Relação As Cegas
Relação As Cegas
Por: aly
Um

[John]

Logo que a última gota de vinho caiu da garrafa, diretamente para a minha boca, eu a joguei para um canto. Eu repetia esse mesmo gesto, já tinha mais de uma semana. Desde que Jennifer, terminou comigo.

Meus amigos definitivamente me achavam patético, por estar sozinho em casa, chorando sem parar e acabando com todo estoque de vinho da adega, por uma garota que eu me envolvi rapidamente e me deixou tão rápido quanto.

O mês que passamos juntos, havia sido um dos melhores da minha vida. A grande maioria das pessoas que me acompanhavam na mídia, apoiavam aquilo e até tiravam sarro da minha cara, por expor uma relação. E talvez esse tenha sido o meu erro... Ter a exposto para mídia. Aquilo encheu os olhos dela. De estudante de odontologia, Jennifer virou uma blogueira. Milhares das pessoas que me acompanham, começaram a segui-la.

Nós não namoramos, de fato. Eu tinha criado sentimentos por ela e tinha planos de pedi-la em namoro, bem no dia em que terminou comigo. Eu havia preparado um jantar super romântico e assim que ela sentou na cadeira, disse que agradecia pelo último mês, mas que estava em outra vibe. Muito trabalho, já que havia conquistado seu primeiro milhão de seguidores.

Além de ficar com muita raiva, me senti um merda. Eu só conseguia pensar que ninguém se apaixonaria de mim pelo que sou, ao invés de ser pelo que carrego. A fama.

Estava começando a cogitar a ideia de ir até a adega e buscar mais uma garrafa, quando a campainha tocou. E quem quer que fosse do outro lado, estava impaciente.

— Ei! — resmungo, quando abro a porta e dou de cara com Dominic. — Está achando o que?

— Que você precisa levantar essa bunda pálida do sofá e ir caçar mulher.

Reviro os olhos para meu não tão querido irmão e volto para o sofá.

— Estou sem cabeça para piadas.

— E eu para esse seu estado. Qual foi, John? Ela te usou.

— Saber disso não diminui meu sentimento. — resmungo, olhando para a garrafa de vinho. — Só preciso ficar na minha.

— Não. Isso não vai adiantar.

— E o que você propõe, Dominic? Que eu saia e transe com a primeira mulher que vier na minha direção? Sabe que não sou assim...

— Eu sei. — diz, e coloca a mão no meu ombro. — Você é um bebezinho.

— Não é pra tanto. — acabo rindo.

— Amigo, eu só quero que você volte a ser o mesmo. Nunca te vi nessa fossa, Davies. E você só ficou um mês com essa garota.

— O que me sugere?

Dominic me olha por uns segundos, antes de pegar sua carteira e tirar um cartão dali. Ele era preto e suas letras eram em vermelho gritante.

— Time for sex? — questiono. — O que isso seria ao certo?

— Deixa eu ver, como explicar sem ser vulgar...

— Pode ser vulgar, Dominic.

— Sexo por telefone. — diz, sem rodeios. — Você liga, diz que precisa se aliviar e ela começa a falar coisas sacanas para você. É bem legal.

— Você já fez isso?

Ele me olha com as sobrancelhas arqueadas e ri.

— Ligue, John. — se levanta e vai até a porta. — Ligue e seja feliz, meu amigo.

Assim que Dominic b**e a porta, eu fico encarando aquele cartão. Penso umas duas vezes, antes de largá-lo sobre a mesa e sair em busca de mais vinho.

[...]

Desperto com alguma música eletrônica da TV. Minha sala estava em um completo escuro, se não fosse a luz que vinha dali.

Puxo meu celular da mesinha, fazendo com que um cartão caia. O relógio marcava três e catorze da manhã. Pego o cartão do chão e vejo que é o tal que Dominic me entregou. Olho para o mesmo e também para o meu celular.

— Ah, que se dane.

É o que resmungo, antes de discar o número escrito no cartão.

[Emma]

— EU SEI QUE MEU PAI DEIXOU DIVIDAS, MAS EU NÃO TENHO COMO PAGAR! ME DEIXA EM PAZ!

Jogo o gancho do telefone no chão e o puxo com tudo, arrancando o fio da parede.

— Que saco! — reclamo, jogando o aparelho do outro lado da sala.

Meu celular também toca e por um instante me pergunto se eram os cobradores, mas então vejo o nome de Lílian na tela e respiro aliviada.

— Oi.

— Como assim oi? Cadê você?

— Em casa. — respondo, como se não fosse óbvio.

— Emma você pegou o turno da madrugada, lembra?

— Ahhh, que droga! — exclamo, levantando do sofá e correndo para o quarto. — Eu tinha esquecido completamente.

— Percebi. — ela ri. — Corre. Você tem meia hora para bater seu cartão.

Aproveitando que eu já tinha tomado banho, apenas passei um vestido pela cabeça e prendi o meu cabelo em um coque. Agarro na minha bolsa e nas sapatilhas e saio correndo de casa.

A minha sorte era morar a dois minutos do metrô e o meu trabalho ser a três paradas dele.

Desde que meu pai morreu, eu vi minha vida ir pelo ralo. Ele não havia deixado nada, a não ser milhares de dividas. Todo santo dia alguém ligava para minha casa, cobrando alguma coisa. E eu, que até então fazia faculdade de administração, tive que largar tudo e ir atrás de um emprego.

— Oi! — sussurro para a minha amiga e sento em meu lugar, já atendendo a primeira ligação. — Time for sex, nosso prazer é te dar prazer.

[...]

Lá pelas três da manhã, eu já estava ficando rouca e louca para comer alguma coisa, mas assim que me levantei, meu telefone tocou.

— Ahhhh... — resmungo, me sentando novamente. — Eu não aguento mais gemer.

Lílian ri.

— Atende mais essa e vai comer. Eu te cubro.

— Tudo bem! — suspiro. — Time for sex, nosso prazer é te dar prazer.

— Uau. Que voz.

— Olá bonitão. Como estamos nessa bela madrugada?

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