Capítulo 04

Ao concluir sua arrumação, Dean fitou o corpo estendido sobre a cama, balançando a cabeça negativamente. Ele sabia que não devia esperar nada de ninguém, ainda mais de pessoas como Lucas, as quais se achavam à última bolacha de um pacote caro e chique. 

Ainda assim, adormeceu.

Acordou pela manhã, espreguiçou o corpo modestamente, e foi-se para o banheiro, aonde tratou de fazer sua hegiene diária, tomou banho e relaxou-se moderadamente. Vestiu uma sunga e saiu do box pequeno, indo rumo ao armário de onde tirou o uniforme da universidade, que consistia em uma calça social azul marinho, uma camisa e um blazer da mesma cor, além dos sapatos sociais preto. Teria de lembrar que deveria pagar aquelas roupas mais tarde, após à aula. Arrumado, Dean passou perfume e arrumou seus cabelos loiros, resolveu não ir de óculos, desejava-se ver mais natural.

Apanhou sua mochila e pôs-a sobre as costas, mas antes de dá um passo, ouviu o remexer sob a cama próxima a janela e encarou um Luc, bastante sonolento ao se levantar.

— Bom dia. Acordou cedo, novato. — fungou o mais velho, esfregando os olhos. 

— Bom dia. Estou indo pra universidade, quer que eu o espere? — Dean perguntou.

Luc sinalizou um não com o dedo indicador. É, parecia que a convivência dos dois, seria de ódio e mais ódio.

— Então tá, boa aula.

Luc fizera questão de deixar a saudação suspensa no ar. Odiava ter que conviver com pessoas aleatórias, como Dean. Mas não podia negar que, arrumado, o garoto axalava uma beleza única, até mesmo especial. Ele balançou a cabeça em devaneio, só poderia estar ficando louco. Pensou.

Dean deixou o quarto e suspirou fundo, não sabia como iria lidar com um ser tão desprezível como era o colega de quarto. Mas isso não devia está em pauta agora, o garoto seguiu o caminho livre e que dava acesso direto ao salão amplo da universidade. Valenza, sem dúvida, tivera sido construída com minuciosidade para os reis. Agora, porém, uma leva de garotos rebeldes transitavam por seu piso de azulejos brancos, encostavam-se nas paredes brilhantes, ou, até mesmo, moviam-se pelo jardim florido.

Dean era mais um desses jovens, mas com objetivo diferente e faria tudo para almejá-los sem sacrifício. Ao chegar ao salão, notou certa distância entre os calouros, estes estavam dispersos mexendo em seus celulares, enquanto os veteranos, por sua vez, gargalhavam. Que ódio! Pensou Dean, ao passar por um grupo e ser seguido pelos olhos comilões a uma curta passada, já que fora até a recepcionista do dia anterior.

— Bom dia, senhora. Poderia me indicar aonde fica o refeitório? 

— Bom dia, moço! O refeitório fica ao leste dos jardins, meu querido. — disse ela com um sorriso simpático. — Estou disponível agora, quer que eu o acompanhe?

Dean não pensou duas vezes na possibilidade.

— Se não for um incômodo. — ele falou.

— Imagina, incômodo algum. Venha! — ela passou a mão nos ombros de Dean, e o conduziu por alguns corredores. No meio do caminho, ela o questionou. — Seu rosto me é muito familiar, qual seu nome?

— Me chamo Dean, minha senhora. Dean Salvatore...

— Dos Salvatore de Ashton City? — perguntou curiosa, parando de se mover. — Você é filho de Jessica e Théo Salvatore, Dean?

Ele confirmou no segundo seguinte.

— Os próprios. Meus pais estudaram aqui no passado, foram excelentes alunos, de acordo com os boatos.

A mulher gentil sorriu e continuou andando.

— Bom, não são boatos. Seus pais, realmente, mudaram o nome de Valenza, para sempre, querido. Fui eu quem recepcionou-os aqui, foi uma dádiva. — ela pareceu lembrar claramente dos fatos. — Tinha quase à sua idade, mais jovens, uns dezoito... dezenove anos. — recordou-se. Me chamo Lúcia, quando precisar, estarei na recepção. O refeitório é logo ali. — ela indicou.

Dean pareceu instigado em saber mais sobre seus pais, afinal ambos mal compartilhavam momentos da escola e universidade, com ele quando eram vivos.

— Obrigado, Dona Lúcia. A gente poderia conversar uma outra hora para me contar detalhadamente sobre meus pais. Eu os...

— Eu soube do episódio. Sinto muito, mas meu tempo neste colégio é curto, meu querido. É uma pena não poder ajudá-lo. — a expressão de Lúcia, mudou radicalmente. — Vem cá, filho? Vai cursar qual área?

— Direito!

Lúcia engoliu em seco, voltando seus olhos para o piso, em seguida, aos lumes de Dean, extasiante àquela hora da manhã. 

— Boa sorte. — disse ela num olhar nada intimidador. — O professor Patrick, é um ótimo educandário. Até breve.

Lúcia virou seu corpo, Dean sentiu-a suspirar fundo, como se agradecesse aos céus pela conversa ter chego ao fim. Oque havia de tão errado em contar a história de seus pais? Dean pensou.

Sacudindo a cabeça, o garoto caminhou pelo último corredor passando pelo jardim de flores impávidas, encontrando um refeitório cheio e com diversos alunos. Foi até à cozinha, pegou seu café, não exagerando muito em doces e seguiu à procura de uma mesa menos aglomerada. Enquanto passava pelas inúmeras pessoas, sentia os olhos queimante sobre seus passos, e ao notar uma mão se levantar num canto mais afastado, ele apressou os passos.

A mão erguida, tratava-se de uma garota de pele escura, com tranças na cabeça e olhar meigo. Estava sozinha, sem ninguém para acompanhá-la, então, Dean sentou-se, deixando a bandeja com o café mais à frente e sorriu.

— Bom dia. Me chamo Dean. — ele foi gentil.

— Bom dia! Como vai, Dean? Meu nome é Elisabeth, mas prefiro que me chame apenas de Elisa, caso sente aqui outras vezes. — anunciou a garota, após um gole no suco.

Dean levantou uma sobrancelha, antes de respondê-la.

— Vou bem, obrigado. 

Fez-se um breve silêncio.

— É novato? — ela perguntou.

— Sou e você?

— Não. Estou no meu segundo ano de enfermagem. Vai cursar qual área? 

— Hum, você é a terceira pessoa que me pergunta isso em menos de um dia. — ele falou. — Mas vou cursar direito.

— Advogado? Delegado? Promotor? Juiz? 

— Advogado. — Dean respondeu. — É mais a minha cara.

Ela deu de ombros, voltando a tomar café.

— Veio de Ashton City? 

— Sim. Como soube disso? — Dean questionou curioso.

Ela degustou de um pedaço de bolo com mínima vontade.

— Ah, é que você tem cara de ser dessa cidade. — Elisa comentou. — Você é bonito, a maioria de quem mora ou descende de Ashton, é magnífico.

— É um elogio ou uma cantada? 

Elisabeth riu.

— Você é bem convencido, né? 

— Não acho. — Dean a provocou. — Você é uma menina muito bonita, Elisabeth... Elisa — consertou —, mas minha praia é outra. Eu sou gay!

Ela arregalou os olhos e deteve-se por um momento. Se Dean não dissesse, ela nem suspeitaria.

— E você diz isso abertamente? Sei que à sociedade mudou muito, Dean, mas, pessoas como você e como eu, continuam isentas de liberdade. Liberdade para amar, almejar seus sonhos, escolher uma pessoa e ser feliz. — disse Elisa, após limpar os lábios. — Nessa terra de ninguém, ser diferente é mais violento que lutar guerras avassaladoras.

Dean sentiu a espinha congelar.

— Tá certa, mas o mundo não é tão diferente assim. Não é a cor, ou o gênero com quem uma pessoa se identifica, o qual tirará o caráter dela. — ele pegou a mão de Elisa, e prosseguiu. — Veja a minha cor, olhe a sua. Acha mesmo que eu a julgo? Você me julga por ser gay?

Ela negou abertamente.

— Então o mundo não é diferente. São algumas pessoas dele que querem provar o contrário. — assegurou Dean, apertando a mão de Elisa. — Bom, agora vou comer um pouco, não jantei noite passada.

Elisabeth, nunca tivera ouvido uma pessoa dizer palavras tão belas antes. Ela observou o garoto degustar o café quase que inteiro, e após limpar os lábios, Dean se levantou pronto para ir embora, mas Elisabeth o interrompeu.

— Está afim de sair hoje à noite? Não estou com segundas intenções. — asseverou sorrindo. — Mas seria um prazer se aceitasse meu convite. Tem uma casa noturna duas quadra dessa universidade, à maioria dos novatos e quase todos os veteranos, estarão lá. 

Dean pensou por um instante.

— Qual o horário?

Elisa sorriu, como se à resposta de Dean, a satisfizesse.

— Às nove da noite. Posso esperar por você lá?

— Pode. 

— Que bom. É, então, boa aula e até mais tarde.

— Obrigado. Até mais.

Com um aceno, Dean levou as louças sujas até a copa e, depois, saiu em direção aos corredores que levavam até às salas. Analisou cautelosamente o papel suado em sua mão, e copiou mentalmente o número, andar e horários de aulas teóricas, e a famosa educação física, à qual não devia falta, pois era obrigatório, mesmo que não cursasse.

Subindo o lance de escadas, Dean aproximou-se do sexto andar, onde funcionava as aulas de Direito, e o compartimento dedicava-se apenas àquela área. A classe 412, logo fez-se presente, e Dean deu três toque na porta. Cautelosamente, ansiou por alguém vindo atendê-lo, estava quase desistindo quando à maçaneta girou e um homem com cara de poucos amigos fizera-se visível.

— Professor Patrick? — Dean perguntou.

— Sim. É aluno de Direito? — sob afirmação de Dean, Patrick deu passagem para ele entrar. Saudou a todos e sentou numa cadeira ao fundo. Após se ajeitar, o professor o chamou à frente. Dean, claro, obedeceu o chamado. — Se apresente a turma, calouro.

Dean sentiu o corpo esfriar. Desde a escola primária era que ele odiava ter que fazer aquilo, pois, para ele, não tinha vergonha pior. Ele arrumou à postura dos ombros e começou:

— Bom dia? — quando responderam, ele prosseguiu. — Meu nome é Dean. Dean Ferraz Salvatore. 

— Como é que é? Ferraz Salvatore, de Ashton City? — questionou o professor, ficando à frente de Dean, que tremeu a base.

Ele maneou a cabeça em convicção. Patrick pareceu suspirar agudo, o suor descendo o pescoço e encharcando o colarinho.

— Oh, que honra. Seus pais foram meus colegas de classe, sabia?

— Não senhor.

— Eram orgulhosos e ambiciosos, espero que não tenha herdado o gene dos dois. — Patrick disse quase em tom de ameaça. — Soube do ocorrido com ambos, meus pêsames. 

Dean assentiu. 

Olhar para os lumes escuros de Patrick, era como encarar a mais fatal das mortes, e ele sabia que não seria bem um ano agradável com um ser menosprezivel, como aquele.

— Sente-se, garoto. Farei de você o advogado que seus pais não foram.

Revidava ou não? Dean não quis levar o assunto adiante, pois a forma como Patrick falava de seus pais, tornava o ambiente desprezível e denso. Além, claro, do ciúme perceptível.

Àquela manhã passou lenta. Dean queria que esta se encerrasse o mais rápido possível para um descanso merecido. O segundo turno de aula fora até mais tranquilo, já que um professor que tratava-se especificamente sobre leis, punições e sentenças, era bem mais amigável que Patrick. Seu nome: Tom.

Ao meio dia em ponto, o horário do almoço soou. Dean caminhou pelos corredores fazendo o mesmo trajeto até o refeitório. Olhou a distância e viu que, Elisa, estava acompanhada de algumas colegas, então resolveu buscar por outro companheiro de mesa. Avistou um, bem ao fundo, dono de um jeito gótico e olhar intimidador. Os cabelos eram negros como à noite, os braços fortes como de alguém que praticava academia todo santo dia, sem contar que a masculinidade forte encantou, depressa, o pobre Dean.

— Está esperando alguém? 

— Não.  E nem você. — rudemente, falou o anfitrião. — Mas, sente. 

Dean pensou se aceitava ou não. Olhou para Elisa e viu-a conversando alegremente com suas colegas, então resolveu ceder e colocar a bandeja sobre à mesa e sentar.

Dean fitou o desconhecido a olho nu, observou o desenho anguloso de seu rosto e quis ter à oportunidade de tocar, nem que fosse rapidamente, ou em seus sonhos devassos. Porém, voltou a atenção para seu almoço e comeu devagar, sem pressa. Com um olhar vago e de quem não queria assunto, o rapaz concluía sua refeição.

— Qual seu nome? — a voz grave ecoou como um trovão, e Dean não esperava aquilo sutilmente, não àquela pergunta tão ínfima. 

Ao olhar mais profundamente o rosto daquele rapaz, Dean sentiu-se atraído por ele, não era amor, e estava bem longe de ser. Tratava-se de uma atração física mais carnal, vontade ou quiçá desejo por vislumbre e devassidão.

— Dean. — respondeu o rapaz, inocente.

— Dean é um nome bonito concedido a uma pessoa tão vulgar.

— Mas você nem me conhece, cara. — ressaltou o garoto.

O rapaz deu um sorriso breve, antes de limpar completamente os lábios rosados e continuar com o assunto.

— Não preciso conhecer, isto é bem visível como águas claras de uma rasa lagoa. — disse o moço sem respaldo. — Tenha um bom dia, Dean.

De todas as coisas que já o ferira antes, àquela tinha uma lâmina mais afiada e o guerreiro, bastante sanguinário. Após o almoço não tão apetitoso assim, Dean voltou para a sala de aula, e quando o alarme de saída soou, tomou o caminho de volta para o alojamento. Seu primeiro dia, não tivera nem um pouco sido bacana.

Ao abrir à porta, Dean encarou Luc deitado sobre a cama folheando mais um livro de economia, este, por sua vez, notou o semblante caído do colega de quarto, e resolveu questionar.

— Está tudo bem contigo, Dean? Não vai me dizer que arrumou um namoradinho no café da manhã e no almoço, já te deu um pé na bunda?

Dean tentou se acalmar, mas revidou grosseiramente, como nunca havia reagido em toda à sua vida a uma simples baboseira.

— Vai se foder, cara! 

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