mordendo os lábios de ódio. — Cê não andou mexendo meus pertences, ou mexeu? 

Luc apertou o rosto, sacudindo a cabeça. Depois, olhou para fora do automóvel e simulou mentalmente um pedido de socorro.

— Mexi... — ele falou à procura de uma palavra mais adequada. — Na verdade, estava atrás de creme dental, pois o meu acabou e encontrei um caderno no seu armário e quando abri, uma foto caiu de seu meio. Vocês pareciam tão felizes. É nojento, mas nada contra!

Dean fechou os olhos e repousou a cabeça contra suas mãos no volante e soluçou. Luc sentiu a culpa tomando espaço em seu corpo, mas não deixou à bondade falar mais alto que o normal.

— Que houve com ele? — insistiu em saber à verdade.

Dean continuou com a cabeça encostada nas mãos sob o volante.

— Ele te traiu? Bom, pode ter te traído. — comentou o mais velho. — Uma hora passa, já tive momentos assim. É difícil, mas... 

— Cala à boca, cara. Fecha a matraca e vamos pra essa festa. Copiou? 

Luc, contragosto, confirmou.

— Tá certo. Eu não sou um bom amigo, conquanto, quando quiser conversar sobre este assunto, vou estar disponível. — ele levou uma mão ao ombro de Dean, massageando. 

Dean esfriou sob o toque único daquele rapaz. Queria odiá-lo por fazê-lo lembrar de momentos que iam direto a imagem de Luan, mas não conseguia. Sabia o quão ingênuo o cara parecia e não levaria adiante uma discussão com um estranho, ou compartilharia instantes escuros com Luc, um alguém que mal conhecia.

Dean se recompôs. Secou as lágrimas por debaixo do óculos, ligou o carro e deu partida, desviando calmamente do porte e voltando à rua, completando o percurso até a casa noturna. Ao avistar o lugar, deparou-se com inúmeros carros estacionados, era quase impossível localizar uma vaga, mas graças aos céus, encontrou uma entre dois veículos, parando ali.

Destravou à porta para Luc saí, mas antes, o fez um pedido.

— Não comente nada com ninguém sobre a foto. Posso confiar em você?

Luc assentiu veementemente. Queria poder descobrir tudo sobre a foto à qual Dean tanto irritou-se ao descobrir que havia sido visualizada por ele. O loiro cobriu a cabeça com o capuz e saiu do carro, indo comprar seu ingresso. E, à distância, Dean o viu. Libertou um suspiro agudo e voltou a descansar a cabeça no volante, dessa vez dando duas batidas sem sentir um pingo de dor.

Chorou um pouco mais. Era uma dor vinda da alma. Recompondo-se, Dean abriu à porta do carro, ligou o alarme de segurança e foi-se para à bilheteria comprar o ingresso e, após, entrou na casa noturna. O barulho inaudível ganhou espaço, observou a pista cheia de pessoas, as luzes neon passando por cima delas. O único lugar livre, tratava-se do bar, e imediatamente avançou para ele em busca de uma dose pesada de uísque que o fizesse ter um coma alcoólico instantaneamente.

— Uma garrafa de uísque, por favor. — ele pediu ao barman.

O garçom tratou de buscar uma. Dois minutos depois trouxera-a e depositou sobre à mesa do balcão, pegando um copo o qual Dean negou. Abriu o lacre e preferiu tomar no gargalo, querendo se inibir e esquecer quem era. 

De longe, Elisabeth o avistou. A primeira impressão que tivera de Dean, havia se esvaído quando viu-o beber de modo tão inconsequente. Aproximando-se do colega, Elisa sentou ao lado dele, na intenção de puxar qualquer tipo de assunto, mas Dean mal conseguia tirar da boca o gargalo da garrafa.

— Não acha que está exagerando? 

Dean deu de ombros. Mal conhecia Elisabeth, então à preocupação dela não surtia efeito para ele. O garoto repousou a garrafa abaixo do meio, e secou os lábios com o dorsal da mão.

— Não acho. Vem cá, garota? Tem nada pra fazer sem encher o saco de quem quer ficar quieto?

Diferente da pessoa que Elisabeth pensou que Dean representava mais cedo, no refeitório, desagradou-se do estúpido que vislumbrava agora. Sem dizer uma só palavra, a garota se afastou do balcão, perdendo-se no meio da multidão. 

Dean não arrastou o pé do bar, sabia que somente ali encontraria o álcool que curaria suas feridas, lhe faria cair na ressaca e acordar sem lembrar exatamente dos últimos acontecimentos. Mas vislumbrou, à distância, a figura de alguém que lhe roubou o ar. Era o rapaz que agira com imprudência na hora do almoço, e Dean o viu aproximando-se do balcão e pedir uma cerveja.

Dean analisou a figura. Bermuda jeans rasgada na altura dos joelhos, camiseta branca, jaqueta de couro; perfume forte, cara de poucos amigos, pescoço atraente, altura elevada. Um homem belíssimo, um pecado digno do inferno, das chamas e do calor insurgente.

— Ganhou um par de galhas, Dean?

Dean sorriu, pois o cara ainda lembrava-se de seu nome.

— Não. Só estou bebendo socialmente. — respondeu virando a garrafa de uísque na boca e sugando o líquido avermelhado goela adentro. — Que faz aqui?

O estranho sorriu. Dean tremeu ao ver o quão intenso e brilhante a smile daquele homem era.

— Você é dono da festa, por acaso? — o desconhecido questionou.

— Não. Por que à pergunta?

— Simples! Se você não é o dono, então à festa é livre para qualquer pessoa, inclusive eu. — respondeu o moço, tomando um gole da cerveja. — Agir mal com você mais cedo, e agora, queria te pedir desculpas. Me chamo Lee.

— Desculpado. É um prazer, Lee. — disse Dean, deixando a garrafa sobre à mesa e virando de costas para o balcão. — Cursa qual área na universidade? 

— Nutrição. E você?

— Legal. Direito.

— Advogado ou outra coisa? — Lee questionou.

— Advogado. — ele respondeu gentil, sentindo o efeito do álcool apossar de sua mente. — Até mais ver, Lee, mas tenho de ir embora. 

Antes que Dean fosse embora, ele o segurou pelo braço e trouxe junto para seu corpo. Aproveitador? Sim, e sem noção.

— Você não quer dá uma volta no meu apartamento, Dean? — Lee retirou o óculos do garoto e levou uma mecha do cabelo dourado para trás da orelha do inocente rapaz. — Prometo ser gentil contigo...

— Não. Eu vou pro alojamento. — Dean o cortou, ainda que quisesse descobrir plenamente do que aquele homem era capaz. Pegou o óculos e disse; — Até mais ver.

Ele desvencilhou à mão de Lee de seu braço, jogou uma cédula para pagar a garrafa de uísque sobre à mesa do balcão e bateu continência ao barman, deixando o lugar denso e quase impossível de respirar.

Na rua, passada algumas horas, ele deixou o efeito pesado do álcool passar. Eram quase zero horas da noite, sentado na calçada e com a cabeça estourando de dor, Dean sentiu o peso de uma mão em seu ombro, assustado, virou-se depressa encarando um Luc mais sóbrio.

— Quer que eu dirija? — o mais velho questionou.

— Não, eu tô bem. — asseverou Dean, tentando se levantar e caindo de joelho na calçada. Gemeu de dor, uma dor passageira.

Luc o ajudou levantar. Levou para onde deixaram o carro e tomou a chave do dirigível de seu colega de alojamento, destravando o modo de segurança e colocando Dean no banco da frente. Passou o cinto no meio dele, e foi-se para o assento do motorista, e dirigiu até o estacionamento da universidade.

Foi árduo levar Dean até o andar onde moravam, um ato do qual lembraria de cobrar uma hora. Pegou a chave embaixo do tapete e levou o mais novo até a cama, deixando-o sobre ela e trancando o recinto.  Retirou sua roupa e deitou no móvel próximo da parede e antes de dormir, programou o despertador para tocar às sete da manhã. 

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