03

Ecstasy, sempre soube rápido demais e apesar de meu organismo estar cada vez mais acostumado com a chamada droga, os efeitos que ela faziam sobre Charlie eram mais do que visíveis. Além do mais, Ecstasy da sede, então ela bebia mais que a maioria, qualquer um sóbrio poderia ver o quão bêbada Charlie estava. Felizmente, ninguém ali estava sóbrio.

As pessoas se divertiam e me veio o pensamento de que eu também devia estar me divertindo, mas eu não conseguia quando eu via pessoas olhando Charllotte como se quisessem estupra-la. A festa estava sendo bem menos divertida do que eu esperava.

O ponto alto tinha sido o meu primeiro com a Charlie.

– Ah Sammy.. - Supirou Charlie sentando-se em meu colo. Ela estava molhada, pois tinha acabado de estar na piscina, entrelacei meus braços em sua cintura, só um ato protetor, talvez porque eu estivesse me sentindo mal, por seu estado, por ter sido eu a induzi-la a isso. Ou talvez só porque a maior parte das pessoas na festa a olhavam como o lobo mau olharia para a chapeuzinho vermelho.

– Eu acho que está na hora de eu levar você pra casa. - Eu disse, ela suspirou, deitando sua cabeça em meu ombro. Ela sempre fora tão menor que eu. O que fazia eu me meter em várias brigas durante a nossa infância para protege-la.

– É o que você acha? - Perguntou ela, deslizando a ponta de seu dedo por meus lábios ao mesmo tempo que depositava um suave beijo em pescoço, fazendo-me arrepiar. Apertei-a junto ao meu corpo.

– É, é o que eu acho. - Respondi, por cima do corpo de Charlie eu via a piscina, podia ver Yuri sentada na borda enquanto fumava um cigarro, uma garota sentada ao seu lado, falava algo para ela que Yuri, parecia nem ligar. Volte e meia ela olhava pra mim e Charlie, eu sabia que ela estava meio magoada por eu ter ficado com Charlie, quando eu sabia que ela também a queria, mas eu iria conversar com ela amanhã e tudo se resolveria. A gente sempre se resolvia.

– Me leva pra casa então.

– É melhor mesmo. - Eu disse me levantando e segurando Charlie a mim, porque eu tinha a suspeita que ela não conseguiria ficar de pé novamente se alguém não a apoiasse. Ela entrelaçou seus braços em minha cintura e eu envolvi os meus ao redor de seus ombros. Ela avançou com seus lábios para me beijar e eu recuei, depositando um suave beijo na ponta de seu nariz. Não que eu não quisesse beija-la, eu queria muito beija-la. Só não me parecia certo fazer isso devido o estado que ela se encontrava.

Era um sentimento estranho pra mim, porque eu já havia ido a inúmeras festas e nunca havia sequer avaliado o bem estar das outras meninas com quem eu ficava. Pra mim, não fazia sentido começar com isso agora. Mas por algum motivo obscuro, eu não conseguia me aproveitar da situação.

Talvez porque eu ainda conseguia ver, no fundo dos olhos de Charlie, a menininha que chorou porque meu joelho estava ralado. Talvez.

Avisei a Yuri e a Noel que estava indo pra casa e deixei a casa de Noel com Charlie em meus braços.

Apesar de minha casa ser só alguns metros da casa de Noel, pareceu levar uma eternidade para chegarmos lá, afinal, Charlie mal conseguia andar. E estava estranhamente quieta.

Levei-a pra minha casa, checando as horas ao chegar, percebi que eram só três da manhã, isso pra mim era extremamente cedo, levando em conta de que eu só saia dessas festas junto com o sol.

Subi as escadas com Charlie ainda se apoiando em mim, agora ela recomeçara a falar, embora eu não entendesse uma só palavra. Quando chegamos em meu quarto, deixei-a na cama, avisando-a que pegaria uma xícara de café para a mesma. Eu não tinha muita esperança que ela ficaria sóbria, mas não custava tentar.

Desci novamente e fui até a cozinha, a casa estava quieta e vazia, meu pai não estava. Provavelmente estava em algum quarto de um motel barato com uma p**a de esquina. Tanto faz. Joguei o resto do café feito pela manhã na pia e preparei um novo. Enquanto a água me esquentava só conseguia pensar no que Charlie estaria fazendo lá em cima. Talvez já tivesse até caído no sono. Não, se ela tivesse apenas bebido ela estaria dormindo. Mas não foi o que aconteceu. Suspirei, novamente me sentindo culpada.

Servi uma xícara de café quente e fresco e voltei para o meu quarto. Quando entrei pela porta pude até sentir a xícara tremer entre meus dedos. Charllotte estava só de calcinha. É.

Sua pele clara em contraste com o rosa de seus mamilos rígidos, provavelmente porque sentia frio, provavelmente. Percebi que ela ainda estava molhada. E suas curvas perfeitamente delineadas. Respirei fundo e desviei o olhar, repousando a xícara sobre a escrivaninha de meu quarto. Era só o efeito da droga.

– Você tem que vestir uma roupa, Charlie. - Eu disse buscando por uma toalha em meu guarda-roupa, achando-a em seguida.

– Eu tenho? - Perguntou ela fazendo um biquinho que me esforcei pra não beijar quando voltei a me aproximar dela.

– Tem sim. - Respondi, começando seca-la. Primeiro os seus cabelos, que se tornaram uma linda desordem, depois ela se virou de costas pra mim. E sequei sua pele suavemente, passando a toalha até sua barriga. Isso fez meus braços se entrelaçarem em sua cintura. Ela olhou pra mim, com um sorriso de canto.

– Eu acho que você está se aproveitando. - Ela disse, sorri também, apoiando meu queixo em seu ombro direito.

Me aproveitando?

– Eu acho que não. - Eu disse, prendendo a toalha envolta de seu corpo. Voltei ao guarda-roupa e peguei uma camiseta qualquer, era amarela e do Bob Esponja, sorri ao vestir Charlie com aquilo. Ela nem pareceu ter reparado.

– Te trouxe café.

– Eu não quero café. - Ela respondeu em tom teimoso, sentando-se em minha cama.

– E o que você quer?

– Eu quero você. - Ela disse e me puxou pelo tecido de minha regata, curvei-me sobre ela enquanto ela se deitava em minha cama, seus lábios atacaram os meus, senti o gosto de puro álcool dessa vez. Mas isso não pareceu fazer diferença, não enquanto sua língua massageava a minha tão habilmente. Não quando eu parecia estar repetindo o melhor beijo da minha vida.

Os dedos de Charlie tocaram minhas costas e ela desceu pressionando suas unhas sobre minha pele, fazendo-me gemer contra seus lábios, ela me excitava.

Ela puxou meu lábio inferior suavemente com seus dentes e agora seus dedos traçavam a minha barriga, eu estava arrepiada. A visão do corpo de Charlie nua fez meu corpo todo se esquentar. Eu a desejava tanto. Não.

Eu não podia fazer isso, eu estava sóbria e ela fora de si. Bêbada e sobre os efeitos de drogas ilícitas. Era errado.

Juntando todo o autocontrole que eu não sabia ter, eu ouvi a voz da razão. Talvez, pela primeira vez em minha vida.

Parei de beija-la, escondendo meu rosto na curva de seu pescoço, meu corpo inteiro parecia querer entrar em colapso. Eu tremia e desejava arrancar todas as roupas de Charlie, porque eu não conseguia?

– Faz amor comigo... - Ela pediu manhosa, acariciando os cabelos da parte de trás de minha nuca. Eu deixei seu cheiro natural invadir o meu íntimo, repetindo para mim mesma que isso era errado. Eu não podia fazer qualquer coisa com Charlie nesse estado.

Fiquei em silêncio e ela também, abraçou meu corpo com força e beijou o topo de minha cabeça. Seu corpo se encaixando tão perfeitamente no meu. Tão certo e tão errado.

Depois do que pareceram dez minutos, seus braços ficaram mais fracos envolta de mim e sua respiração se serenizou. Levantei-me e a olhei. Ela parecia tão desprotegida ao dormir que mal tive força para me afastar dela e deixar o quarto. Em seguida a casa.

Eu ainda tinha coisas para fazer. Voltei para casa de Noel, a música ainda tocava e as pessoas ainda estavam animadas. Eu procurava Yuri.

– Noel, - Puxei-o quando ele passou por mim com um copo de cerveja na mão. Ele sorriu pra mim.

– Você voltou!

– Onde está Yuri? - Perguntei e ele pareceu pensar por um instante, antes de apontar a porta de entrada da sua casa.

Entrei na casa de Noel, e encontrei Yuri na sala de estar. Ela estava acompanhada, uma menina estava em pé, enquanto Yuri sentada no sofá a beijava. Cutuquei a menina que eu não conhecia, interrompendo o beijo das duas.

Yuri fez uma careta pra mim.

– Temos coisas pra fazer. - Eu disse e Yuri bufou, puxando a menina para o seu colo. Eu conhecia sim a menina, ela era mais nova que Yuri, mais nova que eu até, com cabelos pretos e uma franja, vivia atrás de Yuri há meses.

– É? O que aconteceu? A princesinha te deu um fora? - Revirei meus olhos, ao ouvi-la tentando me irritar.

– Não seja ridícula, Charlie tá bêbada.

– Desde quando você se importa? - Um brilho de maldade junto com curiosidade passou nos olhos de Yuri. Como se ela soubesse que só pelo fato de Charlie ser a Charlie, ela tinha acordado o pouco que ainda me restava de consciência.

– Não me importo.

– Mas temos coisas pra fazer.

Yuri bufou, empurrando suavemente a menina de seu colo e se levantou, colocou um cigarro entre os lábios me oferecendo a cartela em seguida. Fiz o mesmo, ela puxou se zippo do bolso, acendeu seu cigarro e logo depois o meu.

Deu uma longa tragada e soltou a fumaça pra cima.

– É, temos sim. - Disse ela por fim.

Não era algo que eu podia dizer que eu me orgulhava em fazer. Mas dava dinheiro e respeito. É, enquanto eu trocava erva com um jovem e pegava seu dinheiro, pensei em Charlie. Em como nós éramos intelectualmente incompatíveis. Ela com sua faculdade e eu com o meu negócio. Tão diferentes.

Desde que ela tinha se mudado, as coisas pra mim mudaram também. Eu passava a maior parte dos meus dias com a família de Charlie e quando ela se desfez, foi como perder um refúgio de uma casa solitária com um pai ausente.

Mas Yuri apareceu. E é claro, minhas ações mudaram, talvez pra pior. Mas Yuri se tornou minha família e agora, essa era a única vida que eu conhecia.

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